Em Meus Olhos escrita por Gabriel Golden Fox


Capítulo 8
Estranhos Como Eu


Notas iniciais do capítulo

Desculpem a demora! Bloqueio criativo!

Música para escutar:

"Candles" - Daughter
"Free the Animal" - Sia



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Jake me mostrou os túneis, que eram como corredores. Parecia que pegaram uma escavadeira gigante e fizeram aquilo e depois chamaram de “corredor”. A toca em si me lembrou muito com o cenário dos Audaciosos do filme “Divergente”, ou melhor, aquela cidade subterrânea que acharam na Capadócia.

– Na verdade, essa é um das 36 cidades subterrâneas da Capadócia, meu caro. Apenas implantamos as escadas e fizemos reformas – disse Jake de repente.

– O que? – eu perguntei.

– Você estava pensando em como esse lugar se parece, e estava certo. É uma das cidades subterrâneas da Capadócia.

O que mais me assustou não foi apenas ele ter lido a minha mente, e sim de entender onde eu estava.

– Opa! Espere um momento... Eu estou na Turquia? Eu vim do Brasil até a Turquia? Como isso? – eu disse, MUITO surpreso.

– Seu pai te trouxe aqui, ué! Esqueceu-se? Ele te tele transportou.

Jake falava com uma naturalidade, como se aquilo não fosse novidade para ele. Pra mim, aquilo era incrível, revolucionário! De qualquer jeito, eu só poderia ficar surpreso, mas o fato de eu não ser o único com poderes no mundo era muito contagiante. Então Jake olhou para trás, que só depois u entendi o porquê.

– Ah, vejo que você já pode deixar seu olho azul – ele disse – Eu escutava sua felicidade de não ser o único meta-humano no mundo, e tive que ver sua cara.

– Pois é. É que isso ainda é muito novo para mim... Eu me sinto indestrutível! Me sinto...

– Ah, por favor! Não diga “infinito”. Isso me lembra aquele filme “As Vantagens de Ser invisível”. Só de ouvir essa frase eu choro de emoção! – ele disse de repente.

– Bem, é assim que eu me sinto.

– Eu sei... Também me sinto assim. Como se eu fosse indestrutível...

Só eu que senti certo arrepio quando escutei essa palavra, levando em conta que ele tem um poder muito foda?

Enquanto andávamos pelos corredores, logo achei uma grande porta metálica. Jake me acenou com a cabeça, para que eu me aproximasse até ele. Tinha um pequeno teclado com números de zero a nove.

– 1997. Essa é a senha da nossa biblioteca – ele disse.

Não sei se comentei antes, mas eu amo livros, e eu sempre quis ter uma biblioteca só pra mim em casa. Mas eu não tinha livros o suficiente para chamar de “minha biblioteca”, mas mesmo assim eu li todos e me orgulhava muito deles. Mas, no caso do que eu vi assim que as portas se abriram, meu coração parou! Uma gigantesca biblioteca de cinco andares.Eram inúmeras prateleiras e colunas de livros com várias cores de capas, dura e brochura. Havia escadarias na gigantesca biblioteca em várias partes espalhadas. Mesas, escrivaninhas, alguns computadores, mas bem poucos, vários quadros maravilhosos nas paredes e no teto (onde algumas colunas de livros iam em sua direção) tinha lustres e candelabros lindos de cristais, pareciam um buque de casamento feito de peônias e margaridas de cabeça pra baixo. E o piso xadrez preto e vermelho fazia com que a biblioteca tivesse um clima meio “vintage”... Sempre achei essa palavra bem chique, mas nunca pensei que iria usá-la para descrever alguma coisa. Muito menos uma enorme, gigantesca e magnífica biblioteca! Era como se todos os livros do mundo estivessem ali! Não sei por qual motivo eu amo tanto os livros. Seja suas capas, o acabamento, as lindas palavras que vamos encontrar neles, aquele cheirinho gostoso de papel novo... Talvez seja a junção de tudo! É incrível como um objeto tão comum como um livro possa ser TÃO perfeito!

– Pelo jeito você é um amante da literatura. – disse Jake.

– Leu a minha mente de novo, né? – eu perguntei, meio irritado, mas ainda muito excitado para tocar em cada um daqueles livros.

– Nem precisei. Seu olho ficou azul e você abriu um sorriso enorme quando as portas se abriram! – Jake tinha um sorriso contagiante. Reparei nisso enquanto ele falava.

Verdade. A “Literatura” deve ser uma vadia, porque eu não sou seu único amante, e sei que muitos de seus amantes pirariam ao ver essa biblioteca. É de deixar o pênis ereto e a vagina molhada, de tão lindo e excitante. Estou pensando em muita besteira, isso sim! Mesmo assim, o simples fato de que a maior biblioteca que eu já estive fica em baixo da terra da Turquia é de deixar os olhos explodirem de tanta beleza.

– Essa enorme biblioteca só perde em segundo lugar para a Biblioteca do Congresso, dos Estados Unidos. Eles têm mais de 32 milhões de livros. Nós só temos 30 milhões aqui – Uma voz atrás de mim disse de repente. Quase gritei no susto, mas quando me virei, era Rob, digo, meu pai. Na boa, a ficha ainda não caiu pra mim! – Desculpe, me esqueço de que isso assusta as pessoas às vezes.

Agora os dois olhos dele estavam azuis, mas o que é afetado pela mutação é de um azul mais claro que o outro, que era azul mais escuro.

– Estava fazendo um tour pela Toca, Senhor Rangel. Comecei logo pela biblioteca. Ele já deixou o olho azul – disse Jake.

– Sim, fique sabendo já! Posso acompanhar vocês dois?

– Ora, claro que sim. Vamos Lucas! Mais tarde você volta. Eu sei que você virá para cá com muita freqüência – disse Jake, sorridente.

Na boa, eu não queria sair dali por nada nesse mundo. Queria fazer um cobertor daqueles livros com aquele cheirinho que eu tanto amo. Mesmo assim, precisava conhecer aquele lugar bizarro que “meu pai” me colocou. Agarrei uma pequena coluna de livros que tinha ali, sedo que um ou três livros caíram, e disse:

– Calma! Já volto pra buscar vocês...

Jake e Robson, “meu pai”, deram uns risos e me chamaram de novo. Ah, livros. Como pode ser um objeto tão simples ser tão PERFEITOS?!

Quando saímos da biblioteca, demos exatamente 50 passos pelos túneis/corredores de terra, e chegamos a mais uma porta. A senha de entrada era a mesma. 1997. O mesmo ano em que nasci... Teoria da conspiração aí no meio? Era a mesma porta, só que bem maior e mais larga.

– Esse é o refeitório. A maioria dos jovens comem aqui – disse Robson.

– Peraí, tem mais meta-humanos aqui? – eu perguntei.

– Somos 15 jovens no total. E contando com você – disse Jake.

– A comida daqui é boa? – perguntei.

– Ah sim, com certeza. Como se fosse feito em casa pela sua mãe! O chefe tem um filho meta-humano e eles estão morando aqui agora. Alias, os dois tem poderes. O garoto tem super-força e o pai tem memória fotográfica nível alfa! – disse Jake.

– Sua mãe cozinha bem, Lucas? – Robson perguntou. Aproveitei a oportunidade e reparei novamente no rosto dele. Não, eu não tinha nada de parecido com ele. Pelo menos na face.

– Sim. A melhor. Ganhou um concurso de culinária no bairro tem uns três anos. Nada demais... – eu disse.

– Até das pequenas vitórias devemos nos orgulhar, Lucas. Seja por respirar ou ter pessoas que gostem de você por perto... – disse Robson, ou meu pai.

Aquela frase ficou na minha cabeça. “Até das pequenas vitórias devemos nos orgulhar”. Olhei novamente para o refeitório, imaginando vários outros jovens como eu, com poderes especiais, comendo naquelas mesas e bancos metálicos.

– Vamos continuar o percurso. Vamos conhecer os outros logo – ele disse de repente, antes de me abraçar subitamente.

ZOOM! É esse o barulho que eu escuto quando sou tele transportado. Os braços do meu suposto pai são musculosos. Parecia que eu estava sendo abraçado por um urso ou uma anaconda. Foi muito estranho. Parecia que ele se importava comigo, senti isso naquele momento. Enfim, é estranho ser tele transportado. É como se você pudesse, com apenas um pulo, ir da sala para o banheiro. Quando eu senti meus pés novamente no chão, abri meus olhos (que no susto, foram fechados com força) e me vi numa sala toda branca e com um ambiente bem “clean”. E lá estavam os treze jovens (Isabella estava ali), me encarando com pavor (não é pra menos! Cheguei do nada!).

– Todos se sentem, por favor. Alguns aqui são meio novos, então daremos as devidas apresentações e boas-vindas aos novatos – disse Robson, num tom firme e gentil.

Aos poucos, e ainda conversando, eles foram se sentando. Alguns estavam bem confortáveis, outros já se socializaram, e eu era um de dois que estavam meio reclusos.

– “Depois de muito tempo praticando, e com apoio e ajuda de seu pai, eu posso fazer com que todos eles se entendam. É meio complicado, mas me acostumei. Agora, consigo fazer várias coisas mentais ao mesmo tempo.”– eu escutei essa frase na minha cabeça, como se fosse alguém falando do meu lado. Era Jake, se comunicando comigo por telepatia.

Mais uma vez, eu me sinto um zero a esquerda. Já não bastasse até as garotas serem centímetros mais altas que eu, não sabia se iria chegar ao nível de Jacob.

– Sente-se, Lucas – Jake disse de repente.

Sentei-me, e fiquei admirando as variedades de olhos coloridos que eu via ali. Olhos azuis com verdes, verdes com castanhos, castanhos com avelã, cinza com azul! Alguns só tinham o olho mais claro ou escuro que seu olho comum. Dos jovens ali, e apenas conhecia Jacob e Isabella. Outro que eu tinha visto era o tal coreano (o olho comum é castanho, e o mutável é cinza), e eu não entendi bulhufas do que ele disse antes. Tirando isso, eram todos estranhos para mim.

– Bem, um por um começando comigo, vão se apresentar. Digam o seu nome e sobrenome. Idade, o país de onde vieram, o seu ou os seus poderes, o que gostam de fazer ou o que fazem bem. Enfim, sintam-se como se fosse o primeiro dia de aula – disse Robson.

Eles se entre olharam, estranhando aquilo. Mesmo que a maioria já se conhecia, era importante que todos se apresentassem para mim... Fiquei corado na mesma hora. Tenho um pouco de PAVOR de falar em público, mas vamos lá... Meu “pai” começou:

– Meu nome é Robson Rangel. Tenho 33 anos. Nasci e cresci na Inglaterra, minha mãe era britânica e meu pai brasileiro. Posso me tele transportar de um lugar para outro. Gosto de ir ao cinema... Se bem que agora eu nem pago mais para entrar – todos riram bem baixinho. Ele se manteve sorridente e carinhoso – e eu gosto também de ir viajar para qualquer país, sem ter hora para voltar.

Mais risinhos. Depois dele, foi a vez de Isabella.

– Oi, pessoal. Meu nome é Isabella Candles. Nasci nos Estados Unidos, falo inglês, português, espanhol, japonês e italiano. Tenho 23 anos, apesar de eu parecer ter cinco anos a menos. Tenho super força, super velocidade, posso absorver energia e soltar rajas de energia. Também sou acrobata e artista marcial. Gosto de correr, escalar, lutar e...

De repente, Isabella é interrompida pelo Robson, que estava com um vaso pequeno de porcelana (que nem estava ali! Ele se teletransportou para pegar aquele troço, com toda certeza) e sem avisar, o atirou na direção de Isabella. E no mesmo instante, ela ergue o braço esquerdo deixando a mão e os dedos retos, e como um projétil de uma pistola, saiu uma rajada verde de energia do braço até a mão, que atingiu o vaso e o fez estourar na mesma hora! CRASH! Assim como que eu fiz com o copo. Todos murmuraram impressionados e depois, aplaudiram. Isabella abriu um sorriso radiante. Seu olho mutável, que já era azul, ficou num tom mais claro. Ela estava alegre, claro. Depois foi a vez de um garoto loiro de uns doze ou quatorze anos, que podia diminuir de tamanho. Ele ficou com apenas 10 centímetros, mas foi que nem no filme “Alice no País das Maravilhas” do Tim Burton: Ele diminuiu, mas a roupa que estava no seu corpo não. Até que ele sai daquele amontoado de roupa, vestindo um traje parecido com os de mergulho, ou algo bem de super-herói.

– Nossa costureira faz essas roupas que se adaptam ao nosso corpo de poderes – disse o garotinho (literalmente) para os confusos – E com esse uniforme, eu não tenho problemas em ficar pequeno e me preocupar com a roupa grande.

Depois, foram outros jovens mostrando seus poderes. Mas aqui só irei dar destaque mesmo aos que irão ter um papel crucial na minha jornada daqui pra frente.

– Oi, meu nome é Martin Jamal. Tenho 18 anos. Nasci na África do Sul. Nunca conheci meus pais biológicos, só os que me adotaram e me trouxeram pros Estados Unidos. Gosto de cantar todo tipo de música que me agrada e eu tenho intangibilidade – disse um garoto de pele bem negra, com um olho castanho escuro e o outro, avelã.

– Mostre para nós – pediu Robson, gentilmente.

Martin acenou com a cabeça e correu em direção a parede, passando direto nela sem danos, como se a parede fosse de água. Depois que ele retornou, estavam todos surpresos. Depois foi a vez da Verônica.

– Meu nome é Verônica Browning, tenho 17 anos e venho dos Estados Unidos! Sou acrobata, luto karatê, tenho a habilidade de absorver a matéria de qualquer tipo de objeto e passar para a minha pele. Tanto que eu tenho um anel de aço aqui, posso mostrar pra vocês! – ela estava muito animada, sempre com um sorriso. E assim que ela colocou o anel em seu dedo e se concentrou nele, sua pele do corpo inteiro se transformou em aço puro. Todos aplaudiram.

Depois foi a vez de Kwan, o garoto asiático que eu vi junto do Jacob.

– Oi, meu nome é Lee Kwan, tenho 20 anos e sou da Coréia do Sul. Tenho a habilidade de absorver calor e manipulação e descargas flamejantes. E também posso voar!

– Esse garoto é quente, hein! – comentou Isabella, ironicamente... Pelo menos eu esperava que ela estivesse sido irônica, porque eu não achei graça nenhuma na piada!

Kwan deu um sorrisinho torto, seus olhos se iluminaram como um farol e, de repente, ele era uma tocha humana no sentido literal! Seu corpo inteiro estava em chamas (desculpe Katniss Everdeen, mas...)! Todos se afastaram, porque a sala era fechada e estava ficando muito quente perto dele. Ele parecia ser um segundo sol. Foram poucos segundos que Kwan deixou seu corpo em chamas, mas parecia ter demorado muito mais tempo, de tão quente e abafado que estava. Jacob já estava com um extintor de incêndios quando Kwan voltou ao normal. E para minha surpresa, Kwan usava uma calça parecida com aquelas que nadadores usam... E só isso! Suas roupas foram desintegradas pelas chamas, e deixou a mostra seu abdômen sarado! Na boa, como lidar com esse tipo de concorrência?

– Minha calça foi feita para não só agüentar uma gigantesca quantidade de calor, como também vira uma segunda pele quando estou em estado de fogo. Ou seja, a calça fica em chamas também.

Todos o aplaudiram. Eu também! Tive que admitir que ele era incrível (mas ainda estava com inveja daquele “tanquinho).

Finalmente foi a minha vez... Minha barriga começou a tremer de nervosismo. Queria fugir dali, naquele instante! Eu poderia ter herdado o poder de teletransporte do meu “pai”, né! Mas lá foi eu...

– Oi, meu nome é Lucas Candor, tenho 17 anos e venho diretamente do Brasil. Por enquanto, eu tenho apenas telecinese, mas de acordo com o que a Isabella me contou quando nos encontramos, irei desenvolver algumas outras habilidades...

Então eu tive uma idéia. Concentrei-me nos cacos do vaso destruído pela Isabella que estavam num canto e comecei a levitá-los pelo ar e pelos jovens ali. Fiquei uns 10 segundos nisso e logo depois, reuni tudo e no teto da sala, fiz vários flocos de neve diferentes, bem em cima de todos. Todos ficaram empolgados. Robson me encarou com aquele olhar que os pais dão que enlouquece todos os filhos, que dizia “Meus parabéns. Estou orgulhoso de você”. Mas vindo dele, só consigo ficar constrangido. Querendo ou não, ele ainda era um estranho para mim. Coloco os cacos do vaso no lixo, me sento a sinto os últimos aplausos.


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Notas finais do capítulo

A linda da Alihhh fez uma Fic Trailer da "Em Meus Olhos" pra mim! Quem quiser assistir e puder dar um curti, vem aqui: https://www.youtube.com/watch?v=_i8voh04XO4&feature=youtu.be



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