“Amanda!”

A chuva continuou abafando a voz do Seth. Mas isso não importava.Nada importava. Afinal, eu estava certa. Alguma coisa aconteceu. Algo sério. E nem a voz de Seth me chamando, tão grave e bonita como era a do meu pai, me impediria de ir em direção à minha pobre casa.

Respirei fundo quando eu vi o antigo chevy da mamãe (que agora era do vovô Charlie) parado na frente da casa azul desbotada. A água ficou sinistramente mais fria contra minha pele, meus passos mais lentos, a batida do meu coração mais rítimica e desesperada. Tentei não escorregar nos degraus cobertos de água. Abri a porta de supetão.

Os olhos de Charlie(semelhantes aos meus e os da minha mãe, cor de chocolate) me olharam. Olhos tristes, molhados de lágrimas,as mãos segurando uma foto gasta, seus lábios murmurando meu nome.

Não sabia se tinha mais alguém à minha volta. Só via os meus olhos tristes me refletindo. Os olhos de perda.

Minhas mãos tremeram nervosas. Meu coração parou em uma batida errática, as grossas lágrimas deslizando sobre minha face.

“Oh, minha querida!”

Os braços de Charlie me pegaram no meio da queda. Ele não conseguiria aparar minha queda, seus braços frágeis pedindo ajuda. Senti mãos que pagavam fogo me puxando para o sofá, meu abraço apertado em torno de Charlie, o puxando para perto de mim. O grito agudo saído de mim silenciou a casa, minha boca enterrada na camisa xadreza de flanela para pescarias de vovô. Suas mãos afagavam minhas costas, seus lábios murmurando palavras de consolo entrecortadas pelo soluço.

As mãos calosas de alguém me apertando em outro abraço. Levantei os olhos. Era Vovô Billy. A torrente de histeria aumentou mais ainda. Os urros vindos de mim se tornando altos, desesperados, ardidos em uma ferida interna.

Quantas horas passei assim? Choros desesperados sendo aliviados em blusas? Abraços em pessoas diferente? Braços quentes,tão quentes que eu jurava que abraçava o sol? Braços finos e suaves que diziam palavras doces? Braços mornos que soluçavam comigo?

Meus olhos pesaram do choro, meu corpo moído de cansaço. Braços quentes me levaram para uma grande cama (creio que dos meus pais), e cobrindo delicadamente com uma coberta. Vi seu gigantesco corpo saindo, a pele morena,o cheiro amadeirado no ar,seus longos cabelos negros e...

“Boa Noite, Amanda.”

...a doce voz grave e bonita.

Meu coração apertou no peito, meus olhos tentando se fechar contra a dor. Não conseguia. Tentei.Tentei de novo.Meu corpo não entrava no torpor que eu tanto queria. Escutei da sala uma voz. Uma voz porque era diferente de tudo que eu já tinha ouvido.

A voz do Seth, grave e bonita?

Bah! Quem eu estou enganando?

Essa era a voz mais deliciosa que eu já tinha escutado na minha vida.

“Onde ela está?”

Escutei a voz de Charlie.

“O que...Meu Jesus Cristo! Como você...?”

“Charlie, precisamos conversar...” escutei Billy falando, sua voz quase soberana.

“O que você quer, Cullen?” escutei Sam, os passos ecoando pela sala silenciosa.

“Quero vê-la.”

“Ela está dormindo, Edward.” Seth disse,sua voz pequenina perto desse ser. Edward.

“Melhor.” Os passos rítimicos aumentaram em minha direção.

“Meu filho,por favor.” Outra voz,tão melodiosa quanto a de...Edward apareceu.

“Não Carlisle,eu quero vê-la.”

Os passos pararam. Escutei o rangido da porta se abrindo, um gemido longo e doloroso. Semicerrei os olhos,esperando ver algo.

Pude ver quase indistintamente, mas o que eu vi... Gostei. Um belo menino de seus 18 anos, me observava contra a luz. Não pude ver seus olhos, mas seu queixo de realeza se apertou em uma linha firme. Ele fez menção de se aproximar,mas algo o impediu.

“Não agora, Edward.”

E a porta se fechou.