A Razão do Rei escrita por Andy


Capítulo 17
Capítulo 17


Notas iniciais do capítulo

Boa noite, leitores amados do meu coração! Como vocês estão? Então... Hoje é sábado, o que significa... Dia de "A Razão do Rei"! Hahaha! Estou ansiosíssima para ver a reação de vocês aos acontecimentos deste capítulo... De verdade! :X
Mas antes de qualquer coisa... Tenho mais agradecimentos especiais a fazer! Por quê? Por quê? Ora, porque eu tenho muitos leitores especiais! ;3
Muito obrigada às irmãs Primrose e Meredith e à minha leitora mais empolgada, Madlyn, pelas recomendações que fizeram à fanfic! Eu fiquei sorrindo igual a uma boba enquanto lia, haha! Vocês três são incríveis! Vocês começaram a ler (ou pelo menos a comentar) a fanfic há pouco tempo, e me surpreenderam e me alegraram muito com a empolgação em relação a ela. São leitoras como vocês que fazem tudo valer a pena. Muito obrigada! ♥
E quero aproveitar também para agradecer a todos os leitores que se preocuparam e dedicaram algum tempo a me apontar os erros que encontraram na fanfic. Sejam erros de estilo, de gramática, sejam erros de lógica em relação à obra original de Tolkien. Eu aprecio muito a ajuda de vocês, de verdade! São leitores como vocês que me ajudam e me incentivam a crescer a cada dia nesta jornada sem fim que é a escrita literária. Obrigada!
Sem mais enrolação... Leiam o capítulo e me digam o que acharam! Especialmente sobre algo que aconteceu na última parte... Vocês vão saber o que é quando virem. Espero que não achem ruim... Peter Jackson realmente complicou a minha vida com esse filme da trilogia d"O Hobbit". Complicou no bom sentido, claro. Seja lá o que isso significa.



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“Em meu quarto, enquanto vestia a armadura e preparava minhas armas, eu tentava elaborar alguma estratégia com a pouca informação que tinha sobre os arredores de Angmar e sobre a situação do campo de batalha. Meu coração batia acelerado. Ao mesmo tempo em que ansiara por aquele momento, eu o temera a minha vida inteira. O momento em que eu teria que marchar para a guerra com um exército sob meu comando, como capitão e príncipe.

Após ter arrumado minhas flechas e ter posto na aljava tantas quantas eu podia carregar, eu me deparei com um problema. Eu havia pegado dois punhais, com os quais costumava lutar sempre, mas meu pai me havia dito repetidas vezes para nunca ir a uma batalha séria sem uma espada. Em geral, eu aceitava os conselhos dele. Mas não era acostumado a carregar espadas nem a lutar com elas, embora saiba lutar muito bem. Algumas pessoas dizem que eu sou inferior apenas ao meu pai nesse aspecto. Eu não sei. O fato é que eu fiquei em dúvida sobre qual das espadas levar.

Fiquei encarando as armas por alguns longos minutos, na esperança de que algum tipo de sinal me mostrasse qual delas escolher. Mas é claro que nada aconteceu. Ao final, desisti. Eu não queria ter que pedir conselhos a ninguém, especialmente não a meu pai, mas não havia tempo para aquilo. Engoli o orgulho e fui até o quarto dos meus pais. Mas quando me aproximei, percebi que eles estavam discutindo. Parei a alguns passos de distância e fiquei escutando.

– Você não pode tirar isso dele, Thranduil!

– Não é seguro, Syndel! Nós podemos colocar outro no lugar dele! Eu tenho certeza de que consigo convencer o meu pai.

– Ele esperou por esse momento a vida inteira, desde que era um garotinho. Não é justo com ele!

– Eu só estou tentando protegê-lo, você não entende?

– Protegê-lo? Ele não é mais uma criança! Você não pode mantê-lo afastado da guerra para sempre, Thranduil! O mundo não é mais seguro!

– É, mas se posso mantê-lo longe da guerra agora, em um local que no momento é seguro, eu farei isso!

– Se fosse você, você gostaria de ser deixado para trás? Hein? Se você tivesse a idade dele, tivesse acabado de se formar capitão da guarda, você iria querer ficar aqui de braços cruzados enquanto o reino inteiro vai para a guerra?

– Você está se ouvindo, Syndel?? Ele acabou de se formar capitão da guarda! Que experiência de guerra esse moleque tem??

Você é quem não se ouve! No outro dia mesmo você estava elogiando a performance dele naquela batalha contra o exército orc!

– “Exército”! – Eu quase pude ver o sorriso torto que minha mãe tanto odiava estampado no rosto dele. – Aquele grupo de orcs era quase tão pequeno quanto aquele que nós enfrentamos na floresta em nossa primeira batalha! Aquilo lá não é um décimo do que vamos enfrentar em Angmar!

– Oh, você diz aquela batalha em que você perdeu o controle, matou minha melhor amiga e quase se matou?

– Ah, você vai usar isso contra mim agora, milênios depois? Eu estou falando de balrogs, Syndel! De dragões! Você se lembra do que dragões são capazes de fazer? Hein?

– ... – Eu ouvi um som estranho, algo entre um suspiro e um soluço.

– Ah, você se lembra, não é? Ótimo. É disso que eu estou tentando protegê-lo, Syndel.

– Não é justo com o Legolas, Thranduil.

Nessa hora, meu pai socou a parede com violência, fazendo tudo tremer, do quarto até o corredor onde eu estava. Alguma coisa caiu e se estilhaçou, fazendo um grande barulho.

O que você quer, hein, Syndel? – O tom de voz dele era assustador. – Você não se importa nem um pouco, não é? Você não ama o Legolas nem um pouquinho, não é? Antes mesmo de ele nascer, você já arriscava a vida dele! Depois, cismou de ensiná-lo a usar o arco-e-flecha quando ele mal conseguia segurar os próprios talheres, e agora você quer mandá-lo para a pior guerra que esta era já viu. Qual é o seu problema? Hein? Que tipo de mãe é você?

– Eu só quero que você se coloque no lugar dele!! – Ela começou a gritar, visivelmente se desesperando. Eu nunca a tinha visto falar naquele tom. Eu nunca havia visto meus pais brigarem daquele jeito. – Você precisa dar uma chance a ele! Nós estaremos lá, nós podemos protegê-lo, n...

VOCÊ QUER O SEU FILHO MORTO?!?! É ISSO O QUE VOCÊ QUER?!

Minha mãe começou a chorar, soluçando alto. Eu já tinha ouvido mais que o bastante. Cerrando os dentes, absolutamente furioso, invadi o quarto. Meu pai estava em pé, observando minha mãe chorar, parecendo prestes a bater nela. Ela tinha se ajoelhado no chão, escondendo o rosto entre as mãos. O corpo dela todo tremia com os soluços violentos. Eu me atirei sobre o meu pai, empurrando-o com toda a minha força. Ele foi pego de surpresa e bateu com tudo contra a parede. Eu me abaixei para ajudar a minha mãe a se levantar. Ela passou uma mão sobre os meus ombros e pôs a outra sobre o meu peito, olhando para mim, surpresa. As lágrimas continuavam a escorrer dos olhos dela:

– L-Legolas...

O que você está fazendo aqui? – Meu pai se adiantou em direção a mim, ainda mantendo aquele tom de voz. Eu fiz com que minha mãe ficasse atrás de mim e me adiantei para encará-lo.

Eu só vou dizer duas coisas... – Imitei o tom dele. – Primeira: eu VOU lutar, pai! E não há nada, NADA que você possa fazer para me impedir! – Fiz uma pausa e fiquei encarando-o, para que ele percebesse o quão sérias eram minhas palavras. – E segunda... Se você fizer minha mãe chorar ou falar com ela nesse tom outra vez... EU ACABO COM VOCÊ!! – Eu o encarei por mais um instante, e depois me virei, passando os braços em volta da minha mãe, guiando-a para a porta. Eu podia ouvir meu pai respirando forte atrás de mim, mas ele não tentou nos seguir e não fez nada.

No corredor, minha avó vinha correndo:

– Legolas! O que aconteceu? Eu ouvi um barulho! Por que Syndel está...? – Eu passei por ela, esbarrando levemente em seu ombro, sem mal olhá-la. Minha mãe também não disse nada.

Eu a levei para o meu quarto e bati a porta com força. Ela se sentou na cama, tentando conter as lágrimas enquanto eu respirava fundo, tentando me acalmar, apoiando-me na parede. Durante alguns minutos, nenhum de nós disse nada. Depois, já tendo parado de chorar, ela começou:

– Legolas... Não fique com raiva do seu pai.

– O quê?

– Ele só está tentando protegê-lo. Ele o ama muito, você sabe disso.

– Mas ele não tem o direito... – Eu percebia que falava entredentes, mas não conseguia evitá-lo. A minha vontade era a de voltar lá e socar a cara do meu pai até que a raiva passasse. – Isso não dá a ele o direito de falar com você daquele jeito!

– Ah, você sabe como o seu pai é... Ele nunca aprendeu a ser contrariado. Desde que eu me lembro, ele sempre foi assim.

– Ainda assim, ele não tem o direito de tratá-la daquela maneira!

Ela se aproximou de mim e me abraçou, encostando a cabeça em meu peito. Eu a envolvi em meus braços.

– Eu sei que não, e ele sabe também. Mas seu pai é assim mesmo. Às vezes, ele não sabe o que faz, ele perde a cabeça. Eu te garanto que ele já está arrependido lá, neste exato momento.

– É melhor que esteja. Eu juro, mamãe, se eu o vir fazendo isso de novo...

Ela ergueu a cabeça para olhar para mim e sorriu.

– Você se tornou exatamente o príncipe que eu sempre sonhei que você fosse.

Eu abaixei a cabeça, encostando meu nariz ao dela, e fechei os olhos. Minha respiração estava finalmente voltando ao normal.

– Eu me orgulho tanto, Legolas...

– Eu prometo que nunca vou ser igual ao meu pai, mamãe. – Ela riu baixinho.

– Engraçado você dizer isso. Eu me lembro de um garotinho, um elfo bem pequeno e esperto... Tudo o que ele queria era um dia ser igual ao pai dele. – Eu ri também, sem humor.

– Estranho como as coisas mudam, não é?

Ela se afastou, e eu abri os olhos. Ela pôs a mão em meu rosto.

– Seu pai é um bom homem, Legolas, apesar dos defeitos dele. E ele te ama. Mais que a qualquer um. Mais que a mim... Mais que à própria vida dele. – Eu fiquei apenas olhando-a. – Eu sei que você entende. E que no fundo, já o perdoou. Não é? – Eu não respondi, mas o que quer que ela tenha visto em meus olhos, foi o suficiente para ela. Ela sorriu. – Você é um menino de ouro, Legolas.

Ela se afastou e me deu as costas, passando pela porta.

– Mamãe?

– Eu vou lá ver como ele está. – Ela recomeçou a andar, mas parou depois de dois passos. – Legolas?

– Hnm?

– O que quer que aconteça naquele campo de batalha... – Ela começou, ainda de costas, mas se calou.

– Sim?

– Nada... Não é nada. – Ela suspirou. – Escolha a espada curta, a que tem a insígnia da nossa família na lâmina, e não no punhal. É mais leve e vai te dar mais agilidade. Você é rápido e tem bom controle. Vai se sair bem com ela. – dizendo isso, ela se afastou pelo corredor.

“Pouco depois, todos já estavam de volta à praça central, prontos para partir para a guerra. Eu, meus pais e meu avô íamos montados, e o restante dos guerreiros iam a pé. Meu pai não olhou para mim sequer uma vez, olhando fixamente para o seu esquadrão. Eu procurei imitá-lo nisso. Minha mãe olhava de um para outro, preocupada. Oropher deu o primeiro comando:

– Em forma!

Todos os soldados se puseram em posição de sentido.

– Muito bem... Partiremos agora em direção a Angmar! Devemos chegar lá em pouco menos de dois dias, ao nascer do sol. Sigam-me e aos capitães de seus esquadrões. Lembrem-se dos treinamentos! Honrem seu rei e as armas de Greenwoods! – Ele fez sua montaria virar de costas para os soldados, no que nós o imitamos. – Para a guerra! Para a vitória! Ou a morte! – Ele começou a andar, e nós os imitamos, enquanto o exército inteiro gritava em apoio às palavras do rei.

A viagem foi um pouco mais longa do que o planejado. Nós nos deparamos com uma tempestade no meio do caminho, o que dificultou tudo na hora de cruzarmos o rio. Mesmo assim, seguimos avançando sem pausa para descanso e quando finalmente paramos no alto da colina e contemplamos a fortaleza de Angmar lá embaixo, o cenário era de completo caos.

Apesar da chuva, árvores queimavam aqui e ali. Incendiadas por quem ou pelo quê, não havia como saber. Lá embaixo, homens e anões enlameados lutavam contra centenas de orcs, e mesmo meus olhos tinham dificuldades em distingui-los às vezes. Não havia sinal do Rei Bruxo que, eu adivinhei, devia estar dentro da fortaleza, escondido, apenas dando ordens. Imediatamente, eu compreendi que precisávamos encontrar um meio de entrar na fortaleza, se quiséssemos vencer. E comecei a procurar, tanto quanto podia.

Até então, nenhum dos combatentes parecia nos ter visto. A chuva ajudava a nos ocultar, e no calor da batalha, ninguém olhava para o alto da colina. Meu pai se adiantou e parou a meu lado, entre mim e Oropher.

– Nem sinal de Valfenda. – comentou. Eu olhei de novo. De fato, não havia nenhum elfo lá embaixo.

– Devem ter-se atrasado com a tempestade. – Oropher respondeu.

– De qualquer forma, a distância para eles era algumas milhas a mais do que nós. E eles têm outro rio para atravessar. – complementei. E pela primeira vez meu pai olhou para mim, erguendo uma sobrancelha. Eu o encarei em desafio. Ele me lançou um daqueles sorrisos tortos e voltou a olhar para o campo de batalha.

Minha mãe parou do meu outro lado:

– O que vamos fazer? Vamos esperar por Mestre Elrond?

– E ficar aqui assistindo-os morrer? Não! Os dúnedain estão em uma desvantagem muito grande. Mesmo com os anões de Durin lutando... Convenhamos, não faz muita diferença. – Oropher respondeu.

– Mas toda ajuda disponível é bem-vinda. – Meu pai contrapôs, e até minha mãe pareceu surpresa com as palavras dele. – Vamos, então?

– Sim... – Oropher parecia arrependido por ter feito a piada. Ele se voltou para o nosso exército: – Arcos a postos!

Meu pai se afastou, indo para a retaguarda, abrindo espaço. Minha mãe e eu preparamos nossas flechas, gritando ordens de comando para os arqueiros de nossos esquadrões. Oropher também se preparou para atirar. Fez-se completo silêncio enquanto todos miravam. E então o rei deu o comando:

– Agora!!

Nossas flechas choveram sobre o campo de batalha, matando centenas de orcs pegos de surpresa. Todos lá embaixo pararam o que estavam fazendo e olharam para nós. E aí o esquadrão do meu pai, que comandava os melhores espadachins do reino, desceu de sobre a colina, com as espadas prontas. Vendo que os reforços haviam chegado, homens e anões ganharam novo ânimo e a batalha recomeçou.

O próximo esquadrão a descer foi o de Oropher, que havia gastado todas as suas flechas. Minha mãe e eu mantínhamos nossos arqueiros no alto da colina, de onde era mais conveniente atirar. Mas os orcs não paravam de sair de dentro da fortaleza. Com o passar do tempo, não nos restou escolha senão descer com nossos guerreiros e nos juntarmos à batalha lá embaixo.

Ao cair da noite, trolls vindos das montanhas do norte se juntaram à batalha ao lado do inimigo e a situação piorou. Em meio à confusão de espadas e flechas, eu buscava desesperadamente por uma forma de entrar na fortaleza, mas as únicas aberturas na encosta pedregosa da montanha eram aquelas de que saíam os orcs. Eu começava a considerar a ideia, mas parecia muito arriscado. Eu não queria fazer nenhuma besteira.

Meus pais tinham se encontrado no meio da batalha e lutavam juntos, em dupla, como faziam sempre desde que eram jovens. Eles eram absolutamente incríveis, e os orcs começavam a se afastar deles, temerosos. Oropher e o senhor dos anões de Durin, pai de Thror, discutiam alguma coisa aos gritos, enquanto lutavam com seus inimigos. Pareciam estar discutindo alguma estratégia, mas o anão não parecia satisfeito. Os anões, assim, lutavam implacavelmente, mas desordenadamente. E não havia sinal de Valfenda até então.

Foi aí que eu o vi. Eu havia me afastado um pouco, subido em uma árvore que havia numa das bordas do campo de batalha para tentar ver melhor a fortaleza, quando notei Thror. Ele subia discretamente pela lateral esquerda da fortaleza, escalando os resquícios de uma parede que havia sido destruída acidentalmente por um dos trolls. Era uma subida arriscada. Os escombros se equilibravam fragilmente, e atrás deles o rio corria, tendo ganhado novo ímpeto com a tempestade. Uma queda ali poderia ser letal. Eu olhei, tentando ver o que o motivava a correr aquele perigo todo. E então percebi. Uma luz esverdeada brilhava, vinda de uma fenda estreita lá no alto. Era uma entrada para a fortaleza, uma rachadura com a qual o Rei Bruxo certamente não contava. Era tudo de que precisávamos.

Eu saquei meus punhais e desci de volta para o campo de batalha. Era preciso atravessá-lo para chegar lá. Avancei como podia, matando a todos que cruzavam o meu caminho. Quanto mais perto chegava, mais orcs encontrava, porque por alguma razão eles se concentravam naquele lado. Minha mãe me viu indo para lá e se desesperou:

– Legolas! – Ela atirou num orc que tinha segurado a minha perna e do qual eu tinha dificuldades em me livrar. – Legolas! O que está fazendo?

Eu matei um orc que saltou sobre mim e apenas apontei com a cabeça em direção à fenda que tinha visto, não querendo fazer alarde. Minha mãe olhou, e nós dois vimos quando Thror passou pela abertura, naquele exato momento. Ela entendeu tudo:

– Thranduil! – chamou.

Eu me adiantei e com dificuldade abri caminho até os escombros. Subir por eles foi muito mais fácil para mim do que para Thror. Todos sabem que anões não levam o menor jeito para essas coisas. Mas mesmo para mim, foi difícil. Quase caí uma ou duas vezes. Quando cheguei lá em cima, meus pais estavam logo atrás de mim.

– Ótimo, Legolas! – Meu pai me cumprimentou, pondo uma mão sobre meu ombro.

– Algum sinal de Thror? – Minha mãe perguntou.

– Não. – respondi. – Ele entrou lá e desapareceu.

– Precisamos entrar também e encontrar uma forma de abri-la por dentro para os outros passarem. – Meu pai olhava para a encosta da montanha.

Nós três nos equilibrávamos sobre os escombros. Eu não ousava olhar para o lado, onde o rio corria. Apenas o som já era suficiente para indicar o quanto uma queda ali seria perigosa. Minha mãe olhava para o oeste.

– Vá na frente, Thranduil. – Ela pediu.

Meu pai assentiu e, andando de lado, passou pela abertura estreita. Eu ia segui-lo, mas minha mãe se pôs à minha frente. Eu dei passagem para ela, mas ela virou de costas para a entrada e olhou para mim. E então foi tudo muito rápido. Minha mãe agarrou meus ombros e olhou em meus olhos por dois segundos. E depois, inesperadamente, me empurrou com toda a força. Eu não tive tempo de recobrar o equilíbrio, nem de me agarrar a nada. O choque impediu até que eu gritasse. Sem poder reagir, senti meu corpo se inclinando em direção à correnteza do rio lá embaixo.

A queda foi curta. Segundos depois, senti uma dor excruciante quando minhas costas atingiram o chão pedregoso à margem do rio. Metade do meu corpo estava para fora da água, mas minhas pernas começavam a ser arrastadas. Minha cabeça atingiu uma pedra. Meus ouvidos zuniam enquanto tudo girava. Depois disso, senti a consciência me deixando, e não me lembro de mais nada do que aconteceu durante certo tempo.

Aqui faz-se necessário que eu me intrometa, meu amigo. Pouco sabe o jovem Legolas sobre o que aconteceu no interior na grande fortaleza de Angmar naquele dia. Mas os Valar concederam licença a este humilde narrador que vos fala para contar-lhe, à parte da narrativa feita aos membros da Sociedade do Anel, o que realmente aconteceu...

Depois de ter empurrado o filho, Syndel se esgueirou pela passagem aberta na rocha e, uma vez lá dentro, pegou uma de suas flechas e atirou numa pedra solta que havia sobre a abertura. Isso provocou uma pequena avalanche que fechou completamente o caminho. Ninguém mais entraria ou sairia por ali. Thranduil imediatamente se voltou contra ela:

– Você ficou louca? Legolas está lá fora! – Ele a empurrou de seu caminho e começou a apalpar a rocha, tentando encontrar algum vão. A única luz era a fraca luz esverdeada que Thror tinha avistado pelo lado de fora. Parecia vir de algum lugar no interior da fortaleza.

– Ele está bem, Thranduil.

– Como eu vou saber? A avalanche pode ter derrubado os escombros lá fora, ele pode... – Thranduil tinha razão. A avalanche provocada por Syndel se estendeu para o lado de fora e derrubou os escombros por lá, matando talvez meia dúzia de orcs distraídos.

– Não se preocupe, eu já disse. Ele com certeza está mais seguro lá fora do que estaria aqui dentro. – Syndel estava séria. Thranduil estranhou um pouco o jeito dela de falar. Ela não parecia a mesma. Em seu íntimo, Syndel implorava a Eru e a todos os Valar cujos nomes conseguia se lembrar para que salvassem a vida de Legolas. E torcia para que seus olhos não a tivessem enganado quando olhou para o oeste lá do alto. – Vamos. Temos uma missão aqui dentro.

Sem escolhas, Thranduil assentiu e tomou a dianteira, sacando sua longa espada, “Fúria do Herdeiro”, que depois dessa batalha passaria a se chamar “Fúria do Rei”, como ficou conhecida nas canções dos eldar.

Os dois avançaram em silêncio. Estavam no que parecia um reservatório de armas. Incontáveis espadas, machados, escudos e armas cujos nomes Syndel nem conhecia estavam cuidadosamente guardados ali. A forma como tudo estava organizado deixava claro que aquele não era um covil orc qualquer. Era evidente que um homem, ou o que antes fora um homem estava por trás de tudo aquilo.

Eles continuaram andando, adentrando cada vez mais a fortaleza. Tudo estava quieto, nada se movia. A luz esverdeada que tinham visto vinha de tochas presas às paredes, nas quais um fogo maldito, fruto de feitiçaria, queimava. Syndel já havia lido sobre aquele fogo verde antes. Ela sabia que ele permaneceria queimando eternamente, mesmo sem combustível, e que não haveria água ou vento capaz de apagá-lo.

– Thranduil! – ela sussurrou, apontando para uma porta. Lá de dentro, uma luz diferente vinha. Era branca, como a das estrelas. Ela lhes pareceu irresistível. Não havia escolha, senão ir em direção a ela.

Eles se aproximaram cautelosamente, passo a passo. Thranduil se posicionou de um lado da porta, e Syndel do outro. Ele ergueu a espada, e ela preparou uma flecha. Ao sinal de Thranduil, os dois saltaram para dentro da sala. Não havia ninguém ali. Eles abaixaram as armas.

Era uma sala grande, repleta de tesouros. Incontáveis moedas brilhavam, espalhadas por todos os lados, douradas como o sol. Também se podiam ver rubis, safiras e pedras de todo tipo. Mas os dois elfos se dirigiram a um pequeno baú, que estava sobre uma mesa no centro da sala. Ele estava aberto, e dentro dele brilhavam gemas brancas, feitas, ao que parecia, da pura luz das estrelas. E no meio delas, esplendoroso, se via um grande colar prateado e fino, cravejado com as maiores daquelas pedras.

– Esse é...? – Thranduil estava sem ar. – Não pode ser...

– O que é isso, Thranduil? – Syndel estendeu a mão e pegou o colar, erguendo-o com cuidado, olhando para ele encantada.

– Esse colar... Essas gemas... Fëanor... A rainha... – Ele não conseguia formar uma frase coerente, lembrando-se das velhas lendas, de elfos de outrora, da época em que seus ancestrais ainda viviam nas Terras Além-Mar, na velha Tirion.

– Thranduil?

– Esta é a arca perdida dos sindar. O tesouro perdido da rainha. E esse... – Ele passou a mão pelo colar. – Esse é Aglartur, “Brilho...”

– “...que Domina”. – Ela completou, fascinada.

– Criado pelo próprio Fëanor como um presente para a rainha dos sindar, milênios atrás...

– Por Fëanor? – Syndel atirou o colar de volta à arca, assustada. O baú se fechou com o movimento brusco, e a luz se apagou, restando apenas a luz dourada refletida pelos demais tesouros da sala.

– Sim, mas não precisa ter medo! Esse colar e essas gemas nada carregam da maldição das Silmarils! Eles foram criados muito antes, quando Fëanor era jovem, muito antes de seu coração ser corrompido. Mas... Mas se pensava que eles haviam sido perdidos há eras... Como...? – Ele parou de falar, e ergueu a cabeça lentamente, olhando para Syndel como se a visse pela primeira vez.

– O que foi?

– Esse colar... Essas gemas... Syndel! – Ele estendeu a mão, tocando o pescoço dela, imaginando. – Agora... Por direito... Eles são seus, Syndel!

– O quê? – Ela sussurrou.

– Ha! Agora tudo faz sentido! – A voz veio da porta da sala do tesouro.


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