Minhas escolhas sempre foram feitas por terceiros ou pelo meu pai, o Rei. Honestamente, nunca soube direito o que era tomar uma decisão, também nunca me preocupei para tal fato, contudo, no meu aniversário, lá estava ela. Rosalya era o seu nome e tive quase certeza que ela mudaria meu mundo.

“Hei de falecer sozinho...” Era o que meus pensamentos diziam sempre quando me via cercado por princesas de outros reinos, todas elas eram fúteis ou só estavam interessadas na minha beleza — sou muito parecido com o meu pai, cabelos negros e olhos cinza —, e suas conversas não eram interessantes, pelo menos, para mim.

O que eu gostava? Também era uma boa pergunta, nunca parei para pensar no que eu queria exatamente, só sei que não estava a fim de ser Rei em hipótese alguma, por isso sempre desejei vinda longa ao meu pai e rezava aos deuses que nascesse mais um membro nesta família, o que levou alguns séculos para acontecer, mas aconteceu. E bem, digamos que Lysandre e sua existência fora um alívio para mim. Poderia colocar toda a responsabilidade nele, era isto que eu pensava naquela época. Contudo, no dia do meu aniversário muitos de meus pensamentos mudaram quando conheci Rosalya.

Ela era filha adotiva de uma fada chamada Morgana, essa era única coisa que sabia ao seu respeito, e que também ela acabara de se tornar uma costureira real, a costureira da nossa família. Foi assim que a vi, sendo anunciada pelo Rei e tirando as medidas dele e minhas. Nessa época Lysandre não era nascido e minha mãe estava nos Céus — ela é uma deusa —, ela podia me visitar apenas algumas vezes, então, eu só tinha como exemplo a figura paterna e acabei me tornando muito parecido com ele, incluindo a personalidade teimosa que gosta das coisas de seu jeito, a única diferença, é aquela que já citei, eu não sei o que eu quero e também não sei o que eu gosto.

~*~

Aos poucos fui descobrindo duas coisas que gosto e duas coisas que eu queria isto deram quatro itens que acabei listando como objetivos na minha vida:

Primeiro: eu acabei criando um gosto pela costura, acho que vou viver disso; segundo: eu acho que gosto da Rosalya, eu vou observá-la por mais tempo para ter certeza; terceiro: eu não quero me tornar Rei (deixarei isso com um futuro irmão, quem sabe?) E quarto: eu quero me casar com a Rosalya, mas isso está fora de alcance (deixarei isso em observação também).

O problema disso tudo era que eu não sabia qual deles escolher primeiro, como disse, nunca precisei tomar nenhuma decisão.

— Oujisama, até quando pretende me seguir? — ela me perguntou parando, parei um pouco atrás, mais distante, e ela me tirou do mundo dos pensamentos, onde estava elaborando minha lista de objetivos na vida mentalmente.

— Rosa, eu já falei que pode me chamar de Leigh quando não tiver ninguém por perto. — disse, querendo mudar o assunto da pergunta anterior.

— O senhor ainda não me respondeu. — ela dizia com um sorriso divertido e sincero, com certeza, era o sorriso que eu mais gostava nela.

Esse era um daqueles momentos que eu deveria decidir e ainda não sabia o que escolher.

— Pretendo te seguir até que você se case comigo. — respondi sério, aproveitei a oportunidade que estávamos a sós naquele corredor imenso e tudo que se ouviu foi o cesto cheio de tecidos, que ela segurava cair no chão, enquanto ela me encarava surpresa.

— N-não devemos... — ela se agachou para pegar o cesto e apenas me aproximei dela, ficando agachado e acabei dando-lhe um beijo na bochecha.

Foi quando ela começou a chorar e eu sempre soube que meus sentimentos eram correspondidos. Suguei as lágrimas salgadas com os meus lábios, distribuindo beijos por toda a sua face e cheguei aos seus lábios tão delicados quanto ela própria. Não pude me contar e os beijei.

Decidi ali, sozinho, que ela seria minha. Mesmo ela sendo mortal e eu imortal, mesmo sabendo que ela iria morrer e eu ficaria.

Logicamente meu pai não aceitou isso e me tirou todos os direitos, na verdade, agradeci aos deuses por isso acontecer, assim faria o que bem entendesse e depois de alguns séculos, meu irmão tinha nascido e eu nunca o vi — por causa da lei idiota que meu decretou que ninguém pudesse mais ver seus filhos, tendo é claro algumas exceções como certos amigos ou parentes até mesmo alguns empregados e seguranças — porém, com as exceções de minhas visões sobre o futuro, devido a minha capacidade de mexer no Tempo e no Destino, afinal, eu era um deus também e herdei as habilidades de meu pai, enquanto Lysandre tinha os de nossa mãe, até mesmo a aparência era igual.

Não houve nenhum momento que desejei não vê-lo pessoalmente, porém, esperei pacientemente o dia certo; o dia em que aquela que nasceu para salvar meu irmão nascesse e assim quebraria esta lei idiota e, também deixaria ser permitida a união entre humanos e deuses.

O dia tinha chegado e Chiba Ai estava sob minha responsabilidade. Eu a trouxe para nosso mundo quando vi que ela estava pronta mesmo nem ela sabendo disso, fiz tudo com um único propósito egoísta de fazer meu irmão ser feliz e ainda continuar sendo o que deseja ser: um bom Rei.

Fiz tudo isso com a desculpa esfarrapada que era por causa do meu irmão, mas honestamente só queria esfregar estas leis ridículas na cara de meu pai e fazer Lysandre mudar todas elas, pois é por causa dela que estamos em guerra com outros países e é por causa disso que Lysandre vai ter que se casar com uma deusa que ele não ama.

Não vou permitir que isso aconteça. Durante muito tempo deixei que outros tomassem as decisões por mim, apenas cansei disso, e não queria mais ver as pessoas fazendo aquilo que não gostam, só porque dizem não ter mais o poder de escolha, eu daria a elas as escolhas e o poder de tomar decisões novamente. Faria uma revolução e usaria todos os meios possíveis, este foi e é um objetivo que coloquei em minha lista quando Rosalya morreu, porque a primeira decisão que tomei sozinho fora me casar com ela.

Eu estou feliz com a possibilidade de mudar meu mundo. Tenho certeza que não morrerei sozinho.