Jogos Vorazes - Peeta Mellark escrita por Nicoly Faustino


Capítulo 36
Parte 36




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— Quero ir para casa agora – Katniss diz, após um silencio constrangedor.

— Não me diga. Volte a dormir e sonhe com ela. E você vai estar lá de verdade antes que você saiba — eu digo, torcendo para que isso realmente aconteça. — Ok?

— Ok — ela sussurra. — Acorde-me se precisar para vigiar.

— Estou bem e descansado, graças a você e a Haymitch. Além disso, quem sabe quanto isso vai durar? — digo, sem saber ao certo ao que me refiro. Aos jogos ou a tempestade.

Ela adormece imediatamente, e olhando-a dormir, sinto que nunca a vi com uma expressão tão triste. Se ela soubesse como eu desejo vê-la feliz... Fazê-la feliz. Reúno o pouco de ânimo que me resta para arrumar a cobertura que fiz sobre ela. Esta jorrando agua pelos buracos que antes eram só pequenas goteiras. Arrumo o plástico de uma maneira que não caia agua sobre ela, e coloco o pote, que ela usa para fazer sopa, no lugar onde está caindo mais agua. Passo o resto do dia, sentado ao lado de Katniss, ora tremendo de frio, ora acariciando seus cabelos, quando ela se agita devido a algum tipo de pesadelo.

Já é tarde quando resolvo a acordar. Ela precisa se alimentar, e francamente, eu também estou faminto, mas não vou comer enquanto ela dorme.

Ela acorda, e consegue se sentar. Isso é uma melhora significante. Porém, o que resta para nós comermos é desanimador. Um pequeno punhado de ervas, raízes e frutas secas.

— Deveríamos racionar? — pergunto.

— Não, vamos acabar com tudo. As ervas estão ficando velhas, de qualquer jeito, e a última coisa que precisamos é ficar doente por causa de comida estragada.

Ela divide a comida em duas pilhas iguais. Acho isso injusto, mas antes mesmo de eu argumentar para ela ficar com a maior parte, ela me olha como se dissesse, apenas coma isso. Em menos de um minuto, comemos tudo, e eu sei que ambos ainda estamos com fome.

— Amanhã é dia de caçar — Katniss diz.

— Eu não vou ser de muita ajuda nisso. Nunca cacei antes.

— Eu mato e você cozinha. E você pode sempre colher.

— Queria que existisse algum arbusto de pão por aí — comento, na verdade falando alto meus pensamentos.

— O pão que me mandaram do Distrito 11 ainda estava quente — ela diz com um suspiro. — Aqui, coma essas.

Ela me entrega algumas folhas de hortelã, e coloca um pouco em sua boca.

— Para onde Thresh foi? Quero dizer, o que há do outro lado da Cornucópia? — ela pergunta após um longo silêncio.

— Um campo. Até o ponto que você pode ver é cheio de mato tão alto quanto meus ombros. Não sei, talvez algumas delas tenham sementes. Há partes de diferentes cores. Mas não há trilhas — digo, relembrando que passei perto de lá, quando estava “caçando” com os carreiristas.

— Aposto que algumas delas têm sementes. Aposto que Thresh sabe quais, também —ela diz. — Você foi lá?

— Não. Ninguém realmente queria seguir Thresh naquele matagal. Tem uma sensação sinistra lá. Toda vez que olho para o campo, tudo em que consigo pensar são coisas escondidas. Cobras, animais raivosos e areia movediça. Pode haver qualquer coisa lá – quando digo isso, meus pelos se arrepiam. Porém, depois desses jogos, encarar uma cobra, ou qualquer animal perigoso, parece bem mais fácil. Pessoas me metem mais medo agora.

— Talvez haja um arbusto de pão naquele campo — ela fala. — Talvez seja por isso que Thresh pareça melhor alimentado agora do que quando começamos os Jogos.
— Ou isso ou ele tem generosos patrocinadores. Pergunto-me o que nós teríamos de fazer para conseguir que Haymitch nos mande algum pão - digo, pensando que ele podia nos ajudar, agora que estamos praticamente isolados, e sem comida.
Katniss ergue as sobrancelhas, e me surpreende, pegando em minha mão.
— Bem, ele provavelmente usou muito recurso ajudando-me a te desacordar — ela diz, de forma travessa.

— Sim, sobre aquilo — digo, enquanto entrelaço meus dedos com os dela. — Não tente algo como aquilo novamente.

— Ou o quê? — ela pergunta, quase me desafiando.

— Ou... ou... — não consigo pensar em nada. Apenas no fato de eu estar magoado e com raiva, por ela ter arriscado a vida por mim. — Só me dê um minuto.

— Qual é o problema? — ela diz sorrindo.

Esse sorriso me desnorteia ainda mais.

— O problema é que nós dois estamos vivos. O que apenas reforça a ideia na sua cabeça de que você fez a coisa certa — digo, me recompondo.

— Eu fiz a coisa certa.

— Não! Não, Katniss! — Aperto sua mão, mais forte, deixando a raiva transparecer em minha voz. — Não morra por mim. Você não vai me fazer qualquer favor. Certo?

Apenas pensar na possibilidade de Katniss morrer, por mim, por minha culpa, faz eu perder o controle. Ainda estou apertando sua mão, pois isso é a única coisa que me acalma. Saber que por sorte, ela está aqui. E é real, pois sinto o calor de nossas mãos entrelaçadas. Ela parece se assustar com minha reação. Pois para ela, eu estou apenas fingindo tudo isso. Ela deve pensar que sou um ótimo ator. Mal sabe ela, que esse é um drama real em minha vida.

— Talvez eu tenha feito por mim mesma, Peeta, você já pensou nisso? Talvez você não seja o único que... que se preocupe com.... o que seria se... – ela engole seco, e não consegue terminar a frase.

— Se o quê, Katniss? — digo calmamente, porém ansioso para ela terminar de falar. Ouvir algo assim de Katniss, mesmo sabendo não ser real, é um sonho se tornando realidade.

— Esse é exatamente o tipo de tópico que Haymitch me disse para afastar — ela diz, provavelmente inventando essa desculpa. Haymitch jamais diria uma coisa dessas. Mas eu não quero deixar esse momento escapar. Não posso.

— Então tenho apenas de preencher os vazios eu mesmo — eu digo, enquanto a tomo em meus braços, e colo meus lábios nos seus.

Ela não recua. Ela não hesita. Diferente de nossos outros beijos, ela não parece estar me fazendo um favor. Ela está me retribuindo, com toda a intensidade que um verdadeiro beijo deveria ter. Uma sensação estranha invade todo meu corpo, e de tanto que é bom o que estou sentindo, chega até a doer. Quando ela se afasta de mim, eu a olho, ainda incrédulo com o que acaba de acontecer. Seus olhos cinzas, me encaram com um brilho intenso. Enquanto todo meu corpo protesta por mais um beijo, a única coisa que eu consigo pensar, é em como continuarei minha vida, sem Katniss, quando isso chegar ao fim. Parece doentio pensar assim, mas bem no meu íntimo, eu quero que esses jogos não acabem. Pois eu sei que só enquanto estivermos aqui, terei a oportunidade de viver momentos como esse. De ter o amor de Katniss, mesmo que seja uma mentira. Eu sei, que quando esses jogos terminarem, há uma enorme probabilidade de ela me olhar, apenas como um estranho que lhe jogou pães, novamente. E pensar nisso dói, muito.


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