Semideuses da Tijuca escrita por Zeno


Capítulo 2
Rei do morro


Notas iniciais do capítulo

Os erros de português são propositais e tem como objetivo representar o jeito de falar das pessoas das favelas.



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a ensolarado e extremamente quente no Rio de Janeiro, a segunda cidade mais importante e populosa do Brasil. O sol dourado levantou-se no leste e a primeira coisa iluminada por ele foi o Cristo Redentor, o lugar mais importante do mundo, mas não por seu significado cristão e si por abrigar o Monte Olímpio, casa dos deuses gregos. As águas da Baia do Guanabara estavam incrivelmente azuis e poucos navios navegavam por elas.

A estrela dourado de Apolo ergueu-se mais no céu, começando a iluminar as casas decadentes das favelas cariocas — construídas umas por cima das outra nas beiradas de diversos morros prestes a desabar.

Um jovem de 16 anos, mulato e de olhos castanhos encontrava-se em uma dessas casas. Seu nome? Zé, Zé dedo quente, para ser mais especifico, acordou as oito da manhã, contudo não foi por causa do brilho do sol e sim por causa do barulho de tiros.

— MK17. — murmurou, sem tirar a cara do travesseiro. — Esse fuzil é uma merda, ninguém usaria em um tiroteio, a não ser que... Merda, o flamengo deve ter ganhado o jogo. — Zé tinha o dom de reconhecer armas de fogo apenas ouvindo o barulho produzido por elas e nas favelas do Brasil era comum os torcedores darem tiros quando seus times ganhavam. O rapaz foi tentar pegar o relógio da mesa de cabeceira, mas acabou caindo da cama, em um chão gelado de concreto — Oh, legal. — ele não sentiu muita dor, mas a situação foi tão constrangedora que ficou deitado olhando para o teto descascado.

— Ô, chefia. — a porta do quarto abriu-se e um mulato magro com dentes de ouro e camisa do Vasco entrou.

— O que você quer, Paulo? — Zé estava com a voz irritada, típico de quem acorda muito cedo e lançou um olhar mortal ao visitante, cujo rosto estava tapado por enormes óculos de lente colorida.

— Sabe como é, — ele encolheu os ombros magros — o Pedro Rodrigo tá lá em baixo, disse que tu deve uma grana pra ele. — dever uma grana era o motivo de muitas mortes no mundo, principalmente nas favelas.

— Caralho! — Zé foi se levantar e bateu com a cabeça na quina da mesinha de cabeceira. — Diz que eu to descendo, só preciso pegar a grana.

— Tá limpo. — Paulo tentou não rir e saiu do quarto e fechou a porta.

Zé, agora sozinho respirou fundo, pensando em como iria se livrar de Pedro. Falando no Pedro, permita-me falar um pouco mais sobre esse interessante ser humano figurante: Ele é um cara branco que mora na favela — sim, eu sei que isso é raro, mas existe —, ele tem 22 dois anos e manda em dois terços do morro — Zé tinha outro terço e os gêmeos Silva dividiam entre si o outro terço. Pedro torce para o flamengo e adora provocar Zé até o mais novo concordar em apostar muito dinheiro e agora, Zé devia 2000 contos.

O garoto mulato de olhos castanhos ficou olhando para o teto pelo que pareciam ser horas, mas então lembrou-se de uma coisa! Ele era Zé dedo quente e não ganhou esse apelido a toa: ele sempre era o primeiro a atirar durante os tiroteios e por isso ficou famoso por sua ousadia ou simples falta de bom senso. Somado a isso era um Semideus, filho de Ares, o Deus da Guerra que vivia no Morro do Alemão liderando a Tropa de Elite... ou você achou que o Capitão Nascimento era um simples mortal?

Zé só freqüentava o Acampamento Meio Sangue no verão, mas nos meses que passava lá recebia treinamento militar de ponta, sem falar em comida deliciosa.

Desde que os PM começaram a tomar conta dos morro o garoto pensava em fugir, mas agora a ideia ganhará muita força em sua cabeça. Levantou-se, tomando cuidado com a mesa, e passou a mão nos cabelos negros e crespos.

— Má não é hoje que eu pago esse filho da puta. — ficou de joelho e olhou em baixo da cama: haviam muitas tralhas, mas tudo que ele queria era a comprida caixa de papelão — Se ele quer 2000 pilas ele vai ganhar 2000 pilas, — encaixou o pente em uma Ak-47 tirada da caixa — mas vai ser em balas.

Lá embaixo, na cozinha, Paulo fazia o possível para enrolar Pedro.

— Muleque, cadê o teu chefe? — Paulo tinha os cabelos loiros, mas não eram naturais e sim tingidos de uma maneira tão porca que ele parecia o Belo albino.

— O Chefe já tá descendo, sinhô, quer uma cervejinha? Um cigarro? Uma massagem? Uma playboy novinha?

Pedro fez uma cara de nojo.

— Só me de o dinheiro e eu vou embora. — olhou em volta. — Esse lugar me dá nojo, muito nojo. — ouviu o destravar de uma arma atrás de si e olhou por cima do ombro. — Bonito brinquedo, Zézinho, mas eu já sou muito velho para brincar com isso.

Pedro não era realmente velho, mas tinha atingido um poder tão grande que não precisava mais pegar em armas.

— Não precisa brincar comigo, só me diz se tá funcionando. — deu um tiro nas costas da cadeira de madeira e quase acertou a espinha do visitante. — Você entende tanto de armas e seria um prazer ouvir um veredito vindo de você. — deu outro tiro e Paulo, com um sorriso, fechou as persianas de plástico.

— Você é uma putinha, garoto. — o torcedor do flamengo caiu no chão de lajota flroida. — Quando meus caras pegarem você vão rasgar essa sua bunda todinha e encher sua boca de pirocas — gemeu de dor e tentou levantar-se. — AI! — recebeu um tiro no pé.

— Vacilão morre cedo, cumpadi. — Zé ficou de cócoras na sua frente e mostrou um revolver dourado. — Você enche meu saco por anos, fica quebrando meus negócios, vem na minha casa cobrar dinheiro e ainda vem sozinho? Mermão, você é um cara muito zuado. — colocou o cano gelado da arma na testa do rival. — Eu queria me divertir mais com você, mas tu estragou tudo isso, babaca! — apertou o gatinho e miolos de vigarista espalharam-se para todo o lado.

— Chefia, posso ficar com o relógio? — Paulo olhou com desejo para a jóia dourada no pulso do morto.

— Fique a vontade. — o rapaz sentou-se no chão e respirou fundo, apreciando o prazer do momento e diminuindo o nervosismo de um assassinato a sangue frio. — Quer saber de uma coisa? Pode ficar com tudo dele e fica com essa merda de casa também?

Ele sorriu com os dentes de ouro.

— Tá pensando o que, chefia?

— No momento? — olhou as janelas fechadas e pensou o quantos seria difícil descer o morro depois daquilo. — Qual é o recorde de tiros que uma pessoa agüenta.


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Notas finais do capítulo

Sou carente, give me reviews u.u