O sol estava perfeito naquela manhã, os pássaros e dragões coloriam os céus, as nuvens o pintavam, estava tudo, enfim, em paz.

Astrid abriu os grandes olhos azuis, eles nunca estiveram tão cheios de vida e logo ela percebeu que estava deitada sobre o peito de Soluço. Eles deviam ter pegado no sono. Estavam em seu escritório, deitados no parapeito acolchoado da janela, ela dormia ali quando passava a noite lendo mapas do tesouro, mas nunca havia dormido tão bem quanto naquela noite.

Soluço a abraçava com carinho e ela se sentia segura, seus barcos abraçavam o pescoço e peito dele e ambos estavam cobertos por um lençol de pele.

– Você está acordada?

Ela ficou um pouco surpresa ao ouvir sua voz, mas não demonstrou reação.

– Acabei de acordar – Respondeu – E você?

– Faz alguns minutos.

– Por que não me acordou?

– Você estava tão em paz que não tive coragem de te acordar, eu poderia levar um soco no nariz... – Disse ele -... E eu não queria sair daqui.

Astrid sorriu, subiu um pouco seu corpo e beijou a ponta de seu nariz, o que o deixou vesgo por um segundo. Ela deitou novamente sua cabeça sobre seu peito o abraçando.

– Temos que nos levantar – Comentou ela se sentando.

Ele sorriu para ela.

Ela sorriu para ele.

– Tudo bem, Banguela já deve estar aprontando alguma coisa – Respondeu.

Astrid levantou ajeitando sua saia e colocando o medalhão por fora da blusa, não queria escondê-lo desta vez. Ela não resistiu em segurar o lado da bússola e virar para ver o sol e a lua ou “seu pai e sua mãe”.

Siga a luz, Astrid.

Ela procurou algo no bolso da saia.

– Aqui isso é seu – Disse a Hofferson entregando para Soluço sua espada – Desculpe, eu não tive muito tempo de te devolver desde que destruímos a Ilha da Caveira.

Ele aceitou sorrindo e a abraçou.

– Obrigada Astrid.

Ela riu e eles saíram para comer algo e ver como estava tudo.

No convés superior o clima continuava bom e agradável, pareciam bem próximos de Berk, logo chegariam lá. O café da manha estava mais considerável que a sopa fria da noite passada e a pobre Hofferson estava faminta já que não havia comido quase nada no dia anterior, Cavery exigiu muito esforço, porém sua mente estava afastada daquilo naquele instante, pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu um pouco de paz desde que acordara.

Os dois logo comeram se satisfazendo por completo, Soluço despediu-se em seguida para comandar os céus junto da mãe, Banguela parecia entediado atirando explosões de plasma nos céus, como um grito no vazio.

Astrid dirigiu-se para a sala de mapas cantarolando algo que veio à cabeça:

–I heard you want get together, I heard you want rock this world…

Nem sequer sabia de onde vinha aquela musica, mas se apagou conforme foi cantando:

– I thought of something that is better, something that changes all the rules…

A sala de mapas era um lugar um pouco mais apertado, havia uma mesa apenas, mas sem cadeiras, uma estante infestada de mapas e pergaminhos antigos encontrados por todo o mundo e um tapete macio e vermelho que cobria todo o chão.

Quando ela girou a maçaneta quase teve um enfarte, Ice e Ignis estavam ali de pé, vivos, estudando um mapa, mas essas não eram as partes assustadoras, eles estavam de mãos dadas, sem se bater ou nenhum tipo de agressão física e psicológica.

– Ah, qual é? De novo? Antigamente vocês me contavam sobre esses planos sabia? – Gritou a Hofferson completamente indignada – Até você Ice? Estou perdendo a moral por aqui porque a paciência já se foi há muito tempo.

– Calma Astrid, eu não sabia – Questionou Ice com os olhos fixos no mapa.

– Eu estou completamente calma não percebeu? COMPLETAMENTE CALMA!

– Apenas duas pessoas sabiam além de mim – Interrompeu Ignis – Soluço e Stoico.

– Eu vou matá-lo quando eu nos reencontrarmos – Murmurou a Hofferson para si.

– Mas, eu preciso lhe contar algo Astrid, de extrema importância – Disse Ice olhando para Ignis e para a porta.

– Entendi – Respondeu o Caelum ao olhar – Te vejo em breve.

Ignis a beijou por um momento e se despediu de Astrid se preparando para chegar lá fora com noticias de ainda estar vivo.

– Ok, o que foi isso?

– Você sempre disse que devíamos nos entender. Então nos entendemos – Respondeu Ice.

Astrid sentou-se a mesa sentindo uma terrível dor de cabeça, já a Aaron continuava concentrada no que lia, a principio pareceu um mapa para a loira, mas agora ela conseguiu ver as palavras pela luz que o atravessava.

– O que queria me dizer então?

Ice suspirou.

– Estamos perdidos.

– O que?

– Eu nãolhe contei, mas... Antes de sairmos de Berk, eu fui atrás da Anciã co más intenções em seu nome, eu estava zangada admito, porém ela me deu uma espécie de profecia.

– Profecia? Por que não me disse isso antes? Poderia ter mudado tudo!

– Ou não Astrid, mexer com o futuro ou o destino...

– O que ela disse exatamente?

Ice passou o papel para a Hofferson que leu com tamanho pavor e atenção cada palavra.

Sugada pela escuridão

Sua Luz se esvai com meia vida

Os que portam chifres errarão presentes a solidão

Asas negras serão disputadas

Aquela que um dia já foi aliada

Se persuadida será alterada

Algemadas estão as duas

A minha e a tua

O tic tac do relógio derramará sangue

As caveiras deverão o tecido remandar

E só assim a paz reinará.

– Algo mais? – Perguntou Astrid.

– Ela disse algo sobre apenas um erro...

– Vamos todos morrer...

– Mas acredito que a primeira e segunda estrofe seja sobre você, não acha? – Perguntou Ice friamente.

Astrid suspirou.

– Essa é a minha única certeza.

Ouviram-se batidas a porta.

– Capitã Hofferson?

Era Dribs, reconhecível pela voz.

– Sim?

– Chegamos a Berk, mas temos um grande problema.

Ice e Astrid trocaram um olhar surpreso.

– Cavery!

~~°~~

Berk estava completamente deserta, as casas tinham marcas de fogo, escritas e parte destruídas; não havia sinal de nenhuma criatura, nem dragões ou animais; o grande salão estava completamente aberto, na verdade, não se via uma porta fechada em lugar algum;e a arena estava danificada.

– O que aconteceu com o nosso vilarejo? Está completamente acabado! – Gritou Stoico.

– É o rastro de Cavery – Respondeu Ice

Ignis abaixou-se vendo rastros de pegadas recentes.

– Eles ainda poderiam estar aqui se duvidar.

Astrid fingiu não ver sua antiga casa ter se transformado em cinzas.

– Onde estariam os outros? – Perguntou Soluço – É impossível ele ter levado todos, deixamos vários vikings em terra, não poderiam dar conta de todos.

– Ele daria sim, ele sempre arruma um jeito – Disse Astrid.

– Vou dar uma olhada do alto, poderia localizar o paradeiro dele – Avisou Soluço montando em seu dragão.

Banguela olhou totalmente confuso para as casas, ele parecia sentir uma má presença no ar e, por isso, não hesitou em ir o mais rápido que conseguiu.

– Isso é estranho – Mencionou Ice – Por que Cavery não matou os vikings e os dragões?

– Tem razão, isso não é típico dele – Insinuou Astrid.

– Acha que ele faria isso?

– Acho que ele teria matado tudo o que respirasse, depois espalhado os corpos e banhado tudo com sangue para que, quando chegássemos, ficássemos completamente pasmos o que deixaria um momento perfeito para nos atacar de surpresa – Disse Ice em tom natural, como se não houvesse acabado de contar algo assustador demais para os ouvidos de Stoico.

Antes de qualquer reação, ouviram-se risadas baixas, vozes vindas de todo o lugar, os rodeando por completo.

– Eles ainda estão aqui... – Murmurou Astrid.

– Parece que a pequenina Hofferson não está mais tão protegida assim não é? – Disse Cavery saindo da escuridão.