O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 30
A única resposta




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Naquele dia, eu não consegui dormir bem. Matheus estava muito inquieto na cama, não parava de se mexer. Eu por outro lado, estava impaciente. Comecei a perceber como as coisas estavam ficando sérias, pois estavam matando pessoas inocentes, para conseguirem o colar. Eu sentia a grande necessidade de descobrir como iria fazer para provar ao colar que eu precisava da Taça, e que não seria para causar mal a ninguém. Mas como fazer isso? Como fazer isso, a um colar? Por mais lendas e lendas que vinham a minha mente, era difícil de juntar tudo e saber qual era a verdadeira história.

Por vezes eu pedia ao colar que mostrasse como tudo começou. Quem era o homem que jogou seu coração a uma serpente. Qual o real motivo dele fazer isso. Qual a ligação dele, segundo Marcelo, com os dois sábios que tiveram suas sabedorias roubadas. Como e porque a Espada teria entrado nessa história?

Tudo era vago demais e aquilo estava me deixando cada vez mais preocupado. Eu estava sentindo medo pelo que vinha a frente, e por mais que tivesse treinado eu não teria coragem de atacar uma pessoa, visando matá-la. E Kauvirno sempre dizia que isso, era a única coisa inevitável na vida de um bruxo. Eu estava com medo. Comecei a tremer, até que Matheus acordou, e foi buscar leite quente. Ele ficou abraçado comigo, até que eu adormeci.

– Bom dia, meu anjinho! – disse ele.

– Bom dia, que horas são? – eu perguntei, esfregando os olhos.

– São seis da manhã, você só dormiu duas horas.

– E você não dormiu? – eu o indaguei, ele sorriu.

– Não, você começou a falar sozinho, eu fiquei preocupado e então resolvi ficar acordado. – disse ele me beijando – Eu amo tanto você, não sei o que eu faria da minha vida se eu ti perdesse.

– Matheus, pare de falar assim. – eu me ajeitei na cama – Eu não vou morrer!

– Mas não vai mesmo! Eu me jogo na sua frente, antes que qualquer espada, flecha ou raio te atinja! Você é mais forte do que eu, e eu sei que saberia sobreviver sem mim.

– Eu odeio quando você fala dessa maneira. Como se cada dia fosse o último...

– E não é? A cada dia que passamos, estamos mais perto da morte, é inevitável. Eu só espero ir antes...

– Matheus! – eu exclamei. Eu odiava quando ele falava dessa maneira.

– Desculpa.

Eu saí do quarto, dizendo a ele que iria tomar banho, mas antes desci até a cozinha para tomar água, pois estava morrendo de sede. Lá estava Tereza e minha tia, Carol.

– Bom dia!

– Bom dia, meu anjo!

– Bom dia, meu sobrinho preferido! – disse minha tia, vindo me abraçar.

– Tia, eu sou seu único sobrinho! – eu disse, com um sorriso de canto. Peguei um copo e coloquei água e tomei.

– Levantou cedo, aconteceu alguma coisa? Pesadelo? – perguntou Tereza.

– Não, falta de sono mesmo. Matheus está acordado também... e eu desci para tomar banho e tomar água, estava morto de sede.

– Essa juventude...

– Tia eu não estava fazendo isso com ele. Alias, desde que cheguei...

– Não fala nada... é difícil demais pra mim ouvir isso... – disse Tereza, insatisfeita.

– Tereza você é tão linda, uma bruxa poderosa, impossível que não tenha encontrado alguém.

– Alguém eu encontrei, mais me perdi... longa história. Vai tomar seu banho, Kauvirno passou daqui, e disse que todos terão que estar cedo na mesa do café da manhã. – disse Tereza.

Eu fui então ao banheiro e tomei uma ducha deliciosa e ao sair distraído dei-me de frente a Nathan.

– Desculpa! – ele disse.

Ele era um pouco mais alto que eu, e nesses últimos dois anos, de tanto exercício que fazia, estava muito mais másculo. Eu segurei em seu braço e olhei nos teus olhos.

– Eu que peço desculpa!

Ele deu um leve sorriso e entrou no banheiro, e eu fiquei ali parado no corredor, até que Matheus me abraçou, e eu me assustei. Voltamos para o quarto e me troquei, enquanto ele tomava banho em outro banheiro da casa. Esperei por ele e descemos para o café da manhã.

Como sempre o sol da manhã, criado por Kauvirno, criava uma luz que entrava diretamente pela grande janela ao lado da mesa, iluminando-a com um brilho semi-igual. Tinha frutas, sucos, leite, pães, bolos e tortas.

Kauvirno como dono da casa, sentado a ponta. Tereza ao lado dele, e do outro minha tia. Do lado estava Marcelo. Dele, estavam meus pais e Nathan. Do lado de Tereza estava eu, Matheus e Adrian.

– Um belo grupo, pena faltar Mila! – disse Marcelo.

– Vamos comer e depois falamos, está bem? – disse Kauvirno.

Comemos como loucos. O café da manhã era tão reforçado que íamos almoçar sempre depois das três horas da tarde. No entanto ás seis horas sempre havia uma bela panela de sopa.

– Bem, como já estamos quase satisfeitos, creio que as notícias que se seguem não nos darão falta de apetite. – disse Kauvirno, e continuando – Nós estamos com problemas sérios. Ontem à noite, conversando com meu amigo, Marcelo, um cachorro surgiu e entrou correndo na minha residência. Ao chegar, ele carregava na boca uma carta, e ao abri-la vi que era uma carta de Mila. – ele tirou um pedaço de papel do bolso da calça – Eu vou ler a vocês, prestem atenção:

Meu amigo Kau, eu sinto saudades tuas, fui a sua casa, mas estava com o Kayo no campo de Hayanna, fiquei apenas um dia, pois eu tinha que voltar, senão aqueles imundos sentiriam a minha falta.

Eu começo a sentir medo a cada dia que passa, estão ficando mais inteligentes, eu creio. Bebem e começam a perguntar sobre a minha família. De onde sou e porque não os vejo. Todos sabem, pelo menos eles acreditam, que eu sou na verdade um não-mágico, aceito pela comunidade porque meu pai era amigos de muitos bruxos. Mas recentemente chegou um homem a taberna, que diz ter conhecido meu pai. Bem o pai de Alim, o meu outro eu.

Ele se aproximou e me observou, eu tive que me controlar para que ele não percebesse que eu estava morrendo de medo. Então ele falou comigo, perguntando-me se eu conhecia o velho barbeiro Antunes. Eu disse que sim, que era meu pai. Ele logo virou e me analisando disse que eu não tinha nada parecido com Antunes, e que nem ao menos sabia que o velho Antunes tinha filhos, ou até mesmo uma família, disse que era amigo íntimo do velho e que de repente ele havia desaparecido.

Eu acabei não perguntando o porquê dele me perguntar isso, só depois que ele foi embora e que eu fechei a taberna é que fui me lembrar de que o verdadeiro velho Antunes jazia morto há mais de cinqüenta anos. O homem aparentava menos idade do que eu, como Alim, logo me veio à cabeça que ele poderia ser algum soldado dos Soberanus, e que provavelmente Átimos havia lhe dado à poção da Eterna Vida.

O que é estranho, pois o que sabemos, Átimos foi trazido pelo filho Étimos do mundo dos mortos, no entanto isso não faz tempo. Logo entendesse que Étimos também é guardião dessa poção. Provavelmente ele o usa para conseguir aliados.

No dia seguinte o homem voltou e me olhava estranhamente, até que chegou e sussurrou em meu ouvido, que estava de olho em mim.

Eu estou aqui com medo, eu já não sei mais o que fazer.

Outra notícia é que eles invadiram uma cidadezinha litorânea, abaixo da colina, ao sul da taberna. Os vampiros dominaram-na. Eles estão se rebelando Kau, e eu estou aqui sozinha, e com medo. Eu espero uma notícia breve, para que eu possa me abrigar com vocês, o mais rápido possível.

Com carinhos, C.A

P.S – mande um forte abraço a todos, principalmente para K.A!

– Conseguiram entender? – perguntou Kauvirno.

– Eles estão agindo, então. Dominando cidade após cidade, no intuito de que? – perguntou meu pai.

– De fazer com que nós revidamos a eles, provavelmente. – disse kau.

– E iremos fazer isso? – perguntou Tereza.

– Iremos, não podemos deixar que eles tomem conta, dessa situação.

– E quanto a Mila? – eu perguntei.

– Mandei um recado a ela, com o mesmo cachorro que ela enviou. Pedi para que fechasse a taberna e viesse ficar em segurança conosco.

– Kauvirno isso tomando proporções imensas...

– E pensa que eu não sei, Marcelo. – disse ele pensativo – Nós temos que achar um meio do colar nos mostrar algo da taça, se tivermos a taça conosco muitos desses soldados que Átimos junto com seu filho, Étimos, estão juntando irão se rebelar, eu tenho certeza disso.

– Mas segundo a carta Kau, se Étimos tiver realmente a poção da Eterna Vida, teremos que dar um jeito de destruí-la.

– Carol, ele tem guardado em mente, só iremos destruir a poção, e se o destruirmos.

– Matá-lo? – perguntou meu pai.

– Sim! – respondeu Kauvirno, decidido.

– A história está começando a ficar boa! – brincou Adrian, olhando para o irmão, que retribuiu com um sorriso no canto da boca.

– Kayo, nós não iremos até o campo essa semana, temos coisas mais importantes para serem resolvidas. No entanto, Marcelo, você e ficaremos na biblioteca, tentando achar uma maneira do colar nos mostrar alguma coisa.

“Quanto aos outros, eu peço que usem todos os feitiços de proteção que conhecem em torno da casa. Ela já está protegida, mais não sabemos que tipo de maldição eles podem lançar aqui se descobrirem onde estamos.

Tereza, vá até a casa dos pais de Matheus, e os leve pra outro lugar, imediatamente. Não podemos mais esperar. Vamos!”

Todos se levantaram. Eu beijei Matheus e segui com Kau e Marcelo até a biblioteca. Todos andavam para lá e para cá. Já na biblioteca, era evidente o nervosismo de Kauvirno.

– Nós temos que descobrir alguma coisa... temos! – dizia ele.

– Você está com o colar em mãos, Kayo? – perguntou Marcelo.

Eu retirei do pescoço o colar, e entreguei nas mãos de Marcelo. Ele sentou numa cadeira e ficou ali durante um tempo admirando-a.

– Estranho, como algo pode ser tão perfeito. – sussurrou ele – Deve existir um meio de fazer ele mostrar algo. Mas como?

– Eu estive pensando exatamente isso, durante toda a noite. – eu falei – Ontem, você me disse que era preciso mostrar ao colar que eu precisava da Taça, mas ele me via como os outros. O colar não confia em mim, por isso não me mostra. Eu entendo que Átimos queira o colar, e não se importa com os outros artefatos, mas não sei se isso realmente é verdade.

– Eu entendo, perfeitamente! – disse Marcelo, ainda estudando o colar.

– Étimos só trouxe o pai à vida, porque não tem força pra fazer isso. E se Étimos foi quem o trouxe, então Átimos é na verdade um escravo de Étimos.

– Eu já pensei nessa possibilidade também, Kayo. Mas acontece que eles são do mesmo sangue, e essa regra não se encaixa. – disse Kauvirno.

– Mas toda regra tem sua exceção. Étimos é muito inteligente, talvez tenha descoberto uma maneira de trazer o pai a vida, e transformá-lo em um escravo.

– Talvez, mas não dou muita credibilidade a isso, menino. Não existe isso nos anais da história da magia. É impossível. Mas concluía seus pensamentos. – disse Marcelo.

– Como eu dizia, provavelmente, Étimos sabe dos outros artefatos, mais precisa também do colar para achá-los. O que eu não entendi ainda é como ele faria para conseguir a confiança do colar, para fazê-lo mostrar onde estaria a Taça. Ele não é o guardião do colar, como poderia conseguir dominar o poder dele?

Kauvirno estava terrivelmente preocupado. E Marcelo ainda estava pensativo, avaliando o colar. Foi quando eu ouvi um estalido, em algum lugar da biblioteca e o eco se formou uma única palavra. Amor.

O amor! – eu disse.

– Como? – perguntou Marcelo. Kauvirno me olhou.

– O colar me mostrou onde estavam os pais de Matheus, por conta do amor. O colar é na verdade o coração de um homem que amou por demais uma mulher. Eu sou o guardião dele, então ele acaba me protegendo, me dando força. Ao contrário do que, provavelmente, Étimos faria, ou Átimos, que seja.

“A forma como eles iriam conseguir com que o colar lhes mostrasse algo é dando ao colar o amor. Apenas assim ele teria confiança em quem o possuísse. O dono do coração morreu por amor, se você der o amor a ele, ele ira te respeitar por toda uma vida.”

– Faz sentido. – comentou Kauvirno.

– Mas que amor o colar precisa?

– Do amor da amada!

– A mulher da lenda? – indagou Marcelo – Kayo ela esta morta!

– Podemos trazê-la de volta!

– Perigoso demais! – disse Kauvirno.

– Tudo pra você é perigoso demais, kau! – disse Marcelo, e eu concordei.

– Se acharmos a verdadeira mulher da lenda do Colar do Parvo, e trazermos ela de volta, talvez o colar sinta confiança em mim, e me mostre onde estaria a Taça, estou levando em consideração que ele tenha vida, como você disse ontem, Marcelo. É a única resposta.

Ficamos ali por mais algum tempo. Kauvirno e Marcelo saíram da biblioteca, dizendo que precisavam ir a algum lugar. Abriram um portal e passaram por ele, não deu tempo de eu ver aonde eles iam. Eu contei aos meus pais e a Matheus o que tinha acontecido na biblioteca. Logo chegou Nathan, Adrian e minha tia Carol, e eu contei a eles também. Todos ficaram bastante preocupados.


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