Richard estava em uma luta interna. Além da novidade de Gina, não parava de repassar na sua cabeça a cena do seu beijo com Beckett. O escritor simplesmente não conseguia libertar seus pensamentos do cheiro de cerejas o embriagando, da pele macia contra a sua, da sensação dos lábios dela nos seus.

Se antes ele tinha certeza que ela nunca mais o amaria, que Kate não sentia mais nada por ele, agora, depois daquele beijo, ele não tinha dúvidas de que eles ainda tinham alguma chance, por menor que fosse. Castle estava determinado a se agarrar a esse restinho de esperança.

– Não foi só um beijo. – ele sussurrou para si mesmo com um sorriso nos lábios.

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Kate havia chegado em casa depois de finalizar mais um caso. Já estava tarde e não iria trabalhar no dia seguinte, mas tinha passado os últimos quatro dias tão absorta no trabalho que acabou não fazendo nenhum plano para o dia livre. Depois de dispensar Emma, ela passou no quarto da filha e observou seu sono tranquilo por alguns minutos, depois tomou um banho rápido enquanto se xingava mentalmente ao perceber que os seus pensamentos já estavam se direcionando à única pessoa que ela queria tirar da cabeça. No trabalho, ela tem os suspeitos e as provas que a distraem. Tem Colin e Anna que sempre deixam qualquer clima mais leve, tem o café e a papelada. Já em casa, ela não tem nada disso. Nada que consiga evitar que todos os seus pensamentos sejam sobre ele.

A detetive foi até cozinha preparar alguma coisa para comer, mesmo estando sem fome, e avisos de que ele passou pela sua casa há poucas horas gritavam, o cheiro dele ainda está impregnado em todos os cantos. Foi inevitável lembrar do beijo de poucos dias atrás. Era uma lembrança tão intensa que ela tinha certeza que se fechasse os olhos conseguiria sentir o braço dele a envolvendo mais uma vez, o som da respiração pesada dele... Por que tudo tem que ser desse jeito?

Ainda se repreendendo, ela foi para o seu quarto com uma xícara de chá em uma tentativa de se acalmar. Pegou um livro na cabeceira da cama para mudar o foco dos seus pensamentos, mas os capítulos passavam e ela não conseguia se concentrar em nenhuma palavra porque flashes de vários momentos deles dois juntos invadiam sua mente. Até que ela ouviu um barulho mínimo no corredor, fechou o livro e sorriu ao ver Sofia com o seu ursinho favorito embaixo do braço parada na porta.

– Vem aqui, princesinha. - Kate estendeu os braços abertos para ela, que rapidamente correu para os braços da mãe. - O que aconteceu?

– Tive um pesadelo. Posso dormir aqui com você?

– Claro que sim. - Kate conhecia a filha tão bem a ponto de saber que essa era só uma desculpa para dormir abraçada com ela, era uma das formas que a pequena encontrava para passar mais tempo com a mãe.

Kate aconchegou a filha do seu lado, ajeitou o cobertor nela e a envolveu com seus braços. De repente foi tomada por uma sensação de calma. Sofia tinha esse poder sobre ela.

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Em meio ao barulho de Martha tocando piano, do outro lado da cidade, Castle pensava nela e em tudo o que eles já fizeram juntos. As viagens, os casos, as danças, as teorias absurdas, os beijos, os abraços, as falas em sincronia quando sabiam quem era o assassino, as noites em que o que eles menos queriam era dormir.

Encostado na varanda com uma taça de vinho tinto na mão, ele lembrou do medo avassalador que sentiu durante os últimos quatro anos. Um medo de que a vida nunca mais colocasse o seu caminho e o de Kate no mesmo trajeto. Lembrou como foi inevitável tentar seguir em frente. E vez após vez, ele tentou, mas só conseguia ver ela – mesmo que com outro nome ou cor de olhos. Ele só tentava encontrar qualquer sorriso que se assemelhasse a risada escandalosa e envolvente dela.

Mas agora, depois dos últimos acontecimentos, ele estava disposto a deixar tudo para trás – as brigas, os desentendimentos, o ciúme excessivo. Ele iria tentar até o último segundo, até a última gota de esperança. E já tinha o plano perfeito em mente.

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Ainda não eram 8 horas, mas Sofia já estava ajudando a mãe a fazer panquecas para o café da manhã. Kate estava acordada desde às seis, na verdade de pé desde às seis, já que não havia conseguido dormir, pois apesar da sensação de calma proporcionada pela sua filha, ela não conseguiu tirar Castle da cabeça.

Enquanto a detetive espalhava a massa, a garotinha fazia carinhas felizes com gotas de chocolate e foi no intervalo entre uma panqueca e outra que Kate ouviu o seu celular tocando.

– Beckett. – falou automaticamente.

– Bom dia, detetive. – ela segurou a respiração ao ouvir aquela voz, a mesma que não saia dos seus pensamentos. – Eu queria ter te esperado ontem à noite para falar com você pessoalmente, mas eu não sabia que horas você iria chegar...

– Você pode ser mais direto?

– Ok. – ele já esperava que ela ainda estivesse zangada por conta do beijo – Preciso ir para NY amanhã por causa do lançamento do meu livro, mas antes de ir quero que a Sofia conheça minha mãe e Alexis. Então, pensei em fazer um almoço hoje aqui em casa.

– Certo. Eu estou de folga, então posso levá-la.

– Na verdade, Kate, eu quero que você venha. – Nesse momento o coração dela disparou. – Precisamos conversar sobre como vai ser agora que vou estar longe... E também sobre quando nós iremos contar para a Sofia que eu sou o pai dela.

– Tudo bem, Castle. – Ela sabia o quão importante era a filha conhecer a irmã e a avó, assim como sabia que mais cedo ou mais tarde, eles teriam que conversar sobre Sofia. – Me passa o endereço por mensagem.