Narrador

– Tem certeza disso? – perguntou Tanner e Samantha assentiu.

Nem mesmo preciso piscar e uma faca se fincou no tronco próximo a Reyna, cortando uma mecha do cabelo da jovem.

– Ei! – gritou a garota, enquanto Raven retirava Alyssa imediatamente dos braços da amiga e juntamente a Dean se afastando um pouco.

– Olá, pessoas imundas! – vociferou rouca e irônica mulher morena, que deveria ter cerca de vinte e quatro anos, com os cabelos verdes com algumas mechas roxas, preso numa trança grossa – Acho que já sabem o que vai acontecer, não é?! Katherine está esperando naquele lugar onde o loirinho azedo ai – apontou para Luke – matou Robert.

– E por que Katherine não nos atacou enquanto estávamos distraídos? – questionou Mia – Estava com medo de alguma armadinha, por acaso?

– Não, querida! – ao mesmo instante, Mia cerrou os punhos e Luke segurou uma de suas mãos firmemente para evitar qualquer ato bobo e inconsequente da namorada – Katherine é uma pessoa compromissada e digna. Pois bem! É bom não demorarem, até porque vai tardar a diversão, não é mesmo?!

Os ali presentes se entreolharam e retornaram a visualizar o lugar onde estava a mulher, contudo não havia mais sinal nenhum desta. Desapareceu assim como tornou sua presença ali: misteriosamente.

– Raven, você e Alyssa precisam fugir – verbalizou Dean, cuidadoso, dando um beijo forte na testa da amada.

– O que? Não! – ela o encarou – Essa briga é tanto sua quanto minha e não vou te abandonar agora.

– Mas você precisa sair daqui com Aly, Violet e Sarah também. Por mais durão que Quatro seja, ele confiou a segurança da irmã a nós e não creio que seria melhor para Sarah sair desse problema – passou a mão pelo rosto da jovem – Eu prometo que assim que terminar vou atrás de vocês.

– E para onde nós duas iríamos? Estamos fora da cidade! Se voltarmos... – a fala de Raven e dos demais ali presentes que retrucavam palavras aqui e ali sobre o susto do amanhecer foram interrompidas por outra voz, embargada, rouca, entretanto, ainda sim conhecida.

– Não! Quatro e os outros não voltaram para a cidade, até porque nem saíram dela – todos encararam Scott, o qual estava simplesmente irreconhecível. Os cabelos geralmente cumpridos estavam piamente cortados dando para ver o casco de sua cabeça, sem os óculos e com o rosto pouco amassado, como se estivesse acabado de acordar, mesmo seus olhos dizendo outra coisa – Nenhum de nós saiu de fato de Chicago. Nós só passamos por uma cerca falsa. Tão altura quanto a verdadeira, mas esta se encontra tão longe que nem mesmo nos demos ao trabalho de continuar a procurar.

– Faz sentido! – diz em coro Dimitry, Reyna e Mia, sendo que a última expressara mais cautelosamente.

– Então, o que vamos fazer? – perguntou Samantha – Clary está lá onde essa doida – aponta para o local onde a mensageira se encontrava – falou que era para estarmos. Eu vou lutar! – pensar duas vezes, determinada com um olhar brilhante e ainda sim quase infantil.

– Estamos nessa! – confirmou Mia, dando de ombros – Não é mesmo?! – encarou Luke ao seu lado, que assentiu com a cabeça e pegou sua mão, apertando firmemente e recebendo o mesmo em retorno.

– Melhor acabar logo com essa palhaçada! – Lena retirou uma pistola da cintura que até então estava escondida em soltou o cabelo. Não aparentava mais ser a mesma garota que chegou ali, esperançosa e amorosa com as amigas. Tinha sido traída e perdido alguém muito especial. A dor virou sua fonte de força e tinha que ser liberada. Não havia ocasião melhor para isso – Violet e Sarah ficam com Raven – encarou a loira com filha no colo – Se importa?

– Claro que não! – respondeu Dean por ela – Era exatamente isso que estávamos falando, não é?! – sem escolha e de coração apertado, Raven assentiu em silêncio. Ao mesmo momento, Sarah encarou a irmã, abraçou-a fortemente, segurou a mão de Violet e ambas foram ao encontro de Raven.

– Pode deixar! – manifestou-se Kylie – Eu vou dar cobertura para as quatro – tentou tranquilizar Alice e Dean.

Mais algumas palavras foram trocadas e um tiro ecoou em direção e sentido desconhecidos, chamando a atenção de todos. Mesmo assim, tudo já estava planejado e entregue a sorte da batalha.

Já no plano onde ocorreria a eventual batalha, o grupo de Katherine se apresentava por três filas com certas de dez ou doze pessoas em cada, homens, mulheres e até mesmo crianças de quase a mesma idade de Sarah e Violet, armadas e com olhares púrpuros a ódio e vingança, por uma causa que possivelmente nem sabem qual é.

Clarissa já se encontrava no local, com um enorme sorriso no rosto, cachos presos no coque frouxo no topo da cabeça e com algumas marcas no corpo, aparentemente desprezadas por ela mesma.

Aos poucos, o grupo ia postando-se lado a lado, formando o mais próximo do que seria uma fila, logo que estavam consideravelmente em número menor. Da direita para a esquerda, encontravam-se, respectivamente, Miguel, Lena, Samantha, Rose, Tanner, Mia, Luke , Alice, Dean, Lucy, Dimitry, Reyna, Scott, Clarissa, Tyler e Cassie.

– Eu jurava que vocês iam tentar fugir – debocha Katherine.

– Não temos o mesmo sangue que barata como você – retruca Mia, passando o olhar pelo grupo e encarando Alek com desprezo.

– Vamos logo com isso que não tenho tempo a perder – expõe Alek com um sorriso entretido – Será, sem dúvidas, muito divertido!

– Não me admiro que tenha vindo se abrir com eles – cuspiu Katherine, dirigindo-se a Samantha – Mas chegar a ponto de trair o que seu irmão defendeu e lutar contra nós. Isso é muita criancice!

Ao mesmo instante, Samantha deu forte tapa no rosto de Katherine, que se perdeu em meio a própria cabeleira castanha avermelhada, retornando a encarar a outra com cara de ódio.

– Quem você pensa que é para... – Katherine levantou o braço para retribuir o tapa, porém Rose tratou de segurá-lo, cravando fortemente as unhas.

– Acho que a sua conta a acertar é comigo e não com ela. – profere incerta.

– Que bom que decidiu comparecer. – vagou por um instante os olhos até os fixar a Tanner, que estava atrás da ruiva – Poderá assistir de perto a morte do seu namoradinho.

Com um olhar fatal e postura ereta, Katherine dá as costas, porém é atingida com um tiro na perna de atirador desconhecido. Alguns outros membros também são baleados e parte se abaixa até que os barulhos cessem, da mesma forma que começaram.

– Aposto que é esse vulto. Nunca está do nosso lado mesmo e agora só vem para nos ferrar ainda mais – arqueja Luke.

A travada se inicia. Alek trata de ser a primeira a disparar e acerta de raspão o braço de Lucy, arrancando somente parte da jaqueta da mesma, que corre imediatamente ao encontro da adversária. Em momento algum poderia se esquecer da dor que tinha adormecido provisoriamente em seu peito. Tinha sido ela, Alek, quem matara seu pai e agora, estava na hora de agir.

Um homem agarra o braço de Alice e a gira, fazendo-a perder o equilíbrio. A jovem retira uma faca e o atinge fortemente no ombro, retirando-a logo em seguida, sofrendo com a força deste sobre seu punho e a joelhada recebida no quadril. Mais um tiro ecoa e o homem caiu vagarosamente até soltar seu punho, agora avermelhado, e Alice nota Scott logo atrás dele.

– Me desculpa! – explica o rapaz correndo até a loira – Eu nunca abandonaria você, é quem...

– Mas mentiu! – Alice o dá uma bofetada na cara – Mesmo assim, voltou. Então não é hora para discutir sobre isso.

Uma mulher baixinha e rechonchuda que preparava para atirar neles é atingida por uma flecha, disparada por Cassie, que somente pisca e corre em direção a outro homem, repleto de tatuagens e piercings no rosto. Alice e Scott simplesmente assentem, esquecendo quaisquer que fossem os assuntos adicionais e focando na batalha.

Lena dá uma cotovelada no homem, aproximadamente da mesma altura que ela, porém mais forte, ao estilo típico da Franqueza, mas com uma tatuagem misteriosa que se distende pelo pescoço para dentro das vestimentas pretas e brancas. O mesmo tratou de agarrar o braço esquerdo de Lena, num puxão desarmá-la e a imobilizar, sufocando-a com a pressão que o próprio braço esquerdo fazia sobre o pescoço da jovem, que sem nem mesmo esperar, sentiu a perfuração da lâmina de faca média na região de seu abdome, em proximidades do quadril.

Urrando de dor, com os olhos marejados, piscando ao máximo para afastar as lágrimas, Lena pôde visualizar que sua agressora não passava de uma ruivinha, baixinha com cabelos cacheados, não mais da idade de Violet, mas tão semelhante a ela que causava espanto.

Por outro lado, Luke dava uma cotovelada na nuca de um homem pouco mais alto que ele, desviando da faca de outro rapaz, que deveria ter uns quinze anos, apesar de aparentar cansaço extremo de noites supostamente mal dormidas. Sentiu uma leve ardência na região do ombro esquerdo, local atingindo de raspão pena lâmina. Ao mesmo instante, o rapaz visualizou uma mulher alta convicta a atirar, mas não nele e sim no garoto.

Sem pensar duas vezes, retirou a pistola da cintura e atirou na mesma, sendo surpresado pela imagem do garoto que corria em sua direção com outra faca. Todavia, o loiro conseguiu desviar a tempo e colocou a perna na frente, numa altura mais elevada, fazendo com que o outro caísse, infelizmente perfurando-se com a própria lâmina.

Enquanto isso, Katherine não fez menção em perder tempo. Ignorando completamente o tiro que recebera na coxa e o disfarçando com a pressão do tecido que sua jaqueta que estava enrolada no membro para estancar o sangramento, deferiu um soco certeiro no queixo de Rose, seguido por outro na omoplata e uma joelhada que quase não atingiu a ruiva, a qual arfava, desnorteada com a visão pouco embaçada. Ainda sim, conseguiu supor o corpo de Katherine, tentando, em vão, agarrar seus cabelos, atingindo por outro lado com forte tapa na orelha esquerda da adversária, que se desequilibrou, porém mantendo-se de pé.

Em proximidades, Alek era atirada contra o tronco grosso e áspero de uma árvore e Lucy instintivamente se aproximou, posicionando uma faca no pescoço da outra, que nem mesmo esperou qualquer discurso clichê, aproveitando a pouca distância entre elas para dar uma forte cabeçada em Lucy, que cambaleou para trás.

Ignorando o leve corte da lâmina em seu pescoço, Alek deu um chute que atingiu as costelas da adversária, que caiu de lado, tratando logo de tentar se pôr de pé e papeando a calça a fim de encontrar a pistola, recebendo outro chute nesse intervalo de tempo.

*******

Noutro canto da floresta, em direção a Chicago, Violet, Sarah, Kylie e Raven, com Alyssa nos braços, corriam, afastando-se da batalha.

– Será que eles estão bem? – perguntou Sarah, sem nem mesmo saber a quem se direcionava a própria pergunta, se a Raven ou a Kylie.

– Estão sim! – respondeu Kylie, o mais positivamente possível – Acredito no potencial de cada um e logo depois que acabarem, vão atrás de nós nos campos da Amizade.

– Assim espero! – retrucaram Raven e Violet simultaneamente, sorrindo, até um disparo fazer com que estas se abaixassem.

– Vão! – sinalizou Kylie – Eu dou cobertura para vocês. Corram!

As quatro correram, parando atrás de algumas estruturas em ruínas que começaram a transparecer em seus horizontes, tais como destroços de antigas casas. Já tinham passado da cerca da cidade, pelo menos da falsa cerca sim. Podia até se imaginar como deveria ser a vida ali antes, mas não era momento para se ludibriar com esses fatores pequenos. O asfalto estava rachado e sendo tomados por algumas plantas que aqui e ali resolviam em nascer.

Ao mesmo instante, Raven entregou Alyssa aos braços de Violet, pedindo para que as duas ficassem ali, paradas, por um tempo, até que ela ou Kylie retornassem, e retirando uma pistola com munição desconhecida, a loira correu para ajudar a amiga.

– Você acha que são do pessoal de Katherine? – indagou Kylie.

– Acho que não! – Raven verbalizou, atirando numa mulher e vendo seu corpo cair sem vida no chão – Eles pareciam estar esperando qualquer um a chegar.

– Vamos logo! – Kylie atirou nos outros dois. Raven e Kylie correram até as duas meninas e seguiram para o pântano – Não acha que é perigoso irmos pelo trem até o Complexo da Amizade?

– É a nossa única alternativa! – expôs Raven – Corremos muito mais risco com os Sem-facção e os paus mandados de Jeanine.

*******

Cassie correu por alguns metros, quando foi atingida por um tiro certeiro no pé, fazendo-a cair. O homem, com os olhos divertidos e um sorriso irônico do rosto, retirou uma faca escondida na bota, porém antes que pudesse agir, Tyler pulou sobre o homem e deferiu um tiro no ombro do mesmo, que com as pernas como alavanca, jogou Tyler na direção oposta, o qual rolou ao atingir o chão.

A garota levantou, com dificuldade, e deu uma pautada na cabeça do adversário, que estava de pé ao lado do corpo de Tyler. Enquanto o rapaz se levantava, Cassie caiu para trás juntamente ao corpo de Tyler, desmaiado, com uma coronhada na nuca.

O choque da própria cabeça com o chão fez a cabeça de Cassie latejar e perder a visão por alguns instantes. Quando pôde recuperar alguns pontos, reconheceu somente a imagem dos cachos, com o rosto distorcido.

– Você foi um ótimo experimento! – parabenizou sarcasticamente.

– Eu sabia – Cassie engasgou – que tinha sido você que fez tudo aquilo comigo. Por que, Clarissa?

– Como toda boa Erudita, eu penso no que é bom.

– Sabe muito bem que isso não tem nada de bom. Você não é nada diferente que sua tia. Se bobear, Jeanine ainda é melhor que você, porque é bastante autêntica.

– Cala a boca! – estapeou a face de Cassie – Chegou a hora da queima de arquivo! – deu um estalo na seringa e aplicou no pescoço de Cassie.

– O que é isso?

– Sua morte programada! – piscou Clarisse, ficando de pé e observando com orgulho o feito – O maravilhoso soro! Até nunca mais!

– Sua... traíra...! – disse por fim, sentindo uma forte pontada no peito, observando a fração de segundo o mix de sua vida e enfim, dormindo eternamente.