O dia mal começara e Lyana Harbor já estava discutindo com Richard Stuart. Por algum motivo as brigas dos dois estavam mais intensas ultimamente.

Não era pura vaidade por parte do garoto como antigamente, o ciúme que ele sentia dela era monstruoso e por isso ele começava a desconfiar que ela significasse muito para ele. Então, como não sabia lidar com a situação brigava com ela o quanto podia.

-Você não pode simplesmente ignorar o fato que culpa de termos perdido o jogo foi quase que exclusivamente sua!

-Minha? – ela perguntou incrédula – Eu não estou no time seu grande idiota!

-É, mas você impediu que Rose jogasse!

-Ela não tinha condições...

-Ela está andando, não está? Podia voar, e voaria mil vezes melhor que aquele pirralho que arrumamos em cima da hora. Mas você não queria que ganhássemos é claro... – a pontada de sarcasmos foi clara, mas Lya não sabia sobre o que ele estava falando, esperou que Richard continuasse – Seu namoradinho é capitão da corvinal, você quer que ele ganhe o campeonato não é mesmo?

-Ah – aquilo doeu é claro, julgá-la tão mal era típico dele, mas Lya tinha a personalidade forte, não se deixaria abalar – É sim, você descobriu.

A garota deu um sorriso de canto de boca e se afastou na direção da mesa da corvinal, Bryan agarrou sua cintura e como sempre fazia tentou beijá-la, ela sempre desviava, dessa vez não, correspondeu o melhor que pôde.

“Se você não pode ter o que quer, divirta-se com o que têm!”

Richard olhou atônito para a cena, teve vontade de arrancá-la de lá dos braços daquele galinha idiota...

"Galinha idiota...? Eu também sou um galinha idiota, não devo esquecer" se lamentou.

Ele saiu vagueando pelo castelo, parecia um lugar especialmente tenebroso agora. Seu estômago estava embrulhado e Richard não conseguia parar de pensar em Lyana. Não queria, definitivamente não queria pensar nela.

“Veja só o que aconteceu com Thiago, agora vive se arrastando pelos cantos, parece até que morreu. Rose... Ela ficou tão magoada.” 

Seus passos vacilaram um pouco, conscientemente ou não ele mudou de caminho.

“Eu faria isso com Lyana? Eu a magoaria? Eu não sei se sou capaz de ser fiel a ela... De ser fiel ao que eu sinto por ela... E ela merece alguém que seja.”

Assim como Thiago que possuía o Mapa do Maroto, Richard acabou conhecendo cada passagem secreta do castelo. Logo ele se viu na frente da estátua da velhota corcunda de um olho só que dava direto na Desosdemel.

“Eu estou realmente precisando sair daqui um tempo”

Precipitou-se pela passagem e logo desembocou na doceria. Não tinha levado muito dinheiro consigo, pois não tinha a intenção de sair, mas também não estava com apetite nenhum. Resolveu passear pelo povoado, respirar diferentes ares podia fazer-lhe bem.

Se afastou tanto quanto pôde do agito das pessoas vivendo sua rotina, e foi levado quase que sem querer as proximidades da Casa dos Gritos. Sentou-se ali na sombra de uma árvore.

Ele poderia fazer isso nos terrenos da Escola, mas a distância lhe dava a certeza de não ser incomodado, e a esperança de que talvez sem a presença eminente de Lyana no mesmo lugar pudesse esquecê-la momentaneamente.

Mas Richard não estava tão sozinho quanto pensava, alguém notou sua presença... Alguém chamado Ludovick. 

O vento soprava docemente os cabelos cor de trigo de Richard, quem dera a brisa morna pudesse dissipar seus pensamentos, ele estava confuso. Será que estava apaixonado por aquela garota de olhinhos minúsculos? E mais importante, será que ela sentia alguma coisa por ele?

Seus olhos cor de mel se estreitaram, havia alguém logo adiante. Um homem. E daí? Que importância isso tinha? Nenhuma.

Se ajeitou na grama que estava pinicando suas pernas desconfortavelmente, pensando que teria sido melhor comprar um doce que ir parar sozinho ali.

Mas continuou seus devaneios. Ele e Thiago tinham sido amigos desde o primeiro instante que puseram os pés no trem. Dois garotos magrelos, um sonhando com o mundo totalmente novo (N/A lembrem que o Rich nasceu trouxa) o outro de certa forma querendo provar a si mesmo que podia ser grande como o pai.

E a proximidade só aumentou. A mesma casa, Grifinória. O gosto por esportes que os levou ao quadribol. As  garotas... eles formavam uma dupla e tanto, conhecendo cada passagem, sabendo com o mapa onde encontrar as garotas mais bonitas “por acaso”. E eles aproveitavam, lufas, corvinais, sonserinas e grifinórias suspiravam pelos cantos por causa deles.

Será que era só por Thiago ter deixado de pegar as garotas com ele que ele tinha se ligado tanto à Lyana?

-Não, a japinha me pegou de jeito. – ele concluiu.

Ele se levantou e estava caminhando com a intenção de voltar ao castelo, o homem que ele vira a pouco se aproximou, alguma coisa nele fez Rich querer apressar o passo. O homem era loiro, um pouco mais baixo que o rapaz, devia ter por volta dos 25 anos, seus olhos eram negros. Richard agarrou a varinha embaixo das vestes, não sabia por que, mas o fez.

Foi sua sorte, porque no segundo seguinte o homem gritou:

-Levicorpus!

Richard foi içado no ar de cabeça para baixo. O homem riu e apontou a varinha novamente. 

-Então garoto, vocês resolvem sair assim do nada da proteção da escola? Nada esperto heim? O mestre ficará muito satisfeito que tenhamos menos um de vocês, mas eu acho que podemos brincar um pouco...- o homem tinha um olhar perturbado - Cruc...

-Liberacorpus – Richard disse e caiu estrondosamente no gramado em cima do braço esquerdo, sentiu como se tivesse esmigalhado todos os ossos ali. Mas se concentrou em aparatar na Dedosdemel.

O atacante não esperava aquilo e o segundo que ele levou para assimilar o acontecido, foi o suficiente para o garoto se libertar.

E Richard conseguiu aparatar no destino desejado, sustentando o braço em frangalhos ele se arrastou pela passagem, depois correu direto para enfermaria de Hogwarts.

A enfermeira fez um interrogatório, gritando e gesticulando que esportes perigosos como o quadribol deveriam ser banidos.

-Você estava jogando no horário de aula rapaz? A diretora não vai gostar nada disso!

-Eu vou explicar, mas dá para fazer alguma coisa com essa merda! Está doendo pra cara... – ele evitou olhar o braço, sentindo-o todo torto.

-Bem, isso vai ser fácil. Mas é bom que esteja doendo parar você pensar duas vezes antes de sair voando da próxima vez! – a mulher acenou a varinha - Brackium Emendo! – e magicamente Richard sentiu os ossos se encaminharem ao seu lugar, doía, ele desconfiava que havia um jeito daquilo não doer, só que a enfermeira queria que doesse.

As notícias em Hogwarts correm! E depois de receber a visita de uma diretora furiosa, Rich recebeu todos os amigos, exagerando um pouco seu estado de convalescência quando viu que Lyana estava entre eles, meio escondida, mas estava.

Os olhinhos pequenos da japonesa estavam vermelhos.

“Será que ela andou chorando?“ 

Ele precisava manter o foco e contar a Thiago o que acontecera exatamente. Mas tinha que esperar estar a sós com o amigo para isso. Ele observou a cuidadosa distância entre Rose e o rapaz, ela não tinha só os olhos vermelhos como Lyana, eles estavam inchados, continuava chorando muito.

Não demorou muito para a enfermeira explicar a todos que Richard estava bem, e que só ia ficar ali aquela noite, uma espécie de castigo da diretora já que ela pensava que havia realmente sido um acidente de quadribol, afinal ele não ia confessar suas fugas do castelo.

Rose foi a primeira a deixar o lugar, arrastando Agatha pela mão, ficara muito próxima de Thiago ali, e isso era o que ela menos precisava, ou achava precisar.

 Depois um após o outro todos foram saindo até que só restaram Thiago e Alvo. Antes mesmo que Richard pudesse falar Alvo perguntou:

-O que realmente aconteceu?

-Se eu bem entendi, eu encontrei cara-a-cara um dos malucos que está tentando matar vocês, ou nós todos agora... E isso quer dizer que eles estão em Hogsmead, porque não tinham como saber que eu ia sair do castelo justo hoje.

-Então nada de passeios a Hogsmead... Vocês acham que devíamos avisar a diretora? Talvez seja um perigo para todos os outros alunos também, e para os moradores do povoado. – Alvo falou, sempre prudente.

-Thiago? O que você acha? – Rich perguntou.

-Eu realmente não sei, mas avisar a diretora traria o pânico, nós todos conhecemos a profecia... E eu e Rose... Avisá-los não vai mudar nada.

Ele saiu deixando o irmão e o melhor amigo.