Ansiedade e felicidade se misturaram dentro de mim. Toda a culpa e tensão estavam indo por água abaixo. Senti meus ombros relaxarem e as minhas sobrancelhas, antes franzidas, se elevando em surpresa.

– Céus, Lucy! - Aproximei-me de minha prima, colocando minhas mãos em ambos os lados de seu rosto.

– Chocolate quente com canela sempre me faz refletir - Ela levantou a mão que não estava com o telefone, até então eu não tinha percebido a xícara que ela segura. Chocolate com canela: Uma das coisas que eu e minha prima tínhamos em comum.

– Sempre funciona... - Sorri ao pegar o telefone de suas mãos e começar a discar o número de meus pais.

Levo o aparelho ao rosto enquanto Lucy me observava esperançosa, percebi sua perna balançando freneticamente, respondendo ao seu nervosismo.

Ótimo! Já podia reproduzir os “bips” do telefone com a boca, mas nada de minha mãe ou pai responderem. Meu coração pulsava mais rápido e o meu lado negativo gritava dentro da minha cabeça que algo de ruim havia acontecido.

Os “bips” silenciaram. Minhas batidas cardíacas aumentaram mais ainda.

“Emma, querida”– Tia Helen falou, sua voz estava visivelmente rouca, mas o fato dela ter atendido o celular de minha mãe deixou uma dúvida em minha cabeça.

“Tia Helen...”– Minha voz havia ficado mais baixa, a nostalgia de todas as tardes de sábado estavam vindo à tona. Eu, Tia Helen e Lucy tomando sorvete e contando piadas. Sorri ao relembrar.

Lucy, que estava agarrada com uma das almofadas do sofá, colocou as mãos no rosto. Ela estava chorando.

“Aconteceu alguma coisa?”– Titia disse, preocupada - “ Seus pais estão dentro da delegacia, avaliando algumas pistas e eu estou aqui fora, ouvindo o depoimento de um policial, mas se você quiser eu posso chamar Mary ou David”.

“Não, tia, está tudo bem”– Ouvi um suspiro aliviado vindo do outro lado do telefone.

“Sinto tanta falta dela”– Ela disse chorosa e percebi algumas lágrimas já descendo pelo meu rosto.

“Tem alguém aqui que quer falar com você” - Falei, Lucy levantou a cabeça e notei seus olhos vermelhos e molhados.

Passei o telefone para Lucy e ela permaneceu em silêncio por alguns segundos, antes da mudez ser substituída por soluços e um par de lágrimas.

“Mãe...”– Lucy falou e eu senti meu coração apertar.

Levantei vagarosamente. Precisava deixa-las terem um momento mãe e filha. Minhas pernas fraquejaram quando subi os degraus, mas a vontade de deitar na banheira e relaxar superou todo o cansaço.

Tirei as roupas e sapatos. Liguei a torneira e esperei até a água alcançar a altura ideal. Enquanto esperava, uma pessoa veio a minha mente: Killian. Agora eu poderia conversar com ele, mas, provavelmente, ele estaria com raiva. A única opção era telefonar e esperar sua reação.

Peguei o celular de dentro da bolsa e disquei o número rapidamente.

“Alô?”– A voz de Killian ecoou do outro lado.

“Killian, Graças a Deus!”– Falo aliviada pelo simples fato dele não ter ignorado minha ligação.

“Swan...”– Sua voz soava mais fria que o normal - “Estou surpreso por você estar me ligando”.

“Killian, me escute”– Falo suavemente, enquanto entro na banheira e sinto a água quente irradiar meu corpo - “Sinto muito por ter me afastado de você hoje, mas se você pudesse passar aqui em casa nós poderíamos conversar”.

“Qualquer que seja o assunto, por que você não pode falar pelo telefone?”– ele me interrogou desconfiado.

“Porque eu preciso te mostrar uma coisa e você vai entender o motivo”–falei esperançosa.

“Chego aí em alguns minutos”– Killian disse antes de desligar o telefone e encerrar a ligação. Ele não estava com raiva, ele estava magoado pelo o que eu tinha feito, minha esperança era que ele entendesse os meus motivos. Meu coração já estava apertado novamente.

Saí da banheira e enxuguei meus cabelos. Vesti uma regata e uma calça de moletom; quando saí do banheiro tive a surpresa de encontrar Lucy sentada na minha cama, me encarando.

– Oi - Sorri ao ver minha prima com um sorriso radiante.

– Eles estão vindo para cá -Lucy disse animada - Vão pegar um voo ainda hoje.

– Isso é ótimo - Me aproximei e senti na cama, me entusiasmando só pela sua alegria - Você não sabe o quanto eu estou feliz por você fazer a coisa certa.

– Emma Swan, sempre a minha voz da razão - Ela disse ao me abraçar - Obrigada.

– A minha função sempre foi tirar você das encrencas, lembra? - Dei uma risada aos lembrar os nossos bons tempos de infância. Banhos de chuva, piqueniques, esconde-esconde...

– Mamãe disse que me mandaria uma mensagem de texto quando soubesse a hora da chegada em Boston - Ela disse checando o celular.

– Acho que o meu fusquinha não vai caber todos nós - Elevei a sobrancelha ao imagina-nos empilhados dentro do meu pequeno carro.

– Vamos ter que achar outra alternativa - Ela disse pensativa e antes que eu pudesse responder alguma coisa, ouço o som da campainha.

– Você está esperando alguém? - Lucy virou em alerta.

– Sim... - me levantei ansiosa - Quero que você conheça uma pessoa.

Descemos a escada em silêncio, Lucy sentou no sofá enquanto eu atendia a porta.

– Killian... - Ao abrir a porta, vejo-o. Apesar de eu estar vestida apenas de camiseta e calça de moletom e a noite estar fria, o calor se estabelece entre nós dois. Ele está deslumbrante, como sempre, em sua jaqueta de couro e calças jeans.

– Então, Swan, o que você tinha para me contar? - Ele disse sério. O cenho franzido revelava o descontentamento.

– Entre... - Falei deixando passagem para ele passar e dispersando do transe que Killian Jones tinha produzido em mim.

Ele entrou e eu fechei a porta atrás de nós. Killian deu alguns passos e parou abruptamente.

– Oi - Pude ouvir a voz doce da minha prima depois do silêncio que se instalou na sala.

Caminhei até Killian, que estava na frente de Lucy, e toquei em seu braço a fim de chamar sua atenção.

– Killian, essa é a Lucy - falei finalmente.

Ele permaneceu em silêncio e alternava os olhares entre mim e ela.

– Oh! - Ele disse surpreso - A prima da Emma...

– Sim. E você quem é? - Lucy disse curiosa. Arqueou a sobrancelha, como fazia toda vez que estava desconfiada.

– Killian - Ele respondeu - Eu sou...

– Killian é meu namorado - Terminei a frase que Killian estava receoso em dizer.

– Entendo... - Lucy me fitou com um sorriso malicioso - Prazer em conhecê-lo, Killian.

Ela estendeu a mão e Killian retribuiu o aperto. Olhei para Lucy, esperançosa que ela entendesse o olhar de “Precisamos conversar à sós”.

– Bem... - Lucy disse bocejando - Estou cansada e vou deixar vocês dois conversarem.

– O motivo de você estar me evitando é a sua prima? - Ele disse quando já estávamos sozinhos.

– Ela não queria que ninguém soubesse que ela estava aqui e me pediu para não contar para ninguém - Falei culpada, fitando os dedos da minha mão - E se eu ficasse um segundo a mais perto de você, eu iria querer desabafar.

– Swan, Swan... - Ele se aproximou e me abraçou - Eu não consigo ficar com raiva de você por muito tempo.

Ele afastou nossos corpos delicadamente e pude ver o sorriso perfeito em seu rosto.

– Parece que sua prima mudou de ideia quanto ao “Ninguém pode saber que eu estou aqui” - ele soltou irônico.

– Eu tive que botar algum juízo naquela cabeça de vento - Dei uma risada. Eu estava aliviada. Killian e Lucy estavam ali. Meus problemas estavam ficando cada vez menores - Às vezes eu tenho que fazer isso com você.

Killian me abraçou mais uma vez.

– É tão bom ver você relaxada - ele disse, jogou meus cabelos para o lado e começou a dar beijinhos em meu pescoço - Apesar de você ficar fascinante quando está estressada, tenho que admitir que o seu sorriso é um feitiço sedutor perto de mim - Suas palavras saiam como um sussurro em meu ouvido.

Ele elevou a cabeça e beijou meus lábios, me deitando no sofá. Killian passeou suas mãos pelas minhas costas e coxas. O clima estava ficando mais quente ainda.

– Vamos para o meu quarto - falei entre seus lábios. Ele balançou a cabeça e me seguiu enquanto eu o puxava escada a cima. Entrei no quarto e tranquei a porta.

Deitamos em minha cama e rolamos de um lado para o outro. Killian distribuía beijos pelo meu pescoço. Tirei minha camiseta e ele desceu as carícias até os meus seios. Era bom... Muito bom. O contanto de sua pele com a minha era fascinante.

Quando abri os olhos, a jaqueta de Killian já estava jogada em um lado do quarto e agora ele estava desabotoando o jeans.

Arranquei seu cinto com rapidez para acelerar o processo. Ele estava com uma Box preta dessa vez, era tão bom ver aquelas pernas torneadas novamente. Killian estava abaixando minha calça de moletom quando ouvimos uma voz.

– Emma! - Lucy gritava pela casa - Emma!

Ótimo! Quero ter um momento de privacidade com o meu namorado e minha prima simplesmente acaba com o clima.

Em um piscar de olhos Lucy estava batendo na porta. Poderia melhorar? Killian estava aterrorizado, ele pescou rapidamente suas roupas pelo quart, enquanto eu me apressava para vestir minha calça e camiseta.

– Lucy... - Dei um sorriso amarelo quando abri a porta. Ela havia batido insistentemente e não tinha como ignorar. Eu e Killian rapidamente nos arrumamos, ou quase isso. Eu estava visivelmente afetada e com a respiração irregular; e Killian... Bem, ele se enrolava pra fechar os botões da calça e colocar o cinto, seu cabelo estava desgrenhado. Eu havia o bagunçado.

– Emma, mamãe ligo... - Ela parou de falar, ao reparar Killian vestindo desajeitadamente sua jaqueta de couro em um canto do meu quarto - Oh!

Lucy arregalou os olhos e alternou o olhar entre eu e Killian. Ela tinha resolvido as peças do quebra-cabeça, consequentemente, sabia o que estávamos fazendo, ou pretendíamos fazer.

–Aconteceu alguma coisa?­ - Perguntei com um sorriso inocente, como uma criança quando é pega fazendo algo de errado.

– Você... Vocês... - Ela parecia estar em transe, tão envergonhada que suas bochechas ficaram vermelhas.

Lucy deu meia volta, caminhando pelo corredor. Fechei a porta atrás de mim e a segui, aproveitando para arrumar o meu cabelo que foi bagunçado, segundos antes.

– Espera! - Falei e Lucy virou em seus tornozelos.

– Emma, você pode voltar para lá - Ela disse culpada - Não quero atrapalhar o momento de vocês.

– Lucy, você me fez vir aqui fora. Já atrapalhou - Falei com uma falsa reprovação.

­- Nossos pais vão voltar às cinco horas de amanhã­ - Seu sorriso ampliou.

– Já? Temos pouco tempo para organizar tudo - Eu disse preocupada - Como vamos trazê-los aqui? O meu carro não tem capacidade para todos nós.

– Calma - Lucy interrompeu os meus passos de um lado para o outro - O importante é que eles estão vindo.

Ouvi o ranger da porta. Killian estava do outro lado do corredor com seu cabelo bagunçado e sorriso de lado. Ele continuava quente...

– Swan, acho melhor eu ir - Ele caminhou até nós.

–Killian, é melhor você ficar para acalmar a Emma. Ela está surtando - Lucy disse brincalhona como sempre, mas eu senti a malícia em seu tom. Ela sabia o que estávamos fazendo e com certeza iríamos ter a conversa de “Quando aconteceu?”, mas eu não teria vergonha de falar com ela. Ela sempre foi, depois da minha mãe, a minha amiga mais próxima. Sempre contava os meus segredos para ela e ela sempre contava os seus.

– Só estou sendo sensata - Bufei - Não tem como cinco pessoas mais as malas caberem no meu carro, Lucy.

– Esse é o problema? - Para minha surpresa, Killian falou - Eu posso falar com um amigo que tem uma Van.

– Você faria isso? - Perguntei incrédula, medindo a situação.

– Eu faria qualquer coisa por você, amor.