Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 8
Perigosa Coabitação ― Parte 5


Notas iniciais do capítulo

Olá, como vocês estão? :3 Como estudo em uma faculdade federal, ando bem ocupada com o final de período, mas arrumei um tempinho para postar este novo capítulo para vocês. E eu acho que as coisas ficaram sérias, hein? Será que nossa Lizzie andou brincando com fogo?



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― O que você quer? ― perguntou com uma voz totalmente sem emoção. E eu sorri. Ah! O Gato de Cheshire que me perdoe, acabei de roubar o seu lugar.

― Por que você acha que eu quero algo de você? Só quero implicar um pouco, já que você fica implicando sempre comigo. ― respondi desviando um pouco do meu objetivo. Qual é, estava divertido vê-lo fora do seu eu normal.

― Quando foi que eu impliquei contigo? ― Ele praticamente gritou ao meu lado.

― Você vê... até os gênios têm suas fraquezas, não é mesmo? ― zombei mais uma vez. Idiota! Ele continuou a me olhar com raiva, esperando que eu tomasse uma atitude, mas, como não o fiz, tornou a falar:

― Vamos, fale logo o que você quer!

― Por que acha que eu quero alguma coisa? ― perguntei me fazendo de inocente.

― Porque você é estúpida! Pessoas estúpidas precisam jogar sujo para conseguir as coisas. ― replicou no mesmo tom que vinha falando comigo.

― Posso até ser estúpida, mas não fico me vestindo de homem por aí. ― respondi fazendo um bico. Foi infantil, eu sei... mas fazer o quê.

― Vamos... Estou cansado disso!

― Ok, ok... irei devolver-

―E apagar! ― ele me interrompeu.

― Sim, sim... e apagar todas as fotos se você me ensinar para a semana de provas.

― Eu? Te ensinar? ― perguntou e eu assenti.

― Faremos assim: Se conseguir me colocar no mural, eu te devolverei.

― Me nego.

― Por quê?

― “É importante ter a capacidade para diferenciar o impossível do possível.” Phillip Chesterfield.

― E-er... er... O que quer di-

― Simplesmente que desafiar o impossível é perda de tempo! Fazer com que uma pessoa sem capacidade como você entre no mural é obviamente impossível. ― Assim que falou ele já começou a se afastar, mas eu fui mais rápida.

― Então mostrarei essa foto pela esco-

― Não... Espera! Tudo bem. Começando por hoje, irei te ensinar por uma semana, não te darei folga alguma. Aquele mural é preenchido por estudantes que estudam aqui tem anos, alguns deles têm até professores particulares para tentar elevar a posição. Você precisará de intervenção divina para conseguir.

Eu até fiquei com medo de como sua voz soou séria, até porque seu jeito superior sempre me causou esse tipo de arrepio, mas eu precisava me controlar.

― Certo. ― e fui para o vestiário feminino. Já estava muito atrasada, tinha certeza que seria chamada atenção pelo professor. Droga!

Dito e feito! Depois de uma daquelas repreensões, eu ainda tive que aturar uma aula onde vivenciei mico atrás de mico. Eu definitivamente não fui feita para atividades físicas!

~~

Depois do que havia sido um dia comum e de ter enfrentando a companhia de um Darcy mais sério que o normal, foi ótimo trancar-me em meu quarto e me jogar na maravilhosa cama que fazia meus sonhos melhores do que realmente deviam ser. Era ótimo ter um teto aconchegante protegendo nossas cabeças, mas eu sabia que meu pai e eu não poderíamos ficar ali por muito tempo. Por mais que a família Darcy não parecesse se importar, eu não gostava de me sentir um fardo.

Permaneci no quarto por mais alguns minutos, mas, como já estava perto da hora do jantar, tomei um banho rápido e fui ao encontro de todos. Encontrei-os reunidos em torno da mesa de jantar. Meu pai, como já era de costume, estava trabalhando, o que me fazia ter um sentimento de que eu não passava de uma intrusa ali, mesmo que quase todos me tratassem como um membro da família.

― Lizzie, você demorou. Estava quase mandando William ir lhe buscar.

― Perdão, Sra. Darcy, eu acabei me distraindo um pouco... ― Olhei lentamente na direção de Darcy e notei que ele estava, como sempre sério, mas não tirava os olhos da mesa.

― Só vou lhe perdoar mais essa vez, Lizzie, você deve me chamar como lhe pedi.

― Perdão... ― me desculpei já me sentando.

O jantar se seguiu como o dia anterior, muito calmamente, e era ótimo me sentar ao lado de Darcy, porque daí eu não precisaria aguentar o seu olhar na minha direção, embora acreditasse que ele não tirava seus olhos críticos de cima de mim de qualquer forma.

― Lizzie, farei o lanche da noite para você hoje de novo. ― falou a Sra. Darcy me tirando dos meus pensamentos. Eu apenas assenti e voltei a comer, mas fui surpreendida pela voz de Darcy.

― Mãe, faça dois esta noite. E leve-os para o quarto dela. ― Eu sinceramente fiz tudo o possível para continuar comendo e ignorar os três pares de olhos surpresos na direção da pessoa ao meu lado, mas vamos ver... não sou tapada.

― Dois... Você está dizendo que... Estudará também?

― Isso mesmo. Vamos começar agora. ― e se levantou deixando a sala de jantar. Eu sabia que tinha que segui-lo, então apenas agradeci pela comida e também deixei a mesa. Seja o que Deus quiser!

~~

Assim que passei pela porta e vi Darcy a fechando me senti totalmente estranha. A gente já havia ficado sozinhos no mesmo cômodo várias vezes, mas dessa vez era diferente... ele nunca realmente estava se preparando para me ajudar. E isso era o mais estranho de tudo. Mesmo que ele estivesse sendo chantageado, ainda assim tê-lo ali pronto para me ensinar era algo muito perturbador... quando eu iria me acostumar com isso? Isso seria difícil. E eu ainda teria que suportar por uma semana inteira!

― Então por onde devemos começar? ― Ele deve ter lido a confusão em meu rosto, porque continuou: ― Em qual matéria você está tendo dificuldade?

― Provavelmente Matemática e Pré-cálculo.

― Então é por aí.

―Certo. ― falei me inclinando para procurar o livro ― Matemática... matemática... matemática... ―, mas Darcy foi mais rápido e tirou um livro dentre a pilha que estava sobre a minha mesinha, sentando-se no chão ao lado da minha mesinha de estudo e passado a folhear o livro.

― Então, por onde começamos?

― Hmm... página 27. ― respondi e me sentei ao seu lado.

― Hmm... ― começou enquanto folheava o livro ― As partes que cairão na prova estão... ― e marcando na medida em que folheava as folhas: ― Aqui. Aqui. Aqui. Aqui...

― Como sabe?

― Para este conteúdo você só precisa saber alguns pontos chaves. ―Ah, claro, só um gênio viria com algo assim.

― Er... hmm... Darcy... sua mãe falou... que... vo-

― Solte logo. ― me interrompeu indiferente.

― Sim, certo. Hmm... ela disse que você não estuda... Como consegue ir tão bem nos exames?

― Não é normal lembrar-se do que você viu, ouviu ou leu uma vez? ― “O quê? Em que universo paralelo isso é normal?”Só um gênio mesmo para pensar assim...

― Te darei alguns problemas, tente resolvê-los. ― falou alcançando o meu caderno e escrevendo alguma coisa sobre na folha em branco. Não demorou muito e o colocou novamente na minha frente, voltando a falar: ― Se conseguir resolver isto, terá um sucesso em torno de 80%.

Como não queria ser mais humilhada na frente do cara que eu amava, e que por sinal era o mesmo que me achava estúpida, passei logo a me concentrar nas questões, mas, mesmo depois de quinze minutos, não consegui concluir nada. A primeira questão, de vetores, era uma das que eu não consegui resolver na noite anterior. A segunda, uma integral, era outra pior ainda. Parecia até que ele estava me bisbilhotando e escolheu justamente apertar na minha fraqueza para que eu me visse como realmente era: uma verdadeira idiota e burra.

Mas mesmo que eu não estivesse conseguindo resolver, ainda assim tentava. Ele, no entanto, não ajudava nada, olhando-me fixamente e revirando os olhos sempre que eu o olhava. Era tão constrangedor.

― Ainda não consegue resolver? O que diabos fica fazendo durante as aulas? Gostaria de espiar dentro da sua cabeça, poderia fazer algum estudo e criar um método eficaz para evitar estupidez. Você sabe quantas crianças seriam salvas com isso? ― Ele falava tão calmo que me fazia ficar cada vez mais constrangida.

― Desculpa... ― Droga, de alguma forma eu sentia que ele merecia esse pedido, afinal eu o estava obrigando a me ensinar. Eu, que não sabia resolver a droga de uma integral simples.

Enquanto eu voltava a tentar resolver as questões, com o auxílio do livro, ele foi até o computador que ficava no meu quarto, que eu quase não havia usado, e começou a digitar alguma coisa. Não dei muita atenção, estava mais concentrada em mostrá-lo que eu não era tão estúpida quanto ele pensava, mas que só estava um pouco enferrujada já que há muito tempo não era cobrada daquela forma. Depois de algumas horas, que mais pareceram uma eternidade, eu despertei do que fazia ao ouvir o barulho da impressora e ver Darcy retirando alguns papéis e usando uma fita que ficava no meu porta trecos para juntá-los.

― Seguir esta programação é estritamente necessário. ― começou me mostrando um quadro com anotações e horários. ― Seja no banheiro, mesmo tomando banho, nunca se separe do seu bloco de notas.

― Certo! Poxa...

― Não há tempo para conversinhas, estudaremos vetores e integrais agora, já que você passou a noite toda para resolver essas duas questões... ― falou pegando o meu caderno ― Que por sinal estão erradas. ―Fudeu, que droga!

― Mas já passou da meia-noite... ― lamentei fazendo manha. Poxa, eu estava com muito sono.

Não adiantou nada! Passamos mais algumas horas estudando, até que estávamos tão cansados que fomos obrigados a dormir. Uma parte de mim, aquela que não estava morrendo de sono, realmente estava gostando daquilo tudo. Afinal, mesmo que contra vontade dele, era ótimo ter Darcy por perto e sem me atacar de instante em instante. Ele era realmente um ótimo professor.

E os próximos dias foram assim. Quando estávamos juntos, ele me ensinava. Quando não, eu estudava sozinha. Tirando algumas conversas muito rápidas com Richard e alguns novos amigos que fiz, eu geralmente estava estudando. Eu já fazia isso antes, afinal gostava de estudar, mas era bom finalmente não ter dúvida alguma. Seria ótimo se ele aceitasse ser meu professor particular eternamente...

Quando terminava alguma matéria e tinha algum tempo livre, eu ficava pela biblioteca lendo algum livro aleatório de algum estudioso ou até algum romance. E esses momentos eram ótimos, porque daí eu aliviava a minha cabeça das obrigações da escola. Eu amava ler, mas ficar lendo aquilo que nos obrigam é muito frustrante, por isso essas horas de liberdade eram maravilhosas, mesmo que raras.

― Inventei um simulado, faça-o. ― falou Darcy ao me entregar folhas repletas de questões assim que estávamos no meu quarto.

Assim que comecei a resolver me surpreendi com a facilidade como tudo saía. Fazia tempo que não conseguia resolver algo que me parecesse tão simples, era um sentimento muito maravilhoso me ver como alguém que conseguia obter sucesso em algo que até pouco tempo me causava tanto desespero. Quando já havia passado algumas horas, eu finalmente tinha acabado, mas, quando ergui a cabeça da folha, me deparei com Darcy dormindo sobre a minha cama. Eu gelei na hora, aquilo era algo com o qual eu nunca ousei sonhar – porque, afinal, se aquilo acontecesse, com toda certeza seria eu dormindo na cama dele que havia sido invadida contra a sua vontade. Pois é.

Mas ele era incrivelmente tão lindo que eu não pude evitar e me aproximei, me abaixando para deitar ao seu lado e ficar admirando. Eu sabia que não poderia ficar ali e não ficaria, mas eu queria passar alguns minutos tendo esse tipo de liberdade – ninguém apaixonado como eu era poderia me condenar, de qualquer forma; eles me entenderiam.

― Ele fica tão bonito quando está desta forma, dormindo. O Darcy que eu realmente admiro... ― Foram as últimas palavras que eu me lembro, porque pouco a pouco a escuridão me tomou.

~~

Acordei ao sentir algo se mover perto de mim, o que achei muito estranho. Mas, ao abrir os olhos, vi o que tinha acontecido: eu estava deitada ao lado de Darcy, que havia se movido e batido em mim. E se ele tivesse acordado e me visto ali? Oh, meu Deus! Não, ele não havia acordado. Conhecendo-o como eu conheço, com toda certeza ele teria gritado comigo por ter me deitado ao seu lado. Ele estava dormindo, isso sim. E eu precisava sair dali o mais rápido por isso.

Como ainda estava cedo, apenas escovei os dentes e fui dar uma volta pela mansão que eu quase não conhecia. O que era estranho, pois estava ali tinha dias. Passei alguns minutos dando voltas pelo jardim, até que ouvi um barulho e me virei para onde ele vinha e um Darcy apareceu na minha frente.

― Este jardim foi projetado pela minha avó. Toda a sociedade da época a criticou por ser uma duquesa e escolher fazer algo assim, quando tinha tantos ao seu dispor, mas ela gostava de estar em contato com a terra. No fim, eles só puderam afirmar que “só a delicadeza de uma verdadeira duquesa para criar tal obra prima”. Algumas vezes eu me pergunto se essas pessoas têm orgulho.

Eu nunca tinha compreendido muito bem o que se passava na mente de Darcy, mas aquelas palavras amarguradas me mostraram que ele era mais ressentido do que eu anteriormente havia acreditado. O motivo eu não fazia ideia e nem sabia se realmente gostaria de saber, mas era tão estranho vê-lo sem demonstrar qualquer tipo de sentimento – salvo quando na presença de Georgie.

Ficamos mais algum tempo ali no jardim, apenas caminhando em silêncio – não havia nada que eu pudesse falar, de qualquer forma. Quando já estava na hora de nos preparar, nos recolhemos, cada um em seu quarto, e só nos encontramos para tomar o café da manhã. Com tudo terminado, e quando já estava saindo, a Sra. Darcy se aproximou segurando um envelope que estendeu para mim.

― Lizzie, aqui, para você ter boa sorte!

Olhei para o envelope sem entender nada, mas quando fui abrir ela me parou e me fez prometer que só abriria depois da prova, ou acabaria tendo azar. Qual é, mais azar do que já vinha tendo? De qualquer foram era melhor evitar, então concordei e acompanhei Darcy que já caminhava na direção do carro.

― Iremos até a escola hoje, Sr. Reynolds.

― Entendido, senhor.

Chegamos ao colégio mais cedo do que de costume, e apenas poucos alunos já estavam lá. Diferente do que sempre fazia, Darcy deixou que eu descesse e permaneceu no carro, que se afastou com ele junto. Eu não entendi o motivo da mudança, então achei melhor dar de ombros.

A sala de aula estava vazia. Como era dia de prova, todos os alunos estavam proibidos de entrar até que fosse liberado, o que demorou muito tempo. Antes que nossa entrada fosse permitida, no entanto, Darcy se aproximou, indo na direção da outra extremidade do corredor. Eu queria encontrar alguma forma para lhe agradecer, mas ele já havia falado que não queria qualquer contato entre nós dois na escola. Dessa forma, me assegurei de que ninguém prestava atenção e falei, quase murmurando:

― Obrigada.

― Boa sorte.

Sua resposta me pegou de surpresa, o que só ajudou na formação de um sorriso idiota na minha face. Quando liberada a entrada, tentei me recompor e segui para o meu lugar marcado, que ficava quase ao lado de Darcy, não fosse a fileira de alunos que havia entre nós dois.

~~

Os dias de provas foram cansativos, mas era ótimo me ver finalmente livre delas. Eu havia me saído muito bem, conseguindo resolver sem qualquer dificuldade a maior parte das questões... e só poderia agradecer a ele.

Quando já estava me preparando para deixar a escola e esperar por Darcy na entrada, alguém gritou meu nome e eu me virei para ver Richard acenando freneticamente e um Darcy muito emburrado ao lado. Tentei ignorar ao máximo a cara de desgosto do último e me concentrei em Rich, sorrindo com simpatia enquanto me aproximava.

― Ei, Rich.

― Lizzie, estamos formando um grupo para ir à lanchonete da esquina comemorar o fim dos exames. Você vai, não é?

― Er... Eu não sei. ― murmurei notando que só havia homens nesse tal grupo – Rich, Darcy e mais dois outros. Acho que Richard notou para onde meus olhos iam, porque no mesmo instante revirou os olhos e voltou a falar.

― Não vai ter só a gente, as meninas também vão. Aquelas garotas com quem você andava conversando, elas já estão até se aproximando, veja.

Olhei para onde ele apontava e vi as três garotas com quem costumava conversar se aproximando, todas carregando um sorriso idiota.

― Lizzie, você também vai? ― perguntou Catherine. Não pude deixar de notar a forma como ela olhou para Richard... era quase igual ao modo como eu olhava para Darcy.

― Me desculpem... eu não sei. ― murmurei olhando discretamente para Darcy, que apenas deu de ombros.

― Não seja tola, vai ser divertido. Eles têm vários jogos diferentes, além de um karaokê com ótimas músicas. Eu sei que isso é coisa das antigas, mas hoje estou querendo parecer idiota! ― interpelou Georgette bastante animada. Ela sempre estava assim.

― Certo, eu vou. ― respondi tentando parecer tão animada quanto ela, embora fosse impossível. ― Mas eu posso chamar umas amigas?

― Claro! ― responderam Catherine, Georgette e Mary no mesmo instante. Elas amavam conhecer amigas novas.

Com tudo definido, seguimos andando até a tal lanchonete – que na verdade parecia mais um restaurante luxuoso com salas enormes exclusivas para a clientela VIP. Eu sabia que aquela exclusividade era apenas porque Darcy estava com a gente, já que ele não poderia participar de coisas do tipo em lugares abertos. Como eu havia mandado SMS para as meninas, não demorou muito e Jane e Char chegaram. Claro, acompanhada do adorável William Collins, que nunca perdia a chance de estar na minha presença. Ele até que era bonito, mas vivia tão grudado em mim que eu não conseguia sentir por ele a metade do que ele sentia por mim. No máximo, era ótimo ser sua amiga.

― Lizzie! Que ótimo poder estar com você, eu estava tão preocupado que algo pudesse ter acontecido! ― gritou Will assim que entrou, pulando sobre mim até que estava me apertando mais do que eu realmente poderia aguentar. ― Por favor, nunca mais faça isso comigo. Eu não sei o que seria capaz de fazer se alguma coisa acontecesse com você. Por favor, Lizzie!

― Ok, Will. ― respondi tentando me soltar dele e olhando duramente para Jane e Char que olhavam-me pedindo perdão com os olhos. Mas então alguma outra coisa, atrás de mim, chamou atenção delas duas. Não precisei virar para entender do que se tratava, afinal só uma coisa poderia ser atraente o suficiente para chama-lhes a atenção. Depois de conter a surpresa, Char me olhou e eu vi a dúvida estampada em seus olhos. Pois é, eu estava frita.

As puxei para um lugar afastado na sala reservada, mas não obtive sucesso algum ao tentar explicar, pois Will ficava o tempo todo sentado ao meu lado tentando chamar atenção. As únicas culpadas disso eram elas, de qualquer forma, afinal não mandei chamarem ele. E como não havia jeito, chamei Catherine, Georgette e Mary para se juntarem a nós, agradecendo internamente a Rich que veio e levou Collins com ele alegando que eles estavam precisando de mais um jogador porque um deles precisava ser o juiz. Homens e seus jogos, mas quem sou eu para ser contra?

Apesar dos pesares, passamos o resto da tarde maravilhosamente, e foi só quando já estava ficando bastante escuro que começamos a nos organizar para ir embora. Para acabar com a alegria que eu vinha sentindo durante toda tarde, Collins colocou na cabeça que não deixaria eu ir sozinha para casa. Eu não vi saída para isso, já que a outra opção seria dizer que eu morava perto ou com Darcy e que o motorista dele iria nos buscar. E eu não poderia fazer isso, pois acabaria deixando-o com raiva e destruindo tudo o que havia construído nos últimos dias. Não havia saída, então já estava desistindo quando uma voz chamou ao lado.

― Vamos, Bennet.

O-o quê?

Sério, será que esse cara existe? Como assim do nada ele resolve falar comigo e ainda me levar para casa? Como posso acompanhar essas mudanças de humor do nada? Acho que provavelmente sou estúpida mesmo, porque só assim para aturar isso.

E eu não era a única a olhá-lo assustada, todos o olhavam surpresos e confusos, afinal Darcy nunca foi de fazer algo assim, certo?

― Ei, pode deixar que eu a levo!

Claro, Collins não poderia parar por aí, ele sempre iria encontrar uma forma para foder com tudo de uma vez!

― Que bom que você é prestativo, mas a Srta. Bennet mora no mesmo bairro que eu e o seu pai, que conhece o meu pai, prefere que ela não ande de metrô em um horário como esse. Como estou indo de carro, acredito que seja a melhor alternativa. Isso se você não tiver um carro... ― Provocador ele, não? Como se Collins tivesse uma bicicleta sequer.

― Certo, vamos. ― interrompi aquilo antes que sobrasse para mim. Me despedi de todos da minha nova escola, que ainda estavam confusos e olhavam-me procurando respostas. Todos menos um ruivo que eu havia esquecido o nome. Esse estava mais preocupado com Jane, que olhava para baixo pela maior parte do tempo. Eu nunca havia visto ela tão vermelha! No entanto, quando chegou a hora de me despedir das minhas amigas as coisas ficaram feias. Em resposta ao “Precisamos conversar” de Char, eu só pude marcar de recebê-las no dia marcado do tal chá que a Sra. Darcy havia falado e que se realizaria em cinco dias. Ao menos eu teria cinco dias para me preparar.

~~

Dois dias depois e todos os resultados foram divulgados. O mural estava pronto!

Eu não pude me conter e em poucos segundos estava olhando para o primeiro colocado da lista, com 100% de acertos: Fitzwilliam Darcy. O cara era rico, bonito e absurdamente inteligente.

Na verdade ele era absurdamente tudo. Até irritante. E apaixonante.

Eu estava tão emocionada por vê-lo no lugar de sempre que só despertei quando me choquei com alguma coisa dura. E foi só ao levantar a cabeça que me vi de cara com um Darcy sério como sempre.

― Parabéns por ter ficado em primeiro lugar. E ainda com uma pontuação perfeita!

― Claro, eu estudei pela primeira vez. ― respondeu indiferente. ― Você também conseguiu.

― O quê?

― Ainda não viu? ―indagou surpreso.

Eu tive que correr e voltar para o grupo de alunos que estava na frente do mural, porque, segundo ele, eu havia conseguido. Eu realmente estava entre os melhores da escola!

Procurei do último e fui voltando, levando mais tempo do que esperava. Foi só quando cheguei no 11º colocado que vi meu nome: Elizabeth Bennet. Eu havia conseguido! E errei apenas 17 questões! Eu errei apenas 17 e estava no mesmo mural que Darcy!

Não me segurei, corri de volta para onde ele estava.

― Darcy, eu consegui o 11º lugar. Estou tão feliz!

Assim que eu terminei de falar ele estendeu a mão direita, a qual eu tratei logo de apertar, mas ele puxou segundos depois e estendeu novamente.

― Não isto, me devolva “aquela coisa”.

― Ah, claro! Tome. ― sibilei alcançando a foto e estendendo para ele. Ele levou um choque ao olhar para a foto e puxou da minha mão, escondendo logo em seguida.

― Não exponha isto assim! Além do mais, eu já te disse várias vezes, então, por favor, pare de falar comigo na escola!

Eu fiquei olhando-o perplexa, afinal foi ele quem se aproximou de mim, não? Mas como eu não deixaria barato, comecei a falar novamente enquanto ele se afastava.

― Ei, Darcy! ― e assim que ele virou (totalmente contra vontade) eu continuei: ― “É importante ter a capacidade de distinguir entre o impossível e o possível. Se isso é meramente difícil, você tem que ter a capacidade de ir atrás do que quer e ser incapaz de desistir, então as coisas irão funcionar.” Você sabia como esse ditado de Chesterfield acabava, não sabia?

― Obviamente. ―ele respondeu sorrindo e se afastou. Isso mesmo, sorrindo. Não aquele sorriso aberto e maravilhoso que eu tenho certeza que ele tem, mas um leve sorriso que poderia facilmente me fazer ficar apaixonada novamente – isso se eu já não o fosse.

― Darcy! Obrigada! ― gritei quando ele já estava relativamente longe, chamando atenção de um bom número de alunos. Para minha surpresa, ele não pareceu se importar, continuando a andar aparentemente de forma despreocupada.

~~

Os rumores atuais eram completamente diferentes dos antigos, quando eu mudei de escola. Agora eu era a aluna novata que havia vindo de uma escola “ruim” e que havia ficado entre os primeiros logo no primeiro exame. Era algo sobrenatural, até Richard estava surpreso e tentou arrancar de mim o que havia me feito ficar naquela colocação. Ele mesmo havia tentado várias vezes e não havia conseguido. Mas, como não disse nada, ele pôde apenas aceitar que eu só poderia ser um gênio natural como Darcy e que eventualmente iria roubar o posto de primeiro colocado. Bem, ele poderia sonhar, não é?! Porque ter 100% de acerto é algo que até os gênios “normais” têm dificuldade, só alguém excepcional como Darcy para não errar nem uma vírgula da redação que somos obrigados a fazer durante os exames.

Foi só quando eu estava no vestiário feminino, me arrumando para a aula de Educação Física, que tudo mudou. Enquanto eu tentava organizar meus pertences no armário, minha bolsa, que estava aberta, caiu e espalhou todos os meus materiais pelo chão. Minhas atuais colegas, Mary, Gê e Kitty, me ajudaram a juntar tudo e logo eu estava fechando minha bolsa para guardar no armário, até que o grito de Gê me assustou.

― Não! Isso é sério? Sério mesmo? Vocês estão juntos?

― O que foi? ― perguntei me virando para vê-la me olhar assustada com um pedaço de papel – ou foto – nas mãos. ― Quem está junto com quem?

― Lizzie, não se faça de idiota! Você e Darcy estão juntos? É sério mesmo?

― O quê? ― Kitty e Mary perguntaram no mesmo instante. Eu só olhei para ela confusa.

― Isto, Lizzie. E não tente me enrolar. Vocês estão juntos?

E foi então que eu vi para o que ela apontava. Em suas mãos estava uma foto. Não só uma simples foto, mas uma bem constrangedora, onde se encontrava Darcy e eu dormindo em minha cama. Para quem olhava parecia realmente que estávamos juntos, já que estávamos próximos demais. Eu fiquei vermelha no mesmo instante e tentei ao máximo me explicar.

― N-não é i-isso que es-tão pensand-do.

Droga, como eu iria explicar isso?

― Mas vocês estão dormindo juntos, Lizzie. Vocês estão juntos, mas querem manter segredo, não é?! Eu realmente estava achando tudo muito estranho. No começo não, afinal você só era mais uma novata, embora tenha feito amizade muito facilmente com o primo dele. Mas naquele dia em que ele te deu carona... Nossa! Eu nunca havia visto Darcy fazer algo por alguém que não fosse Richard, Denny ou Charles. Você entende o que quero dizer? A bruxa ruiva vai querer te matar, tenho certeza! ― falou Mary. Eu tenho certeza que ela tentou ficar séria, mas no final estava rindo de alguma coisa que eu não entendi.

― Bruxa ruiva? ― perguntei receosa.

― Sim! A bruxa ruiva do 2ºC, irmã do Charles. Ela não é nada, mas só porque Darcy é o melhor amigo do irmão, ela se acha no direito de ficar no pé dele. Até brigou com duas outras garotas só porque elas sonharam com ele e ousaram contar para as amigas. Foi uma briga daquelas, nunca esquecerei!

― Você quer dizer que...

― Fica tranquila, Lizzie. ― interrompeu Kitty. ― Ela nunca faria nada com você. Ela só briga com garotas do 2º ano para baixo, nunca ousaria se intrometer nos assuntos do 3º. Ela é uma dessas que acha que dinheiro e beleza compram tudo, mas como a turma do terceiro já está bastante crescidinha para ligar para a beleza comum dela, e a maioria tem mais dinheiro do que ela poderia sonhar, ela não tem nenhum poder aqui. Te garanto que se ela se intrometer com você as coisas vão esquentar e ela ficará com medo.

Eu confesso que fiquei com medo, porque não esperava que algo assim acontecesse. Mas, ainda assim, elas estavam entendendo tudo errado.

― Mas, meninas, Darcy e eu não estamos juntos. Na verdade ele mal fala comigo. E-

― Ele fala mais com você do que com qualquer outra aqui... Eu o vi conversando com você no dia da divulgação do resultado, vocês estavam até de mãos dadas! Ele nunca toca em ninguém aqui, Lizzie! ― me cortou Georgette.

― Aquilo... aquilo... Certo, vou explicar tudo. ― comecei. ― Antes de vir para cá eu e meu pai tínhamos acabado de se mudar, mas alguns problemas colocaram a nossa vida de cabeça para baixo e ficamos sem ter onde morar. Sou deprimente, eu sei, principalmente quando quase todos aqui são cheios de dinheiro e até os bolsistas têm alguma coisa. Mas, por ironia do destino, o meu pai e o pai de Darcy sempre foram melhores amigos, o que resultou em um convite para que a gente passasse algum tempo lá até que tudo estivesse resolvido. Como vocês podem ver, sou apenas uma desabrigada e ele não tem nada a ver com isso além de se responsabilizar com algumas coisas por causa da mãe dele que fica sempre no pé. Eu sei o quanto a maior parte aqui liga para status, só espero que vocês não se afastem de mim...

As três ficaram me olhando por um tempo, mas aos poucos pareceram compreender o que eu tinha dito e eu já estava esperando elas começarem com as piadinhas sobre eu não ter nada quando Kitty falou:

― Por Deus, Lizzie, você acha mesmo que a gente se importa com essas coisas? Isso é algo do passado!

― Como assim?

― Isso mesmo que você entendeu. Existe a minoria que ainda dar valor aos que têm status, mas a grande parte dos alunos se importa mesmo é com os primeiros colocados. E você é um deles, mesmo se morasse debaixo da ponte. Desde que introduziram o mural que as prioridades mudaram e os alunos só querem fazer amizade com aqueles que têm alguma coisa significativa para oferecer, já que anda muito difícil conseguir uma vaga em qualquer faculdade que preste. Você entendeu agora? E a Bingley é só uma dessas que vão ter que ir estudar em uma faculdade qualquer porque não se importou com as coisas certas, isso se ela conseguir sequer isso!

― É isso mesmo. ― falou Mary. ― Mas agora vamos embora, porque Educação Física reprova.

Após todas revirarem os olhos e eu ter guardado a foto na minha bolsa, deixamos o vestiário e fomos para a quadra ter a bendita aula que eu menos gostava. No meio da aula, no entanto, Gê machucou o tornozelo e teve que ser levada por Kitty até a enfermaria. Eu gostaria de ir ajudar, mas o professor nos fez voltar a praticar. E aquela era uma aula que eu me sentia muito mal, diferente de Darcy que se saía muito bem em qualquer esporte que o professor resolvesse praticar. Ele era o preferido de todos.

Assim que terminamos a aula eu fui até o vestiário e tomei um daqueles banhos demorados. Era ótimo estudar nessa nova escola, afinal eu me sentia como se estivesse em casa. Mas eu não poderia ficar por ali, certo? Afinal tinha as outras aulas para assistir. Assim que concluí tudo e estava saindo do vestiário, uma mão se fechou no meu pulso e eu me vi sendo puxada na direção contrária a que realmente iria.

― O que aconteceu? ― perguntei assim que vi que era Darcy quem estava me puxando.

― Fique quieta e me siga! ― respondeu irritado.

― Mas você disse para a gente não se falar na escola, os rumores vão se espalhar rapidamente se alguém nos ver.

― Os rumores já se espalharam!

Eu não entendi nada do que ele queria dizer, então fiquei em silêncio e me deixei ser puxada. Quando chegamos ao mural de avisos, que ficava ao lado do de classificação, foi que realmente entendi: várias fotos de nós dois deitados estavam por todo o quadro, com uma enorme no meio de um espaço em branco que continha a seguinte frase: “Lizzie Bennet & William Darcy, um lindo casal que está morando junto”. E, para piorar, vários alunos estavam olhando para aquilo. Oh, meu Deus! Tem como ficar pior?

Tem, pois na frente do quadro estava Mary, Kitty e Gê (com o tornozelo muito bem, obrigada) entregando folhetos com várias fotos de nós dois.

Minha nossa, estou ferrada!

― Er... as meninas... ― tentei começar, mas ele me interrompeu.

― O que suas amigas estão pensando? Isso pode não ser um problema para você, mas definitivamente é para mim!

Depois disso ele começou a se afastar e eu fiquei ali olhando para toda aquela confusão, desejando que pudesse voltar no tempo e deixado aquele envelope em casa.

Depois de tentar me concentrar nas aulas eu tive que eventualmente me encontrar com Darcy, afinal eu devia um pedido de desculpas pelo transtorno que havia causado – que por sinal era muito pior do que o que causei da última vez. Assim que eu me vi sozinha com ele em um dos corredores durante uma aula vaga, aproveitei para dizer rapidamente o que sentia antes que ele achasse que eu estava feliz com o que tinha acontecido.

― Darcy, me desculpe. ― Ele, no entanto, me ignorou totalmente e continuou a andar, mas eu não iria desistir facilmente e voltei a falar enquanto o seguia: ― Eu realmente sinto muito!

― Escreveu uma carta de amor e tentou me entregar em público, então pode não se importar com boatos, mas isso é um enorme incômodo para mim. Por favor, não arruíne a minha vida ainda mais.

― Mas...

― Você me ama, não é? ― indagou. ― Mas eu não... E estou cansado disso!

E se afastou.

Eu fiquei ali tentando entender por que lágrimas molhavam a minha face... eu nunca me senti tão triste.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Darcy foi muito rude? Teve motivo? Foi infantil? Eu tenho a minha opinião, e vocês sabem o quanto compreendo o coitado, mas estou curiosa quanto a de vocês. E algo me diz que vão querer que eu poste o próximo capítulo muito rápido, hein? Haha. xoxo



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