Com o velho abajur do pequeno quarto de apartamento como única fonte de luz, Davi achava aquilo o suficiente para ver aquele pequeno corpo embaixo do seu, com o bônus de que ele se deliciava com os pequenos olhos que brilhavam tão próximos aos dele, tamanha era a delícia que lhe permitiu sorrir. Ela deixou de acariciar as costas do rapaz para tocar seu rosto, que ele reagiu fechando os olhos, sentindo o contato delicado das mãos. O melhor para Davi era saber que não sentia mais o sabor do proibido, aquilo que estava prestes acontecer seria real, sairia de seus sonhos.

Não tinham nenhuma pressa, a noite seria só deles. O vento batia na janela ecoando o único som no quarto, além da respiração dos dois. Ainda tocando o rosto de Davi, Megan constatou, involuntariamente:

–Parece mentira!

Falou baixo.

–Pra mim, parece um dos sonhos que eu tenho tido... -Ele respondeu no mesmo tom.

Ele viu quando os seios subiam e desciam com a respiração e quase não conseguiu tirar os olhos dali, o que a fez suspirar de satisfação ao ver o que estava causando nele. Daquele momento em diante, não havendo mais nada que os impedisse, Davi fez Megan sua, dando a certeza de que tudo era real e não alucinação. A sensação era arrebatadora, tinham a impressão de que lua que brilhava do lado de fora lhes sorria e que só aparecera aquela noite especialmente para agraciá-los com os feixes de sua luz que entravam pela janela.

Mas ambos também sentiram algo estranho. Era como se já tivessem vivido aquela cena antes, pois um parecia conhecer cada parte do corpo do outro. Como se o amor que se intensificava naquele instante, já existisse bem antes, de alguma forma.

*** *** ***

Na manhã seguinte, Pamela encontrou Jonas preocupado na mesa do café. Ela sabia o motivo, ele só podia estar preocupado com o fato de que Megan, mais uma vez não dormira em casa, mas a mulher não sabia se devia contar da mensagem que Megan lhe mandara na noite anterior.

"Mom, estou indo procurar Davi, nem que seja para discutir. Kisses!!"

–Jonas, você não está comendo, baby? -Ele meneou a cabeça.

–Pam, você sabe que Megan não está no quarto, não é?

–Oh sweetie, what the problem? Achei que já tivesse se acostumado...

–Eu sei, acontece que nós discutimos e... bem, você sabe como ela se comporta nessas festas quando está chateada. Age como uma inconsequente, bebe até não poder mais, nem quero pensar no resto.

Ele demonstrava impaciência, mas Pamela esboçou um sorriso doce.

–Calm down Jonas, Megan me mandou uma mensagem dizendo que ia procurar Davi. Sei que ela está em boas mãos, relax!

Pamela não pôde imaginar a satisfação que causou no marido quando disse isso.

–E você acha que eles...

–Se tivermos sorte, yes!

Os dois sorriram animados, mas não pelas mesmas razões.

*** *** ***

Megan abriu os olhos com dificuldade enquanto sentava na cama e, não vendo Davi ao seu lado, se viu na mesma situação de noites atrás, quando ela acordava achando que tinha tido a noite perfeita com ele e depois percebia que tudo não passava de um sonho bom.

Se jogando novamente na cama, não se atendo ao fato de estar com o corpo coberto apenas por um lençol num quarto desconhecido, perguntou em voz alta:

–Damn! Davi, porque você não pode ser real pra mim?

–Oi? -Ele a ouviu dizer e apareceu na porta do quarto, vestido apenas pela parte debaixo do pijama, portanto, sem camisa. Imediatamente a garota voltou a sentar, levando um susto.

–Davi... então você e eu... foi verdade?

Ela o viu rir, vindo em sua direção.

–Eu sei, quando acordei também achei que fosse mentira -Ele a fez deitar ao seu lado -Mas aí eu vi que você tava realmente aqui, na minha cama. Foi surreal, não é todo dia que você acorda com uma gringa, loira, maravilhosa do seu lado...

Ele brincou, fazendo-a rir, se aconchegando mais a ele.

–Pois espero que isso vire algo comum pra você!

–Ei, você é a gringa da história. Vai querer amanhecer nesse quartinho de apartamento comigo?

–É perfeito.

–Fico feliz pense assim. Eu quase não acreditei quando te vi parada na minha porta, senti sua falta...

–Me too. Mas eu vim porque depois de brigar com meu dad, lembrei do que você me disse na última vez que nos vimos, que estaria sempre aqui, pra mim.

–E é verdade! –Ele afirmou, enfatizando.

–Sei disso. E acho que sempre vou correr pra você quando tudo estiver difícil...

Ele sorriu com essa frase, saber que ela confiava nele, apesar do modo que vinha lhe tratando era reconfortante.

–Sabe, esse momento aqui já teria acontecido há muito tempo se eu não tivesse sido tão burro.

–I’m confuse. Como assim?

Ele sabia que lhe devia uma satisfação por ter sido tão injusto.

–Megan, eu fui um idiota! Uma vez eu ouvi uma conversa do Jonas com o Brian, onde ele dizia que você tinha charme suficiente pra me conquistar e assim, além de mim, só os Marra teriam poder na empresa. O imbecil aqui achou que você estivesse envolvida e me afastei, apesar de, a essa atura, já estar completamente louco por você.

–E você nem tentou esclarecer?

–Sim! –Ele se apressou em responder. –Mas sua resposta me confundiu ainda mais e eu me deixei levar pela raiva, perdi a cabeça com a idéia de estar sendo usado. Me desculpa, eu juro que já paguei pelo meu erro com toda a tortura de ter passado tanto tempo perto de você e não poder fazer nada.

Ela pensou por alguns instantes, mas depois voltar a relaxar sobre o peito dele.

–Na verdade, não. Você merece um castigo, mas depois eu penso em algo, agora eu quero é aproveitar esse momento antes que acabe!

Davi sorriu por ela entender e apertou o abraço em volta dela.

–Ontem eu tive uma sensação estranha. Sabe o que pareceu? Que mesmo se eu não fosse eu. Se eu fosse, sei lá, um advogado ou até mesmo um bad boy qualquer , que seja, a gente daria um jeito de se encontrar. Você sente assim ou eu tô viajando?

–Yeah–Ela concordou olhando para o nada -É como se esse momento já tivesse acontecido antes, eu senti isso. E eu olho pra você e vejo nos seus olhos tantas possibilidades, mas sinto que em todas elas você me ama. O sentimento é sempre o mesmo.

Ele a olhava admirado com seu modo de falar. Nem parecia aquela menina que ele conheceu uma vez na Marra que mal lhe olhou nos olhos.

–Eu não sei como foi que eu não percebi antes o quanto você mudou, ou não vi que você sempre foi assim.

–I don’t know, parei de pensar, imaginando você um badboy e não um nerd cute!

Os dois deram risada.

–Foi só uma comparação absurda. Imagina... eu, badboy... –Ele nem sabia porque tinha usado essa comparação –Mas e aí, tá com fome?

–Acho que sim.

–Ótimo, minha tia trouxe café da manhã.

Megan se espantou.

–Ela sabe que eu estava aqui?

–Não, embora a vontade que eu tive foi de gritar isso aos quatro ventos!

Ela sorriu e lhe deu um beijo rápido.

–Me ajuda a achar minhas roupas, please!

Ele pegou a própria camisa e entregou a ela.

–Relaxa amor, veste isso!

Ela o olhou e sorriu com ternura.

–Fine! –Disse sem tirar os olhos dele, mas não sabia se disse isso pelo gesto ou por ele chamá-la como chamou.

–É, fine, mas vem logo, que como hoje a gente não precisa ir pra Marra eu quero aproveitar cada segundo.

Ela vestiu rapidamente a peça e foi levada pela mão até a mesa do café improvisada. Aquela seria a primeira manhã perfeita da história de um casal no mínimo, improvável. Davi, um nerd gênio de bom coração que agora precisaria enfrentar o lado sujo do mundo dos negócios, sem se corromper. Megan, vinha desse mundo, mas estava cada vez mais encantada pelo lado contrário ao dela. E a velha frase "Os opostos se atraem" foi inevitável mais uma vez. Por que será que o amor adora se envolver nesse tipo de história?