Entramos no closet.

-Comprou mais roupas? –dei uma passada rápida com os olhos. Nada muito diferente.

-Sim, mas a questão não é essa... Eu ouvi a conversa hoje de manhã, bom, a casa inteira ouviu você e Jacob falando no quarto, então decidi tomar umas providências. –ela deu uma risadinha perversa, e eu estremeci. –Foi difícil não pensar nisso enquanto seu pai estava por aqui. Olhe, abra esta gaveta aqui.

Olhei a gaveta de pijamas. Abri a gaveta, e meus trapos de moletom simplesmente haviam desaparecido! Fiquei desesperada ao perceber que no lugar, estavam peças minúsculas de seda. Engoli seco, fazendo um barulho ridículo. Meu rosto ficou tão quente, que pensei que atingira a cor de um morango.

-Tia! –exclamei.

-Gostou? Fiz questão de preparar! Sabe, você andava muito próxima aos lobos, e não quis preparar nada do tipo para seu namoro com Seth, eu sabia que ia acabar rápido. –ela deu de ombros. –Então, assim que percebi que Jacob ia agir e decidi sair às compras. Cheguei agora pouco, e aproveitei a discussão para arrumar tudo isso aqui, e funcionou, já que Edward não percebeu nadinha!

Me encolhi, olhando apavorada para aqueles tecidos brilhantes e extravagantes. Deus, onde Alice estava com a cabeça para comprar coisas como aquelas? Era tudo tão... Provocante e sexy, e absolutamente nada a ver comigo!

-Tia, eu não quero matar o Jake do coração... Ele vai ter um treco de rir se me vir usando uma dessas coisas...

-Acredite, não vai ser de rir que você vai matá-lo.

Com esta frase eu realmente cheguei à cor de um morango. Abaixei o rosto imediatamente, segurando a barra da blusa com força, estava com tanta vergonha que deixei o cabelo amenizar a situação. Eu definitivamente implorava para que ainda houvesse um short velho por ali.

-Tem alguma peça velha, ainda? –perguntei cheia de esperança.

-Acha mesmo que eu deixaria alguma? Para você ficar usando algo surrado e velho? –ela sorriu vitoriosa. Tendo em vista que algo “surrado e velho” era de uma semana atrás.

-Alice, você não acha que está cedo demais? –resmunguei.

-Sei que está, mas veja por um lado. Vocês se amam desde que você ainda estava na barriga da sua mãe, Nessie. Tudo que envolve vocês dois é precoce, tanto o seu crescimento, quanto o dele foram mais rápido que o normal, então, quem sabe isso também não é mais rápido. –ela gargalhou.

-O que? Ele cresceu rápido como eu? –perguntei confusa.

-Não tão rápido, mas quando o ciclo de transformação de um lobisomem é iniciado, eles atingem a idade adulta em meses. Com apenas dezesseis anos, Jacob já parecia ter vinte e cinco.

-E agora será eternamente assim... Com vinte e cinco anos.

-Exatamente! –ela interrompeu meus pensamentos. –Então aproveitem a beleza eterna de vocês ao máximo.

Apertei os punhos outra vez, mordendo o lábio inferior. Estava totalmente sem coragem de descer e encarar Jacob. Mas por outro lado, ele poderia me ajudar me emprestando uma camisa para dormir, afinal, precisava de algo largo e confortável, e pela diferença de altura, ela deveria chegar aos meus joelhos.

Desci as escadas, com Alice rindo do meu rosto vermelho. Ouvi Jacob cantando uma música na cozinha, e só então me lembrei dos sentidos aguçados do rapaz, sem dúvida ele tinha ouvido aquela conversa estranha.

Entrei de mansinho, indo direto para o fogão, sem olhá-lo muito, e nem ao menos sorrir. Contudo, como eu já esperava, Jacob começou a perguntar:

-Hey, Ness, agora conta aí porque eu não entendi nada. –ele deixou um sorriso maldoso escapar, e eu estremeci, voltando a olhar o fogão.

-Hã? Ah, nada não, Jake.

-Nada não? Fala sério, eu ouvi meu nome, fala vai, baixinha. –disse me abraçando pelas costas. Como eu poderia negar qualquer coisa a ele?

-Ah... Tia Alice decidiu renovar meus pijamas... Jake, você tem alguma camisa velha pra me emprestar? –sussurrei o final da frase e mantive o tom. –Por favor, eu não quero usar aquilo

Ele gargalhou e estendeu os lábios abrindo aquele sorriso (perfeito) de lobo, o mais perverso que eu já havia visto em seu rosto perfeito. Oh, mais um que concordava com aquelas idéias bizarras... Pela primeira vez desejei que Edward desse uma bronca fenomenal nesses dois, pelo amor de Deus, o que eles acham que eu sou? Modelo da Victoria Secret’s? Pra ficar desfilando com esse tipo de roupa por aí?

-Emprestar, não mesmo, sua tia te mataria... E, além disso, eu fiquei curioso para ver. –ele me deu um beijo na bochecha, que estava quente de tão corada.

-Ah não, Jacob! Ah não! Não faça isso comigo, pelo amor de Deus. Eu não vou conseguir andar com aquilo nem mesmo sozinha num quarto escuro! Por favor, não me obrigue a dormir com calças jeans e blusas de sair, já que foram as únicas coisas que me restaram.

-Vou pensar no seu caso.

-Jacob! Pelo amor de Deus. –implorei.

Ele gargalhou, como conseguia achar tanta graça naquela situação ridícula?

-Nada disso! Vou até evitar pensar caso Edward apareça, não posso perder a chance de rir um pouco... –rir um pouco, exatamente como eu falei que aconteceria. Ele mordeu o lábio inferior. –Bem que podia ter uma câmera por aqui...

-Jake! –agora eu realmente gritei.

-Tô brincando!

Bufei, não ia continuar brigando com ele, afinal, Jacob era a pessoa mais teimosa do mundo, e a única exceção era eu! Pensei em pedir algo para tio Emm, mas provavelmente ele concordaria com Jacob, e tio Jazz não poderia me ajudar, visto que Alice acabaria  matando-o.

 Terminei de fazer a comida. Era tanto macarrão que tive que dividir em três pratos. Claro que Jacob comeu todos, e me obrigou a dar umas garfadas, mesmo eu me recusando... Não sou muito fã de comida humana.

Finalmente fomos tomar banho. Acho que esqueci de comentar que havia uma porta dentro do meu closet, que levava a um banheiro pequeno e branco enquanto Jacob usou o banheiro convencional. Eu saí, com os cabelos pingando, enrolada em uma toalha branca. Fiquei alguns segundos encarando a tal gaveta de pijamas, desesperada.

Tentei procurar algo menos brilhante e chamativo, e mais comprido que o resto. Havia um conjunto de um tecido que grudava ao corpo. Esse mesmo. O short era minúsculo e ainda assim o maior de todos, e a blusa... Uma camiseta tão agarrada que achei que fosse sufocar. Comecei a procurar algo pra vestir por baixo. Deus, uma coisa pior que a outra, nem vou comentar.

A porta do Closet se escancarou com violência, e eu dei um salto para trás, caindo sentada, segurando a toalha como se fosse minha vida. Olhos arregalados, e boca aberta. Acho que nunca havia tomado um susto como aquele. A figura do outro lado era a de sempre, Jacob, com os olhos apertados pelas bochechas, erguidas por um sorriso malvado. Percebi que sua expressão mudou, sua boca abriu e fechou, como se quisesse dizer algo.

-Droga, tente não me matar na próxima! –reclamei.

-Desculpe, mas achei que você tinha percebido que eu estava chegando perto...

-Não percebi...

Entortei a cabeça, querendo entender se havia algo errado. Os olhos de Jacob estavam presos a mim, com os lábios separados, e sua respiração fluindo pela boca. Instintivamente olhei para baixo, procurando qualquer coisa diferente em minha toalha, uma sujeira, um inseto, tanto faz. Mas não achei nada.

-Que foi? –perguntei automaticamente.

-Nada... Vista-se.

E a porta se fechou com a mesma agressividade que foi aberta. Fiquei sentada no chão, com cara de idiota, sem entender absolutamente nada que havia acontecido. Desisti e respirei fundo, tomando coragem para vestir aquilo. Olhei para o banheiro e encontrei o que seria minha salvação, um roupão um pouco velho, que Alice havia esquecido.

Saí do Closet, Jacob estava bocejando, já deitado na cama, com os braços atrás da cabeça. Era incrível como os cabelos desgrenhados lhe caiam tão bem. Dei uma olhada rápida, ele usava apenas uma bermuda... Que mania de andar sem blusa! Infelizmente ele percebeu meu olhar.

-Que foi Nessie?

-Nada. –o tom avermelhado de meu rosto me dedurou.

-Eu perguntei isso pra sua mãe, há alguns anos... Minha metade nua te incomoda? –ele riu e eu fiquei ainda mais sem graça.

-Não, mas me deixa lesada.

Virei de costas, a frase saiu automaticamente e senti vontade de bater com a cabeça na parede de tanta raiva. Ele riu de satisfação enquanto eu caminhava até a porta, para apagar a luz no interruptor.

-Hey, vai dormir com isso? –a expressão de dor, provavelmente imaginando o quanto aquele treco me incomodaria, e também o incomodaria durante a noite.

-É, vou...

-Eu pego uma camisa, melhor assim? Eu não sou tão mal, Nessie.

-Por isso que eu te amo. –me joguei ao seu lado e dei-lhe um beijo na testa.

-Não fuja... E esteja sem isso quando eu voltar, caso contrário, nada de blusa.

Ele saiu, e eu joguei o roupão, imediatamente, em cima de uma cadeira perto da escrivaninha. Não tinha escolha, e a blusa seria uma opção melhor. Ouvi a voz da tia Alice falando coisas absurdas para Jake, e principalmente mandando-o não trazer a roupa. Por sorte meu amor era uma pessoa sensata, diferente desses vampiros daqui de casa. Acho que apenas Edward conseguia escapar da loucura.

Jacob entrou no quarto, e sua visão de lobo privilegiada, infelizmente, deu-lhe a completa visão daquele conjunto ridículo, azul bebê, que eu estava usando. Ele ficou alguns segundos parado, sem respirar, boca entreaberta. Me encolhi, cheia de vergonha.

-Ela só pode estar querendo me testar. –murmurou.

-Alice não tem muito juízo. –respondi.

-E alguém aqui tem? Eu não sou uma pessoa muito sensata, nunca tive muito juízo por sorte meu autocontrole é forte... Mas isso já é demais, é querer que eu perca a cabeça.

-Está reclamando demais. –cada palavra dele me deixava ainda mais sem graça. –Você achou esse absurdo porque não viu o resto. Acredite, esta é a roupa mais comprida da gaveta de pijamas... Anda, me dá essa blusa!

Ele se aproximou e sentou ao meu lado, estendendo a mão para que eu pegasse a camisa cinza. Naquele momento nossas mãos se encostaram, e uma frase invadiu minha mente:

Mal posso esperar para te ver com o resto.

Ficamos perplexos. É claro que sabíamos exatamente o que havia acontecido ali. Não era uma cena que corria em nossas mentes, nem uma lembrança, nada do tipo. Meus poderes estavam evoluindo de forma abrangente. E agora era algo similar ao que Aro fazia: ler mentes através de um toque.

-Desculpe. –balbuciei imediatamente.

-Uau! –de início ele ficou um pouco sem jeito, mas logo abriu um sorriso. –Seus poderes nunca vão parar de crescer, minha linda?

Ganhei um beijo na bochecha, e acabei sorrindo também. “Minha linda”? Oh, como Jacob era fofo, mesmo com algo estranho (e nada legal para ele) acontecendo. De fato que era a pessoa mais perfeita e compreensiva deste mundo. E eu estava muito mais que grata por ser unicamente meu.

-Papai vai achar isso estranho. –murmurei. –Posso tentar de novo?

-Claro! –os olhos dele brilhavam, como se o poder fosse dele, e não meu.

-Pense em qualquer coisa então.

Estiquei a mão, lentamente, um pouco receosa que não desse certo, ou acabasse sugando uma daquelas lembranças que Jacob queria me poupar. Minha respiração descompassou um pouco, mas tentei controlar. Enfim o toquei.

Eu te amarei enquanto as estrelas brilharem no céu e o sol aquecer este planeta. Mesmo que o mundo acabe ao nosso redor, eu prometo construir um novo apenas para nos vivermos.

Meus olhos voltaram ao foco, agora cheios de lágrimas de felicidade. A verdade por trás daquelas palavras era comovente. Sentimentos e pensamentos são coisas incontroláveis, as quais não podemos simplesmente mudar de um segundo para o outro, e por isso eu sabia que nada era mais real do que aquelas lindas coisas que ele me disse mentalmente.

-Eu também te amo, até que a maldição dos vampiros termine e eu me torne mortal. Até o ultimo suspiro de minha vida, e mesmo após este. Levarei nosso amor para sempre, Jake, mesmo que um dia eu morra, levarei todos esses sentimentos lindos comigo, e desta forma eles se manterão imortais... Intactos pelo tempo.

A reação dele era muito mais agressiva que a minha. Jacob estava mesmo chorando? Ele me abraçou com violência, escondendo o rosto em meu ombro. Juro que até me assustei, contudo, assim que passou, comecei a acariciar seus cabelos negros, com um sorriso sincero nos lábios.

Perdemos alguns minutos daquele jeito, até que uma voz impertinente invadiu a casa. Emmett e sua boca grande!

-Ah, me poupem! Vou acabar vomitando! Cadê a ação hein?

Fiquei roxa, tanto de raiva quanto de vergonha. Privacidade era a última coisa que existia numa casa onde os ouvidos eram as paredes, e um leitor de pensamentos caminhava à solta. Sorte Edward não estar aqui...

-Vai ter ação quando eu arrancar seus cabelos, Emmett! –respondi ríspida.

Ele gargalhou.

-Duvido que você seja mais forte que eu, nanica.

-Ela não é, mas eu posso revolver esse problema! –Jake, me salvando outra vez.

-Encoste um dedo nele e eu vou lhe arrancar os braços, cachorro pulguento! –tia Rose e sua delicadeza.

-Ah! Calem a boca! –gritei furiosa. –Vamos dormir!

Jacob deu uma risada gostosa, e ouvi um sino tocar. Tia Alice estava rindo em algum lugar. Vestia blusa, e segundos depois a atmosfera da casa logo ficou tranqüila e amena. Provavelmente tio Jazz estava usando seu “sonífero” em cima de mim e do lobo.

Peguei no sono rápido, com o rosto sob o coração de Jacob, ouvindo aquele ritmo contínuo e regular do bater de seu coração Tum-dum, Tum-dum. Aquele som era lindo e confortante, principalmente misturado ao cheiro amadeirado do lobo, o qual eu tanto precisava para sobreviver.

Jacob era meu ar, sem ele eu morreria, e nada deste mundo poderia nos separar. Nosso amor não era eterno apenas pela imortalidade de nossas raças, mas também pela beleza, sinceridade e força existente neles.

Naquela noite tive um sonho lindo, seguido de outro, bem estranho.

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