Hermione despertou com as mãos unidas com as de Draco, que continuava com a cabeça repousada sobre o próprio ombro. Sorriu com a cena, e dessa maneira, sua mente vagou para quando ainda tinha apenas dezesseis anos.

Havia brigado novamente com Harry que insistia com veemência sobre o caso de Draco, não fora nada fora do comum, defendera o rapaz como pode, sem levantar suspeitas. Fora no ápice da discussão, quando Rony percebendo o estado de melancolia da amiga, resolveu se meter e dar um basta no assunto. Rony a olhara com compaixão e preocupação.

—Você está bem?

Não conseguiu sequer responder ao amigo, apenas puxou a bolsa pela alça jogada no sofá e saiu do salão comunal a tempo de ouvir o ruivo soltando um palavrão para o amigo.

Sentou-se em baixo de uma árvore, o mesmo lugar que passava as tardes lendo durante o — barulhento — Torneio Tribruxo. O lugar era bastante próximo do lago negro, o que proporcionava uma majestosa vista ao fim do dia. E foi ali, em baixo da árvore que tantas vezes já vira sorrisos amigáveis e risadas desconcertadas, que agora derramava algumas lágrimas. Limpou o rosto molhado com a manga da camisa pela centésima vez nos últimos minutos, ainda respirava com um pouco de dificuldade. Um galho quebrado foi o que lhe tirou dos soluços, e assim, segurou a varinha. Empunhou a varinha no último som que ouviu. Draco lhe olhava de maneira curiosa com as mãos erguidas. Abaixou a varinha, mas ainda o encarava.

—O que quer? —Perguntou rude.

—Eu queria te pedir ajuda com runas, mas acho que não é um bom momento. —Falou aproximando-se lentamente. —O que aqueles idiotas fizeram?

Draco segurava o queixo de Hermione com um das mãos, fazendo-a olhá-lo nos olhos.

—O que aqueles idiotas fizeram? —Hermione desviou o olhar e deu alguns passos, abraçando a si mesma e abaixando a cabeça.

—Você não se importa, e eu, não quero contar! —Desviou de Draco que caminhava em sua direção e assim, aproximou-se novamente da árvore.

Draco fez-se de ofendido com a colocação, mas riu baixinho da péssima interpretação.

—Tem razão, mas isso não quer dizer que não me preocupe. —Hermione o encarou rapidamente. —Não quero que me conte o que aconteceu, apenas estarei aqui, caso precise.

Foi um sorriso simples e animador. A garota apenas colocou a cabeça no ombro do rapaz, enquanto o mesmo entrelaçava seus dedos. Os últimos raios de sol desapareciam no horizonte, e as lágrimas já não mais existiam.

Um movimento de Draco lhe tirou dos devaneios.

—Bom dia! —Desenrolou seus dedos e espreguiçou-se discretamente. —Pronta para se livrar de mim?

Hermione sentou-se e reprimiu um bocejo.

—Com o bom humor que está, eu acho que é você quem está feliz aqui! —Retrucou. —Se queria tanto que eu fosse para casa, era só ter avisado.

Fez-se de magoada, mas riu.

—Que horas estarei livre? —Perguntou sentando-se.

—Acalme-se, preciso fazer alguns últimos exames. —Draco ajeitou o jaleco visivelmente amassado. —Além do mais, a senhorita ainda precisa comer alguma coisa e esperar seus amigos.

—Não preciso deles para voltar para casa. —Draco a olhou, Hermione não era frágil, mas na situação que passara durante a noite anterior parecera tão sensível. Sorriu gentilmente, o que era raro.

—Sei que não precisa, mas não queremos que a senhorita saia daqui em um estado razoável e estrunche durante a aparatação. Não seria ético da minha parte deixá-la assim. E caso seus amigos não venham, ficarei feliz em lhe levar para casa. —Draco desviou o olhar na última parte de seu elóquio.

—C-Claro. —Gaguejou sem jeito. —Na verdade eu não queria incomodá-los, o Ministério estava um caos no último dia em que trabalhei. E se realmente não for lhe atrapalhar...

Draco guiou seu olhar até encontrar o de Hermione ainda ruborizada. Sorriu.

—Me dê alguns minutos, enquanto isso, coma. Seu café deve estar dobrando o corredor. —Jogou a prancheta sobre uma cômoda com poções e saiu.

Não demorou para que o carrinho enfeitiçado, entrasse no quarto, trazendo consigo, o aroma de torradas ainda quentes, bolinhos e suco de laranja. Hermione timidamente iniciou seu desjejum, apreciando o sabor de cada alimento, por fim, esvaziou o copo. Draco entrou no exato instante que o vidro chocou-se contra a bandeja.

—Já terminou?

Assentiu em resposta, voltando a sentar-se na maca.

—Então, vamos começar os últimos exames! —Draco parou na frente da garota.

Lenta e delicadamente examinava-a, começou pelo rosto, tocando os arranhões já quase invisíveis, passou pelos braços e pulsos. Enrubescido, tossiu, limpando a garganta.

—Com licença. —A mão ágil e habilidosa escorregou para a base da blusa de Hermione, foi levantando-a lentamente até chegar ao limite dos seios. Os cortes profundos já não apareciam, assim como as cicatrizes. —Poderia se virar?

E assim Hermione virou-se de costas, sentiu os dedos gelados de Draco tocarem suas costas, o mesmo lugar onde fora feito o maior ferimento. Com a permissão do medi-bruxo, voltou a sentar-se. Olhava-o interrogativamente.

—Que foi? —O rapaz perguntou sem tirar os olhos do pergaminho em que fazia anotações.

—Nada, apenas me pergunto o motivo de não querer olhar os cortes nas minhas pernas. —Elevou as sobrancelhas.

Draco riu.

—Se você queria ficar nua na minha frente era só ter falado antes! Se importaria se eu tirasse a minha também? —Soltou o habitual sorriso irônico no fim.

—Esse é o seu jeito de dizer que queria me ver nua? —Sorria, enquanto caminhava até o biombo para trocar-se.

Draco riu com vontade.

—Na verdade, eu queria dizer que realmente não precisava ver suas pernas, porque sei que estão em perfeita ordem! —Observava a sombra da garota através do tecido. —Mas se quiser mostrá-las...

—Não conte com isso, foi apenas uma pergunta! —Respondeu saindo de trás do biombo verde, que lembrava as divisões da Ala Hospitalar de Hogwarts. —Já podemos ir?

—Sou tão ruim como companhia? Isso magoa, Granger. —Draco assentiu. —Só vou pegar meu casaco, te encontro na recepção, aproveite para assinar seus papéis de alta.

Após uma breve conversa com a recepcionista, e de ter assinado todos os formulários requeridos, saiu acompanhada de Draco.