The Cruel Beauty escrita por Tsu Keehl


Capítulo 47
Capítulo 47


Notas iniciais do capítulo

Olá leitores.
Como é evidente, demorei demais pra conseguir atualizar a fic, mas desta vez foi devido a um imenso bloqueio criativo que sofri para a criação deste capítulo especificamente. Confesso que conseguir escrevê-lo e não conseguindo me deixou em um estado de stress tal que por pouco não surtei, deletei a história e fingi que nunca existiu. Agradeçam a Vanessa Hime por ter me controlado e não me deixado fazer besteira.
Esses tempos as coisas não andam muito bem por aqui e isso afeta meu ritmo de produção, até mesmo para minha história original. E este capítulo da fic foi, sem dúvida, o mais difícil que eu escrevi até então na trama (e provavelmente o seguinte também será) porque discutir relação, ainda mais uma relação como Cruello e Igraine é algo que eu não tenho experiência. Nunca passei por uma situação do tipo. Então cheguei a um ponto que não sabia como lidar com a situação entre Cruello e Igraine. Foi bem árduo para escrever e devo agradecer a minha amiga Hime que me lembrou que esta fic é uma comédia romântica em sua essência e quase totalidade então não teria sentido eu colocar uma carga dramática muito alta.
Tentei fazer o meu melhor, de modo que aguardo muito a opinião dos leitores sobre.
Ah e importante: recomendo que deem uma lida no capítulo 15, onde narro como Cruello e Igraine se conheceram no passado porque haverá uma informação referente a isso nesse capítulo.
Boa leitura!



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~*~

   Já era noite quando Cruello estacionou o carro na frente da casa de Igraine. Era incrível como aquela rua estava sempre silenciosa e praticamente vazia. Provavelmente havia alguém a espreita atrás da cortina de uma das casas, atenta a qualquer movimento que gerasse uma boa fofoca. Podia claramente imaginar Patrick Star fazendo esse tipo de coisa, mas pelo que sabia, o jornalista morava em uma casa há algumas quadras dali. Pelo menos isso.
  Cruello se recostou no banco, as mãos sobre o volante, soltando um longo suspiro.

**flash-back**

— Pelos meus antepassados Devil! - exclamou Cruello deixando-se cair no sofá que mantinha em sua sala da presidência.  Que dia insano e exaustivo hoje!
— Pelo menos tudo foi resolvido. – Scarlet chutou seus sapatos para longe e desabou na poltrona, satisfeita de seus pés estarem livres. –Esses empresários são difíceis mesmo. Querem tudo do jeito deles, preços mais baixos, facilidades de envio, aceleramento de produção..eles acham que somos o quê? Uma dessas empresinhas de produção de roupas em larga escala? Aqui é a Devil’s! Ainda bem que você conseguiu convencê-los e entrar em um acordo que seria benéfico para ambos, mais pro nosso, claro. Você é um problema ambulante. Mas devo concordar que quando você quer, consegue ser um excelente empresário. Eu sou muito boa no que eu faço, mas confesso, relutantemente, que diante daqueles caras, eu não conseguiria selar um acordo eficaz sozinha.
  Scarlet se calou, esperando o discurso de soberba que Cruello faria. Mas, como ele se mantinha em silêncio, ela se virou, o encarando com as sobrancelhas franzidas.
— Não vai falar nada?
— ...hum? Falar o quê?
— Eu pensei que você começaria a se vangloriar como sempre faz! O que está havendo? Notei que você parecia irritadiço na reunião hoje e agora está meio murcho feito um galo castrado.
  Cruello ficou em silêncio e Scarlet esperou. Ele então suspirou, se esticando em um sofá como se estivesse em um divã.
— Ai Scarlet, só tenho problemas na minha vida relacional!
  E Cruello passou a relatar tudo que havia acontecido desde a manhã.
  Scarlet ouviu pacientemente, ainda que meio entediada mas, quando Cruello terminou, decidiu se pronunciar.
— Realmente, que situação mais complicada que você se meteu, hein! Bom, não é a primeira vez que você fica sendo objeto de disputa entre as pessoas. Ainda me lembro daquela vez em que precisamos chamar a polícia na boate...enfim. Estou perplexa que o Javier estava era á fim de você! Ele enganou até á mim! E olha que sou muito boa em perceber as coisas...mas a Igraine deveria acreditar em você! A não ser...
— Eu não dei nenhuma trela para o Javier!
— Se você diz...
  Cruello a encarou, emburrado.
— Dessa vez, eu não dei brecha alguma! Nem percebi que Javier estava querendo me catar!
— Como não percebeu? Você sempre percebe quando as pessoas estão á fim de você porque, bizarramente, elas quase sempre estão mesmo! Achou que só porque está namorando, não iam dar mais em cima? Não esqueça o caso Charlene!
— Nem me lembre desse episódio traumático na minha vida! – Cruello enfiou a cara na almofada.
— Igraine não me entende! – ele resmungou. – Ela está me fazendo cogitar que tenho culpa na história! Mas eu não tenho!
— Sério mesmo que você acha isso?
— E não é?
  Scarlet suspirou.
— Eu sou Cruello Devil! – ele continuou. – Igraine sabia que, ao firmar um relacionamento comigo, teria que conviver com o meu ritmo de vida, meu trabalho, as pessoas que me cercam! Mas ela não aceita! Ela quer continuar naquele tipo de vida que ela sempre teve. E isso não tem o menor sentido!
— Pode não ter sentido pra você, mas tem pra ela. – Scarlet revirou os olhos sem acreditar que estava mesmo prestes a perguntar - Você gosta mesmo da caipira? Digo, mesmo...mesmo?
   Cruello pensou um pouco antes de responder.
— Gosto. Mais do que eu deveria.
— Por que mais do que deveria?
— Eu sou um Devil, Scarlet! Minha tia sempre me ensinou que não devemos nunca nos deixar levar por...
— Suas tia morreu há dez anos! Acho que já passou do tempo de você levar a ferro e fogo tudo o que ela disse!
— Peraí, eu tô ouvindo direito? – Cruello sentou-se no sofá. – Está dizendo para eu não seguir mais os ensinamentos da minha tia?! Você mesmo os segue á risca!
— Eu não disse para parar de seguir! Cruella Devil foi um exemplo de pessoa e profissional de sucesso! – Scarlet suspirou. - Olha, eu sei que não sou a pessoa mais certa para falar esse tipo de coisa. Até porque eu concordava muito com a sua tia e levei parte da filosofia dela para criar o meu estilo de vida mas...eu acho que para você e a Igraine entrarem em um acordo, você vai ter que aprender a ceder de vez em quando.
   Cruello trincou.

**fim do flash-back**

  Aquilo era uma situação horrível. Mas tinha de enfrentar. Era Cruello Devil, não deveria temer em encarar um problema de frente e arranjar uma forma de resolvê-lo!
  Saiu do carro, sentindo a temperatura amena da noite e fechou metade do zíper da jaqueta de couro. Olhou ao redor e subiu o pequeno lance de escadas. Respirou fundo e tocou a campainha. Deu alguns passos para trás quando ouviu a porta sendo aberta; na certa aqueles animais terrivelmente extrovertidos viriam ao seu encontro. Mas isso não ocorreu e quando a porta abriu, o rosto de Amber surgiu. Ela ficou olhando para Cruello de forma curiosa e o rapaz se perguntou se por algum acaso a mulher estava tentando reconhecê-lo.

— Olá senhor, boa noite. Em que podemos ajudá-lo?
— Hãn...eu gostaria de falar com a Igraine.
— Você é amigo dela?
  Aquela mulher estava maluca ou sofria de perda de memória?
— Oh!!! Você é o Cruello! – ela virou para trás. – Braum, o Cruello veio nos ajudar!
“O quê?”
  Cruello foi literalmente puxado pela mão por Amber, e se deparou com uma relativa bagunça no tapete e sofá da sala, onde estavam colocados algumas mochilas, panos, pilhas de papel e mais algumas tranqueiras.
— Que bom que está aqui! – Braum se levantou do chão e se aproximou, segurando o ombro de Cruello com firmeza. – A sua ajuda será, definitivamente, muito útil!
—  Ajuda no quê?
— Em algo de extrema importância! – o homem esbravejou. - Estamos indo para o Brasil, o governante deles tem feito vista grossa para as queimadas que estão tendo na Amazônia! O rastro de destruição da fauna e flora cresce á cada dia e precisamos agir! Nós vamos nos juntar ás ONGs que estão lutando contra os incêndios!
— ...eu não vou ajudar nisso, não.
— Já entramos em contato com dois amigos nossos e alguns conhecidos que toparam em ir conosco para lá! Estamos terminando de fazer as malas! – Braum ignorou a resposta de Cruello e continuou, decidido. – Não podemos perder tempo, cada hora é importante para salvarmos mais vidas!
— Querido! – chamou Amber com o notebook no colo. – A equipe do Silveira confirmou que pode enviar alguém para nos buscar no aeroporto quando chegarmos lá!
— Perfeito! Querida, confira se o Merri já conseguiu o meio de transporte!
— ...hãn...vocês por acaso já possuem o passaporte?
— Passaporte? Temos vários aqui e isso é só um detalhe. Já viajamos de muitas formas alternativas!

  Cruello preferiu não saber que métodos aquele casal havia utilizado para conseguir tantos passaportes e como haviam conseguido preparar tudo tão rápido e bem esquematizado, pois na certa havia alguns trâmites ilícitos. Como Braum parecia muito concentrado em verificar o que estava em sua mochila surrada, murmurando consigo mesmo em um idioma que não conseguia identificar, Cruello decidiu se informar com Amber.
— Nanny ou Igraine estão?
— Pedimos que Nanny fosse ao mercado comprar algumas provisões para nós. Ela logo deve estar de volta. Fiz uma lista de itens necessários, alguns podem ser um pouco difíceis de encontrar, mas com certeza ela consegue! Quanto á Igraine, ela está lá no quarto dela. Contamos á ela de nossa viagem, até queremos que ela nos acompanhe, mas ela não quis conversar muito conosco e disse que queria descansar.
— Hãn...vocês estão cientes de que...Igraine não passou bem hoje cedo, a levei para o pronto-socorro, ela fez alguns exames, ficou em repouso e depois foi liberada para voltar para casa, não é?
— Oh, sim! Nanny nos informou! Eu me prontifiquei a preparar uma efusão de ervas curativas acompanhadas de um benzimento hindu que aprendi quando estive no templo de...

  Cruello deixou de prestar atenção ao que a mulher tagarelava, achando tudo aquilo muito bizarro  e tratou logo de cortar o assunto.
— Eu estou um pouco atrasado então...vou subir para falar com Igraine.
  Mal disse tais palavras, Cruello seguiu em direção ás escadas, irritado em como aquela casa era pequena.
 - Oh, claro! Igraine querida! – gritou Amber com sua voz cantarolada. – Cruello Devil está aqui e querendo lhe falar! Seja educada e o receba!

  A porta foi aberta quando Cruello ainda subia as escadas. Igraine encarou o rapaz. No fim das contas, ele cumprira o que havia dito. Igraine deu passagem para que Cruello entrasse no quarto e ele assim o fez, fechando a porta atrás de si. Percebeu que Igraine estava pálida e os olhos vermelhos de choro. Ela nada disse, voltando a se recostar na cama.  Aquele silêncio e desinteresse eram incômodos e até um pouco preocupante. Quando chegou a casa, Cruello esperava ser recebido por uma Igraine irritada, falante e até um pouco chorosa, mas aquela atitude dela era algo novo. Olhou ao redor, observando o quarto. Ele era mediano, mas havia tanta coisa ali, nas prateleiras e armários, que pareciam deixá-lo menor. Apesar de diversos itens meio infantis, era aconchegante, de certa forma.
 Como não havia percebido isso na primeira vez que entrara no local? Talvez porque estava ocupado demais analisando o quão enfadonho lhe parecera.

— Já faz tempo em que vim pela primeira vez aqui. – ele começou, dando alguns passos. - Quantos meses já se passaram? Nossa, parece que foram anos atrás.
   Sem resposta. Cruello crispou os lábios e deu mais alguns passos, perguntando de forma cautelosa.
— Demoraram muito para te darem alta do hospital? Aquela médica pareceu ser bem severa.
— Não.
— E os exames, deram alguma coisa?
— Não.
— E você está se sentindo bem?
— ...sim.
— Eu mandei mensagem para você, mas não tive resposta. Não pude ligar porque a reunião de hoje levou horas e horas, mas como você não respondeu eu achei que seria melhor não atrapalhar e...como havia dito que viria até aqui então..enfim, é isso.
— Entendo.
  Aquelas respostas monólogas eram irritantes. Mas Cruello manteve o controle, sabia que dessa vez teria de se controlar e usar uma tática eficaz para que pudesse entrar em entendimento com ela.

“ Afinal, a culpa é sua por agir do jeito que age.”

Droga de Scarlet que falava aquelas patadas! Respirou fundo e foi então que percebeu, no chão, uma caminha na qual estava o filhote que vira nascer. Ele dormia profundamente e um olhar mais atento já era possível notar as primeiras manchinhas.
— Achei mais prudente trazer Fofucho aqui para cima.  – Igraine comentou, notando o olhar de Cruello. – Estão fazendo a maior barulheira e bagunça lá embaixo. Achei melhor deixar Furacão lá no quintal. O Golias pegou a mania de se esconder embaixo da pia da cozinha e o Mimo...bem, o Mimo deve estar dando uma volta pelo telhado.
— E cadê a mãe dessa coisa pintada aqui?
— DoisTons estava aqui até poucos minutos, mas ela quis sair para ir fazer as necessidades dela e comer. Logo deve voltar. Se preocupando com os mais frágeis agora?

   Cruello ignorou o tom de voz dela e, após verificar que a cama não continha aquele terrível Chiuahua, sentou-se na beirada da mesma. Ficaram um tempo em silêncio até que ele decidiu falar.
— Olha, eu sei que você está irritada comigo. Mas preciso que me dê a chance de explicar.
  Ela o encarou em silêncio e embora aquilo não fosse uma atitude que Cruello esperasse, decidiu continuar.
—  O que você viu. Entre eu e Javier...não foi recíproco. Eu não estava traindo você. Ele me agarrou!
  Igraine continuou o encarando, em silêncio.
— Eu tinha ido até a ONG para conversar com Javier...não do jeito que você pode estar pensando! Eu fui lá para encostar aquele cara na parede...não, não desse jeito!
  Igraine continuava muda. Cruello passou a mão nos cabelos.
— Eu fui até lá para conversar com o Javier...tentar mostrar para ele que você é a minha namorada.
— Interessante que você se lembra disso.
  Cruello crispou os lábios. Continuou.
— Eu fui com essa intenção. Cheguei lá e Yumie disse que você estava com Javier não sei aonde. Ai já me subiu o sangue e fui procurar vocês porque pelo jeito como o Javier agia, me ficou claro que ele tinha alguma intenção contigo e iria se aproveitar do fato dele ser um bom partido dentro dos padrões  que...
— Interessante que o ache um bom partido.
— Então comecei a procurar vocês em toda parte. – Cruello decidiu ignorar as alfinetadas de Igraine para não se enrolar na própria narrativa. - E encontrei, sem querer, Javier naquela sala. Resolvi então aproveitar e falar umas verdades pra ele, deixar claro que estava ciente de intenções dele pra cima de você, mas de repente ele veio me dizendo que não estava á fim de você, mas sim de mim!
— Interessante que isso certamente o agradou. Mais alguém aos pés de Cruello Devil.
— Eu fiquei chocado! Sério! Não esperava que Javier ficasse á fim de mim! Ainda que muitas pessoas fiquem á fim de mim, ele nunca deu qualquer indício! Ele dava indícios de que estava á fim de você!
— E na certa você adorou saber que o alvo de Javier era você, não? E resolveu aproveitar.
— Lógico que não! Eu fui agarrado! Juro por Cruella Devil! Eu não tenho culpa que o cara ficou á fim de mim, não tenho culpa que...
— Que você é tão irresistível, é isso o que vai dizer? – ralhou ela. - Não precisa, me poupe do seu discurso narcisista!
  Silêncio. E então, não se contendo, Igraine despejou.
— Eu já estou farta de todas as coisas e todos ficarem atrás de você! O tempo todo é alguma coisa te acontecendo, é alguém te puxando pra resolver ou fazer alguma coisa, O TEMPO TODO as pessoas estão ao seu redor!  Quando eu finalmente penso que tem alguém á fim de MIM, descubro que a pessoa só estava me usando para chegar á você, porque estava a fim de VOCÊ!
  Ela lançou uma almofada contra Cruello.

— ...peraí! Você está brava porque...o Javier estava á fim de mim e não de você?!
  O rosto de Igraine se avermelhou e ela lançou outra almofada, com raiva.
— Eu estou com raiva de toda essa situação! De ser usada, de ser desmerecida, de ser deixada de lado, de ser corna!
— Mas eu já disse que não te trai! Foi o Javier que me agarrou!
— Ele estava á fim de você o tempo todo, disse isso claramente! É impossível você não ter notado!
— Eu não notei! E você também não!
— Eu sou uma pessoa inocente, não tenho esse olhar maldoso de achar que as pessoas podem estar fazendo um joguete maligno! E mais: mesmo que eu tivesse percebido, não ia suspeitar que você retribuísse porque você nunca me contou que era bissexual!
— Então é esse o problema?! Está incomodada com o fato de eu ser versátil?
— Eu não estou...não estou incomodada com o que você é! Estou indignada com o fato de você nunca ter me contado!
— Porque eu não achei que precisasse falar sobre isso!
— PRECISAVA!
— Por quê? O que mudaria entre nós?
— Tudo! Você conhece tudo sobre mim! Conhece minha família, conhece meu passado, conhece sobre o fato de eu não ter tido nenhum relacionamento sério no passado...e eu? O que eu sei sobre você? Sobre seu passado, seus relacionamentos anteriores, sua família?
— De mim? Ora, você sabe de mim o que todo mundo sabe. O que é importante está de conhecimento público. O que não é, são coisas que não tem importância!
— O que não é, não tem importância? E sua família?
— Você sabe que sou um Devil! Sabe que sou sobrinho de Cruella Devil! – rosnou Cruello, irritado. – O que mais é de importância para saber é fácil de conseguir achar na internet. O resto não importa!
— Os seus pais, Cruello! Você nunca me falou deles, ou da sua infância!
— Porque eu vou ter que falar dos meus pais? Eles estão mortos, Igraine! Morreram em um acidente de carro há mais de vinte anos! Isso está na internet se souber procurar! Ou você quer saber dos detalhes? E minha infância...já é passado! Criança rica, criada mais pelos empregados do que pelos pais, depois fica órfã e vai morar com a tia solteirona rica e sinistra que decide transformá-lo em um empresário-estilista da alta sociedade porque é o único herdeiro legítimo capaz de seguir com o império que ela criou. FIM!
  Ele se levantou, irritado, indo até a janela do quarto, observando a rua silenciosa através do vidro, os braços cruzados. Igraine notou a forma como ele havia se alterado e quase parecia que os olhos dele estavam um pouco vermelhos, mas não iria retroceder.

— Sinto muito pela perda de seus pais, eu não sabia...eu não sou o tipo de pessoa que fica xeretando a vida dos outros, ainda mais pela internet. Eu pensei que... – ela olhou para o pequeno Fofucho que dormia na caminha. - Que seus pais estivessem aí pelo mundo. Sabe, como os meus.
  O silêncio pairou no quarto e Cruello se virou.
—  Por falar em seus pais. Eles estão...
— Prestes a ir embora, eu sei. Vão para a Amazônia ajudar a combater incêndios que andam acontecendo por lá. É algo bem terrível o que está havendo e toda ajuda é válida...é mais importante eles estarem lá do que aqui.
  Cruello percebeu que a voz dela saiu um pouco chorosa na última frase.
— Mas isso é bom, não é? – ele tornou a se sentar na beirada da cama. - Digo, tanto porque eles estão ajudando nessas coisas de proteção á natureza quanto pelo fato de eles estarem indo embora...você não estás aliviada que eles vão embora?
— Eu... – ela suspirou. – Cruello, eu não quero falar das outras pessoas! O problema não são elas, são nós!
— Nós? Não há problema entre nós!
  Igraine o encarou, incrédula. Nesse momento, ouviram ranhuras na porta seguido de um ganido baixinho. Igraine se levantou e abriu a porta, permitindo que Dois Tons entrasse. A dálmata ignorou totalmente Cruello e foi até a caminha onde estava Fofucho,verificando se o filhote estava bem.

— Olha, eu acho que você está muito nervosa e alterada. – Cruello começou, esfregando a testa. –  Tudo o que aconteceu, mais o hospital. Acho que você deve descansar e...
— Você só vive e só vê o mundo pela percepção de Cruello Devil. É um maldito narcisista mesmo!
  Igraine parou, ficando em silêncio, fitando a almofada no próprio colo.
— Cruello, desde que começamos a namorar, eu tenho pensado muito no nosso relacionamento e foram tantas coisas acontecendo, sempre e sempre... e esse seu jeito, as coisas que impõe, todo mundo em cima de você....e eu sou sempre colocada de escanteio, como algo menos relevante.
— De onde você tirou esse absurdo?! Quem está te influenciando você a pensar nesse tipo de coisa?
— Ninguém está me influenciando, Cruello! Eu sou perfeitamente capaz de pensar e ver por mim mesma, não sou uma tapada como você pensa! Iludida eu posso até ser, mas tapada, não!  Você não me considera a sua altura, acha que tudo que faz está certo e nem se preocupa com o que eu acho!  Você não se importa se eu estou feliz ou satisfeita!
— Eu sempre tento fazer o melhor possível! Quero te dar presentes, mas você sempre retruca e não quer aceitar. Eu te dei presentes caros, joias, confeccionei um vestido exclusivo da Devil’s todo desenhado, modelado, costurado e customizado por mim! Vendi até a coleção de casacos de pele e artefatos da minha tia porque você teria aversão de vê-los! No fim acabou vendo, mesmo eu dizendo que deveria ter me esperado na festa! Eu sou rico, Igraine! Posso te dar tudo o que você quiser! Mas você nunca pede nada!
— Eu não sou uma pessoa interesseira! Não é só com presentes que se sustenta um relacionamento!
— Mas você poderia usufruir! Qualquer pessoa adoraria estar no seu lugar!
— Nossa, Cruello! Você só fala merda, parece uma metralhadora de merda! – Igraine se irritou. – Mas que droga! Estou começando a pegar suas manias de usar esse palavreado!
— Você acha mesmo que nosso relacionamento está tão ruim assim? – Cruello  perguntou. – Sério?
— Eu... – ela umedeceu os lábios. – Eu nunca namorei Cruello! Sempre imaginei um relacionamento normal, com algumas briguinhas, mas com amor e companheirismo! Mas o que nós temos?
— ...
— Não sabe? Você é Cruello Devil! – ela ralhou. – Me diga como foram seus relacionamentos passados, tenha sido eles com mulheres ou homens! Você que terminou com todos ou todos terminaram com você por conta dos seus pitis?
— Eu nunca terminei com ninguém e ninguém nunca terminou comigo porque eu nunca tive um relacionamento sério! – ele ralhou, irritado. – E eu não tenho pitis!
— Você, nunca namorou? – Igraine riu, incrédula. - Pare de mentir, Cruello! Como assim você nunca teve um relacionamento sério com alguém? Você era ou é, não sei mais, um grande pegador, sempre desejado por boa parte das pessoas como já fez questão de dizer e dramatizar algumas vezes!
— Mas é verdade! Exatamente por eu ser pegador e por tantas pessoas me desejarem que eu nunca tive relacionamento sério com ninguém!
— Amava demais sua vida sem compromisso?
— Bom, sim! Aproveitei mesmo, não vou negar até porque todos sabem disso! Eu nunca pensei em me prender a ninguém! Até porque, eu sou um estilista renomado, vivo entre muitas pessoas famosas e herdeiro da Devil’s! Cruella Devil nunca firmou relacionamento sério com ninguém também e durante mais de dez anos segui essa tendência.
— Então por que quis ter um relacionamento sério comigo? – Igraine perguntou, irritada. - Afinal, mesmo namorando comigo, todas as pessoas do seu círculo de contato agiam pra cima de você como se você continuasse solteiro...era Scarlet e o sheik tentando te convencer a se casar com uma das filhas dele, era Charlene querendo fazer massagem erótica, era Javier te agarrando, era seu fã-clube dizendo que eu não estava á sua altura, era modelos da Devil’s me medindo de cima á baixo. Aquela coroa noiva do seu amigo que tirou sua virgindade no passado...parece que todos que te conhecem ficam com vontade de te agarrar!
  Cruello se manteve calado, incapaz de refutar aquilo.

— E eu sendo a boba aqui! A boba que ficou sonhando com o Devs de dez anos atrás pensando em reencontrá-lo e quando o reencontra, ele virou esse metrossexual afetado!
— Ei, ei, ei! Não vem querer começar a tentar me ofender! A senhorita sabe muito bem que em um bate-boca ofensivo, ninguém derruba a minha marimba em argumentos!
— Isso aqui não é uma disputa, Cruello! Estamos discutindo a nossa relação!
— Eu não vejo por que temos que fazer isso! Você quer o quê? – ele colocou ambas mãos na cintura. – Quer desenterrar coisa de uma década atrás? Sério mesmo?
— Eu só acho que você deveria ter um pouco de consideração por mim! Eu fiquei encantada por você naquela vez que nos conhecemos em Londres, então pensei que você teria gostado de mim também, como deu a entender!
— E eu me interessei por você!
— Mas me esqueceu rapidinho não é? Para passar o rodo em todo mundo!
— Eu esqueci?! – Cruello sorriu, de forma irritada. – Foi você que não quis saber de mim depois daquele encontro! Aposto que apagou meu número do seu celular assim que entrou no ônibus!
— Eu não fiz isso!
— Então por que não me ligou? Eu deixei o meu número no seu celular, você disse que retornaria minha ligação mas sumiu, me deu um fora! Um fora em Cruello Devil! Tudo bem que eu ainda não era Cruello, mas eu era um punk e tanto! E você pareceu ter gostado do dia que ficamos juntos!
— Eu... – Igraine sentiu-se corar. – Eu...não foi minha culpa! O porco comeu meu celular!

  E foi então que Cruello ouviu a história, em uma versão resumida, do que havia acontecido. Igraine relatou, constrangida, que, ao chegar na fazenda em que vivia com os avós após ter passado o dia em Londres, teve que encarar uma avó Anita decepcionada e um avô Roger revoltado por conta de sua decisão de sair para a cidade sem avisá-los.

*flash-back*

  Igraine abriu a porta da sala e saiu para fora, em um misto de fúria e tristeza. Era impossível dialogar com seu avô Roger quando ele começava a reprimi-la. Sabia que tinha errado em ir para Londres sem avisar ele e sua avó Anita, mas eles também estavam exagerando. Não precisavam falar tudo aquilo, dizerem o quanto ela estava errada e pior, chegarem a quase insinuar que ela estava começando a agir igual aos seus pais.

“Não...eu nunca vou ser igual á eles!”

A fazenda á noite era silenciosa, exceto pelo som dos grilos e outros animais noturnos. Igraine caminhou devagar, ciente de que não se afastaria muito da casa. Só precisava respirar e se acalmar um pouco. Olhou para o céu, observando a noite estrelada. Olhar para as estrelas; era tão bonito e sempre lhe acalmavam o coração. Tornou a caminhar, contornando o celeiro onde os animais eram colocados ao final do dia. Estava mais ou menos silencioso ali e conseguia ficar em paz com os próprios sentimentos.
  Por quê seus avós achavam tão absurdo ela ter ido para a cidade sozinha? Não aconteceu nada de errado e ela voltou antes que escurecesse e estava bem. E oras, ela daqui poucos anos iria estudar em Londres e consequentemente morar sozinha. Seus avós precisavam entender isso!

  Bem, eles estavam entendendo quando falou isso até ter tocado no nome de Devs e falado sobre o rapaz. Ai tudo piorou e faltou só seu avô mandá-la para um convento. Não entendia por que tanto estardalhaço. Devs havia a ajudado, sido uma boa companhia, alguém muito legal e que...beijava muito bem. Não que tivesse experiência com beijos, mas Devs sem dúvidas sabia como beijar. Claro, não havia contado em detalhes tudo o que ela e Devs aproveitaram ao longo do dia em Londres, mas cometera o deslize de acabar falando que haviam se beijado e isso deixou sua avó chocada e seu avô indignado. Foram apenas beijos, mas a forma como seus avós interpretaram isso mais parecia que ela havia transado com um “punk desconhecido e canalha”.

— Eles estão exagerando demais! – praguejou. - Julgando o Devs assim, sem nem conhecê-lo! Lógico que ele pode causar estranheza pelo visual dele, mas terão que se acostumar quando eu reencontrá-lo e acabarmos namorando!
  Ela parou, balançando a cabeça indignada com os próprios pensamentos. Onde já se viu estar pensando em um futuro com um cara que acabou de conhecer? Agindo assim, fazia jus ao apelido de “princesinha Disney” que ganhara no colégio.
  Suspirou. Será que tornaria a encontrar Devs quando voltasse a Londres? Esperava que sim. Havia colocado a gargantilha e o pedaço de tecido que ele lhe dera dentro da mochila, depois trataria de guardar em um lugar especial. Mas havia algo mais.
  Tirou o celular do bolso, indo até a agenda do mesmo. Aquele era o telefone dele e Devs havia pedido que ela ligasse quando pretendesse voltar a Londres, para que pudessem se reencontrar.

  Igraine sentiu-se tentada a apertar o “ligar” do telefone, mas se deteve. Era cedo demais para ligar, o que Devs iria pensar? Na certa ele deveria estar agora em algum rolê punk e nem iria atender. E se ele atendesse, o que ela iria dizer sem que parecesse que estava á fim? Não. Tinha de esperar. Mas não muito. Precisava, quando fosse ligar, ter uma data em que voltaria a Londres para que ele a acompanhasse e quem sabe, talvez até tivesse coragem de...
  Igraine sentiu seu corpo esquentar.
  Precisava parar de fantasiar demais, tinha de ser realista. Olhou para o celular novamente enquanto andava, pensando quando deveria ligar, se deveria esperar alguns dias e ligar para ele só para perguntar se estava tudo bem e quem sabe, poderiam combinar de...
  Absorta em seus devaneios e com ajuda da pouca luz, Igraine tropeçou em um torrão de terra seca e o celular voou de seus dedos, como se uma mão invisível lhe tivesse dado um tapa. O celular quicou no cercado e caiu do outro lado, na lama.

— Ah, mas que droga!
  Se agachou, passando o braço pela cerca mas logo viu que não conseguiria. Com um resmungo, esticou o corpo e o braço no máximo que pôde e quando estava quase conseguindo tocar no celular, uma imensa sombra escura a encobriu. Igraine ergueu os olhos e soltou um gritinho, puxando a mão rapidamente para perto de si. O grande e roliço porco encarou Igraine, que o encarou de volta. Então, o animal pareceu sentir o ar com o seu focinho, indo cheirar o aparelho. Igraine abriu a boca para enxotá-lo, mas o porco foi mais rápido, abocanhando o celular, dando duas mastigadas antes de engolir.
— NÃO!!

*fim do flash-back*


— E foi isso. – Igraine resmungou. – Eu tentei recuperar o celular, mas não tinha jeito. Era um celular antigo, não tinha o que se fazer. O porco engoliu e quando recuperei o aparelho nas fezes dele, já era tarde demais.
  Cruello a encarou, indignado. Dois Tons estava deitada na caminha, com o filhote aninhado em seu corpo e a dálmata assistia aquela estranha comunicação de humanos achando, em sua consciência canina, que parecia uma estranha comunicação de acasalamento.

— Olha, Igraine...eu já vi muita desculpa esfarrapada de funcionário meu quando não cumpria o que era devido, já ouvi muita desculpa mal feita de gente pisando na bola no rolê, mas esse papo de porco comendo celular?
— Se não quiser acreditar, não acredite! – ela disse, irritada.
— Porque você não anotou o meu número em um caderno, uma agenda, um pedaço de papel, sei lá!
— Não deu tempo! Eu ia fazer isso quando chegasse em casa, mas o porco comeu meu celular antes que eu pudesse ter anotado!
— Está bem, vindo de você eu acredito nisso do porco comendo celular...mas puta merda...e eu fiquei pensando que...
— Pensando o quê?
— Nada! – Cruello resmungou, irritado.  Você fica cobrando certas atitudes de mim. E eu nunca cobrei de você!
— Claro que não! Você ficava querendo impor! Queria me impor vestir roupas extremamente elegantes e sexys, corsets apertados, maquiagem, joias, e sei lá mais o quê! Pra ficar me exibindo feito um troféu!
— E como diabos você não gostava disso?! – ele segurou-a pelos ombros. – Isso é o que qualquer outra pessoa no seu lugar iria querer!
— Mas esse não é o meu mundo!
— Pois deveria aprender que vai ser!
— Não pode impor isso pra mim! – ela balançou a cabeça, nervosa e o afastou. - Pra mim não dá mais! Eu acho que o melhor é terminarmos de uma vez!
— ...o quê?
  Igraine sentiu o coração palpitar. Cruello a encarou indignado.

— Eu não ouvi isso. – ele balançou a cabeça. – Você está eufórica e estressada demais, precisa relaxar e pensar com mais clareza. Pode até ser TPM...
— Por quê? – Igraine o encarou, irritada. – Acha que é impossível uma pessoa normal como eu não querer mais se envolver com Cruello Devil?
  Cruello pensou em responder com um “sim”, mas sabia que estava em terreno minado e controlou seu deboche natural. Aquilo era absurdo. Não conseguia entender como Igraine exercia uma influência tal sobre ele que o fazia pensar antes de dizer. Aquilo era perigoso para Cruello Devil, embora para Christian fosse importante.
  Levou uma mão ao bolso, tirando o maço de cigarro.

— O que pensa que está fazendo? Pare aí mesmo!
— ...por quê?
— Você não vai ousar acender um cigarro e fumar dentro do meu quarto! Tem uma criança aqui!
  Ela apontou para a caminha onde estava DoisTons e Fofucho.
— Isso é um cachorro!
— Um filhote! É como um bebê! E também eu não quero meu quarto com cheiro de fumaça!
— Você acha ruim e se incomoda com o meu cigarro e eu acho ruim você querendo ter bicho dentro de casa espalhando pêlo! Saiba que animais tem cheiro assim como cigarro tem cheiro!
— Viu Cruello? É por isso que não pode dar certo entre a gente! Não nos entendemos em nada!
— Você mal me conhece e eu mal te conheço e já está achando isso?
— E desde quando temos realmente tempo para conhecer um ao outro? – ela indagou. - Você só pensa em si mesmo, na empresa, no legado Devil! E o tempo todo é alguma coisa acontecendo, pessoas com atitudes malucas não deixando que se tenha algum tempo em paz!
— Igraine, a vida é assim. Tem sempre gente metendo o bedelho em tudo que façamos. – ele suspirou, tornando a guardar o maço de cigarros. - . Tem bedelhos nos quais a pessoa tenta ajudar, mas tem bedelhos que a pessoa tenta prejudicar. Vivo isso a minha vida toda.
— Como você consegue aguentar isso?
  Cruello não respondeu e os dois ficaram em silêncio por um tempo, evitando se olharem.

— É complicado pra mim, lidar com tudo isso. – Igraine falou tentando se manter controlada para não demonstrar fragilidade. – Eu sempre levei uma vida comum, sem grandes aspirações...veja meus pais. Adoram desbravar o mundo, não se prender á nada! Embora não admitam, adoram holofotes e atenção. Eu não sou assim!
— Isso eu sei.
— Então por quê você quer tanto me mudar?
— Eu nunca disse que quero te mudar! Eu só quero que se adapte a esse mundo em que eu vivo, como eu me adaptei! Acha que foi fácil pra mim, largar toda a vida de rolês e de repente ter que começar a treinar e estudar para herdar a Devil’s e no meio disso, minha tia morrer e eu ter que assumir tudo praticamente sozinho? Não, não foi fácil e não está sendo...mas eu consegui quando ninguém achava que eu seria capaz. Se eu, que era um punk rebelde e anti sistema consegui me tornar um empresário capitalista ícone da moda, você como uma garota comum que trabalha em ONG, pode muito bem se tornar companheira de um empresário como eu e sair divando no mundo da alta sociedade!
— Mas Cruello e se eu não quiser isso?
— Por que não iria querer? Igraine, acorda!!
— Não fale como se eu fosse tapada! Eu não me dou bem chamando atenção e...e ter que dividir você o tempo todo com todo mundo! É o seu estilo de vida, o estilo de vida que te colocaram, mas que você escolheu por que acabou gostando! Duvido que você gostaria de voltar ao que era dez anos atrás!
  Cruello não retrucou.

— Eu não entendo por que você faz tanta questão que eu entre nesse seu mundo.
— Não entende? Mesmo?
— Sim! Eu nem tenho certeza se você realmente gosta de mim!
— ...mas que absurdo é esse?
— Você nunca demonstrou, nunca disse, é sempre evasivo, sempre...
— Se eu não gostasse de você, eu não estaria com você! Eu não estaria AQUI com receio de que você queira terminar comigo porque deixou de gostar de mim ou por qualquer outro motivo! 
— Então por que você não fala o que sente? Por que não demonstra isso como qualquer cara normal demonstraria?
— Porque eu não sou um cara normal! Eu sou Cruello Devil! Não o príncipe encantado dos contos de fadas! Eu faço o que eu posso, mas não sou um telepata!
—  Eu nunca pedi para que você fosse isso, só pedi que fosse um pouco mais...

 Foi então que ouviram batidas na porta. Os dois trocaram um olhar e Igraine se levantou, abrindo a porta.
— Igraine desculpa incomodar. – era a voz de Nanny. – Mas onde...oh, senhor Devil. O senhor está aqui?
— Evidente.
  A mulher notou que havia alguma coisa acontecendo naquele quarto e não era uma pegação.
— O que é, Nanny?
  A pergunta de Igraine fez a mulher falar, um pouco intrigada.
— Eu tinha saído para comprar alguns mantimentos que seus pais haviam pedido que eu comprasse porque eles...
— Sim, eu sei Nanny. Eles vão viajar para combater os incêndios na Amazônia e demonstrarem o quanto engajados e preocupados são com...
— Mas agora que cheguei...tem umas pessoas estranhas com eles lá na sala. Parecem ser amigos deles, mas eles são meio...estranhos...e é capaz de acabarem fazendo muito barulho e você sabe como é a Lei do Silêncio aqui no bairro e a senhora Edith pode acabar ligando para a polícia, sabe como aquela velha fofoqueira é.

  Igraine saiu do quarto seguida por Nanny e, vendo-se sozinho na companhia de uma cadela e seu filhote, Cruello sentiu-se desconfortável e decidiu fazer o mesmo.

  Na sala, havia cerca de cinco pessoas, além dos pais de Igraine. Todas pareciam empolgadas e decididas, tendo grandes mochilas e conversando e gesticulando avidamente, como se decidissem algo muito sério. Ao se aproximarem, tanto Igraine quanto Cruello reconheceram de imediato uma pessoa que estava ali.

— JAVIER?!
  O rapaz olhou para eles com certa surpresa. Antes que ele abrisse a boca para falar, Igraine já foi tomando a iniciativa.
— O que você está fazendo na minha casa?! “Até aqui ele vai tentar dar em cima do Cruello?!”

— Olá, como você...
— Ponha já pra fora da minha casa antes que eu...
— Igraine, não trate assim as pessoas! – Braum se aproximou. – Javier é um dos nossos!
— Como assim? – Cruello perguntou, com suspeita. Afinal, Javier era asseado demais em comparação com os pais de Igraine.
— Javier é nosso companheiro de luta! Somos praticamente irmãos de alma! E vamos viajar juntos para a Amazônia, combater os incêndios que estão acontecendo lá!

  Javier percebeu que tanto Cruello quanto Igraine o olhavam com suspeita e tratou de explicar.
— Eu e seus pais, Igraine, nos conhecemos em uma das muitas expedições para lutar por causas ambientais e direitos dos animais e nos encontramos algumas vezes ao longo do tempo.
— Ela sabe disso. – falou Cruello. – Nós sabemos.
— Bom, então... – Javier forçou um sorriso. – Quando eles me telefonaram, eu até tentei dizer que, talvez, não seria uma boa ideia eu vir até aqui depois de tudo...
— Ora, o que é isso, Javier? – Braum lhe deu um tapinha amigável nas costas. – Você é um dos nossos maiores porta-voz das lutas que fazemos então é bem vindo, sim!

  Cruello percebeu o olhar de Igraine ao ouvir aquilo. Ele segurou a mão dela, percebendo que estava tensa, mas antes que dissesse qualquer coisa, ouviu alguém chamá-lo. Era um grande homem ruivo de barba desgrenhado e usando a típica saia escocesa masculina.
— Merri?! Você está nessa também?
  Os dois se cumprimentaram com um abraço.
— Lógico! Eu vivo pelo mundo e por isso quero protegê-lo! - falou o ruivo. – Eu consegui lugar em um navio para todos aqui do grupo irem até o Brasil. É um navio de carga, mas nos viramos bem, acabei de ajudar a Amber a conferir as provisões. Logo estaremos de partida e...
— Hah, aí está você!

  Olharam para trás, mais especificamente na direção da porta da sala que estava aberta e viram Scarlet, com um taco de beisebol abaixado em uma das mãos.
— Scarlet? – Cruello indagou, confuso. – O que você está fazendo aqui, criatura?
— Eu vim...fazer o que devia ter feito há anos!

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Notas finais do capítulo

Enfim, após muita dificuldade, finalmente consegui terminar este capítulo. Ele acabou sendo um capítulo mais limitado e centrado em Cruello e Igraine. Confesso que quando comecei a escrever (isso mais de um mês atrás) eu tinha diversas possibilidades de rumos que poderia tomar, mas todas pareciam difíceis e algumas tenderiam pra um lado mais dramático da história. Eu realmente fiquei mal sobre que rumo dar: se ouvia o caminho dado por diversas pessoas. Porque os leitores, cada qual, interpreta uma obra do seu jeito, com base em suas experiências e opiniões. E eu entrei em conflito comigo mesma por conta de acreditar que não estava conseguindo transmitir em minhas histórias, as coisas como eu pensava. Mas me acalmei, ouvi conselhos e percebi o quanto essa fic e a de pokémon tem me ajudado a ver como é a realidade diante da obra para o público e isso tem sido algo importante para eu não repetir com a minha história original (quiçá um dia livro).
Mas enfim...esse capítulo foi tenso, foi estressante, foi desesperador de escrever. Mas consegui...tentei fazer o meu melhor, mas não sei se deu certo. Mas sigo tentando! Gostaria muito de saber a opinião sincera de vocês!



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