Kaos - A Filha de Simbad escrita por PaulaRodrigues


Capítulo 13
Tartarugas Marinhas


Notas iniciais do capítulo

Elizabeth, Kaos e Jack estavam na mesma ilha que Jack diz ter saído usando tartarugas marinhas como jangada. Kaos não acredita nessa história nem por um segundo e está ansiosa para conhecer a história verdadeira dessa fuga.



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Comecei a nadar em direção à ilha e a cada braçada eu ficava com mais raiva de Barbosa, até que finalmente em cheguei na praia, com os pulmões em chamas. Andei pesadamente até chegar na areia e lá eu me joguei de barriga pra cima, com o sol na minha cara e comecei a tentar controlar a minha respiração.

Então senti alguém me cutucar.

– Você... está viva, né?

Abri os olhos, olhei para o lado e vi Jack.

– Estou - eu disse ainda com a respiração ofegante.

– Que pena, teríamos comida...

Peguei areia e joguei na cara dele.

– Brincadeira - ele riu.

– Eu odeio o Barbosa, quero acabar com ele - eu disse e me sentei, olhando o Pérola ir embora ao longe.

– Isso é bom, muito bom. Por que você odeia ele exatamente?

– Como assim?

– Bom... Elizabeth o odeia porque ele pode matar o amor da vida dela, eu o odeio porque ele roubou o meu navio, duas vezes. E você por...?

– Por que ele disse que sou uma versão feminina de você - e bati nele. Não sei porque bati nele, mas essa ideia de eu parecer com ele me deixou com raiva.

– Ora, isso foi um elogio - ele disse sorrindo.

– Não! Podemos até ser bom em planos, mas não sou uma versão feminina sua. Ele diz isso porque não conheceu o meu pai, sou muito mais uma versão do meu pai do que sua.

Sinceramente eu não sei porque fiquei tão nervosa com aquela comparação, acho que de alguma forma eu senti que ofendia o meu pai, não sei explicar muito bem.

– Bom... preciso ver uma coisa - disse Jack levantando e batendo a areia de sua roupa, o que trouxe mais areia para o meu cabelo e para a minha cara.

Me levantei em seguida e comecei a segui-lo, logo atrás de Elizabeth.

– Você já esteve nessa ilha, não é mesmo? - Elizabeth começou a perguntar enquanto andávamos. Parecia desesperada. - Podemos fugir do mesmo modo como você fugiu!

– Fugir com que propósito, senhorita? - perguntou Jack e Elizabeth ficou calada. Eu assistia àquele momento tirando a areia do meu cabelo. - O Pérola Negra se foi e a menos que tenha um timão e umas velas ocultas nesse espartilho, o que eu duvido, o senhor Turner estará morto até que possa chegar a ele.

Prestei mais atenção à conversa. Will. Morto. Mas estávamos na mesma situação, afinal, eu poderia morrer aqui nesse fim de mundo também. Jack então continuou o caminho e bateu em uma árvore como se fosse uma porta, ouvindo-a.

– Mas o senhor é o Capitão Jack Sparrow - Elizabeth insistia. Então Jack começou a contar os passos. - Desapareceu aos olhos de sete agentes das Companhias Orientais. O senhor sacou o porto sem disparar um tiro! - Jack começou a pular na areia e notei que parecia que ali era um pouco duro demais. E então Elizabeth ficou na frente dele e o fez encará-la - O senhor é o pirata de que ouvi, ou não? - Jack não respondeu, só a encarou. - Como escapou da última vez?

Jack andou alguns passos e a encarou. Lá vem a história das tartarugas marinhas.

– Da última vez - ele começou depois de uma longa pausa -, eu fiquei aqui por três dias inteiros, está bem? Da última vez - ele abriu uma grande porta do chão e eu fui correndo ao lado dele pra ver o que era -, os contrabandistas usavam essa ilha como esconderijo. Eles chegaram e eu consegui barganhar uma passagem - ele começou a descer o buraco.

– Há! Eu sabia que a história das tartarugas marinhas era mentira - eu disse e ele parou e olhou pra mim.

– Precisamos contar histórias bonitas, assim como o seu pai com a história da deusa do caos e do fim do mundo - ele disse simplesmente.

– Há uma diferença, meu querido Sparrow. A história do meu pai é verdadeira - eu disse abaixando e ficando da altura dele que já estava com a metade do corpo dentro daquele buraco.

– É mesmo, minha jovem iludida? Tudo isso por causa do seu nome? - ele estava irônico.

– Claro. Meu pai foi conseguir o livro com a deusa para salvar o meu tio, que era o melhor amigo dele.

– Claro, porque piratas arriscam a vida dessa forma para salvar um amigo...

– Foi sim! E minha mãe até foi com ele pra ter certeza que ele pegaria o livro e...

– Tudo bem... seu pai tem uma pintura ao lado da deusa? Porque aí eu acredito. Fora isso, é só mais uma história de pirata.

– Mas é verdade sim, okay? Meu tio me contou a versão dele e batia perfeitamente. A história não possui uma falha, ela é real.

Jack afundou no buraco enquanto eu falava. Claro que a história do meu pai era real, ela é mais lógica do que as tartarugas marinhas presas com cabelo das costas. Jack então esticou a mão mostrando para nós duas uma garrafa de rum com o vidro transparente.

– Vamos relaxar, okay? - ele disse voltando, já que nenhuma de nós pegou a garrafa.

– Então é isso? - Elizabeth ficou nervosa e eu confesso que também fiquei. - Esse é o segredo da famosa aventura do grande Jack Sparrow! Passou três dias deitado numa praia bebendo rum?

Ele esticou os braços e sorriu.

– Bem-vinda ao Caribe, querida - ele empurrou Elizabeth de lado e saiu andando.

Eu o segui enquanto Elizabeth ainda estava chocada. Jack sentou na praia e eu sentei ao lado dele e estiquei a mão.

– Você já bebeu rum antes? - ele perguntou.

– Não - respondi ainda pedindo a garrafa.

– Achei que estivesse com raiva de mim - ele disse me entregando a garrafa.

– Não. Eu ainda vou te provar que a história do meu pai é real, de algum modo. E já que teremos que ter sorte para sair daqui e até lá tenho que conviver com você e com a Elizabeth, acho que ter raiva não vai adiantar nada.

Levantei a garrafa pra ele e ele levantou uma outra que eu não tinha notado antes e batemos a garrafa como brinde. Virei a garrafa na boca e voltei rapidamente. Cuspi um pouco, engoli o resto e comecei a tossir.

– Tá queimando! - eu gritei enquanto tossia.

Ele bateu em minhas costas e riu.

– Você vai se acostumar rapidinho, minha jovem.

Elizabeth sentou ao meu lado com raiva e pediu a garrafa.

– Também preciso de um pouco disso - ela disse e deu um gole e segurou a tossida, porque pela cara dela eu percebi que também queimou.

Continuamos a beber, até que a noite começou a cair e começamos a sentir um pouco de frio. Tentamos fazer uma fogueira na praia, que ficou muito boa e nos aqueceu. Já estávamos muito bêbados, eu pelo menos estava, eu estava rindo de qualquer coisa e então Elizabeth me levantou e levantou Jack em seguida e disse pra cantarmos e então começamos a cantar ao redor da fogueira, os três juntos:

– Nós somos perversos, malvados demais. Bebeis amigos, Yohooo!! - demos um salto e continuamos a pular e a girar. - YoooHoooo YooooHoooo - não estávamos tão afinados por estarmos bêbados, então, já imaginam como estavam lindos nossos gritos. - Eu sou um pirata sim!!

– Eu amo essa canção! - Jack gritou logo em seguida, girou e sentou na areia por não conseguir se manter em pé.

Então eu andei até o lado dele e capotei, me apoiando no joelho dele. Nós rimos exageradamente do meu tombo e eu me sentei do lado dele e Elizabeth se sentou do outro lado.

– Preciso confessar uma coisa - eu disse e eles me olharam. - Nunca pensei que estar ferrada seria tão divertido - eu ri e eles me acompanharam exageradamente.

– Eu concordo - disse Jack com a voz embargada. - E digo mais, quando eu conseguir o Pérola de volta, vou ensinar a tripulação a cantar essa maravilhosa canção. Cantaremos o tempo inteiro!

– E será certamente o pirata mais temido da América Espanhola - Elizabeth disse de um jeito sedutor. Mas espera, ela não gostava do Will?, pensei.

– Não só da América Espanhola, de todos os mares - ele disse de maneira mais sexy ainda pra ela.

É, estou vendo que estou sobrando aqui. Tentei me levantar para caminhar para um lugar um pouco mais afastado mas ainda aquecido pela fogueira que fizemos, que era até grande. Não sei o quão longe fiquei dos pombinhos, mas sei que parei de ouvir tudo o que falavam assim que caí na areia fofinha. Nossa, como a areia era tão fofinha. Acho que nunca senti uma areia tão fofinha em toda a minha vida, que delícia! Meus olhos começaram a pesar e então eu só vi escuridão, não lembro de mais nada.

Até que então eu consegui abrir os olhos. A luz entrou com força nos meus olhos, mas não doeu o quanto eu esperava que doeria. a água brilhava tranquilamente e podia jurar que ouvi um pássaro cantar. Então eu senti que estava com a cabeça apoiada nas pernas de alguém e esse alguém começou a mexer no meu cabelo.

– Bom dia minha pequena Capitã.

Meu coração explodiu. Ele batia tão rápido que meus olhos começaram a se encher de água. Sim, eu ia chorar, ia chorar muito. Há quanto tempo eu não ouvia aquela voz, há quanto tempo eu não sentia aquele toque. Comecei a chorar, mas eu estava com medo de virar e descobrir que não era quem eu pensava que era.

– O que foi minha princesa? - comecei a chorar ainda mais quando senti o carinho que fizera em meu cabelo para conseguir ver meu rosto. Sua voz suave e acolhedora enchia meu coração de felicidade e tristeza ao mesmo tempo.

Não fechei meus olhos para que ele não fosse embora. Então tomei coragem e me virei. Não queria sair do seu colo. Vi então aquele rosto preocupado, aquela barba marrom bem feita e linda, seus cabelos que iam até um pouco abaixo da orelha, seu chapéu simples e vermelho na cabeça que parecia um pano enrolado. Vi seus braços de fora na sua roupa preta e vermelha que tinha um pano amarrado na cintura e o pano estava lá. Voltei a olhar para o seu rosto e seus olhos castanhos e grandes me olhavam com ternura. Seu sorriso de lado que me acalmava e me transmitia confiança.

– Está tudo bem, Kay? - ele me perguntou e eu pude ver até o seu bracelete ao fazer carinho em meu rosto.

Aquele toque fez mais lágrimas descerem em meu rosto, eu não parava de olhar cada detalhe do seu rosto, mesmo com as lágrimas embaçando um pouco minha visão. Então, quando consegui força para falar, a única coisa que consegui dizer sem chorar foi:

– Pai...


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