Amar-te em Segredo escrita por Madame Bjorgman


Capítulo 5
A Reunião - Parte II


Notas iniciais do capítulo

Olá meus amores! Aii MEU DEUS eu estou neste momento aqui a cuspir montes e montes de arco-íris porque eu recebi a primeira recomendação na minha História!! PURO AMOR! Um milhão de obrigados à JuhLocks pela recomendação maravilhosa que ela me ofereceu com tanto carinho! Obrigado pelos comentários fofos e às novas leitoras, sejam muito bem vindas! Bem aqui está o seguimento da 1ª parte (haverá ainda uma 3ª deste capítulo minhas flores). Eu nesta 2ª parte retratei uma memória da infância de Elsa e incluí uma música que eu acho que vai ajudar imenso a vocês visualizarem o ambiente que eu idealizei, se quiserem podem ouvir minhas lindas. Aqui está o link: http://www.youtube.com/watch?v=poAb0MhEvmk
Espero que gostem e boa leitura!



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Elsa deixou escapar a sombra de um leve sorriso quando avistou o homem que por tantos anos permanecera ao lado da família Real, oferecendo de boa vontade os seus prestáveis serviços. Ela tinha conhecimento de que Kai entregara mais de metade da sua vida nas mãos dos antigos Soberanos, dedicando-se com fieldade de tal forma inabalável que poderia deixar qualquer um que vivesse debaixo das leis de Arendelle transparecer aquela genuína admiração que naturalmente poderia surgir quando se tem bem na frente um homem como o novo Embaixador.

Aliás, recorrendo a uma forma bastante mais fácil, bastaria ouvir com atenção todas as histórias que abundavam, havia muito tempo, por entre os corredores luminosos das residências que pertenciam à classe mais abastada, que eram na maioria das vezes, proferidas a meia voz. Nestes elegantes espaços reuniam-se muitas das Damas requintadas, não só para desfrutarem de uma boa chávena de chá mas também para conversarem sobre os assuntos mais frívolos com tremendo deleite, exibindo as últimas grandes tendências em vestidos, chapéus e adornos de uma beleza extraordinária; Enquanto os Cavalheiros respeitáveis compareciam apenas na esperança de terem acaloradas discussões sobre diversos temas, onde poderiam exibir com grande vaidade as suas convicções e saborearem num copo de cristal o bom vinho francês que se tornara tão popular por entre as classes sociais de sangue mais nobre… mas as histórias não se limitavam, naturalmente, às residências mais abastadas do Reino. Estas percorriam de igual forma as esquinas simples das ruas onde os pregões das mulheres ressoavam como cantigas dos velhos tempos, cheias do seu próprio encanto, e as exclamações mundanas dos vendedores que pululavam os espaços abertos ao ar livre, como uma energia que nunca se parecia esgotar, quer fosse dia ou noite, cantando com aquele propósito de elevar ao máximo das honras os feitos deste bom e velho homem.

Mesmo com os grandes portões a separar o Palácio das inúmeras casas circundantes dos súbditos do Reino, aquelas mesmas histórias conseguiam penetrar através das paredes silenciosas e privadas, outrora cheias de uma vida como nunca se vira antes. E uma vez no exterior, estas propagavam-se com enorme alarido em todas as direcções, andando de boca em boca. Todos sabiam o quanto Kai se sacrificara pelo bem da família Real, todos sabiam do seu amor e dedicação, levando qualquer súbdito a observar, com visível e verdadeira reverência, a forma como ele nunca esperava realmente ser recompensado de alguma forma possível, pelos seus esforços mais vigorosos. E por isso, com o passar dos anos foi-se construindo aquela grandiosa reputação, com uma dimensão tal que até mesmo esta era respeitada pelos Reinos mais distantes de Arendelle.

Elsa sentia-se grata pela sua lealdade e nunca esqueceria a amabilidade com que Kai lidara com a sua condição inconstante desde sempre, esforçando-se com uma enorme sinceridade ao tentar compreender, e por fim, aceitando os seus poderes, que cresciam vigorosamente de dia para dia… E quando se tornaram difíceis de ocultar, principalmente aos olhos mais perspicazes que proliferavam pelos espaços amplos do Palácio foi o Kai em pessoa que se encarregou de tornar práticas todas as formas de manter Elsa em segurança, dentro dos próprios domínios da Residência Real, pensadas ao pormenor pelo falecido Rei. Só assim seria possível que a convivência entre uma menina agraciada com extraordinários e belos poderes e os cortesãos pudessem conviver lado a lado, sem o risco de surgirem problemas, que seriam naturalmente desnecessários mas no entanto, muito prováveis de ocorrerem.

Elsa sentiu que lhe preenchia todo o consciente uma enorme sensação de alívio assim que o seu olhar recaiu sob a presença de Kai. Sentira-se por breves segundos diminuta na Grande Galeria, e de alguma forma um desconforto desconhecido cobriu-a, da mesma forma que um manto comprido faria numa noite gelada...

Havia passado pouco tempo desde que as paredes ricamente decoradas com os belos frescos e as enormes janelas adornadas com os minuciosos e coloridos vitrais tivessem voltado àquele antigo espectáculo… aquele mesmo que marcara os seus primeiros anos de infância, exibindo em toda a sua amplitude a rotina própria de uma Corte grandiosa e faustosa que tornava a expressão, “Viver no Palácio de Arendelle”, na mais fascinante que fosse possível para qualquer Dama ou Cavalheiro que acalentasse o forte desejo de frequentar os mesmos espaços régios que o Rei e a Rainha.

Com Elsa a assumir o trono, toda a estrutura que sustentaria uma Corte renovada obtinha agora uma nova oportunidade de voltar a recuperar a frescura, a alegria e a vida tingida por aquelas mesmas cores que tinham outrora abrilhantado décadas, afastando-se assim da extinção em que mergulhara abruptamente. O apogeu da Corte de Arendelle renasceu das cinzas, deixando os tempos idos de um passado demasiado sombrio para trás. Longe encontrava-se o declínio, que começara com o infeliz acidente daquela noite com Anna na Sala do Trono.

Seria perfeitamente compreensível que a Rainha ainda se encontrasse naquela constante tentativa de se restabelecer e familiarizar-se com os velhos hábitos da existência de uma Corte no Palácio.

No entanto o ressurgimento desta estrutura social complexa trazia de novo à luz da vida as memórias de um passado que Elsa ainda detinha… aqueles dias de Verão em que lhe era permitido assistir ao pôr-do-sol nos braços do pai, sentido o seu pequenino coração palpitar de felicidade ao ver todas aquelas cores grandiosas a pintarem o céu, anunciando a habitual transição do dia para a noite, com fortes pinceladas e ver como por segundos o fôlego lhe falhava na garganta perante um dos grandes espectáculos da natureza.

Seria naquela mesma transição que os Grandes Salões, Aposentos, e até mesmo os recantos mais privados do domínio acolhiam aos poucos a luminosidade de centenas de velas, dispostas em enormes lustres ornados com abundantes pêndulas de cristal veneziano e revestidos a folha de ouro fino que se encontravam suspensos dos tectos; neste ambiente amplo os castiçais de mesa e de pé alto elegantes, fundidos em ferro retorcido ou cuidadosamente trabalhados em porcelana de Sèvres, exibiam as cenas campestres mais cativantes que alguma vez se poderia ter observado, enriquecendo um pouco mais os interiores do Palácio com a sua elegância e graça.

Seria impossível esquecer todas estas visões que agora só a memória poderia trazer de novamente à vida, mesmo que fosse por escassos minutos. As sumptuosas festas em que a sua tenra idade outrora não lhe tinham permitido assistir como todos os cortesãos e restantes habitantes do Reino, atraídos pela atmosfera agradável do grande Salão de Bailes assim como as borboletas nocturnas sentem-se irresistivelmente atraídas à luz, seriam talvez de todas as lembranças as que melhor conseguiam roubar-lhe um sorriso.
E a razão para isso era aquela antiga proibição imposta pelos pais, que na sua própria compreensão ainda limitada pela inocência da infância, sabia que não iria durar para sempre… A severidade daquela ordem, que seria bastante compreensível dado a sua pequenez, não conseguia intimidar de todo a Princesinha de cabelos louros platinados, que com a perspicácia e astúcia certas conseguia enganar a sua querida ama quando estas festas grandiosas ocorriam no Palácio.

Uma grande proeza para uma menina que na altura não teria mais do que 4 anos, conseguindo manifestar uma inteligência tão aguçada que só conseguiria realçar aquele seu espírito vivaz, inspirando um amor e ternura que seria praticamente impossível de se nutrir quando se partilhava o mesmo espaço com a filha mais velha dos Soberanos…

***

Com muito esforço, Elsa abafou os risinhos que tinham ameaçado sair dos seus lábios assim que ouvira a ama ressonar baixinho. Aguardou o tempo suficiente e quando sentiu que poderia cometer o atrevimento de se erguer um pouco da cama fê-lo livremente. Observou com olhos estudiosos o corpo rechonchudo da mulher demasiado amolecido pelo sono, que viera aos poucos apoderar-se de si… Gerda encontrava-se sentada sob uma poltrona de brocado carmim robusta e permitira que uma das mãos repousasse sob a lateral do berço da sua irmã mais nova, que tinha acabado de completar o seu primeiro ano de vida dias atrás. Anna dormia um sono tranquilo naquela noite, apesar dos barulhos guturais de Gerda, e a lareira de mármore encontrava-se apagada, dado que não seria necessário as chamas crepitantes que esta acolhia no seu interior sempre que o frio do Inverno fustigava os espaços amplos dos Aposentos ao seu bel-prazer…

O calor era perfeitamente dispensável naquela noite, este só seria desejável quando fosse realmente necessário manter o Quarto das Princesas com uma temperatura agradável.

Livrou-se dos lençóis que a cobriam com a perícia de quem já tinha feito aquilo as vezes suficientes e deslizou silenciosamente para o soalho com o maior dos cuidados. Não poderia correr o mesmo risco da última vez, em que fora apanhada pela ama no preciso momento em que abria as portas de acesso ao Quarto…

Este minúsculo descuido valeu-lhe uma boa reprimenda levando a ama repetir incansavelmente a afirmação de que uma menina, em especial uma Princesa, nunca sairia do seu quarto a meio da noite para bisbilhotar nos recantos do Palácio como uma aventureira, que nem o medo teme. Por isso desta vez certificou-se de que tudo correria bem, deixando recair um último olhar desconfiado sob a boa senhora. Quando obteve a certeza absoluta de que Gerda dormia o sono dos justos deixou o entusiasmo tomar conta de si e silenciosamente saiu do Quarto.

Na sua genuína infantilidade Elsa regozijou de pura alegria assim que se encontrou no corredor de acesso a todos os Aposentos Reais e depressa atravessou em passos pequeninos o comprimento deste… ignorou deliberadamente que para trás tinham ficado os sapatos. Deteve-se na esquina da Grande Galeria e tentou escutar a música quase inaudível que vinha do Salão de Bailes. Dali seria praticamente impossível tentar sequer descobrir a melodia que tanto divertia os convivas daquela festa, por isso atreveu-se um pouco mais e desceu a escadaria, mesmo sentindo debaixo dos pezinhos descalços a vasta superfície fria do mármore policromático que se seguia no seu caminho.

Elsa não se importou minimamente com isso e prosseguiu, tendo como aliada a curiosidade que instantaneamente se convertera na sua fiel guia.

Outrora a melodia inaudível foi ganhando todos os contornos nítidos que a constituíam em toda a sua inteireza à medida que se ia aproximando aos poucos do local onde todos se divertiam. Na sua própria compreensão a Princesa seria incapaz de identificar que naquele momento uma Valsa de Johann Strauss II preenchia por completo o Salão de Bailes que faziam dúzias e dúzias de pares rodopiarem ao sabor de “Geschichten aus dem Wiener Wald” (Histórias das Florestas Vienenses).

Tinha-se deixado camuflar por uma das colunas dóricas mais próximas do acesso que dava passagem para o Salão, de onde se ouvia toda a vida ociosa que borbulhava no interior iluminado. Elsa apercebeu-se de que estava imóvel, seguindo com os olhos as sombras que se projectavam nas paredes do corredor paralelo à entrada, nunca parando e seguindo sempre o compasso ritmado daquela dança cativante… Mas aquilo não chegava, não seria para uma criança o suficiente apenas observar as sombras projectadas numa parede de um Palácio. Deu uma última corrida que não demorou muito e quedou-se timidamente na ombreira das portas pesadas, atrevendo-se a espreitar para dentro do Salão de Bailes numa curiosidade devoradora.

Elsa arfou com assombro ao descobrir um ambiente repleto de vestidos esvoaçantes de musselina e tafetá, fitas de veludo que se moldavam aos cabelos e às cinturas cingidas sob corpetes complexos, luvas brancas, fardas vermelhas adornadas com medalhas de condecoração… tudo isto movia-se ao ritmo da melodia dos instrumentos manuseados pela orquestra que tocava mais ao fundo, seguindo os gestos estudados do maestro com fieldade.

Mais uma vez o seu coração estremeceu e bateu descompassadamente ao ver algo tão belo como aquele baile, queria encontrar os pais, queria dançar como todos os que se encontravam ali, queria sentir o ritmo da Valsa nas suas pernas, sorrir, rodopiar…

– Ohh!!! – Arfou Elsa.

No meio de tantos pares felizes surgiu o Rei e a Rainha de Arendelle, dançando a mesma Valsa que todos os outros convidados. A Rainha, envergando um vestido de musselina branco cravejado de incontáveis diamantes e pérolas no busto e corpete, rodopiava com grande leveza nos braços do Rei que vestia uma farda azul escura rica nos seus adornos dourados, deixando repousar sob os ombros o colar com o símbolo de Arendelle e outras medalhas por feitos que eram alheios a Elsa.

Ambos sorriam com tal terna afeição, que pareciam privados de qualquer consciência que lhes permitisse ver o quanto os seus sentimentos um pelo outro eram manifestos. Era um amor tão intenso e simples que fazia Elsa desejar inocentemente um dia encontrar alguém que a fizesse sentir-se daquela mesma maneira.

Agora que conseguira avistar os pais, a Princesa encontrara-se no impasse de tomar uma decisão. Continuaria ali, apenas observando? Ou seguiria o que a sua vontade lhe repetia insistentemente nos pensamentos, acabando por invadir o espaço e tomando por direito a sua diversão a que tinha direito? Permaneceu na incerteza por segundos mas acabou por escolher… respirou fundo, e quando se preparava para surpreender os pais com a sua presença, uma voz atrás de si impediu-a de avançar.

– Onde é que a Princesinha Elsa pensa que vai? – Exclamou Gerda.

Elsa assustou-se e deixou que se formasse involuntariamente uma fraca e fina camada de gelo sob os seus pés que foi praticamente imperceptível ao olhar da ama que ignorou de todo o ocorrido. Virou-se lentamente, tentando aplacar aquela indignação com um sorriso largo. Fora apanhada em flagrante… mais uma vez.

– Basta eu fechar os olhos por uns momentos e a minha menina aproveita para se escapulir da cama. Parece-me que não prestou a mínima atenção a uma única palavra que eu lhe disse da última vez: Uma Princesa não sai a meio da noite para andar a explorar qualquer recanto do Palácio!

A boa ama levara as mãos empertigadas às ancas e no seu rosto não se desenhara uma expressão muito feliz, arqueando uma sobrancelha, sinal de que esperava uma explicação plausível que justificasse aquela fuga do Quarto das Princesas. O sorriso de Elsa não foi convicto, desaparecendo facilmente das suas feições e acabando por deixar o seu olhar azul descair em direcção ao chão…

Não tinha passado demasiado tempo desde que Elsa tinha saído dos Aposentos, e a pobre mulher acordara abruptamente, deixando-a momentaneamente confusa. Mas a lembrança de que estava ali para vigiar as Princesas e o seu senso de responsabilidade levara-a primeiro a espreitar Anna no conforto do seu berço, e depois Elsa, que esperava ver a dormir debaixo dos cobertores da cama. Mas qual não fora o seu espanto ao encontrara a cama vazia!

Levantou-se muito agitada e resmungou audivelmente, culpando-se a si mesma por deixar que o sono a embalasse sempre que se sentava em vigia nos Aposentos das filhas do Rei. Sabia que naquela noite havia festa no Salão de Bailes, por isso tinha a certeza de que não seria muito difícil calcular onde aquela pequenina travessa pudesse estar… todo este aparato acontecia sempre que havia bailes no Palácio.

– Ahh! E ainda para mais sem os sapatos?! – A voz de Gerda ressoou nos seus ouvidos, espantando-se por ver os pés nus da Princesa. – Esperava entrar assim no Salão de Bailes?

Elsa pouco se importava que estivesse descalça e que envergasse os seus trajes de dormir. Encolheu os ombros com indiferença, sentindo-se depois a afundar na tristeza de ser impedida pela ama de participar também do baile. Tudo o que ela queria era divertir-se…

– Ohh minha doce criança. Ainda és demasiado pequena… quando cresceres poderás frequentar todos os bailes que desejares.

Aquelas palavras fizeram não só as linhas do rosto de Gerda suavizarem-se, acabando por culminar num sorriso meigo mas também com que a pequena despregasse o olhar fixo no soalho e a encarasse com timidez. Os lábios da ama alargaram-se mais e vagarosamente inclinou-se para depois erguer no seu colo Elsa que estendera logo os braços num pedido silencioso de desculpas pela sua desobediência.

– Anda minha pequenina, vamos meter-te na cama… - Murmurou Gerda, beijando as suas bochechinhas rosadas e apertando contra o seu peito o corpo de Elsa.

Afastou-se do Salão de Bailes, subindo novamente a escadaria com a intensão de voltar aos Aposentos das Princesas.

Elsa permitiu-se olhar uma última vez para trás, seguindo com o olhar ainda algumas das sombras projectadas na parede, tentando imaginar que uma delas poderia ser os seus pais movendo-se ao ritmo belo da música. Para trás deixou toda aquela atmosfera luminosa, que por enquanto só pertencia ao mundo dos adultos, não ao seu...

***

A Rainha acabou por extinguir a curta distância que a separava de Kai, mas aquele sorriso que se manifestara de forma tão insegura, adquirindo os contornos típicos de uma fraca sombra não prevaleceu por muito tempo acabando por se extinguir e assim expondo a inexistência de um à vontade que Elsa não sentia.

Por sua vez, do lugar pacato que ocupava, o Embaixador e Conselheiro pessoal apercebeu-se do nervosismo latente da Monarca, acabando por aproveitar a oportunidade que tinha por entre as mãos ao lhe oferecer bondosamente o seu braço onde se pudesse apoiar. Talvez este gesto simples tivesse a capacidade de a tranquilizar para os momentos que se seguiriam.

Num único olhar a Rainha conseguiu transmitir a Kai todo um alívio de gratidão, era-lhe agradável saber que não enfrentaria sozinha todo este acto diplomático que a assustava de alguma forma.

Elsa nunca antes tinha decidido o destino de ninguém, muito menos o de alguém que cometera atrocidades que aos poucos foram perdendo o senso de sigilo, que seria tão precioso para alguém que gostaria de atingir os seus propósitos.

O Príncipe Hans era o responsável por aquela exigência que se impunha em reunir todos os Membros Superiores e Conselheiros de Arendelle, eram os seus actos de falso defensor da Coroa em favor da legítima regente que manchavam a sua reputação aparentemente imaculada. Por isso havia uma ordem imperiosa no ar que gritava a plenos pulmões por uma acção justa da parte da nova Rainha, sendo talvez a solução perfeita para que conseguisse provar daquela forma que estava plenamente apta para governar no lugar do defunto Rei.

Não que isto fosse um hábito recorrente sempre que um descendente dos governantes de um Reino cingisse o peso da Coroa e de todo um Império assim que assumisse o trono. Mas também nunca se tinha visto em toda a História de Arendelle um sujeito cujo sangue real percorria-lhe as veias, sujeitando-se a vir de tão longe somente para tentar usurpar o lugar de quem tinha por direito desde o nascimento ocupar o pedestal supremo de todo o governo.

Inevitavelmente acções desta natureza conseguiam levantar questões que ocupariam facilmente a cabeça de qualquer súbdito, e para reforçar essa probabilidade havia aquela sua fuga apressada para a Montanha do Norte… e no entanto naquele mesmo dia, na cerimónia de coroação tinha prometido perante as centenas de testemunhas o quanto seria devota ao seu dever como Rainha, selando com as suas próprias palavras, que repetira a si mesma mentalmente, um juramento que jamais convinha ser quebrado. Aquele gesto breve de submissão ao cooperar com o protocolo esperado, provocou uma boa sensação aos presentes, Elsa deixou que o bispo lhe colocasse a coroa que fora forjada pelo mesmo molde que criara a da sua mãe.

Não seria a garantia mais segura de que todos esperavam? Não seria um gesto de fieldade para com todos os homens e mulheres que viveriam debaixo do seu reinado?

Aquela sua maldita insegurança haveria sempre de lhe dizer que talvez isso não fosse o suficiente…

A Rainha aceitou de boa vontade a oferta de Kai, entrelaçando silenciosamente o seu braço no dele e depressa deixou-se levar em direcção ao atalho que tomariam, acabando por os conduzir até ao grande Salão de Audiências da forma mais rápida possível. A curiosidade da Soberana pareceu renascer assim que atravessou o espaço em passadas largas, sentindo que lhe martelava repetidas vezes na cabeça a pergunta que se tinha imposto assim que saíra dos Aposentos Reais.

– Diz-me Kai, qual é a razão que me tens para oferecer que justifique o silêncio que reina na Grande Galeria? – Questionou Elsa, encarando o rosto do bom homem para depois o desviar e observar tudo em redor.

Kai sorriu perante a pergunta da Rainha. Na verdade já esperava que a fizesse, pois conhecia bem demais o temperamento da jovem que seguia ao seu lado.

– Depois de eu lhe explicar, minha Rainha, creio que não terá de fazer muito mais do que agradecer-me… - Respondeu Kai bondosamente tocando na mão de Elsa com uma afabilidade paternal.

– Veremos. – Acresceu a Rainha, aguardando pela justificação transferindo toda a sua atenção novamente para a presença de Kai.

– Já vivi os anos suficientes para conseguir discernir que a aguarda algo naquele Salão que poderá ser um grande desafio para o controlo dos seus poderes…

– Meu bom Kai – Interrompeu Elsa com um gesto delicado de mão, fazendo ambos estancar o passo por momentos no caminho. – Não alimentes o receio de que irei descontrolar-me nesta reunião, aprendi por mim mesma que o Amor é a maior arma que eu posso ter. Foi assim que eu consegui descongelar o Fiorde e todas as terras do nosso Reino. Sinto-me muito mais segura, acredita.

O bom homem esboçou um sorriso renovado nos seus lábios, não duvidaria uma única vez da forte força de vontade que Elsa possuía dentro de si. Mas as experiências do passado faziam-no tomar como providência uma cautela que acharia por bem nunca dispensar.

– As suas intenções são dignas do cargo régio que ocupa, minha Rainha. – Prosseguiu o Embaixador, tomando ele a iniciativa de retomar a travessia até ao Salão, a princípio em passos vagarosos. – Mas esta reunião com todos os Membros será o seu primeiro acto diplomático como Governante de Arendelle. É preciso ter em conta de que não se trata de uma simples reunião onde se tem de aprovar ou revogar leis, Majestade.

A Rainha tentou compreender onde Kai pretendia chegar com aquele diálogo que lhe parecia descabido num momento tão crucial. Por isso deixou transparecer pela expressão no seu rosto uma interrogação que o Embaixador interpretou como sendo normal em Elsa, que tinha acabado de adoptar como parte da sua vida a obrigação de reger um Reino com o seu próprio discernimento.

– Eu sei que esta reunião irá de alguma forma afectar parte dos seus sentimentos, minha Rainha. – Murmurou Kai dando leves pancadinhas no topo da mão de Elsa. – Este Príncipe das Ilhas do Sul foi o maior dos nossos problemas. Ele aproveitou-se da sua irmã mais nova, alegou estar perdidamente apaixonado por ela… e parecia dar provas consistentes de que realmente a amava, quando tudo isto não era verdade. Tentou mata-la a si, assim como tentou matar também a Princesa Anna.

Elsa pareceu finalmente compreender onde Kai pretendia chegar e num aceno elegante de cabeça concordou com tudo o que ouvia.

– Este é um momento em que é mais do que necessário manter-se concentrada. – Prosseguiu Kai com a sua explicação. – Eu sei que o amor que sente pela sua irmã tornar-se um ponto sensível nesta teia complexa em que toda a Família Real, os Membros da Corte e o próprio Hans se encontram. Por isso, automaticamente a sua capacidade de manter o gelo no devido lugar corre o risco de pisar em solo incerto.

– E isso explica a razão pela qual a Grande Galeria se encontra deserta meu bom Conselheiro? – Insistiu Elsa.

– O pormenor de a Grande Galeria se encontrar vazia neste momento é uma parte integrante deste esquema, minha Rainha. – Respondeu o Embaixador. – Defendo que teria sido um erro crasso permitir que boa parte dos cortesãos circulassem nesta ala do Palácio no momento em que a Soberana sairia dos Aposentos para depois seguir para o Salão de Audiências…

Kai sabia do que falava. As vantagens de ocupar o cargo mais privilegiado do Reino tornavam praticáveis as possibilidades de o converter no homem mais bem informado do Palácio, e isso fizera com que muitos dos vários boatos que tinham circulado e ainda circulavam pelo Palácio naqueles dias viessem até si.

Tal como a Rainha o novo Embaixador esforçava-se por voltar a adaptar-se a uma Corte renovada, talvez por isso fosse normal deixar invadir-se pela surpresa de descobrir as mentes férteis que tanto homens como mulheres possuíam.

Diziam que a Rainha, ferida na sua dignidade, pretendia enforcar em praça pública o malogrado Príncipe. Outros refutavam esta informação para depois denegri-la ainda mais ao afirmar que em vez do enforcamento, Elsa tinha optado por guilhotinar Hans no grande pátio do Palácio, enviando uma carta aos Reis das Ilhas do Sul com a intenção de os convidar a assistirem à execução do seu próprio filho.

Alguns rumores indicavam que havia uma história bastante diferente… dizia-se que em vez da morte a Rainha concederia ao prisioneiro 5 anos de escravatura nas suas galés.

Todas estas histórias eram meramente nascidas da invenção humana que jamais poderiam ter um fundo de verdade.

Naturalmente que Elsa não tinha qualquer conhecimento destas fantasias mundanas, permanecendo numa ignorância que Kai acharia por bem mantê-la. Por isso não iria permitir que boatos mirabolantes agitassem o espírito da Monarca numa altura em que a concentração e calma eram tão necessárias para a execução da reunião com os Membros Superiores e Conselheiros.

Optou por barrar a passagem a todos os frequentadores da Corte por aquela Ala. A ordem gerou protestos por parte de muitos cortesãos, que desejavam sinceramente ver a Rainha naquele momento importante… mas nada mais poderia ser feito, a decisão de Kai tinha sido levada a cabo.

– Obrigado. – Agradeceu Elsa. – Sinto que a minha escolha foi a mais acertada ao nomear-te meu Conselheiro Pessoal.

– Servi-la-ei sempre fielmente, minha Rainha. – Murmurou Kai.

Prosseguiram o resto de todo o caminho em silêncio, fazendo o espírito de Elsa agitar-se aos poucos à medida que se iam aproximando do Salão de Audiências… Arfou ligeiramente ao ver que a sua audição apurada permitia-lhe ouvir as vozes de todos aqueles que tinham sido convocados no interior do Salão, em conversas amenas e cordiais. Sabia que tinha finalmente chegado o momento, assim que se deteve diante das enormes portas de madeira polida, inconscientemente apertou um pouco mais o braço de Kai, que se apercebeu da quebra brusca de temperatura em redor de ambos e escassos flocos de neve formaram-se no ar.

– Tenha fé em si mesma, Majestade. – Tranquilizou Kai, afagando a mão de Elsa. – Eu sei que conseguirá…

Um a um, os flocos foram-se desvanecendo sob o soalho e a temperatura voltou a subir, sinal de que a Soberana lutava arduamente por se manter dentro do controlo.

Respirando fundo Elsa foi repetindo baixinho para si mesma com uma coragem que acreditava não ter.

Tu consegues Elsa, apenas não sintas, não sintas… Tu vais conseguir conduzir esta reunião até ao fim.

As portas foram abertas e as conversas que prosseguiam pacatamente entre os homens no interior do Salão foram interrompidas abruptamente... Tinha chegado finalmente o momento em que a Rainha iria decidir o futuro de Hans.


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Notas finais do capítulo

E agora é que vai rolar a grande reunião para se decidir o que fazer com o Hans :p
Então? O que acharam? Gostaram?! (Mega anciosa para saber as vossas reacções!)
A todos os fantasmas que andam por aqui, por favor, se manifestem kkkk

Beijinho grande e até ao próximo capítulo minhas flores mais lindas :3



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