A menina agora estava sentada na borda do Lago Negro mexia na água com a ponta da varinha provocando pequenas ondas coloridas. Estava relativamente frio e já era noite, no entanto, para Rose este era o único lugar para ficar sozinha e pensar.

 

Ninguém a vista, estava só com seus pensamentos, a aparente serenidade de seu rosto era desmentida pela angustia visível em seus olhos, sua cabeça era um turbilhão. Desde a detenção a garota não pôde deixar de notar que Thiago parecia menos arrogante. Tinha até mesmo parado de soltar gracinhas para as meninas nos corredores, e de implicar com alguns primeiranistas corvinais depois que Rose lhe lançou apenas um olhar. Não era só isso é claro, era uma série de pequenas coisas que ele parecia fazer para agradá-la. 

 

A verdade é que ela ainda não sabia como lidar com seus sentimentos, nem como agir, ignorar Thiago não era mais uma opção. Ela definitivamente não conseguia ignorar aqueles olhos verdes, o modo como se sentava descontraído na cadeira, inclinando-a sobre as pernas traseiras. Era definitivamente muito bonito, seus cabelos negros caíam sobre os olhos com uma espécie de elegância displicente que ninguém mais poderia ter, a certo ponto até a arrogância e presunção eram charmosas em Thiago combinados com seu físico atlético.

 

Então a grande pergunta que Rose Weasley se fazia era se valia a pena dar-lhe uma chance, ou se preferia continuar segura do jeito que estava. Então ela levantou-se de repente com um sorriso imenso.

 

-Ora Rose você é uma grifinória! Seja corajosa! – falou para si mesma, entrou no castelo alegre, como não havia estado há muito tempo. Parou de supetão logo no primeiro lance de escadas a caminho do seu salão comunal.

 

A cena que viu foi surpreendente e um tanto chocante, um rapaz de cabelos pretos tinha uma moça loira de cabelos cacheados entre os braços contra a parede e lhe arrancava um beijo profundo.

 

...                

 

Longe de Hogwarts, numa casa cercada por altas sebes um homem e uma mulher de meia idade conversavam, ambos tinham uma voz pomposa e um tanto rígida para uma ambiente familiar. Na sala onde se encontravam um lustre de cristal pendia do teto e havia muitos retratos nas paredes roxas, a ornamentada lareira de mármore faiscava sombriamente.

 

-Não há mais o que fazer Draco! Eles já estão juntos desde o natal...

 

-E você sabe disto desde quando Astória? – ele perguntou aparentemente indignado.

 

-Faz algum tempo Draco, mas isso não importa, ele escreveu, ele contou para você. Isso é bom, significa que ele está confiando um pouco mais em você querido.  – ela disse gentilmente.

 

-Mas ela é Lílian Potter! Será que aquele cabeça de vento não entende?

 

-Ora, é claro que ele entende. Você que parece que não entende. Scorpius se esforça para ser diferente de você em tudo... – ela falou levantando-se, era uma mulher bonita e elegante apesar de não ser alta sua postura lhe conferia um ar intimidante, mas ela se dirigia ao marido como quem fala com uma criança mimada que merece uma bronca – Você já foi ao quarto do seu filho? Já viu a decoração Vermelha e dourada?

 

-Eu sei, eu sei Astória... Mas entre ser da grifinória e namorar a potterzinha há uma grande diferença! Ela não é mulher para ele, ele precisa de uma garota...

 

-Que o faça feliz? Tenho certeza que era isso que você ia dizer, não era querido? – Astória falou com ar reprovativo.

 

-Também, mas por que ele não pode ser feliz com uma garota mais nobre e de sangue mais puro?

 

-Lílian Potter é uma das garotas mais nobres e de sangue mais puro que existe! Ora Draco os Potter e Weasley são uma longa linhagem bruxa você sabe! E até eu tenho avós trouxas, pensei que você tivesse amadurecido! – a mulher estava começando a perder a paciência.

 

 -Mas esse sobrenome... – fez uma cara de asco e praticamente cuspiu a palavra - Potter.

 

-Você deve sua vida a esse sobrenome Draco! Não se esqueça disso, não se esqueça de quem te tirou da sala precisa. E seu filho sabe escolher, Lily é bonita e é uma boa garota e Scorpius é um rapaz bom e corajoso...

 

-Como eu nunca fui... – Draco abaixou a cabeça perdido em lamentos.

 

-Como você nunca teve a oportunidade de ser querido – Astória agora estava sentada aos pés do marido e seu tom de voz era mais ameno – Mas você pode ser agora! Evitando afastar seu único filho de você por causa da namorada, já não basta a confusão que foi quando ele entrou para a grifinória e todas as discussões por ele ser amigo de Alvo? 

 

-Quer saber?– a fisionomia dele mudou – Você está certa!

 

-Estou?– Astória perguntou um tanto surpresa.

 

-Está sim. Além do mais você já pensou que baque o Potter vai ter no dia do casamento quando a filhinha passar a se chamar Lílian Malfoy?

 

-Você não tem jeito! Agora a pouco queria separá-los a todo custo e de repente os está casando Draco Malfoy?! – Astória estalou um beijo nos lábios do marido.

 

...

 

-Alvinho! Age! –  Rose gritou batendo palmas.

 

Eles se desgrudaram com o que Rose chamou de barulho de desentupidor de pia, corados e ofegantes os dois riram encarando a amiga.

 

-Então você seguiu meu conselho AL? – Rose perguntou maliciosamente.

 

 -Ora você foi bastante clara sobre o que eu deveria fazer. Eu só demorei a tomar coragem, afinal ela podia me lançar um patrono ou algo pior.

 

-Bem, eu vou indo... Ah já ia me esquecendo...- Rose voltou correndo e se jogou abraçando os amigos, em seguida falou com uma voz quase infantil – Que lindo, meus dois melhores amigos namorando!

 

-Namorando? – Agatha perguntou com uma cara indecifrável.

 

Alvo a olhou também com uma cara estranha. 

 

-Não estamos? – o rapaz perguntou, a loira nem teve tempo de abrir a boca para responder antes dele acrescentar – Você acha que vai me usar e jogar fora Longbottom?

 

Rose riu e saiu o mais rápido possível, pressentindo que o casal ia voltar a se agarrar.

 

...

 

-Agora que a Sonserina ganhou da Corvinal como fica o campeonato? – Scorpius perguntou.

 

Lily estava sentada no colo do namorado. Alvo surpreendentemente parecia não se importar com isso, lançou um olhar a Age a convidando a fazer o mesmo, no entanto, ela tinha os grandes olhos castanhos vidrados e certamente seus pensamentos estavam longe dali.

 

-Agatha? – Alvo chamou, ela voltou-se para ele com um meio sorriso nos lábios finos –No que você estava pensando? Zonzóbulos, narguelês?

 

-Nem um nem outro, estava pensando que o dia está bem agradável para um passeio nos jardins – falou com uma voz doce enrolando um dos cachos de cabelo com os dedos.

 

Thiago deu uma risada maliciosa, Alvo nem notou, já havia se posto de pé para passear com a namorada. Hugo viu então que ninguém estava disposto a responder a pergunta de Scorpius e resolveu que o faria.

 

-A Sonserina tem uma vitória e uma derrota igual a Corvinal, se ganharmos amanhã teremos duas vitórias e a Lufa-lufa duas derrotas, nós iremos para a final e eles serão automaticamente excluídos dela – ele numerava nos dedos a medida que ia falando.

 

-Acho que Scorpius não escutou uma palavra do que você disse Hugo – Catherine falou para o ruivo.

 

-Acho que não Kitty – ele concordou vendo que o loiro beijava Lily – está muito ocupado agarrando minha prima.

 

-Hugo não enche! – Lily disse separando-se momentaneamente de Scorpius.

 

-Agora só falta um casal não é ruivinha? - Scorpius disse para a namorada, Hugo ficou da cor de seus cabelos – Não estava falando de você e da Kitty Hugo, pensei que já fosse fato consumado! – Catherine enfiou a cabeça num livro. 

 

-Então quem? – Lily perguntou ao loiro.

 

Scorpius apontou Thiago, que por sua vez mirava, por cima da revista de quadribol, Rose sentada numa poltrona mais afastada. A garota trançava os próprios cabelos que lhe chegavam até a cintura num gesto muito gracioso, simultaneamente ditava apontamentos de transfiguração que apareciam magicamente no pergaminho a sua frente. Para completar a cena os olhos, semicerrados e mordendo o lábio inferior como fazia sempre que estava muito concentrada arrancando de Thiago um suspiro um tanto alto.

 

-Os Potter tem uma predileção por garotas Weasley? – Scorpius brincou.

 

-Não fale isso perto da Age, ou ela vai ficar com ciúmes de todas as primas da Lily! – Catherine também brincou.

 

No vestiário antes do jogo Rose se viu sozinha com Thiago pela primeira vez em muitos dias. Continuava decidida a tentar...

 

-Será um bom jogo. – ela tentou puxar assunto.

 

-Será um bom treino você quer dizer? – ele falou assanhando ainda mais os cabelos com os dedos.

 

-Você é muito confiante! – ela se voltou irritada pegando suas luvas no banco.

 

-Não, não sou não – Thiago protestou – Não vá me dizer que você não acha que será um jogo fácil?

 

-Fácil sim, mas do jeito que você fala parece ganho o que certamente não é verdade!

 

-Tenho certeza que você fará muitos gols.

 

-Se lembre de pegar o pomo. E não ligue se uma garota despencar da vassoura. – Falou emburrada. Apenas alguns minutos atrás, estava pronta pra se jogar nos braços do rapaz, mas como sempre ele lhe fazia perder o controle totalmente.

 

-Eu não ligo se uma garota cair da vassoura. Ligo se minha garota cair da vassoura! – adiantou-se na direção de Rose, mas nesse exato momento a porta se abriu e Richard entrou seguido de Catherine.

 

-Bem primo, como eu ia dizendo boa sorte hoje – Rose falava alto e dissimuladamente calma, deu um beijo na bochecha esquerda de Thiago e ia lhe dar outro na direita como de costume, nesse caminho os lábios se roçaram, não foi mais do que um toque involuntário. Mas foi o suficiente para desconcertá-la.

 

 -Richard! – Thiago deu um grito.

 

-Oi?

 

-Oi? É tudo que você tem a dizer em sua defesa? Oi? Espero que um balaço acerte essa sua cabeça oca hoje!

 

-Quanta hostilidade cara!

 

-Eu ia beijá-la. – falou baixinho para o amigo.

 

As garotas se aproximaram dos dois, Hugo e os outros dois artilheiros haviam chegado.

 

-O troféu? – Rich perguntou em código para Thiago que apenas meneou a cabeça em sinal afirmativo.

 

-Que troféu? – Hugo perguntou.

 

-O de maior caramelo gruda língua! É lógico que estamos falando do troféu de quadribol seu cabeça de fósforo! – Richard inventou.

 

-E COM VOCÊS O TIME DA LUFA-LUFA! – uma voz estridente anunciou.

 

-Quem é? – Rose perguntou a Kevin.

 

-Zack Nixon, aparentemente não apareceu mais ninguém interessado em narrar para a Lufa-lufa.

 

-TODOS DE PÉ APLAUDINDO OS LEÕES DA GRIFINÓRIA! - a voz de Alvo magicamente amplificada ecoou e o time entrou em campo sob aplausos calorosos.

 

O apito soou e eles subiram no ar.

 

-E LÁ VAI COLBIN COM A GOLES. –Zack começou a narração- MAS O QUE...

 

O apito soou novamente, Rose voltou sua dragonbolt que ia em direção às traves anteriormente, esperava que alguém tivesse se machucado ou cometido uma falta.

 

-MADAME MANES ESTÁ APONTANDO O CENTRO DO CAMPO! ACABOU! COM 30 SEGUNDOS O JOGO ACABOU! MAS... OH SIM OLHEM LÁ THIAGO POTTER ESTÁ COM O POMO! – Zack narrou.

 

-QUE ÓTIMO NÃO É ZACK? – Alvo disse encarando o menino lufo que tinha narrado tão animadamente.

 

-É ISSO AÍ!   

 

-Senhor Nixon?- MacGonagal chamou – Não acha que deveria estar torcendo pelo time da sua casa?

 

-QUERO DIZER... ER...

 

A comemoração no salão comunal foi imensa, as garotas caíram mais em cima de Thiago do que nunca.

 

-Poxa Thiago você é realmente forte heim? – Corah falava apalpando o braço do rapaz – Thiago?

 

-Hã?- ele não estava escutando seus olhos estavam na outra ponta da sala onde Rode conversava com Lily e...

 

-Thiago que captura! – uma loira falou abraçando-o.

 

Ele se perguntava ”Quem diabos era aquela garota?”

 

-Parabéns! – um bando de primeiranistas risonhas o cercou.

 

-Cerveja amanteigada? – Corah ofereceu.

 

“De onde surgiram tantas meninas?” estava cercado no meio daquele mar de garotas, alguém pegou sua mão e saiu puxando. Ele se sentiu grato a seja lá quem fosse por tirá-lo dali.

 

-Você me deve essa heim?

 

Thiago só pôde ver o rosto dela após seus olhos se acostumarem com a penumbra do corredor. Estava de mãos dadas com Rose Weasley.

 

-É você me salvou de um ataque de grifinórias! Não sabia que havia tantas meninas na nossa casa!

 

-Como se você não gostasse... Bem de qualquer forma agora você está a salvo e eu vou indo! Teremos uma noite do pijama hoje no dormitório! – falou sorridente - Ah, trouxe isso para você – entregou-lhe a capa de invisibilidade – achei que ia precisar, Alvo quer de volta assim que possível.

 

-Certo... Mas você... bem você não quer ficar um pouco?

 

-HOJE eu não posso – enfatizou bem a primeira palavra – Mas lembra que agora não temos mais jogos por um bom tempo, podemos voltar as investigações, e a nos ver mais quem sabe?

 

-É eu sei boa noite flor – deu um beijo na testa dela, o perfume dela  invadiu suas narinas e inebriou seus sentidos. Tê-la tão perto e não tê-la de fato era contra sua natureza, estava prestes a agarrá-la.

 

-Diabretes – Rose falou, era a senha e o quadro da mulher gorda abriu passagem.