Amar-te em Segredo escrita por Madame Bjorgman


Capítulo 6
A Reunião - Parte III


Notas iniciais do capítulo

Olááá meus Amores! Finalmente estou de volta, depois de algum tempo ausente. Eu peço imensa desculpas por isso (espero que me perdoem) :(
Eu não queria ficar assim tanto tempo sem postar mas é que eu tive uma crise horrível de inspiração, simplesmente não me surgia nada e por isso optei por fazer uma pausa na escrita. Mas o que interessa é que estou de volta e igualmente muitooo feliz! *o*
A todos os novos leitores: sejam MUITO BEM VINDOOOS!! Fiquei mega feliz, amo saber que há mais pessoas queridas a seguir a minha Fic! Espero que gostem e que a recheiem com comentários maravilhosos :3
Espero que gostem desta parte III e Boa Leitura! :*



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O silêncio instalou-se assim que as portas de madeira se fizeram ouvir e moveram-se nas suas dobradiças de forma solene e preguiçosa. Aquele ruído, suficientemente audível, foi recebido com alguma admiração inesperada, levando em conta o facto de que aos poucos tinham-se esbatido nas memórias de todos os homens presentes o aviso prévio proferido pelo Embaixador de que a Rainha estaria prestes a surgir no Salão para participar da reunião. Naquele momento muitos permitiram que as suas mentes fossem ocupadas por segundos com a ideia de que seria mais uma vez Kai com uma outra ordem protocolar, afirmando talvez que teriam que aguardar mais um pouco até que a jovem Rainha de Arendelle ocupasse o seu devido lugar de destaque numa ocasião de tão máxima importância. No entanto este mero lembrete não precisaria de ser renovado, aquele ranger da madeira maciça, que ressoou nos ouvidos de todos apenas lhes transmitiu o que os Membros esperavam… o grande momento chegara.

Ambas as portas de madeira polida e guarnecida com talha dourada foram amplamente abertas, permitindo a todos os Membros do Conselho da Corte que tivessem uma visão luminosa, indiscutivelmente encantadora, da jovem Rainha.
A silhueta sensualmente esguia de Elsa permanecia diante da grande entrada para o Salão de Audiências, banhada pelos raios luminosos do sol que penetravam naquela manhã radiosa as vidraças das janelas monumentais. Em pose de tremendo poder e grandiosidade, a personificação da beleza e elegância estava ali, bem diante deles, fazendo-os arfar em espanto ao verem como a luz refractava da forma mais bela e inimaginável assim que tocava com delicadeza nos incontáveis cristais de gelo que abundavam nos cabelos loiros platinados, nos brincos e vestes da Soberana de todo o Reino... Aparentemente indiferente, Elsa encarava algum ponto inexistente, que ninguém saberia dizer qual seria ao certo, ignorando de alguma forma todas aquelas expressões de um êxtase surpreso, presente nos olhares de todos…

No entanto Elsa não se encontrava realmente indiferente perante as manifestações que tinha à sua frente, muito pelo contrário, estava deveras consciente de tudo o que a rodeava, sentia todos aqueles olhares penetrantes sob si mesma, queimando-a impudicamente e acabando assim por a conduzir a um desconforto que parecia aumentar por cada instante que passava. Se por mera caridade o Universo lhe tivesse concedido a gentileza de escolher entre presidir àquela reunião de cariz sério, ou a permanecer nos seus Aposentos Reais, proporcionando-lhe assim a familiaridade e conforto que tão bem conhecia, Elsa não teria hesitado à primeira oportunidade de escolher a segunda opção de ambas as escolhas.

Ao observar com discreta atenção, a Rainha conseguia compreender, até certo ponto, o motivo que levava a reacções tão claras de êxtase e tremenda admiração por parte dos Membros da Corte… Após 4 gerações passadas, o Reino de Arendelle voltava a ter unicamente no trono uma Rainha. Uma Monarca sem esposo, sem herdeiros da coroa, desfrutando da sua condição de mulher solteira para exercer este cargo ilustre da forma mais ampla que lhe seria permitido. Naturalmente que, após tantos anos, estando os súbditos habituados a vislumbrarem uma presença masculina a cingir a coroa, receber como Chefe de Estado a filha mais velha do falecido Rei constituía-se deveras numa novidade colossal! Seria impossível que estes sentimentos, na sua forma mais pura e sincera, não despertassem nas almas daqueles que tinham sido presenteados com aquela visão decididamente idílica, quase divina da Rainha, que se aproximava facilmente à semelhança da aparição de uma Musa por entre os rasgos fortes de luz que banhavam a manhã de Verão. Mas este não seria apenas o único motivo que aguçava as mentes de quem convivia directa ou indirectamente com a Rainha. Em grande parte, a jovialidade e beleza impressionantes de Elsa contribuíam de forma generosa para esta admiração que crescia a olhos vistos. Esta era a outra parte da compreensão que a Soberana ignorava abertamente, Elsa jamais iria incluir a sua própria beleza física nesta adulação crescente que aflorava em seu redor…

A jovem Rainha juntou as mãos, que se encontravam debilmente trémulas, na frente do regaço das suas vestes e esperou pacientemente que Kai desse início à parte do Protocolo Real, que lhe tinha sido destinada para a ocasião… Durante esses breves momentos a sua mente foi invadida pelo eco daquele conselho que ouvira segundos antes de as portas se abrirem para lhe dar acesso ao Salão. Repetiam-se incontáveis vezes nos seus próprios pensamentos e visualizava-as na sua cabeça, a saírem dos próprios lábios do Embaixador. Elsa apercebeu-se de que se esforçava arduamente por encontrar, de alguma forma, onde se pudesse apoiar naquelas mesmas palavras, que agora lhe pareciam tão reconfortantes.

Tenha fé em si mesma, Majestade...

Sim, Elsa iria tentar ter fé em si mesma, mesmo que não se achasse plenamente capaz de sustentar esta mesma fé que Kai, de forma tão bondosa, quisera incutir no seu espírito perturbado pelos nervos. Haveria sempre aquela agitação interior que iria ateimar em manchar a sua máscara de passividade e extrema serenidade impenetrável.
Diante do seu próprio discernimento, a Rainha julgava que aquele papel teatral a que se via a representar diante de todos os Membros da Corte não passaria de uma tentativa mal forjada para esconder uma inexperiência que só poderia reforçar a insegurança que sentia ao deparar-se com a intenção de julgar Hans. Mas ao dissecar as compreensões dos homens presentes no Salão de Audiências chegar-se-ia à conclusão de que a Rainha e os Membros da Conselho não estavam ao mesmo nível. Todos eles achavam que Elsa assumira o governo de Arendelle segura e convicta de si mesma, consciente da forma de como deveria gerir o Reino, manipulando assim com notável mestria cada peça do seu próprio tabuleiro de xadrez diplomático.

Mas Elsa não detinha a mesma opinião que eles… mais uma vez a insegurança e inexperiência conseguiam falar mais alto que a sua própria voz, desconhecendo assim de que na verdade ela era capaz disso e de muitas outras acções inimagináveis em campos desconhecidos, que em breve a deixariam surpreendida consigo própria.

Reconhecendo que seria a sua vez de agir, o Embaixador fez o que lhe era imposto e afastou-se da figura vaporosa da Rainha, de forma solene e profissional, para depois erguer o seu braço com elegância estudada, apontando assim na direcção de Elsa.

– SUA ALTEZA REAL, A RAINHA ELSA DE ARENDELLE. – Exclamou Kai formalmente, preenchendo o ar com o seu timbre de voz potente.

Naturalmente, ao ouvir o Embaixador anunciar a presença da Rainha, cada Membro Conselheiro e Superior da Corte permitiu libertar-se da visão magnífica à entrada do Salão, apressando-se depois em se posicionar junto à cadeira que iria ocupar, todas estas dispostas diante de uma grande mesa de mogno esculpida com as mais meticulosas cariátides femininas em todos os 6 pés que a sustentavam. Esta acção rápida foi acompanhada de um leve murmurar de vozes que ousavam recair em comentários breves de como a Rainha se apresentava bela e serena naquela manhã ensolarada. Mas muitos deixavam-se levar rapidamente pela questão: Seria possível aquela sua aparência cativante manter-se intacta depois de se dar início à consideração deste caso demasiado grave que envolvia o belo Príncipe das Ilhas do Sul?

Apenas seria possível obter uma resposta satisfatória no final de todo este encontro…

Seguindo a conduta esperada, os Membros mantiveram-se de pé atrás das cadeiras, aguardando com paciência que a Soberana ocupasse o seu lugar no topo da mesa.

Por sua vez, Elsa principiou a entrar dentro do Salão de Audiências em passo decidido, arrastando atrás de si o leve manto azul celeste que murmurava os seus movimentos delicados sob o soalho de madeira clara. Percorreu assim toda a extensão que a separava da grande entrada até à elegante poltrona dourada forrada com veludo vermelho, que a esperava no seu lugar...

Mas conforme ia avançando no seu caminho, sentiu que aquele formigamento, tão demasiado familiar para si, invadia-lhe as palmas das mãos, alastrando-se com rapidez por entre os dedos finos, o nervosismo seria sempre uma grande barreira à sua vontade sincera de se manter dentro do controlo... Elsa mordeu discretamente o lábio inferior e apertou um pouco mais as mãos que ainda repousavam na frente das vestes, sabendo que os seus poderes gelados ansiavam manifestarem-se. Ao seu lado, o Embaixador apercebeu-se deste comportamento ligeiramente agitado e tentou de alguma forma transmitir alguma tranquilidade com um gesto discreto de mão, tocando no braço direito de Elsa, o que a fez acolher com grande gratidão esta acção.

Ao quedar-se perto da poltrona de veludo vermelho, a Rainha seguiu o mesmo gesto de todos os homens presentes na sala e manteve-se de pé por breves momentos, observando atentamente cada rosto curioso pregado em si, atrevendo-se depois a que os seus lábios se rasgassem num sorriso encantador.

– Por favor, podem sentar-se nos vossos lugares. – Disse Elsa, erguendo com delicadeza as mãos outrora no descanso do regaço, num gesto de convite afável.

A jovem loira platinada principiou a sentar-se confortavelmente sob o estofo de veludo, e com o seu gesto, rapidamente o espaço amplo do Salão foi invadido pelo ruído de todas as cadeiras a serem arrastadas no chão de madeira. Os Membros Superiores repetiram a mesma acção de Elsa, instalando-se por fim nos seus lugares predestinados.

– Muito bem, agora que estamos todos aqui reunidos, podemos dar início a esta Reunião do Conselho. – Prosseguiu Elsa, tentando transmitir uma liberdade de movimentos que não era muito fluída, no entanto, ainda conseguia manter no rosto o mesmo sorriso aberto e cativante com que os cumprimentara.

– Com certeza, Majestade. – Murmuraram os homens em consentimento, retribuindo a gentileza da Rainha.

Naquele breve instante, Elsa deixou-se manipular pelo seu próprio silêncio, só assim seria realmente possível que lhe fosse permitido estudar com pormenorizada atenção todas as cabeças viradas na direcção da grande poltrona dourada no topo da mesa de mogno. Sabia perfeitamente de que todos os olhares retidos em si aguardavam uma primeira palavra que desse início a esta consideração diplomática, e por isso procurava a melhor de todas elas para lhes dirigir. O carácter extremamente perfeccionista da Rainha procurava com avinco naquele momento as recordações guardadas na mente do exemplo irrepreensível do pai… sempre o conhecera como sendo um excelente orador, que detinha o dom da palavra.

Tendo estas duas qualidades essenciais incutidas no espírito, o falecido Rei possuía a capacidade de conseguir cativar com os seus discursos as multidões, mas a herdeira régia por mais que desejasse seguir os mesmos passos, não parecia obter com facilidade as palavras certas a aplicar numa simples conversa formal.

Após um tempo, que pareceu pesar sob a atmosfera séria do Salão mais do que seria desejado, Elsa terminou com a secura do seu próprio discurso.

– Como é natural, nenhum Membro aqui presente desconhece o motivo pelo qual se encontra aqui hoje, no Salão de Audiências. – Começou por dizer Elsa, fixando o seu olhar na visão panorâmica que se estendia à sua frente, sem que realmente olhasse para alguém em especial. – Qualquer um de vós compreende que seria mais do que urgente realizar esta Reunião.

Permitiu-se interromper mais uma vez. A sua atitude fora propositada, o objectivo não poderia ser mais simples e directo dado que Elsa queria acompanhar cada reacção dos homens fase às suas declarações. Naturalmente que a sua descoberta não poderia ter sido mais satisfatória, recebia de momento toda a atenção com que fora presenteada desde o princípio e isso só poderia indicar que estaria a ir na direcção certa… vendo que afloravam acenos de convicta concordância a Rainha prosseguiu, deixando que desta vez os seus lábios tomassem a forma de um sorriso mais sério mas não menos afável.

– Após a minha fuga para a Montanha do Norte, desenvolveram-se algumas situações em Arendelle que atingiram contornos inteiramente desconhecidos para mim. – Elsa deslizou o olhar sob os rostos que bebiam com avidez cada palavra sua. - Eu creio que ainda se encontra bem fresco nas vossas memórias o Inverno Eterno que assolou esta terra, não devido a causas naturais mas sim provocado pelos meus próprios poderes… felizmente consegui encontrar a solução de que tanto o Reino precisava para sair desta situação difícil e por fim reverti-o. Mas infelizmente a magia do gelo e da neve não pode retroceder tudo…

Todos os homens no Salão entreolharam-se, conseguiam compreender até onde Elsa pretendia chegar com aquela breve introdução.

– O meu dom não pode reverter as acções de outros, não as pode evitar e muito menos as destruir para depois se prosseguir como se nunca tivessem existido. A vossa consciência vos diz que este mundo instável é regido pelas boas e más acções, a todos, sem excepção. As boas acções sempre promovem uma consciência limpa, mas as más não têm essa capacidade… as más acções prejudicam quem é apanhado nas suas teias, por vezes, até mesmo o seu próprio instigador.

Elsa inclinou-se um pouco sob a mesa de mogno.

Esta simples atitude da sua parte desencadeou a revelação de uma brancura alva das suas mãos finas sob a superfície polida de madeira... Tomada pela forte emoção que aquele breve discurso provocava em si, Elsa erguera inconscientemente as mãos do refúgio seguro do seu colo. Repousou-as na sua frente, enlaçando os próprios dedos uns nos outros enquanto aparentou mergulhar numa leve ponderação que rapidamente se desvaneceu. Voltou a erguer a cabeça e exclamou com voz clara e firme.

– Meus caros Senhores, do nobre cargo régio que ocupo, deveras eu vos digo: o tempo urge e o povo de Arendelle espera por uma resposta justa da parte da sua Rainha. Todos os súbditos exigem uma resposta satisfatória e imediata, que justifique os actos de alta traição que foram cometidos neste Reino! Cada um de vós reconhece o rebelde responsável por essas mesmas acções…

Elsa sentiu o seu espírito agitar-se numa revolução inquietante e alguns dos homens poderiam jurar que o olhar da Rainha, por segundos, tinha relampejado de revolta.

A mais pequena recordação do nome daquele Príncipe ingrato tinha a extraordinária capacidade de despertar um lado claramente hipersensível de Elsa e as consequências desta recordação provocavam na dama do gelo, para além de uma evidente inquietação, uma postura recheada de gestos bruscos que só conseguiam expor o quanto a presença de Hans a incomodava.

– Neste momento, o Príncipe Hans encontra-se encarcerado nas Masmorras Reais do Palácio… e a razão que o levou a este destino infame?! Achando talvez insuficiente ter nascido e crescido no seio de uma família real e deter nas suas veias o sangue que o faz Príncipe do seu próprio Reino, achou por bem tentar, pelos seus próprios meios, usurpar o trono que eu herdei do meu pai. Ousou forjar a minha morte e a morte da minha irmã, a Princesa Anna! Eu jamais permitirei que as suas acções detestáveis passem impunes, portanto, torna-se necessário ponderar no destino do Príncipe das Ilhas do Sul, tendo em grande consideração os seus actos incriminatórios…

Qualquer homem naquele Salão não poderia ficar indiferente ao temperamento da Rainha, que de calmo e sereno passara por uma transformação impressionante, adquirindo os contornos de um espírito exaltado, fruto dos seus próprios sentimentos feridos por algo tão audaz e vergonhoso como uma tentativa de regicídio.

Mas na verdade, o que magoava realmente Elsa não era o pormenor de a sua vida ter sido posta em perigo num momento de tremenda fragilidade, mas sim a recordação de a própria vida da sua querida irmã mais nova ter sido votada à morte por aquele que, aparentemente, nutria a mais terna paixão por ela.

Era essa a fonte de todo o seu desagrado, desilusão, e até algum ódio crescente que sentia por aquele infeliz traidor…

As suas reflexões levaram a que os Membros da Corte não conseguissem ignorar a quebra brusca de temperatura que os envolveu rapidamente no Salão, induzindo-os a aconchegarem-se melhor, remexendo assim os casacos com que se adornavam. Naturalmente que a Rainha de cabelos platinados, mais do que todos os presentes no espaço, apercebera-se bastante depressa o que se desencadeava ao seu redor e esforçou-se verdadeiramente para que a temperatura voltasse a subir, devolvendo o ambiente aconchegante com que os homens tinham sido presenteados minutos atrás.

A convicção que a princípio preenchera as esperanças de Elsa, após o descongelamento de Arendelle, já não parecia ser tão forte. Era certo que ainda só havia passado apenas alguns dias, mas a convicção de Elsa levara-a a crer que já detinha um controlo e domínio relativamente plenos em relação aos seus poderes, contudo rapidamente ressurgiram as camadas finas sob os seus pés, as quedas de temperatura no ar e a formação de geada em seu redor, consequências que sempre se manifestavam assim que o espírito da jovem Rainha era assolado por emoções negativamente fortes.

O seu discurso eloquente, mas com toda a certeza exaltado desencadeou um silêncio que Elsa apressou a amenizar, escondendo as mãos agora demasiado trémulas na segurança sombria do seu regaço e esforçando-se avidamente para terminar com aquele curto discurso, dando a oportunidade que todos os Membros Superiores da Corte esperavam obter, expressar a sua própria opinião individualista.

– …Por isso, estou mais do que disposta a tomar em consideração as vossas opiniões, e assim ponderar no que deve ser feito. Só assim chegaremos a um consenso e poderemos decidir, de forma justa, o destino do Príncipe Hans… - A Monarca deslizou o olhar na direcção da superfície reluzente da mesa para depois o erguer e concluir, selando com um aceno leve de cabeça as suas palavras. - … Muito bem meus Senhores, a partir de agora dou-vos a palavra.

Elsa sabia como aquela sua última frase, antes de passar a vez aos Membros do Conselho, tinha ressoado aos seus ouvidos. Não saíra convicta, tenaz ou mesmo segura, mas sim num quase débil fio de voz que de alguma forma a inquietara. A sua mente deixava-se ser inundada por uma onda de surpresa ao permitir que se repetissem de forma frenética cada palavra dentro de si, não conseguindo encontrar toda a raiva que esperava sentir ao pronunciar o nome de Hans. Por alguma razão incompreensível sentia-se insegura, sentia-se exposta e frágil de cada vez que se via confrontada com a tarefa de decidir o destino do Príncipe.

Do fundo do Salão ergueu-se uma silhueta que depressa prendeu a atenção da Rainha e de todos os Membros, era ele… o Capitão Sjurd.

– Qualquer homem com bom senso sabe o castigo certo a aplicar a um patife como este desprezível Hans… é a morte!! – Exclamou de uma só vez, batendo com um punho fechado sob a mesa, como se o seu gesto impetuoso fosse capaz de reforçar a sua opinião, provocando um coro de vozes baixinhas, murmurando cada uma delas o que ia nas cabeças dos restantes Conselheiros.

O velho Comandante das Frotas Marítimas há muito que era alvo de todos os sentimentos agridoces que provocava à sua volta, nutrindo tanto a admiração e respeito de alguns como acicatando as antipatias que outros cultivavam pelo velho Capitão.

Era indiscutivelmente um homem controverso. Os seus 60 anos não conseguiam ocultar um temperamento claramente mundano, expressando com fervor o amor que sentia pelos bons prazeres que a vida poderia ofertar. E talvez fosse por essa razão que o seu carácter fosse adornado por uma frontalidade que, na maior parte das vezes, conseguia incomodar as consciências mais sensíveis de todos aqueles que conviviam com Sjurd.
Os seus cabelos grisalhos, que um dia tinham sido belamente negros, testemunhavam um apogeu que há muito que se tinha extinguido… mas o seu olhar verde acinzentado, sempre inquieto nas suas órbitas revelavam com incrível encanto um percurso que fora brilhante. Uma carreira marítima que tivera o seu início no governo dos anteriores Reis de Arendelle e que não parecia, por agora, encontrar o ponto que ditaria o seu fim.

As reacções às suas palavras provocaram um riso desconcertante que brotaram dos lábios de Sjurd. À sua volta havia expressões de espanto, e muitos comentavam, não deixando de ser num tom leve de sarcasmo, a forma como o velho Comandante das Frotas Marítimas da Rainha mostrava o seu ponto de vista pessoal.
O destino do Príncipe traidor ainda não estava definitivamente traçado, mas o Capitão Sjurd falava como se já o tivessem feito, decidindo-se pela condenação à morte. Do lado oposto ergueu-se um outro contorno masculino que se recortou nos raios vivos da luz natural que entrava pelas janelas do Salão.

– Oponho-me à sua declaração, Comandante Sjurd! Não se esqueça que há mais presentes nesta reunião e que as nossas opiniões devem ser tanto ouvidas quanto as suas.

Contrastando com a figura física anafada que os quilos a mais ofereciam ao Capitão Sjurd, um porte esbelto, elegante e bem cuidado ousava agora contestar a opinião do velho Comandante.

– Por acaso ousa dizer-me que a minha sugestão não é a mais fiável, Duque Arvid?! – Respondeu Sjurd, exibindo toda a indignação que a sua estatura baixa lhe permitiria ao encarar uma altivez de exactamente 1.90 cm de altura.

O tom sarcástico do Capitão já se tornara demasiado familiar para o Duque e General Arvid, que apesar de já ter alcançado os seus 39 anos ainda não tinha provado o sucesso de evitar que o seu sangue fervesse nas veias de cada vez que se via na obrigação de trocar mais que duas palavras diplomáticas com Sjurd. Foi com grande impaciência que o Duque levou as mãos aos cabelos loiros e o seu olhar azul-claro derramou sob o Capitão um desdém forçosamente comedido. Infelizmente conhecia bem demais aquele tom zombeteiro com que Sjurd pincelava o cargo que ele ocupava, como Grande Mecenas de todo o Reino.

Para um homem bem-falante e tremendamente intelectual tornava-se ofensivo e completamente incompreensível ouvir as críticas de um homem com o temperamento moldado pela vida no mar. Para o velho Sjurd o espírito de um Artista nunca conseguiria igualar-se a um espírito que almeja a aventura, e por isso o seu descrédito por aqueles que prestavam homenagem aos grandes Mestres Pintores, Escultores e Escritores era evidente. Esse era um dos principais pilares que sustentavam o grande conflito pessoal entre o Capitão Sjurd e o Duque Arvid.

– Não meu caro Comandante, cada um de nós aqui tem o direito de colocar a sua opinião. Mas não se esqueça de que esta não é uma mera reunião de Conselho, o assunto que nos trás aqui é bastante delicado e como a nossa Rainha pronunciou, é necessário ponderar no que deve ser feito. – O Duque Arvid inclinou-se na direcção do Capitão, revelando com o seu olhar o quanto levava a sério o seu lugar de Conselheiro Superior da Corte. – Não é um vulgar súbdito dos domínios de Arendelle que vai ser julgado, mas sim um membro da realeza que nem sequer pertence ao nosso Reino! É perfeitamente compreensível que a Rainha Elsa queira analisar bem todos os factos antes de agir e…

– Só pode estar louco! Completamente louco! – Interrompeu Sjurd, agitando os braços no ar com grande dramatismo. – Irá atrever-se a dizer-me que ainda se precisa de mais provas que comprovem em como este Príncipe das Ilhas do Sul é o pior de todos os traidores?!!


A Rainha observava tudo em silêncio e com bastante atenção, enquanto os olhares de todos os outros Membros acompanhavam com seriedade e alguma expectativa o rumo que aquela discussão crescente iria tomar.

– Ouça-me com atenção Duque Arvid… Aquele snobe empertigado e narcisista não merece que a nossa Rainha o perdoe! Nem muito menos que o deixe viver!! Ele opôs-se contra a família Real, tentou dois regicídios e ainda abusou do poder régio que lhe foi confiado! – Argumentou Sjurd, enumerando cada acção de Hans numa frenética contagem de dedos, estendendo depois a mão com os dedos muito esticados na direcção do rosto de Arvid. – Tudo isto, vê?! Tudo isto tem um único nome: TRAIÇÃO!

– É desnecessário esticar-me todos os seus dedos para catalogar todos os crimes que o Príncipe Hans cometeu, Capitão. – Desdenhou Arvid com um gesto brusco de negação, disfarçando mal a sua irritação. – A traição é bastante evidente e o Príncipe deve ser devidamente punido pelo que fez, mas não podemos simplesmente mata-lo!

O argumento do Duque provocou uma gargalhada rude e inconveniente em Sjurd.

– Ahhh meu caro amigo, posso saber onde esteve estes últimos dias antes de o Reino ser descongelado pela nossa Rainha? Parece-me que o seu coração de Mecenas encontra-se bastante solidário para com este desprezível criminoso! – O Capitão fez uma curta pausa mas nunca despregando o seu olhar sob a figura hirta de Arvid, que lhe devolvia um olhar duro. E depois, de um só fôlego disparou. - Se não o conhecesse eu ousaria dizer que dúvida destes crimes!! Mas o que se pode esperar de um homem como o senhor?! Sempre com o nariz enfiado nos livros de Arte e nas Pinturas. Admita Duque Arvid, você é um homem que de nada sabe, a sua ocupação como Conselheiro Superior da Corte é inútil…

O silêncio foi profundamente importunado pelo coro de vozes que se levantou repentinamente, provocando uma agitação descomunal, levando assim a que Kai estremecesse no seu lugar e Elsa, sem saber exactamente o que fazer, cravasse as unhas bem cuidadas no estofo vermelho dos braços da grande poltrona. À sua frente vira um Duque Arvid, completamente enfurecido e vermelho de cólera avançar na direcção de um Capitão Sjurd impertinente, que certamente levaria até ao fim a opinião tenaz de que o Mecenas pretendia obter o derradeiro acto de misericórdia para Hans.

Era urgente travar aquele conflito desnecessário entre os seus Conselheiros antes que alguém saísse daquele Salão de Audiências directamente para os cuidados de Gerda.

– Basta!!! – Gritou Elsa, erguendo-se com brusquidão do seu acento e elevando uma das mãos na direcção de Sjurd e Arvid.

Uma parede fina mas sólida de gelo ergueu-se entre os dois Conselheiros, provocando em ambos expressões de grande surpresa e que os obrigou a encarar a figura imperiosa de Elsa. Era como se os dois homens se tivessem apercebido finalmente de que a Rainha se encontrava na mesma divisão do Palácio e pela primeira vez, desde o começo daquela reunião, as linhas dos seus rostos suavizaram-se para darem lugar à vergonha por terem tomado um comportamento pouco próprio diante da governante de Arendelle.

– Esta discussão, para além de não vos levar a qualquer lado, não é relevante. – Repreendeu Elsa. – Não é desta forma que pretendo chegar a um consenso e decidir o que fazer com o Príncipe das Ilhas do Sul.

– Pedimos desculpa, minha Rainha. – Murmuraram ambos os homens, tomando para si as providências que os levariam a executar uma vénia que demonstrasse o respeito perante a autoridade da Soberana.

Elsa acedeu aos seus pedidos e tanto o Capitão Sjurd como o Duque Arvid respiraram de alívio por saberem que tinham sido poupados de uma possível expulsão do Conselho da Corte devido à sua vergonhosa má conduta.

Depois deste pequeno incidente o ambiente no interior do Salão de Audiências permaneceu revestido de uma serenidade agradável, em que todos os restantes Membros Conselheiros que ainda não tinham expressado a sua sincera opinião foram convidados a fazê-lo. A todas a Dama do gelo deu a esperada atenção, ouvindo sugestões que oscilavam entre a decisão pela vida ou pela morte do homem que a tentara matar com o fio da espada… e a cada minuto que passava, Elsa sentia-se cada vez mais convicta de que a ideia de entregar o destino de Hans aos seus 12 irmãos era uma solução muitíssimo mais agradável do que ser ela própria o votar ao sono eterno ou a poupar-lhe a vida.
Ao ouvir o último Membro, Elsa concluiu que a decisão que sentia no seu íntimo já estava definitivamente tomada e por isso, não se demorou a pronunciar.

– Agradeço-vos a vossa prestação nesta Reunião meus caros Membros… Ao ouvir-vos apercebi-me de que há uma grande divisão presente no Conselho. Muitos desejam que o Príncipe Hans seja condenado à morte em praça pública, mas outros refutam essa ideia e acham que a prisão perpétua é o mais adequado. – Iniciou Elsa, permitindo libertar um suspiro cansado. Nada mais natural, após duas horas e meia de reunião, o único desejo presente em si era recolher-se no conforto do seu leito. – Mas eu tenho uma sugestão muito melhor.

A surpresa geral banhou os rostos cansados dos Conselheiros, levando-os a perguntar o que seria melhor do que a condenação ou a absolvição de alguém.

– Eu proponho que o Príncipe Hans seja deportado para o Reino das Ilhas do Sul. Isto irá fazer com que a obrigação de um julgamento caiba aos seus 12 irmãos e não a quem governa o Reino de Arendelle.

Assim que Elsa findou estas palavras ouviu-se instantaneamente as vozes resgarem o ar, moldando-se em expressões claras de exclamação e que depressa sofreram uma metamorfose essencialmente regida pela concordância. A Rainha sorriu ao ver que a sua sugestão tinha sido bem recebida e avançou um pouco mais no seu raciocínio.

– Muito bem, ao ver que esta sugestão foi bem recebida por todos os Membros Conselheiros e Superiores da Corte, eu ordeno que uma carta seja escrita com destino ao Reino das Ilhas do Sul, fazendo o pedido de deportação do seu Príncipe e consequente julgamento. Creio que este assunto delicado não mais o será para o Reino de Arendelle…

A Rainha exibiu um sorriso encantador. A visão de que em breve poderia estar livre desde fardo demasiado pesado para si e para todos os que estavam debaixo do seu governo pareceu-lhe calorosa, convidativa e deveras atraente. Alargou mais o sorriso ao imaginar como a sua querida irmã Anna ficaria radiante por saber que tomara a melhor e a mais consensual de todas as decisões…


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Notas finais do capítulo

Então? O que acharam? Gostaram?! Será que mereço os vossos comentários? :3
Façam-me feliz , os comentários são o meu maior combustível e só contribuem para a vontade de escrever rsrsrs :p
Preparem-se, aproxima-se cada vez mais o momento em que Elsa e Hans estarão frente a frente. ;)
A todos os fantasmas que andam por aqui, por favor, se manifestem kkkk

Beijinho grande e até ao próximo capítulo! :3



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