Semideuses da Tijuca escrita por Zeno


Capítulo 3
Um amigo muito morto


Notas iniciais do capítulo

Olá bípedes, semideuses e tijuquenses, aqui é o Zeno e hoje temos um novo capitulo.
Lembrando o grupo no face: https://www.facebook.com/groups/1434024053526877/?fref=ts

Lembrando que erros de português nas falas são propositais e tem a intenção de retratar da maneira mais fiel possivel a forma de falar das pessoas.



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/515221/chapter/3

Desde tempos remotos a entrada do Submundo ou Hades costumava ficar em lugares sombrios ou isolados: Na Grécia ficava em uma caverna em meio à terras bárbaras; em Roma a entrada ficava dentro do Monte Vesúvio; na Inglaterra a Escocia era o lar do Domínio das Trevas; na França ela ficava nas Catacumbas de Paris e no Brasil a entrada do Reino dos Mortos era um hospital do SUS.

SUS ou Sistema Unido de Saúde é o responsável anual por mais de dois milhões de mortes e isso deixa os domínios do Senhor da Morte sempre cheio de almas que são divididas em quatro domínios:

O primeiro deles chama-se Campos da Punição, o local onde as almas das pessoas maldosas são punidas. Caso sua alma venha para cá as punições incluem: ser servo de um argentino; assistir Zorra Total e Caldeirão do Huck 24 horas por dia e comer feijoada fria. Esse local também é conhecido como Casa da Tia Velha.

Não muito distante ficam os Campos de Asfódelos, local para onde vão das almas das pessoas que não fizeram porra nenhuma na vida ( grevistas costumam ir para cá). Aqui você estará sempre com fome, com sede e o barulho de tiros te manterá sempre acordado... ou seja, é uma versão undergroud da favela. Esse local também é chamado de Morro da Depressão.

O melhor lugar para se viver são os Campos Elíseos, lar dos heróis e pessoas bondosas. Aqui você tem cerveja gelada, seu time de futebol favorito ganha todas as partidas, livros enchem prateleiras, todas as mulheres tem peitos grandes e os homens pirocas enormes. Esse lugar, localizado na zona sul do Submundo é conhecido como Leblon Divino.

O ultimo lugar é o Tartaro, lugar para onde os seres mais desprezíveis do mundo vão. Se você tiver o azar de cair aqui, meu amigo... vou te passar seu novo cronograma diário: da meia noite até as 2:00 teremos show do MC Daleste; das 2:00 até as 4:00 vai ter micareta, mas todas as putas tem AIDS, sífilis e trombas (vulgo jirombas); das 4:00 até as 7:00 nós temos a confraternização e palestras de Adolf Hitler, Stalin e Hebe Camargo; das 7:00 até as 10:00 ocorre o café da manhã, onde você pode saborear deliciosos pratos como: suco ades, chocolate com acido, maça com navalha, saco de ruffles cheio de ar e pizza de abacaxi; as 10:00 até as 14:00 temos o sessão funk sucessos acompanhado da degustação de cocaína estragada; das 14:00 até as 18:00 todos os nossos residentes terão a oportunidade de estuprar outros residentes e para isso será fornecida uma gama de apetrechos tais como: cactos em forma de pinto, coleiras de choque e consolos tamanho Kid Bengala; depois das 18:00 você estará livre para escolher entre as diversas atrações do Tártaro. Esse local também é conhecido como Baile Funk.

XXXX

Um garoto de cabelos negros caminhava calmamente pelos corredores sucos do SUS. A iluminação era horrível e no chão doentes estavam deitados sobre pedaços de papelão velhos. O rapaz, no entanto, achava aquela cena reconfortante e conforme adentrava mais no hospital sentia-se ainda mais forte.

O nome desse sádico? Jean Paul, João Paulo depois que veio para o Brasil, mas seus amigos o chamavam de Gasparzinho, o fantasminha mau humorado. Ele Ra um filho de Hades e como todos os filhos do Senhor dos Mortos ele não pertencia a essa época. Tinha nasci em 1822 e viera para o Brasil durante a Revolução Farroupilha, sim ele é gaucho e sim, ele mata todos que fazem piada sobre cacetinho.

Devido a uma série de eventos os quais eu não sou permitido de falar por causa da moral e dos bons costumes, Jean ficou em hibernação por séculos até ser — infelizmente — reanimado no ano de 2010.

Voltando a falar um pouco do garoto ele aparentava ter 16 anos. Os cabelos eram negros um pouco compridos, os olhos avermelhados como os de um demônio faminto e a pele muito branca. Usava uma calça jeans preta, uma camiseta vermelho escuro e uma jaqueta, também preta.

Depois de muito caminhar pelos corredores sujos o rapaz finalmente chegou ao lugar que desejava: um quarto privado, um dos poucos quartos privados de qualidade naquele lugar imundo. Ele abriu as portas e logo ficou surpresa.

— TALQUINHO?! — um garoto extremamente branco de olhos azuis e cabelos platinados estava deitado na cama de armar.

— Oxê, Gaspar, que faz aqui? — perguntou, com alegria.

Aquele garoto, cujo nome verdadeiro era Jorge era um dos milhares de filhos de Apolo, deus do sol, musica, profecias e poli dance. Era também baiano, albino, gay e pagodeiro ou seja, se você tem algum tipo de preconceito é bem provável que não vá gostar dele.

— Pergunto o mesmo. — fechou a porta de madeira. — O que você faz em um lugar desses?

— Sabe como é, — o garoto sorriu e coçou a cabeça, sem jeito. — eu tava na parada gay, super feliz, soltando a franga legal... mas ai chegou uns evangélicos querendo nos bater com umas lâmpadas fosforescentes, daquelas compridonas.

— E conseguiram?

— Não é fácil acertar uma pancada em um bando de bichas histéricas, mas eu fui um alvo bem popular. — Talquinho era tão delicado e andrógeno que parecia uma mulher sem peitos. — Então, o que faz aqui? — pegou uma caixinha de suco e começou a tomar.

— Meu pai disse que tinha um semideus morrendo por aqui e como eu sou o responsável por recolher as almas de semideuses...

— Awn, você veio ver se eu estava bem. — Jorge colocou as mãos sobre as bochechas vermelhas. — Que fofo, que fofo.

João fez uma cara de nojo.

— Não é nada disso, eu só...

De repente o volume da televisão do quarto ficou bem alto e os dois garotos olharam em sua direção: a vinheta de noticia urgente estava passando e subitamente a repórter apareceu.

— Hoje a Favela da Rocinha foi o palco de uma das mais brutais disputas de facções da história. — o jornal mostrou a imagem de casas pegando fogo, ruas destruídas e cadáveres baleados. — Segundo relatos um carro blindado portando metralhadoras e lança granadas saiu do topo do morro em uma velocidade de 120 quilômetros por hora e disparou incessantemente até sair da comunidade. O total de mortos está calculado em cinqüenta e o dano patrimonial em quatro milhão de reais.

João desligou a TV e olhou para Talquinho, por fim os dois disseram ao mesmo tempo:

— Zé...


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Gostaram? Lembrando, quem não der review vai ser visitado pelo Zé e seu delicado veiculo