As Cicatrizes Mentem escrita por Sereia Literária


Capítulo 21
Capítulo 21


Notas iniciais do capítulo

Mil perdões, sei que demorei muito a postar esse capítulo!!! Eu sei que alguns não vão acreditar, mas eu não toquei em um computador desde quando postei o capítulo 20! Desculpem, espero que gostem!



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(Alex)

Ele havia me dito que não me mataria até ter Nove submetido e assistindo... Mas eu estava ficando cada vez mais incerta disso. Voamos durante horas, ele me segurando pelo braço, que eu pensava já ter perdido, afinal, já não o sinto desde ele o torceu horas antes. O vento e suas rajadas cortam meus lábios, e em horas acho que perdi a consciência, oscilando entre este e o outro lado da vida. Meus olhos ardiam, e eu não conseguia deixá-los abertos sem me imaginar caindo e morrendo.

Em um de meus devaneios, eu o vi. Foi como um pequeno flashback...

–Linda filha! Minha linda bailarina!-dizia minha mãe, os olhos marejados e os braços ao redor de uma rechonchuda garotinha ruiva de quatro aninhos. A barriga dela já começava a crescer, mas na época que não sabia que seria irmã mais velha. Foi minha primeira apresentação de ballet, mas meu pai não pôde comparecer.

Agora estava andando de bicicleta, e logo depois, acariciando minha gata, Lily.

Agora, brincava com Jamie...

Agora, me encolhia diante da presença de um moço lindo, com ombros largos e musculosos, que me interrogava e ameaçava em uma lanchonete de beira de estrada...

Abro os olhos, a garganta seca, o vento invadindo meu ser, como se a levar meu espírito para longe do meu corpo, querendo-o deixar como uma carapaça vazia e sem nada. Durante todo o percurso, Cinco faz promessas de tortura e morte, mas depois de horas, já nem o ouço nem faço nada para tentar ouvir.

Girando... Girando... Viro o pé e estou em seus braços fortes e quentes. Ele me ergue. Outra lembrança; braços fortes me levando para a cama, mãos grandes e delicadas acalmando meus cachos, uma voz firme, porém dócil:

–Alex, não posso fazer nada pelo Jamie... Mas eu juro, pela minha vida, que vou te proteger, e que nada, nem mesmo Cinco ou o próprio Setrákus Ra vai lhe fazer mal. Estarei com você.

Um sorriso. Uma luz... Escuridão.

A escuridão. Escuro, escuro escuro. Medo, dor. Medo de dormir e não acordar, mas um medo ainda maior de dormir e acordar. Um lugar pequeno, apertado. Úmido, gelado. Não posso respirar. Abafado, abafado. O ar queima as narinas, os pulmões, tudo. Quando penso se tratar da morte, meus olhos se abrem em um movimento involuntário. Estou submersa, nas águas escuras de algum lugar... Meu corpo inteiro dói, e sei que não tenho forças de nadar ou simplesmente de raciocinar. É mais fácil deixar o resto de vida, calor e felicidade que há em meu corpo se esvair aqui mesmo, nas ondas do mar... Fecho os olhos, mas não tenho coragem de me deixar morrer. Isso seria deixá-los vencer, deixar que minha família tenha morrido em vão, provar que eu não era corajosa e que eu não merecia o amor de ninguém. Com forças que eu não sei de onde tirei, dou braçadas desesperadas em direção ao pálido amuleto prateado que é a lua acima do oceano. Quando chego à superfície, percebo que eu estava praticamente morta. O ar invade meus pulmões, mas a água gelada parece estar presa. Tusso incessantemente enquanto as marolas tentam puxar minha cabeça para o fundo do mar novamente. Depois de estabilizar minha respiração, olho ao redor. Ele não está lá, mas eu não entendo por que me deixou, simplesmente. Talvez pensasse que eu já houvesse morrido, mas com certeza não iria me deixar no mar, meu corpo sendo comido por um tubarão... Com certeza, se o meu destino fosse um tubarão, ele iria querer platéia, uma bem específica, na verdade. Então, como se o mar quisesse me cuspir para longe, suas marolas começam a ficar mais fortes e densas, e, feliz, percebo estar chegando em uma área de arrebentação ao mesmo tempo que o céu vai se tornando rosa, alaranjado, e o sol começa a dar luz a uma noite de trevas e escuridão. Fecho os olhos e me lembro das palavras de minha mãe:

´´Deixe que ele a leve, não lute contra a correnteza ou arrebentação``

Pela primeira vez na vida, fiquei feliz em me deixar ser arrastada pelo mar e por existir uma área de arrebentação tão forte, afinal, não conseguiria chegar até a praia sem ela.

(Marina)

Finalmente, após longas e cansativas 6 horas, conseguimos uma lugar certo de para onde Cinco levou Alex; em algum lugar no Mar Caribenho, perto de Porto Rico. Nove está inquieto, um misto de raiva e nervosismo, mas no fundo, sei que ele está com medo, apavorado, na verdade. Esse pode ser um Legado novo; saber o que se passa na mente e no coração das pessoas, mesmo que seu rosto esconda.

–É isso mesmo-confirma Malcolm, tirando os óculos e esfregando os olhos.

–Estão mesmo no Caribe?-pergunta Nove, inquieto.

–Com certeza, e provavelmente em um dos arquipélagos bem ao lado de Porto Rico-confirma Sam.

–Então estamos perdendo tempo! Temos que ir-diz, mas logo é detido por Seis.

–Não devemos ir todos. Pode ser o nosso fim, pode ser isso que ele queria, que todos nós fôssemos todos juntos e...

–Certo, quem vem comigo?

–Nove, não é bem assim...

–Claro que é bem assim Seis. Eu vou atrás dela, e não pense que poderá me fazer mudar de ideia.

–Eu vou com você Nove-digo, e Oito logo dá um passo a frente, segurando minha mão.

Nove acena com a cabeça em sinal de agradecimento, mas logo seus olhos estão nos demais.

–Mais alguém?

–Quanto menor o grupo, melhor-digo.

–Certo, vamos-diz ele, estendendo a mão para Oito, mas ele hesita, e olha para John.

–Onde nos encontraremos?

–Daqui a uma semana, vocês podem demorar um pouco para encontrá-la.

–Onde?-pergunto.

Mas então uma estranha sensação de estar sendo observada se apossa de mim.

–Manteremos contato. Os ouvidos estão em toda a parte.

Dito isso, nos teleportamos.

(Luna)

Estamos - contra a minha vontade - em um passeio de barco, prontos para um mergulho. Seguimos em uma lancha muito maior do que realmente era preciso, e eu não consigo me manter acordada. A foto da noite anterior me assombra, e eu simplesmente não consigo acreditar que esteja indo para os mesmos lado que aquele ser foi. Ainda mais sabendo que essas águas tem muitos tubarões, o que já me apavoraria por si só. Estamos passando por pequenos arquipélagos quando descemos perto de um paredão de rochas, para um mergulho magnífico. Enquanto o guia explica as regras com seu charmoso inglês com sotaque caribenho e pele bronzeada, não posso deixar de me imaginar na noite anterior no lugar da pessoa que ele levava; preciso encontrar John Smith, e rápido.

Consigo convencer meus pais a me deixarem ficar, mas Josh fica emburrado, afinal, se a irmãzinha mais nova (só por 3 segundos) não quer ir, ele também não pode. Assim que todos descem do barco, ele começa a reclamar.

–Você sabe que eu queria fazer esse mergulho desde que nós chegamos-comenta ele, os braços cruzados sobre sua ridícula roupa de borracha.

–Ah, sim. Claro-digo, mas na verdade queria mandá-lo calar a boca, afinal, não é fácil tentar roubar um barco desses.

–O que você está fazendo?-pergunta ele pausadamente em tom inquisitório.

–Roubando um barco-respondo sem o menor pudor.

–Com que motivo?

Só com o meu olhar, consigo fazê-lo entender. Ele logo fica irritado, mas quando vai falar, ouve um grito fraco e distante, mas não muito. Ele logo arregala os olhos e pula para o meu lado, ligando a ignição e fazendo o barco ir para longe, muito, muito longe.

–Espero que saiba o que está fazendo!-grito, o cabelo batendo em meu rosto.

–Claro que sei-responde ele, chegando perto do arquipélago do qual ouvimos o som.

(Oito)

Nos teleporto rapidamente por todos os arquipélagos em um raio de 10 quilômetros ao redor de Porto Rico, procuramos rapidamente e passamos para o próximo.

Todos parecem iguais, com a areia branca e as folhas verdes; a água cristalina e os peixes e aves coloridos sob e sobre nós. Então, depois de mais de duas dúzias de ilhas, ouvimos um grito.

(Marina)

Sinto o pavor dentro de Nove quando ele reconhece a voz de Alex. Sinto isso como se fosse eu mesma. Logo nos separamos; ou pelo o menos ele, afinal, Oito nunca me deixaria sozinha em uma ilha assim.

(Luna)

Entramos na ilha com sua mata densa. Posso ver na areia alguns sinais; um pouco de sangue seco, alguns fios de cabelo... Isso me apavora. Parece até um filme de terror, em que a mocinha -que costuma ser mais burra que uma porta ou uma pedra- vai atrás de um assassino ou um monstro ridículo que vai te assombrar de noite mesmo você sabendo que ele é puramente ficcional. A diferença entre mim e as mocinhas burras dos filmes é que eu tenho um propósito mais sério do que minha curiosidade de colegial besta.

Ouvimos o som de passos e nos entreolhamos. Sabemos que são de pessoas, então paramos e nos tornamos tão silenciosos quanto borboletas. Antes que eu perceba, perdi Josh de vista, e eu estou sozinha. Pelo o menos, o som dos passos cessaram...

Ando mais adiante, percebendo galhos quebrados, mais sangue e algumas tiras de roupas nesse ou naquele arbusto espinhento. Quando ergo os olhos, uma coisa horrível, uma cena desumana me pega de surpresa; com os braços erguidos sobre a cabeça o os pulsos amarrados em um tronco mais grosso que a maioria, uma moça com o corpo machucado, vestida em trapos do que parecem ter sido um dia roupas ótimas de atividade física. Cortes em suas pernas, braços e rosto. O cabelo, ruivo como o sol, está espalhado pelo chão. Em seus olhos, uma venda de um pano simples repousa, e eu duvido que ela esteja viva. Meu coração fica acelerado, e toda a coragem e confiança que antes brotavam dentro de mim se esvaem quando saio correndo quase involuntariamente na direção oposta, lágrimas de frustração, medo, raiva e pavor tomam conta de mim. Então, esbarro em alguma coisa muito, muito grande e caio de costas. Quando abro os olhos, me deparo com três adolescentes: dois meninos, ambos de portes musculosos e ombros largos, bonitos a sua maneira; o primeiro, de pele bem morena e olhos verdes, milimetricamente mais baixo que o segundo, no qual esbarrei, com semblante mais feroz e pele mais clara. A moça está de mãos dadas com o mais moreno, e ela é alta, de cabelos escuros e olhos azuis. Vendo meu medo, ela se abaixa.

(Marina)

–Não precisa ter medo...-digo a ela, pois sei o que está sentindo. Sei que ela viu alguma coisa, mas não sei o que é. Sei que, independentemente do que viu, pensa que fomos nós. Delicadamente e com cuidado, toco suas têmporas e entro em sua mente.

Meus olhos se abrem com a angústia que vi nos dela, logo me levanto, trêmula, e Oito me abraça enquanto soluço.

(Luna)

O maior deles se ajoelha na minha frente.

–Onde está ela?-diz ele, em tom ameaçador.

–Eu... Eu... E a vi, está...-começo a olhar em volta, procurando a direção, mas não é necessário. Todos ouvimos mais um grito, e é quando os três somem de meu campo de visão.

(Nove)

Passo correndo e finalmente a encontro; está em estado deplorável, machucada, com cortes e escoriações pelo rosto e pelo corpo. Os cabelos, antes longos como os de uma sereia, tosquiados na altura das orelhas, o que sobrou deles jogado aos seus pés. Meus olhos se enchem de lágrimas enquanto me aproximo. Toco com delicadeza sua bochecha vermelha, e ela se contrai ao sentir meu toque.

–Por favor...-murmura.

–Alex...-me aproximo lentamente dela, com movimentos delicados, enquanto Oito desamarra seus pulsos e eu a seguro, pois está tão fraca que provavelmente desabaria.

–Nove...-diz ela, a mão trêmula tocando meu rosto enquanto eu a levo para os pés de uma árvore.

–Alex-diz Marina, se aproximando e pegando sua mão.

Quando a coloco na árvore, tiro sua venda com cuidado. Seus olhos estão fechados e inchados.

–Pode abri-los agora...-digo.

Ela comprime os lábios e segura o choro.

–Não fará diferença-diz ela. Uma tristeza e uma raiva tomam conta de mim. Ele a cegou.

–Sim, eu fiz isso-a voz de Cinco ecoa atrás de mim.

Ele vai pagar, muito, muito caro. Não com um olho, ou dois, mas com a vida. Depois disso, nem mesmo o próprio Píttacus me impedirá de matá-lo.


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