See a little light -

“If I could see a little light, if I could find some piece of mine... If you just give me a sign! I can see a little light. I don’t know were you are, maybe near or maybe far... I can see a little light.”

Eu andava pela neve, apertando o casaco em volta do meu corpo. Bendito dia em que escolhi ir até o Largo Grimmauld andando, ao invés de aparatar ou usar o Pó de Flu. Eu estava congelando! Quando finalmente cheguei à porta do Largo, já não sentia mais os dedos do meu pé e muito menos os dedos da minha mão, que estavam cobertos por grossas luvas de lã que a senhora Weasley me dera no último natal. Bati na porta e depois de dois minutos, Harry apareceu, sorrindo com aquele cabelo eternamente bagunçado e os óculos meio tortos.

– Hermione! – ele disse e me puxou pela cintura, abraçando-me com força e eu retribui.

– Oi, Harry! – dei risada e depois de um tempo, mordi meu lábio – Ah, Harry... eu também estou morrendo de saudades e tudo mas, eu realmente não estou mais sentindo meus dedos.

Ele então me soltou e segurou uma das minhas mãos, me puxando para dentro do calor de sua casa. E que calor! Imediatamente senti meu corpo se aquecer ao entrar no aconchego daquele lar, e tirei os dois casacos que estava usando, assim como as luvas. Harry estava com uma calça cinza de moletom e uma blusa de mangas compridas cinza com as mangas pretas e descalço.

– Como está, Mi? – ele estava parado na ponta do corredor, me esperando enquanto eu tirava os casacos – Não te vejo há meses! Estava morrendo de saudade.

– Eu estou ótima! – sorri e me aproximei, abraçando-o de novo e ele retribuiu rindo – Não imagina como senti sua falta, Harry Potter! Era horrível não ter você pra me consolar quando algo dava errado com o trabalho ou simplesmente pra me abraçar – suspirei. – Que droga, Harry! Porque seu abraço tem que ser tão bom? – dei um tapa em seu ombro e ele deu risada, me esmagando em seus braços fortes.

– Sinto muito – ele riu e me olhou, passando uma mão pelo meu rosto quando nos afastamos. – Prometo que estarei lá da próxima vez.

Eu sorri pra ele. Aquele era meu melhor amigo no mundo inteiro, Harry Potter, o Menino-Que-Sobreviveu duas vezes. O garoto que derrotou Voc... Voldemort! Que me entendia como ninguém e estava sempre disponível para me ouvir, ou simplesmente para me abraçar. O abraço dele era o melhor do mundo e eu era dependente disso! Claro que, quando ele arrumasse uma namorada, eu iria maneirar naquela dependência mas, até lá, aproveitaria ao máximo.

– Como vão as coisas com a casa? Está conseguindo se virar sozinho, senhor Potter? – perguntei enquanto ia para a cozinha fazer um café.

– Hei, mocinha! Lembre-se que eu fui uma doméstica bem prendada durante toda minha infância e parte da minha adolescência – eu não pude deixar de rir do biquinho desengonçado que ele fez e logo ele estava rindo também. – Eu estou conseguindo sim! E o Monstro realmente tem me ajudado.

– Fico feliz que tenham se acertado – depois de colocar o café para fazer, sentei-me numa cadeira e ele se sentou ao meu lado. – Bom, vamos lá... em primeiro lugar, o Brasil é um lugar maravilhoso. As pessoas são tão calorosas e dispostas a ajudar. Infelizmente é também um lugar um pouco violento, mas nada me aconteceu, antes que pense qualquer coisa – acrescentei ao vê-lo erguer uma sobrancelha. – Os estudos foram muitíssimo satisfatórios e consegui, finalmente, concluir tudo. Mostrei para o meu professor antes de vir para cá e ele ficou bem contente. Disse que agora já posso me formar com louvor como Mestra de Poções! Dá pra acreditar? – dei risada e fui servir café para nós dois – Depois de quatro anos de estudo puxado, sendo os dois últimos anos inteiros no Brasil, consegui finalmente terminar!

– Estou muito orgulhoso de você, Mi! A saudade valeu a pena então.

– Sim. Mas eu pensava em vocês a todo momento – entreguei-lhe uma xícara e voltei a me sentar. – Sempre via algo que me lembrava algum de vocês. Foi tão esquisito no começo... Não vê-los, estar sozinha. Eu nunca tinha viajado sem vocês antes, sozinha assim – mordi meu lábio e tomei um gole do café. – Como estão Gina, Ron, e o pessoal?

– Estão todos muito bem! Ron e Luna estão noivos e Gina e Dino estão esperando o primeiro filho. Imagina a felicidade da senhora Weasley – demos risada.

– Nem acredito! Gina está grávida! E Ron... noivo! Da Luna! Quando isso aconteceu? – perguntei depois que nos mudamos para o sofá e eu apoiei as pernas no colo do meu melhor amigo e me ajeitei melhor no sofá.

– Bom, na verdade todos ficamos bem surpresos – ele riu. – Ron estava bem distante, mas não queria contar a ninguém o que estava acontecendo e então, um dia, ele surgiu n’A Toca com as orelhas vermelhas como tomate e de mãos dadas com Luna. Eles parecem bem felizes juntos. Eles anunciaram o noivado no mês passado e os preparativos para o casamento estão a todo vapor.

– Isso é magnífico! – eu bati palmas e fechei os olhos, suspirando – E você, Harry Potter? Está sozinho?

– Sim, Hermione Granger. Estou sozinho e pretendo ficar assim por um bom tempo ainda.

– Porque, Harry? – abri os olhos e fixei meu olhar no dele.

– Porque não sou bom com essa coisa de relacionamento – ele deu um sorriso amarelo e eu ergui uma sobrancelha. Ele nunca conseguiria me enganar. – Ok, ela não sente o mesmo que eu – ele deu de ombros.

– Como sabe?

– Sabendo.

– Quem é ela?

– Você não a conhece – ele retirou meus pés do seu colo e se levantou, indo para o corredor. – Eu tinha me esquecido! Tenho que comprar alguns ingredientes pro jantar. Volto em uma hora, ok? Não se atreva a cozinhar nada.

Eu dei risada e ele voltou correndo, beijando minha testa e saindo logo em seguida. Então me vi sozinha no largo Grimmauld. Claro que não totalmente sozinha afinal, Monstro deveria estar em algum lugar pela casa. Me levantei e subi para procurar o quarto de Harry e poder dormir um pouco. Desde que voltei do Brasil, não consegui descansar. Quando cheguei, rapidamente dei os últimos retoques no trabalho que mostraria para meu professor e depois de três horas com ele, finalmente vim para cá. Sem contar que a ansiedade de rever meus amigos depois de um ano e meio - levando em consideração que vim para o casamento de Gina, seis meses depois de ter ido ao Brasil -não me deixou dormir na noite anterior e nem no avião. Estava morta!

Abri uma porta e entrei, encontrando o escritório de Harry. Ele agora trabalhava no Ministério da Magia junto com Rony e ambos eram Aurores, porém, Harry ficava bastante em casa pelo que me contava por cartas. Ele tinha horários flexíveis e conseguia concluir os relatóriosem casa. Andei pelo escritório observando os livros na grande estante que ocupava uma parede inteira. Diversos livros completavam a decoração e eu me espantei. Será que ele já tinha lido todos? No canto perto da janela do escritório, encontrei o que notei ser uma Penseira. Já tinha visto uma dessa durante minhas aulas na faculdade. Mordi meu lábio. Eu não era curiosa nem nada mas, tinha uma memória nadando lá dentro e antes que eu pudesse me dar conta, lá estava eu, mergulhando nas lembranças que só poderiam ser do meu melhor amigo.

Cai dentro da Ala Hospitalar de Hogwarts e me virei, procurando meu melhor amigo para poder saber do que ele tanto se lembrava. Ok, que ele passou boa parte da infância na Ala Hospitalar mas mesmo assim...

Então o encontrei sentado no canto de uma maca e Rony estava de pé, ambos olhando a pessoa deitada e eu me aproximei, me vendo petrificada. Harry estava segurando minha mão e eu mordi meu lábio. Era nosso segundo ano em Hogwarts. Logo Harry encontrou o papel na minha mão e eu sorri. A pista sobre o Basilisco. Olhei para Harry e ele tinha um olhar triste toda vez que me olhava.

A cena logo se dissipou e eu fui parar no Salão Comunal.

– Harry, olha! – ouvi Ron dizer e olhei para a direção que ele apontava.

Lá estava eu novamente e eu corri na direção dos meus amigos, porém, só Harry me abraçou. E foi ali que eu descobri o quão bom era o abraço do meu melhor amigo. Ele me apertou tão forte e foi tão bom.

A cena se dissipou mais uma vez e então eu estava na Ala Hospitalar novamente – pois é, acho que Harry realmente passou muito tempo aqui! – e eu vi a mim e a Harry antes de desaparecermos e voltarmos no tempo no terceiro ano. Rapidamente e sem ouvir vozes ou conversas, cenas velozes passavam na minha frente. Em todas elas, eu e Harry Potter estávamos de mãos dadas ou abraçados na nossa primeira aventura sem Rony.

– Harry, não tem ninguém – ouvi minha voz e nós estávamos no lado oposto do lago onde ele e Sirius quase morreram. – Vocês estão morrendo.

Então Harry correu e conjurou o poderoso Patrono que os salvou, o mesmo Patrono de seu pai. Que orgulho fiquei de Harry naquele momento.

A cena se dissipou e estávamos separados por uma cortina, no quarto ano. Foi quando eu fui desejar Boa Sorte a Harry durante a primeira prova do Campeonato Tribruxo. Lembro que nesse dia eu não me aguentei e depois de conseguir me desenroscar daquelas cortinas insuportáveis, eu pulei nele e o abracei bem forte, tentando lhe passar força e confiança. Eu estava com tanto medo! Um flash me lembrou da horrenda Rita que nos flagrou e já quis dizer que eu e Harry namorávamos.

Outra cena surgiu e eu me vi descendo as escadas com o vestido rosa que usei no Baile. Uau! Eu realmente estava linda.

Depois de ver uma infinidade de cenas de nós dois, sempre abraçados ou de mãos dadas, eis que surgiu a cena que eu nunca esqueci.

Nós dois na cabana, quando estávamos nos escondendo e procurando as Horcruxes e Rony tinha ido embora e eu estava tão deprimida. Harry ligou o rádio e me puxou para dançarmos. Nós dançávamos muito mal e eu perdi a conta de quantas vezes pisei no pé dele e ele no meu. Riamos como se não tivéssemos uma Guerra nas costas, como se fossemos apenas nós dois e mais ninguém. Foi o momento mais feliz da minha vida. Aquela dança desengonçada com meu melhor amigo.

Novamente a cena se dissipou e eu vi que estávamos na escadaria de Hogwarts, eu e Ron de mãos dadas e Harry parado, sorrindo triste. A única coisa que ouvi na lembrança foi:

– Eu vou com você! – e então eu corri e o abracei. Ele retribuiu e me abraçou em seus braços com aquela força que eu tanto amava. Chorávamos e eu me lembro de ter sentido muito medo naquele dia, naquela hora. Medo de perdê-lo.

Então ele me soltou e desceu a escadaria. E eu cai na escuridão.

Quando dei por mim, eu estava de volta ao escritório de Harry. Comecei a mordiscar meu lábio inferior enquanto andava de um lado pro outro. Porque Harry estava com aquilo na Penseira? Porque ele estava se lembrando daquilo, que dizer, só de nós! Olhei para a escrivaninha e meus olhos se fixaram em duas fotografias que estavam ali em cima, uma ao lado da outra. Fotografias ao estilo bruxo, claro. Na primeira, Ron, eu e Harry abraçados e rindo para a câmera. Foi no quinto ano. Estávamos tão felizes naquela foto. A segunda foto era apenas eu e Harry... Por Merlin, era o recorte do jornal que saiu no quarto ano, do nosso abraço na primeira prova do Torneio. Ele recortara a imagem e a colocara em um porta-retratos. Eu pulava nele e o abraçava forte e então o flash e nós nos separávamos assustados e eu voltava a pular nele. Um sorriso se formou em meus lábios. Porque será que ele fizera isso?

Me afastei da escrivaninha e sai do escritório, fechando a porta atrás de mim e encontrando em seguida, o quarto de Harry. Me deitei na cama e suspirei, pensando nas imagens que encontrei. Qual era o significado daquelas lembranças? Talvez ele só estivesse com saudade de mim e por isso decidiu se lembrar dos nossos momentos bons! Oh, a quem eu quero enganar? Todas as cenas que vi naquela Penseira só me levavam a uma conclusão: Harry Potter estava apaixonado por mim! E com esse pensamento, ao mesmo tempo perturbador e confortante, eu acabei pegando no sono, jogada de qualquer jeito na cama de Harry.