O Colar do Parvo escrita por Marko Koell


Capítulo 29
A chegada de um amigo




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Eu realmente não podia mentir a mim mesmo. Nathan estava lindo. Logicamente que eu sempre notei o quão belo ele era, mais tinha uma coisa de diferente nele, naquele dia.

– Viu passarinhos violeta, Nathan? – eu perguntei.

– Melhor do que isso...

– Adrian, cale a boca! – disse Nathan.

– O que maninho, o que tem de mal contar a todos? – disse Adrian rindo – Acontece que Nathan encontrou alguém...

Todos ficaram silenciados. Nathan era do tipo que evitava se apaixonar, porque ele sabia o quanto sofria com isso, ele era lindo, eu não tinha dúvidas disso, e ele sabia disso. Sem contar o seu belo corpo escultural. Era uma visão de outro mundo ver ele, Matheus e Adrian na piscina, aquilo me deixava maluco. Mas no final era Matheus que me satisfazia. Nathan ficou sem graça, quando seu irmão disse isso, no entanto começou a rir. Kauvirno já perguntava quem era, queria saber nomes e onde morava. Minha tia Carol, chegou e se sentou a mesa. Tereza chegou com uma jarra de suco nas mãos.

– Kau, não é alguém em especial...

– Como não? E ela, ou ele, não sei... sabe de seu amor?

– Eu estou falando Kauvirno, não é algo para se fazer tanto alarde, mas... é ela!

– Uma garota? – disse kau – Que bom, uma garota, nossa família já estava precisando, todas as proles que surgiram depois de meu tataravô, se casaram com homens... temos uma família vasta de homens. – disse ele rindo.

Aquilo era justo, eu tinha que perguntar...

– Existe algum encanto, feitiço pra homens engravidar? – eu perguntei, rindo. Todos, obviamente fizeram o mesmo.

– Homens não engravidam, Kayo... – disse Matheus, em gargalhadas.

– Eu sei, sempre tirei boas notas em Biologia...

– Homens, apenas amam, Kayo. Não podemos ter filhos, mais existem casas por esse mundo afora, que abrigaram crianças. Certamente que o governo não sabe disso, se soubesse que casais de homens adotam crianças teriam um enfarte. As coisas são bem feitas, e a maioria dessas crianças são bem jovens, logo fica mais fácil de interá-las ao nosso mundo. – comentou meu pai.

Ouvir aquilo ia dar em merda, com certeza, pois eu senti uma necessidade tão grande de adotar uma criança, e ao olhar para Matheus, ele me abraçou e naquele abraço eu soube que ele havia pensado na mesma coisa que eu.

Depois do café da manhã, que durou mais de três horas, fomos todos até piscina. Era incrível como fazia sol na mansão de Kauvirno, ele odiava o frio. Matheus e Adrian ficaram bastante tempo na piscina, e eu ali abraçado com a minha mãe. Kau e meu pai fazia um churrasco para o almoço. Tereza e minha tia, como sempre fofocando. Nathan se aproximou de mim.

– Kayo, podemos falar?

– Lógico!

Eu me levantei e fomos até um banquinho próximo a umas árvores, perto da piscina. Matheus me olhou, odiando aquilo. Ele morria de ciúmes de Nathan.

– Aconteceu alguma coisa? – eu perguntei a ele, quando sentamos.

– Eu não estou ficando com ninguém...

Aquilo me pegou de surpresa.

– Então?

– Então, eu apenas estou feliz, e como eu sou sempre sério, acabou saindo que eu estava com alguém. Meu irmão é um pé no saco... – disse ele rindo.

– Adrian é uma pessoa... mas o que te deixa tão feliz? – eu perguntei.

– Você! – ele disse timidamente.

Alguma coisa começou a esquentar em mim.

– Como assim, Nathan? – eu o indaguei.

– Eu não posso mais agüentar segurar isso, há dois anos quando eu entrei na mansão dos Taurinos e te vi, alguma coisa explodiu em mim... eu não sei explicar, eu simplesmente me apaixonei.

– Nathan, eu estou com o Matheus...

– Infelizmente está, mas não tem noção do quanto eu queria estar no lugar dele.

– Eu não sei o que dizer...

– E eu fiz uma besteira, mas já é passado e eu espero que quando você descobrir você possa me perdoar.

– Do que está falando? – eu fiquei muito ansioso

– É sobre a...

– O que estão falando aí? – disse Matheus que já estava do meu lado, apenas de calção, sem camisa e todo molhado.

– Nada demais, amor! – eu disse a ele. Ele não pareceu acreditar em mim. Nathan levantou e se retirou.

– Esse moleque tem problema, só pode. O que vocês estavam conversando que quando eu cheguei desconversaram?

– Como você é encanado com as coisas, Matheus! Desde quando eu preciso falar pra você tudo o que eu converso com as pessoas?

– Desde o momento que você aceitou ser meu namorado...

– Namorado? – eu levantei e fiz charme para ele, passando as mãos sobre sua cintura e ameaçando beijá-lo.

– Noivo? – disse ele.

– Noivo? – eu passei a boca no queixo dele.

– Marido? – ele disse quase que em transe.

– Não viaja, Matheus! – eu falei rindo, e sai.

– Você sabe me provocar, você não presta Kayo! – ele disse, correndo até mim, me abraçando e me beijando.

Foi um domingo perfeito, se não fosse por Nathan ter simplesmente sumido. Adrian comentou que havia dito que ia ver a misteriosa garota. Kauvirno não se continha de felicidade. Apenas eu sabia que ele estava se escondendo, porque tinha dito que me amava. Aquilo era loucura demais. Eu não consigo explicar de fato o que estava acontecendo. Eu amava Matheus, mas não nego que algumas vezes me vi na cama com Nathan. Aqueles olhos. Aquela boca. Aquele corpo.

Matheus me mimava, dizia que me amava sempre que podia. Acordava primeiro que eu apenas pra me ver acordando. Ele simplesmente me venerava, e aquilo me satisfazia, tanto na cama, como fora dela. Mas, Nathan era diferente. Havia algo nele que também me chamava atenção. Talvez sua forma estúpida de ser, tivesse mexendo com a minha imaginação. Eu rezava dia após dia para que nada acontecesse, que aquilo fosse apenas um segredo meu. Se Nathan soubesse que aquilo passava pela minha cabeça, a coisa ficaria estranha. Ele começaria a jogar indiretas na frente de Matheus, e se tem uma coisa que Matheus não é, é tonto. Era difícil enganá-lo.

Terça-feira. Nós estávamos na biblioteca estudando quando Kauvirno entrou correndo, gritando meu nome.

– O que foi, homem? – eu perguntei.

– Ele está aqui, venha, venha conhecer meu amigo. Vamos!

Eu fiquei surpreso, pois achei que esse amigo misterioso iria se encontrar comigo no campo de Hayanna, e não aqui, na casa de Kauvirno. Matheus se levantou e veio comigo. Ao chegar á porta da sala principal, havia um homem alto, loiro e forte. Ele era lindo.

– Tudo bem? – eu disse, encantado por ele. Fui até ele e apertei sua mão. Kauvirno estava incontrolável, de tanta felicidade.

– Sim, está e com você? – perguntou ele, com uma voz aveludada.

– Estou bem! Este é Matheus, meu namorado! – os dois se cumprimentaram.

– Kayo, você esta a frente de Marcelo, ele é o maior Elemental que existe na face da terra.

Elemental? Com certeza eu fiquei com um ponto de interrogação na cabeça. Marcelo riu e explicou.

– Sim. Eu consigo dominar os quatro elementos da natureza, e eu fiquei sabendo que você também é capaz de fazê-lo.

– Eu acho que consigo sim, mas todos os bruxos conseguem, não é? Eu quero dizer, todos precisam saber.

– Sim, realmente todos, mas não são todos que conseguem conjurar os soldados do elemento, ainda mais os quatro. Você e eu, somos os únicos que sabemos fazer isso. Bem, apenas eu, o mundo ainda não sabe que você existe.

– Mas estão todos a minha procura! – eu comentei.

– Estão a procura do Colar do Parvo, e não de você, especificamente. Infelizmente você o guarda, seria normal eles sentirem a necessidade de matá-lo.

– Muito acolhedor, Marcelo. – eu disse rindo.

– Desculpe-me, eu não quis dizer isso!

Sentamos, e conversamos durante algum tempo. Kauvirno estava encantado com a visita de Marcelo. Mas também não era por menos.

Marcelo tinha seus trinta e poucos anos, mas muito jovial. Quando o vi a primeira vez pensei, que ele tinha apenas vinte anos. Ele era de uma família tradicional do sul do país. Certamente que uma família de bruxos. E ele era um Mago Elemental, ou seja, ele fazia a mesma coisa que eu tinha a capacidade de fazer, só que ele treinou a vida toda pra ser o que é. Existia ao menos quatro Magos Elementais em todo o mundo. Dois deles eram de países distantes, e já haviam falecido há pelo menos uns cinqüenta anos. O outro era o mestre de bruxaria Doniro, que ensinou as técnicas a Marcelo. Este já havia morrido algum tempo. Marcelo era então o único Mago Elemental que existia no mundo, sempre ganhando em lutas com outros bruxos por assim sê-lo.

Kauvirno mandara algum tempo atrás uma carta a um amigo, este era Marcelo, pedindo que lhe fizesse uma visita, pois Kau havia encontrado alguém semelhante a ele, a Marcelo. No entanto a resposta de uma visita breve só teria chegado nas mãos de Kauvirno um ano e meio depois, devido aos problemas que Marcelo estava tendo em sua vida.

– Os Soberanus chegaram ao sul, alardeando entre a comunidade bruxa, diziam que procuravam por servos que fossem leais. Se nós não nos submetêssemos a eles, um membro da comunidade iria morrer. A coisa ficou pior quando o prefeito da cidade foi atacado por um vampiro. Certamente que morreu, o vampiro acabou usurpando o corpo do prefeito e fez de tudo para que nossa aldeia fosse simplesmente banida.

“Ficamos sem luz, ou água, e não podíamos usar magia, porque havia não-mágicos morando com a gente. Foram meses terríveis.”

– Mas, não tinham como recorrer a imprensa, por exemplo? Eles gostam tanto de falar mal... – comentou Matheus.

– Não tinha como, os Soberanus havia dominado hospitais, a prefeitura, o radio local, televisão. Nenhuma notícia sobre a aldeia era divulgada. Nós não tínhamos como sair da cidade, porque as saídas eram protegidas pela policia. Ninguém suspeito poderia sair. Fizeram um mandato, e entraram em nossas casas, pegando tudo o que eles achavam que era suspeito. Tal como varinhas, cajados...

– Meu amigo, eu estou impressionado. – disse Kau, desapontado – Conhece Mila, não? Pois bem, ela usa um disfarce, é dona de uma taberna onde exilados vão. Eles nunca comentaram nada, e você sabe que se precisa saber de algo basta falar com um exilado. Facilmente penetráveis, acabam soltando a língua por um copo de água que você diz ser pinga.

– Kau, foi realmente horrível. Como sabe meus pais já se partiram há muito tempo, e eu sou filho único. eu não tinha a quem me apoiar, porque os outros bruxos da comunidade estavam com medo. Os Soberanus foram sábios e eu tenho certeza de que estão fazendo isso em outras comunidades.

“Logo eu percebi que tinha que fazer alguma coisa, e que eu não poderia temer. Consegui sair da aldeia e fui até a prefeitura, e com meus soldados elementais, a destruímos.

– Eu vi essa notícia, acho que no jornal. Uma prefeitura tinha sido incendiada... – eu comentei.

– Bem na verdade, eu conjurei os soldados e mandei eles brincarem de pega dentro da prefeitura. – disse Marcelo rindo - Certamente, por se tratar de um lugar político o fato acabou sendo noticiado.

– Então eles estão matando não-mágicos? – exclamou Kauvirno – Isso está saindo do controle.

– Realmente, amigo. Nós temos que achar os outros artefatos o mais rápido possível, e lutar contra Átimos. Somente com o Colar, a Taça e a Espada, nós poderemos ter alguma chance. Nós somos privilegiados por ainda termos nossos poderes, mais muito sãos os bruxos que perderam e desejam isso de volta. Ele esta armando uma guerra, entre os que aceitam ele, e os que não aceitam. E precisamos agir rápido.

– Sim Marcelo, eu concordo plenamente com você. Receio que devo pensar em alguma coisa. Nós precisamos que o Colar do Parvo, nos mostre, nos dê alguma dica de onde está a Taças do Eruditos.

– Ele ainda não mostrou? – perguntou Marcelo, olhando pra mim.

– Não!

– Estranho! – Marcelo parou e ficou pensando um tempo, até que subitamente me perguntou – Diga-me Kayo, a última vez que o usou, o que ele lhe mostrou?

– Me mostrou o túmulo de Átimos, inclusive fomos até lá, pois os pais de Matheus tinham sido sequestrados e estavam presos.

– Sim, entendo. – Marcelo ficou pensativo novamente.

– Amigo, eu conheço esse olhar! – disse Kauvirno, impaciente no sofá – O que está imaginando?

– Estou apenas cogitando, cabe lembrar, o Colar do Parvo é um artefato que da poder a quem o usa. No entanto pelo que me contou sobre os guardiões do colar, o mesmo só aparece para quem ele desejar. Conta-se a lenda, de que o colar é na verdade o coração de um homem, que triste por não ter sua amada, o arrancou e deu a uma serpente para que envenenasse seu coração. O Colar tem vida, portanto... estou correto?

– Sim, está corretíssimo. – disse Kauvirno.

– Pois bem, o que sabemos sobre a Taça, e a Espada?

– Não muita coisa, mesmo assim a Taça ainda tem mais história do que a Espada. Na realidade não se sabe muita coisa sobre esta, mais no conto do Colar do Parvo, a Espada sempre aparece. – comentou Kauvirno.

– E se tanto a Taça, quanto a Espada tiverem vida também? – Marcelo começou a andar para lá e para cá – Estamos apenas cogitando, então podemos ir mais além. No conta da Taça, diz-se que dois homens, os mais sábios bruxos da época, queriam provar que eram sábios. Como eram dois, o povo do vilarejo, bruxos menos desenvolvidos, armaram uma prova de sabedoria. A sabedoria dos dois homens seriam retiradas de suas mentes e postas numa taça, e aquele que soubesse explicar uma simples sentença dada pelo líder do povoado, sem sua sabedoria, e acertasse, teria o prazer de além de ter a sua sabedoria de volta, o prazer de beber a sabedoria de seu oponente. No entanto ao começar o embate, a taça foi misteriosamente roubada e sumiu desde então! E conta-se a lenda de que ambos os homens tinham ligação com o homem que dera seu coração a serpente, criando-se então o Colar do Parvo. A Taça dos Eruditos, pelo menos sua lenda, durou durante séculos, mas nunca ninguém soube se ela realmente existia, ou se era apenas uma lenda, assim como o Colar do Parvo.

“Até onde se sabe, a Espada apareceu recentemente, com um livro de um nórdico que dizia que a espada traria a sorte, o colar o poder, e a taça a sabedoria que qualquer bruxo precisaria para conseguir dominar o mundo, e quebrar as leis dos Ancestrais.

A última visão que Kayo se lembra foi do túmulo de Átimos, e como me disse agora pouco, foi lá que ele foi guiado. A questão é o porquê, ele teria feito isso?”

– Talvez pelo amor que os pais de Matheus sentiam por ele, ou até mesmo pelo amor que Matheus sentia pelos pais. Como o colar foi criado através da destruição de um amor, o que ele realmente deseja é causar o inverso. – disse Kauvirno.

– Exatamente. O colar, na realidade ainda tem vida, e talvez apenas esse amor fizesse com que ele te ajudasse. Ele quer que você seja o guardião dele, por isso ele te da à força que necessita.

– Mas, diga-me Marcelo, e sobre a Taça? – eu perguntei.

– Essa é uma pergunta que eu não tenho a reposta. Pode ser talvez que você esteja desejando a Taça, da mesma maneira como todos os outros sempre desejaram, e então ela permanece escondida. Mas vamos pensar, refletir mais tarde. Estou com fome amigo. E sua recepção já foi muito melhor em outras épocas.

Os dois saíram da sala e foram até a cozinha. Eu fiquei ali na sala com Matheus. Não falávamos nada entre nós, ficamos ali acariciando um o outro, até que meus pais chegaram, e eu contei tudo a eles.


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