Atraída por um Darcy escrita por Efêmera


Capítulo 7
Perigosa Coabitação ― Parte 4


Notas iniciais do capítulo

Mais um cap para vocês. Espero que gostem!



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Eu tinha saído daquela biblioteca com tanta raiva que nem cogitei pegar os livros que a Georgie me mostrou. Merda! Por esse motivo fui obrigada a retornar (depois de algum tempo, claro) para pegá-los, mas assim que os tinha em mãos pude começar a estudar.

Eu não era nenhuma idiota e conseguia tirar boas notas na minha antiga escola, mas o nível dessa atual era muito alto e estudávamos matérias que algumas escolas deixavam para a faculdade e nem preciso dizer o quanto eu estava perdida!

Mas ainda assim eu tentava.

Eu olhava para os gráficos do James Stewart¹ e tentava entender como iria ler aquilo. Eu sempre fui péssima em ler gráficos.

Olhava para os vetores de Paulo Boulos² e me perguntava por que eu estava realmente estudando ali.

Por que, hein?

Por volta das 22h00, com uma eu esgotada, mas ainda tentando calcular um vetor resultante, ouvi batidas na porta que me despertaram daquele tormento e me fizeram respirar um pouco o ar da liberdade ao abrir e dar de cara com Georgie.

― Eu disse que viria. ― e ali estava aquele sorriso que só a Georgie poderia ter.

― Eu sei. ― Sorri para a minha nova amiga lhe dando passagem e lhe seguindo até a minha cama, onde ela se jogou como se estivesse em seu próprio quarto e eu apenas sentei para conversarmos um pouco.

― Achei que você queria respirar um pouco, mas como anda as coisas? ― Perguntou apontando para os livros.

― Péssimas! Estou perdidona. ― Suspirei.

― Eu até te ajudaria, Lizzie, mas tenho certeza que me sairei pior que você. Desde que saí da escola, há dois anos, que não sou lá muito boa aluna. ― lamentou. Eu me prendi um pouco olhando a expressão de melancolia da minha mais nova amiga, mostrando uma Georgie que eu nunca havia visto antes, mas, antes que pudesse falar alguma coisa, alguém bateu na porta.

― Opa, acho que temos visita. ― brinquei indo até a porta e abrindo. Para minha surpresa quem estava lá era a Sra. Darcy, trazendo em suas mãos delicadas de duquesa uma bandeja contendo três pedaços de torta de chocolate branco que me deixou com água na boca e um livro. ―A senhora está brincando! ― suspirei mirando nas fatias enquanto pensava o quanto poderiam estar deliciosas.

― Eu sabia que seria bem recebida. ― brincou. ― Venha aqui, me ajude. ― E eu assim o fiz, despertando do meu momento e a ajudando com a bandeja e a colocando ao lado dos livros.

― Como a senhora sabia que Georgie estaria aqui? ―indaguei confusa pela quantidade de fatias. Mas ela nem precisou responder, porque Georgiana suspirou e levantou o dedo indicador da mão direita.

― Culpada! ―

― Mas como vai com os estudos, Lizzie? ― indagou a Sra. Darcy, mas quando eu fui responder ela começou a rir e eu fiquei completamente perdida naquele momento louco. ― É tão bom finalmente se sentir uma mãe! ― falou estampando uma expressão de felicidade que me contagiou.

― Como assim? ― perguntei também sorrindo, mas não entendendo o que ela quis dizer.

― Georgie está sempre fazendo regime e não gosta muito de estudar. ― falou e eu olhei para Georgiana, ela apenas continuou olhando para a mãe sorrindo. ― E Fitzwilliam nunca estuda! Então eu nem ao menos consigo fazer um simples lanche para esses intervalos. ― concluiu lamentando e eu quase tive pena, mas, espera...

― O quê? O Darcy não estuda? Mas ele é o melhor aluno da escola! ― exclamei. Como pode ser isso? Eu me mato de estudar e tenho dificuldade, enquanto aquele idiota nunca estuda e acerta 100%? Que mundo injusto!

― Sim, isso é incrível, não é? ― suspirou Georgie que agora estava deitada em uma posição mais confortável na minha cama e olhava para o teto. Dava para ver o orgulho que ela sentia do irmão.

― Mas ele não é nada adorável por causa disso, não é? ― interpelou a senhora Darcy, o que demonstrou o quanto ela esperava mais do filho.

― Mas se ele não está estudando, o que está fazendo? ― indaguei.

― Dormindo, claro. ― respondeu Georgie.

O quê? Ele é mesmo um gênio!

― Você deveria pedir para ele lhe explicar o que não entende, Lizzie. ― tornou Georgie. Sei, como se fosse fácil!

― Vontade não falta. ― murmurei mais para mim mesma do que para elas.

― Mas, Lizzie, por que não descansa um pouco? Tenho algo interessante para lhe mostrar. ― falou a Sra. Darcy mostrando-me o que eu achei que fosse um livro, mas era um álbum. ― Eu sempre quis mostrar isto para alguém. ― lamentou.

― Como se eu já não tivesse visto... ― murmurou Georgie ainda do seu lugar.

―Você não conta, é da família! ―

Deixei as exclamações de surpresa de lado e passei a me concentrar no álbum que a senhora Darcy abria, deparando-me com algumas fotos de uma mulher bem mais jovem, grávida, que me lembrou de ser a senhora Darcy. O volume da barriga, que era bem maior por ser de gêmeos, lhe caiu muito bem e ela estava ainda mais bonita do que nas outras fotos dela também mais jovem que vi pela casa. Como eu gostaria de ficar com aquela aparência...

Mas enquanto foi passando as páginas, novas pessoas foram aparecendo... Tinha o senhor Darcy abraçado a ela e depois ela segurando dois bebês. As fotos eram lindas e eu pude ver o quanto seus filhos a deixavam feliz. Passamos algum tempo olhando as fotos dos recém-nascidos, até que chegamos a algumas onde as crianças tinham em torno de um ano. A essa altura a beleza de Georgiana estava ainda mais destacada. Os fios dourados e os grandes olhos já mostravam a bela mulher que viria a ser.

Mais algumas páginas foram viradas e uma linda moreninha vestida com vestido rosa repleto de babados apareceu. Eu, claro, não consegui me segurar e exclamei com adoração:

― Oh Meu Deus, que coisa linda! Quem é ela? ―

Eu ainda estava sorrindo quando a senhora Darcy veio responder:

― Você acha? ― e se aproximando ainda mais: ― Esse é o Fitzwilliam. ―

― O QUÊ? ― gritei pulando do meu lugar e olhando entre a senhora Darcy e Georgiana, a última nem parecendo ligar para o que era dito. ― Mas ele parece com... uma... uma... uma... ―

― Menina, eu sei, eu sei... É que eu queria tanto uma pequena que não pensei direito. ―

― Mas e a Georgie? ― perguntei ao olhar para a menina que estava deitada despreocupadamente sobre a minha cama e que, agora, devorava um pedaço da torta.

― Você deve estar achando que eu sou uma maluca, mas tudo na verdade foi erro médico. Quando fiquei grávida eu realmente esperava que fosse uma menina, e foi com grande alegria que recebi a notícia de que eu não estava esperando uma, mas duas princesas. Claro, como sempre fui uma compradora compulsiva, tratei logo de encher o armário de roupas que dariam para durar até uns três anos. Então quando nasceram e eu vi que um deles era menino, não havia muito que fazer. Mesmo que eu pudesse abrir mão das roupas, eu ainda não estava muito feliz em ter um menino. Ainda não havia me acostumado com a ideia. Então, mesmo que tivesse comprado algumas roupas para eventos e receber visitas, optei por ter duas meninas, mesmo que apenas em casa. Disseram que isso era normal em algumas mães, já que os hormônios estão nas alturas e elas quase sempre não podem lidar com suas emoções. Eu tentei, mas não conseguia aceitar que a minha outra menininha não estava ali e que eu teria que me contentar com um menino que não desejei. Levou anos até que eu me acostumasse com a ideia, então acredito que não devia ter culpado meus hormônios. Talvez seja por isso que o meu filho seja como é hoje, vivo me culpando por ele não se socializar mais, às vezes até acredito que ele pense que eu não goste dele, embora eu o ame tanto quanto à Georgiana. ― lamentou. Eu apenas a olhei por um momento, não estava acostumada a ouvi-la falar tanto em tão pouco tempo. ― Ele não tem conhecimento desse álbum, destruiu o último e pediu para que não falasse para ninguém... Mas o que fazer quando se tem os negativos? ― completou fingindo um olhar de vítima. Sim, sei...

E foi aí que eu tive a mais incrivelmente brilhante ideia que já me passou pela cabeça. O gênio orgulhoso tinha uma fraqueza, finalmente! Ele passou as últimas horas pegando no meu pé e, se eu não estava enganada, os próximos dias só poderiam ficar piores. Eu não poderia deixar isso acontecer. Sem falar que ainda tinha tudo aquilo que eu precisava estudar. Eu não poderia pedi-lo para me ajudar, já que ele iria recusar e ainda rir da minha cara, o que me obrigava a tomar uma atitude que não me deixava orgulhosa. Mas, vamos ver, quem precisa de orgulho nessas horas?

― É... hm... Essas fotos são tão lindas, me deixam até com saudade, afinal eu perdi todas as minhas lembranças da infância... ― comecei lamentando, sempre funcionava! ― Será que eu poderia ter algumas? ―

~~

Quando a Sra. Darcy e Georgiana saíram do meu quarto já era tarde e eu estava cansada demais para voltar a estudar, então apenas me resignei a ir dormir.

Acordei com o barulho ensurdecedor do despertador e levei um susto quando vi que horas era. Droga! O gênio maldito vai estar com o humor pior do que antes, e com motivo agora! Apressei-me no banho e mais ainda enquanto vestia o uniforme habitual da escola. Agora só faltava tomar o café da manhã, mas eu sabia que não daria tempo.

Desci as escadas correndo, deixei meu material em uma poltrona próxima à escada e fui até o jardim, onde seria servido o café da manhã novamente.

― Bo-bom dia! ― Droga, até gaguejei!

― Lizzie, que pressa é essa? ― perguntou Georgie, mas a Sra. Darcy também me olhava assustada.

― Eu me atrasei, então vim me despedir. ― respondi ainda sem ar.

― Sem essa, há tempo suficiente para se alimentar. Fitzwilliam irá esperar, sente-se. ― interpelou a Sra. Darcy.

― Mas... ―

― Elizabeth, eu já mandei se sentar! ― O tom sério foi suficiente para me causar medo e eu me sentei. Mas ainda levava o copo de suco à boca quando uma voz fria tomou o ambiente:

― Já estou indo, não tenho tempo para esperar pessoas que dormem demais. ― Não precisei olhar para ele, eu sabia que pelo seu tom eu estava em apuros!

― Não, você tem. Sente-se e espere. ― Não sei quem era pior, mas eu iria dar mais crédito a Sra. Darcy.

― Não, eu não vou, mãe. Ela se atrasou e eu tenho um metrô para pegar! ― Fiquei me sentindo péssima, era a primeira vez que eu o via ir realmente contra uma ordem da própria mãe, e isso por minha culpa. Não que ele não fosse contra antes, mas as outras vezes não se comparavam com essa.

― Sente-se, Fitzwilliam, ou você irá se arrepender de ter levantado hoje. Vocês irão de carro hoje, nada de metrô. ― E ele sentou. Bufando, mas sentou. Eu não fazia ideia do que a Sra. Darcy era capaz, mas pela cara de Darcy e pelo silêncio de Georgie eu poderia me guiar e nunca ir contra ela. Foi só quando estávamos todos sentados e eu tentava comer que Georgie voltou a falar, talvez para diminuir o clima chato:

― Conte-me, Will, como vai o nosso primo? Tem meses que ele não me visita, começo até a pensar que esteja com raiva de mim ou algo assim. ― Que primo? Será que era Richard, ou ela tem outros primos?

― Ele me parece muito bem ― e olhando para mim, completou em tom de ironia: ―, vem andando com tão boas companhias que deve ter se esquecido das antigas. ― Eu só revirei os olhos e continuei comendo. Eu sei que eu amava aquele cara e não podia ir contra isso, mas depois do que ele havia falado sobre eu o querer pelo dinheiro me deixou deveras irritada. Ele iria pagar de alguma forma!

― Boa companhia? Estou até chocada! Richard, embora sempre fosse tão amigo de todos, nunca foi de me esquecer. Peça para que me visite, William, pois ele nunca aceita quando o convido. ―

― Ok. Mas como vai o orfanato? Levou as roupas que deixei? ―

― Levei e todos adoraram. Aproveitei até para comprar alguns brinquedos no seu cartão, irmão. Você sabe que o papai me controla demais dizendo que vivo gastando com roupas. Até que eu explicasse, ele já teria pensado horrores de mim novamente. Você não vai se importar, certo? ― implorou batendo os cílios em uma cena digna da Broadway, eu sabia que Darcy iria acabar nem se importando. Cara, aquela família era uma onda.

E, como pensei, ele riu e deu de ombros:

― Eu não posso me importar menos, mas preciso ficar mais atento onde coloco o meu cartão, tenho medo de qual pode ser o seu surto. ― e riu novamente.

Tudo estava ótimo... A comida, o ambiente, quase todas as pessoas... menos Darcy. Ele, como sempre, embora estivesse sendo sincero enquanto conversava com a irmã, ainda estava com raiva de mim. E eu tinha culpa. Por mais que tentasse comer rápido, eu ainda precisei levar meu tempo. Quando terminei de comer uma torrada e uma fatia de bolo de chocolate, que foi o bastante para me sentir bem e ter certeza que poderia ficar em pé até o intervalo, anunciei que já tinha terminado e me levantei. Ele, claro, levantou na mesma hora e me olhou sério. Ah, aqueles olhos...

Foco, Lizzie!

Nos despedimos de Georgie e a deixamos sozinha na mesa, pois a Sra. Darcy tinha terminado um tempo atrás e precisou se retirar.

Pegamos nossos pertences assim que chegamos à poltrona da entrada e entramos no carro um BMW, agora eu sabia! Mas só isso. que nos aguardava na entrada.

― Iremos até a escola hoje, Reynolds. ― anunciou enquanto colocava o cinto.

O trajeto de carro era bem mais rápido do que o de metrô, se considerado tudo o que a gente andava para chegar à escola. Por outro lado, era tão mais agradável do que todo aquele barulho de pessoas falando para lá e para cá. Eu amava andar de metrô, afinal foi ali que alimentei a maior parte da minha paixão pelo cara que está ao meu lado, mas quem é louco de preferir isso a ter um carro com motorista?

Não sei quanto tempo levou, mas eu logo estava com uma dor no meu rosto e um Darcy muito irritado olhava para mim como se quisesse arrancar a minha cabeça.

― Eu sei que você é idiota, mas nunca mais se encoste em mim! ― exclamou se afastando o tanto que o carro permitiu. Meu rosto enrubesceu no mesmo instante e, mesmo morrendo de vergonha, acabei olhando para frente e vi o olhar de pena do Sr. Reynolds (pelo retrovisor) e um de ira do Sr. Ferrars (que havia se virado e nos encarava).

― Com todo respeito, Sr. Fitzwilliam, mas não permitirei que trate a Srta. Bennet de forma tão grosseira na minha presença. Acredito que o Sr. e a Sra. Darcy concordam comigo, então comece a medir as suas palavras de agora em diante. ― Mesmo que eu estivesse com vergonha e temesse pelo emprego do homem, eu não consegui não me sentir grata por sua atitude. Cara, eu nem sabia o que tinha feito!

Darcy, óbvio, não gostou nada daquela intromissão, mas apenas se voltou para mim e falou em tom irônico:

― Ok., se é assim: Perdoe-me, Srta., prometo que a partir de agora, enquanto na presença dos senhores, lhe tratarei com toda cortesia possível. E peço também, se possível, que sempre que desejar dormir, mova-se para o lado oposto ao meu, pois o meu uniforme é sensível à lisozima³. ―

O Sr. Ferrars revirou os olhos, assim como eu e o Sr. Reynolds, e virou-se para frente. Eu estava realmente grata a ele, afinal não era sempre que uma pessoa arriscava o seu emprego para me defender. Sem falar que o cara era lindo e tinha algo em torno de uns 35 anos. Se eu tivesse pelo menos uns 25 anos, e Darcy não existisse, eu iria investir!

Mas eu só tinha 17 anos.

E Darcy existia.

Tentei ignorar ao máximo aquele comportamento e nem vi direito o tempo passar, mas apressei-me em sair do carro assim que ele parou em frente à escola. Bem, eu tentei, porque tive o meu braço esquerdo sendo puxado e me impedindo de sair do veículo.

― Para onde você pensa que está indo? ― falou Darcy, e voltando-se para o Sr. Reynolds: ― Dirija mais uns 10 metros e pare para ela descer, depois continue e me deixe na primeira esquina. ―

― Mas, senhor- ― O Sr. Reynolds tentou falar, mas Darcy não estava para conversa.

― Sem questionamentos, só faça. ― E ficou calado em seu lugar, esperando. Fechei a porta e esperei pelos malditos 10 metros. Quando o carro parou novamente, apenas saí e voltei andando para a escola. Eu não entendia o motivo que o fazia ter tanta vergonha de mim, afinal o que poderia acontecer se soubessem que nossas famílias estavam morando juntos? Eu era tão ruim assim? Confesso que pensei pouco sobre isso, pois assim que cheguei à sala encontrei Richard, e ele tratou logo de mandar pensamentos indesejáveis para longe.

Passamos uma manhã normal, ou pelo menos uma parte dela. Porque logo na terceira aula, que seria de Educação Física, enquanto estava indo até o WC feminino com um grupo de meninas para trocar o uniforme, uma voz chamou meu nome.

― Bennet! ― olhei espantada para a direção de onde vinha o som e fiquei boquiaberta, assim como todos ao me redor: ― Pegue a sua bolsa e venha comigo. ―

O que diabos ele queria comigo? De qualquer forma, eu obedeci; não estava certa se queria a convivência entre nós ainda mais insuportável.

Seguimos até uma sala vazia e um pouco afastada de onde tinha o maior fluxo de alunos. Eu não conhecia nada ali, então não questionei as suas escolhas. Assim que estávamos a sós, ele virou e estendeu uma bolsa rosa muito igual a que eu guardava meu uniforme de Educação Física.

― Acredito que alguém tenha se equivocado ao trocá-los, o que é estranho, pois eu não permito que mexam na minha mochila. ― falou.

― O quê? Trocado? Do que você está falando? ― perguntei confusa.

― Os uniformes. Verifique! ― ordenou com aquela voz que conseguia despertar tanto o amor, quando o ódio. Que raiva! De qualquer forma, cansada da forma que estava sendo tratada, abri minha bolsa e procurei entre os meus pertences pelo tal uniforme. Choque e confusão foram as únicas coisas que chegaram até mim, porque não conseguia entender como o seu uniforme havia vindo parar dentro da minha bolsa. Será que ele pensava que a minha perseguição chegou a tal ponto em que eu ficava armando esses encontros? Ou pior, será que ele pensava que eu queria o uniforme dele para ficar sentindo o seu cheiro?

Bem, até que não seria uma má ideia...

Foco, Lizzie!

Ok, ok... só sei que, seja qual for o pensamento dele sobre mim, eu estava com medo, então apenas lhe entreguei a mochila e evitei olhá-lo nos olhos. Ele pegou seu uniforme e começou a resmungar enquanto me entregava o meu:

― Céus, essas coisas só acontecem porque vamos à mesma escola! ― Eu já estava com todo o meu bom humor esgotado, e isso graças a ele, sem falar que tinha um plano realmente interessante em mente e não iria desistir para ser boazinha!

― Exato! Imagina só se você se engana e veste o meu uniforme escolar, Sr. Darcy? ― indaguei o encarando, mas ele não deve ter notado a minha real intenção, afinal estava muito ocupado verificando se eu não tinha escondido alguma peça, ou até mesmo escrito meu nome para marcá-lo como meu. Ele me conhecia muito bem, hein? Irei lembrar-me disso na próxima vez!

Ele parou com a sua atividade no momento e me olhou perplexo!

― Usar seu uniforme? Por que eu faria algo tão idiota? ― perguntou.

― Bem, porque... ― comecei retirando a foto que eu havia ganhado de dentro do bolso da minha saia: ― existiu um tempo em que você curtia usar saias! ― continuei mostrando a foto e tentando segurar o riso diante do seu assombro. Haha, dois podem jogar esse jogo! E continuando com um sorriso adorável e inocente: ― Você era tão adorável, Sr. Darcy. ―

Agora estava eu, com uma carinha de anjinho olhando admirada para a foto, enquanto esperava o espetáculo que viria a seguir. E ele não tardou a chegar! Pois um Darcy, completamente angustiado, se aproximou mais de mim e segurou a minha mão esquerda que estava sem a foto e perguntou modificando sua face de angústia para raiva:

― De onde você tirou isso? ―

― Sua mãe me deu. ― respondi simplesmente, continuando na mesma posição.

― Devolva-me! ― pediu, olhando-me irritado.

― Claro. ― Lhe entreguei sem hesitar, achando muito engraçado a forma como ele rasgou a fotografia e colocou os pedaços no bolso. Quando se virou para ir embora, no entanto, continuei com o meu jogo: ― Mas o senhor sabe, Sr. Darcy, sua querida mãe, a Duquesa, instalou uma impressora muito boa no meu quarto. ― E ele virou-se. Ótimo, ponto para mim.

― E eu com isso? ― perguntou sério, agora que havia controlado o seu excesso.

― Como o que tem com isso? Você deve saber, afinal tem uma igualzinha no seu quarto... Não que eu entre no seu quarto, mas a sua querida mãe me disse, claro. ― continuei com o meu plano.

― E...? Vamos logo, não tenho o dia todo! ―

― Curioso, curioso... ― comecei novamente, mas logo continuei: ― E o senhor deve saber como essas impressoras de última geração têm uma ótima qualidade... ― Agora que já estava quase chegando ao meu ponto, peguei meu celular e abri no álbum de fotos enquanto falava: ― O scanner então é uma maravilhosa, você acredita que as fotos poderiam ficar com essa ótima qualidade? ― finalizei mostrando o visor do meu celular, onde tinha uma outra foto, igualzinha àquela que ele havia rasgado. Ele olhou-me em choque enquanto absolvia o que eu havia feito. Não era burro, sabia muito bem onde eu queria chegar, afinal um QI de 200 não seria facilmente enrolado por um de 140.

― O que você quer? ― perguntou com uma voz totalmente sem emoção. E eu sorri. Ah! O Gato de Cheshire que me perdoe, acabei de roubar o seu lugar.

~~

¹James Stewart é um professor emérito de matemática muito conhecido por sua série de livros, principalmente de cálculo, que são usados em universidades do mundo todo. Na universidade, os alunos de exatas, quando querem se referir aos livros, geralmente não usam o nome, mas o nome do autor. No caso de Cálculo de James Stewart, eles iriam falar apenas James Stewart ou Stewart, eliminando a hipótese de estar usando um livro de outro autor. Por ser universalmente conhecido, a pessoa acaba sendo bem compreendida.

²Paulo Boulos é um matemático, também professor, bastante conhecido por sua série de livros de pré-cálculo, cálculo e geometria analítica, sendo este último o mais usado nas universidades. Seus livros são bastante valorizados, acontecendo o mesmo que ocorre com os livros de Stewart.

³Lisozima é uma proteína descoberta pelo escocês Sir Fleming, o mesmo que descobriu a penicilina, antibiótico responsável por salvar inúmeras vidas durante a segunda guerra mundial. Pode ser encontrada no muco de animais, como saliva, lágrimas, urina, etc. É ótima para cicatrizar muitas feridas, pois age destruindo a camada protetora das bactérias deixando-as vulneráveis.


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Notas finais do capítulo

E aí, o que acharam? Eu sei que falei que tentaria completar aqui, mas "Perigosa Coabitação" é simplesmente gigante, não tenho culpa se eles não param de brigar. E eu amo explorar essas brigas! haha Até a próxima, anjos. x



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