O dia na padaria foi bem produtivo, conseguimos entregar duas encomendas grandes, tivemos a noticia que a padaria no Sete já conseguiu recuperar o dobro do dinheiro de quando ficou parada e já esta com encomendas também, o que é realmente um bom sinal, como já estamos no fim da tarde todos já estávamos guardando as coisas e eu voltei pro escritório apenas pra guardar uns papéis, ate que bateram na porta.
– Entra! - eu grito enquanto fecho a gaveta e fico em pé.
– Pai? - Pérola abre um pouco a porta e sorri quando me vê, ela para esperando permissão, como se ela precisasse disso, eu sorrio assim que a vejo e vou ate ela.
– Que surpresa, achei que estariam em casa essa hora! - eu falo depois de beijar sua testa, mas o sorriso que ela me dá me chama atenção – Tá tudo bem? Cadê sua mãe? - eu pergunto olhando em volta começando a me preocupar, ela me força um sorriso.
– Ela tá bem – ela garante mas muda o peso do corpo parecendo nervosa com algo - Será que eu posso conversar com você? Mas tem que ser agora! - ela pede meio nervosa enquanto enrola uma revista nas mãos, eu fico atento estranhando essa reação dela, mas recuo um passo e abro mais a porta, antes de entrar ela se vira pra trás.
– Pyter - ela chama pelo irmão que esta rindo com Rory, ele faz sinal pra ela esperar - Pyter agora! Anda logo. Você prometeu - ela fala parecendo realmente ansiosa, ele revira os olhos e se afasta do Rory vindo até nós.
– Pai! - ele me cumprimenta enquanto passa direto e se joga na minha cadeira.
– Quer que a gente espere? - Rory pergunta já que eles já terminaram tudo.
– Não, tudo bem! Podem ir - eu os dispenso e entro no escritório, Pérola e Pyter cochicham algo e quando eu me aproximo eles param e Pérola continua nervosa.
– Ok! Vocês estão começando a me assustar - eu falo enquanto puxo a cadeira ao lado da Pérola e me sento - Tá tudo bem mesmo? Pode me falar... Você sabe que pode me contar qualquer coisa não sabe?
– E por que você acha que a gente ta aqui? - Pyter fala com ironia e Pérola o repreende com o olhar - Não me olha assim não! Só to aqui pro apoio moral - ele fala levantando as mãos.
– O que esta acontecendo? - eu pergunto calmamente mas já ficando realmente nervoso - Foi o Ian? O que ele fez? Ele tentou alguma coisa? É isso? - eu pergunto já me preparando pra matar ele, mas Perola me olha meio horrorizada e Pyter começa a rir.
– Eu disse! Eu sabia que ele ia falar isso - ele fala e Perola acaba soltando um sorriso divertido.
– Não pai! Não foi o Ian e ele não tentou nada! Relaxa, ele é legal, eu já disse isso mil vezes, ele é um perfeito cavalheiro - ela fala e eu respiro aliviado.
– Pro bem dele, espero que sim – eu falo já me permitindo respirar tranquilamente, tirando isso nada mais pode me preocupar tanto, então eu me jogo na cadeira relaxado - Ok! Então manda lá, o que vocês aprontaram dessa vez? - eu pergunto olhando pra eles, Perola se endireita na cadeira, olha pro Pyter que faz sinal pra ela falar.
– Você sabe que eu amo desenhar não sabe? - ela pergunta e eu confirmo, além de amar desenhar ela faz isso com a maior perfeição do mundo - Algumas garotas me pedem pra desenhar alguns vestidos, ate alguns garotos falaram comigo por causa do baile da formatura e tal... - ela começa a explicar mas ate então nenhuma novidade, já sabia de tudo isso - E eu realmente adoro fazer isso! Eu amo mesmo fazer isso pai, e sei lá, acho que é isso que eu quero mesmo fazer... pra minha vida entende? Digo, uma profissão, como você tem a sua... você é o padeiro, dono da padaria e eu... bem, eu realmente quero continuar meus desenhos, de roupas, eu quero ser uma estilista, claro que eu tenho que aprender muita coisa mas é isso que eu quero, entende? - ela pergunta ansiosa.
– E você sabe que eu te apoio, não sabe? Você tem talento e eu nunca ia impedir isso! - eu falo e ela sorri mas não parece aliviada.
– Então... Tava tendo um concurso de desenhos, teriam que ser dois desenhos, dois modelos... um masculino e o outro feminino... - ela fala e olha pro Pyter - Todo mundo disse que eu tinha que participar, mas, sei lá, eu não tinha certeza, até por que com certeza existe muita gente melhor que eu e... não sei, eu acho que fiquei com medo do resultado - ela confessa torcendo os dedos, eu seguro sua mão.
– Você não tem que ter medo! Você é boa. Realmente muito boa e eu não digo isso por que é minha filha não, eu digo por que é verdade! Você tem talento e isso qualquer um pode ver, e mesmo que você não acredite em mim e mesmo que não ganhasse você precisa tentar pra saber! - eu falo e ela concorda.
– Foi isso que a Hazel disse, que todo mudo disse... - ela relembra e continua - Por isso, ela e o Ian me inscreveram no concurso e com a ajuda do Pyter eles pegaram alguns desenhos meus e me inscreveram - ela fala e eu sorrio e olho pro Pyter que sorri orgulhoso.
– Parece que eles são mais espertos que você - eu falo e ela sorri fraco – E então? - eu pergunto ansioso também, ela olha antes pro Pyter, depois respira fundo.
– Fala logo Pérola, já ta me dando sono - ele fala pra Pérola que me olha e solta minha mão, ela volta a falar.
– Como eu tinha dito que não, eles só me inscreveram pra saber ate onde eu iria e por isso não colocaram meu nome... - ela fala e começa a desenrolar a revista que segurava - Eu fiquei como a "A anônima" - ela fala e eu concordo, então ela abre a revista numa folha já marcada, eu pego e percebo que é uma daquelas revistas de moda famosas, um desenho de um vestido cheio de detalhes e curvas delicadas não me deixam duvidas.
– É o seu - eu falo e a olho, ela sorri e confirma, eu volto a olhar o desenho orgulhoso, e leio o primeiro parágrafo.
"De todos os inscritos, de todas as edições já vista, esse ano a maior surpresa veio do Distrito 12 onde uma das candidatas conseguiu a raridade de ser aprovada com a total unanimidade dos jurados que estão até agora impressionados com tanto talento e delicadeza em tantos traços"
– Isso é incrível, meu amor, meus parabéns - eu falo realmente orgulhoso - Isso é... Nossa! Meus parabéns mesmo - eu me levanto e a abraço, ela me abraça mas ainda não parece tão empolgada quanto deveria estar - E por que você não esta orgulhosa de você mesma? - eu pergunto olhando pra ela, então ela pega a revista de novo, vira uma pagina e me entrega apontando para um paragrafo específico que já estava marcado, eu volto a ler.
"Então tudo que podemos fazer é esperar ate a próxima semana onde finalmente iremos conhecer o rosto da nossa tão talentosa e humilde vencedora! "Anônima" a Capital te aguarda e os portões do sucesso estão bem abertos e te esperam ansiosamente!"
– Capital? - eu pergunto confuso e ainda surpreso demais pra conseguir acreditar, ela não fala nada e eu releio, então volto a olhar pra ela, que apenas confirma.
– A premiação é semana que vem, eu tenho que ir até lá! Na Capital - ela fala e aguarda minha reação.
– Na Capital - eu repito com minha cabeça a todo vapor, uma das coisas que eu mais evitei durante todos esses anos era ter eles por lá, no lugar que quase me destruiu, no lugar que ainda aparece nos meus pesadelos, no lugar onde eu quase perdi a Katniss, onde quando ela estava grávida eu jurei nunca mais voltar - Eu sinto muito, eu sinto muito mesmo, mas ... Na capital. Não dá! Nós não podemos ir - eu falo e ela já parecia esperar por isso, eu me aproximo e seguro o rosto dela - Meu amor, eu to muito orgulhoso de você! Muito mesmo! Você ganhou! Unanime, isso é incrível! Mas eu não posso! NÓS não podemos voltar naquele lugar! - eu falo e ela apenas me ouve com atenção - Eu faço tudo por você mas não isso! É pro seu próprio bem, aquele lugar não tem nada de bom, absolutamente nada de bom - eu falo e ela concorda e eu a abraço.
– Só que a gente não tem culpa de nada que aconteceu - Pyter fala e eu o olho, ele está sentado me encarando - Desculpa pai, eu sei o quanto você e a mamãe odeiam a Capital, mas eu não tenho culpa! A Pérola não tem culpa - ele fala e eu libero Pérola dos meus braços.
– Eu sei que não...
– Então ela não pode pagar por isso! - ele fala me interrompendo e isso me pega de surpresa, Pérola parece surpresa também mas não diz nada, Pyter se levanta e se aproxima de nós - Pai, é o sonho dela! E cara, ela é boa pra caramba, ELA GANHOU! Não é justo ela não poder ir - ele fala e mesmo sendo verdade, não concordo - Você sempre disse pra gente que se a gente acredita ou quer mesmo alguma coisa temos que lutar por isso... Eu acredito que ela merece - ele fala e passa o braço pelos ombros dela - Eu acredito que ela merece - ele repete olhando pra ela - Pai, ela é boa! Todo mundo sabe, além do mais, é só uma premiação! A gente não vai morar lá nem nada - ele fala e eu sei que ele esta certo, Perola merece, ela realmente é boa mas são muitas coisas envolvidas - Se você realmente nos ama, você quer ver a gente feliz e ‘’isso’’ vai fazer ela feliz - ele fala e isso me acerta.
– Você quer mesmo ir? - eu pergunto pra Pérola e ela concorda.
– É uma chance única! Eu vou ter mais chance de começar uma carreira de verdade! Essa Premiação é... é incrível, eu vou ganhar todo material, alem de uma equipe confeccionando 10 modelos meu! DEZ modelos pai! E depois eles farão um desfile com as minhas roupas, na televisão, isso é... Eu...eu... Realmente quero muito isso! E é isso que eu quero ser, pai! – ela fala empolgada com os olhos brilhando de ansiedade - Mas... eu entendo se vocês não aceitarem - ela fala mas Pyter nega.
– Mentira! - ele fala e nós o olhamos - Quer dizer, ela é a doce e meiga Pérola, ela vai aceitar e sorrir, mas ela sempre vai pensar como teria sido se ela tivesse ido e talvez um dia culpar vocês se der errado e você também vai fazer isso, então meu conselho é: vamos arrumar as malas - ele fala direto como se ele tivesse décadas de experiências e não apenas 15 anos, os segundos passam e as palavras dele ainda rondam pelo espaço e mesmo odiando a possibilidade de ter eles lá, Pyter também tem razão, é a chance dela, Pérola é ótima no que faz e eu não quero atrapalhar sua vida, pelo contrario, um dos meus objetivos é fazer os sonhos dela e do Pyter se realizarem.
– Você não podia ter um sonho mais fácil? - eu pergunto mas com um tom de leve diversão, Pyter sorri e Pérola da de ombros se desculpando, eu a puxo para os meus braços e beijo sua cabeça - Eu não vou mentir... Eu odeio isso e por mim vocês nunca chegariam nem perto da Capital, mas... Se é esse seu sonho, se é isso que você realmente quer, nós podemos pensar no assunto, mas não é uma decisão só minha! - eu falo e ela sorri mais animada e me abraça mais forte.
– Ótimo, essa foi fácil! Agora só falta convencer a mamãe - Pyter fala e eu não quero nem pensar em quanto vai ser difícil.
– Eu falo com ela! - eu garanto a eles que concordam, eu abro a revista de novo e olho os elogios a ela - Unânime! - eu falo orgulhoso e dessa vez ela sorri orgulhosa.
– Posso pedir só mais uma coisa? - ela pede enquanto já estávamos saindo da padaria, eu indico que ela fale - Ian e Hazel! - ela fala e eu já posso imaginar o que é - Se não fosse eles eu nem teria ganho! Eu queria muito que eles estivessem lá - ela revela e eu concordo.
– Primeiro vamos focar na sua mãe, depois eu resolvo isso - eu falo e ela sorri satisfeita.
– Eu também queria levar o Ryan e Keyse - Pyter fala dando de ombros.
– Ryan e Keyse? - eu pergunto olhando pra ele que concorda naturalmente - Eu não sei se é seguro colocar vocês três em um trem! Além do mais seu tio Benny não ia deixar - eu falo e ele revira os olhos.
– Claro que deixa! É só a Pérola pedir com jeitinho - ele fala e balança uma mecha do cabelo dela, que o olha - Eu te ajudei! Você me ajuda! Pra isso servem os irmãos - ele fala e pisca pra ela que não nega.
– Posso saber por que você quer tanto levar a Keyse? - eu pergunto e ele tenta parecer sem interesse, ele dá de ombros e coloca as mãos no bolso.
– Ela é minha amiga! A gente estuda junto e eu acho que se é pra ser uma excursão eu também posso levar alguns dos meus - ele fala mas não olha pra mim.
– Amiga? - eu pergunto e dessa vez ele me olha, eu sorrio, mas faço sinal de negativo - Você pede! - eu falo e ele estava prestes a negar - Você quer ela lá, você peça - eu aviso e ele mesmo parecendo contrariado concorda.
Nós chegamos a aldeia e eu começo a ficar preocupado de novo com a conversa que terei com Katniss, eu tenho certeza que não será nada fácil convencer ela a aceitar algo assim, e talvez nem mesmo seja possível, mas eu prometi a eles e eu vou tentar, nós entramos em casa e Haymitch esta saindo do corredor e voltando pra sala.
– Vô! - Pérola é quem vai ate ele, abraça e o beija, depois ele se joga na poltrona e faz sinal pra Pyter se aproximar e ele rapidamente obedece.
– E você garoto? Não quer um beijo também? - Haymitch pergunta com ironia abrindo os braços pra mim.
– Dispenso - eu falo fazendo uma careta, ele ri e dá de ombros.
– Ela ta na cozinha e acho melhor você correr por que já tem um tempo que não ouço nada - ele fala fazendo uma cara de assustado, mesmo rindo Pérola o reprova e ele faz uma careta a puxando pra mais perto dele, eu os deixo na sala e entro na cozinha, Katniss está na pia cortando alguns temperos, de forma bem concentrada, eu me aproximo devagar e coloco minha mão na sua cintura, ela se assusta e vira o rosto rápido demais.
– Droga Peeta, que susto - ela fala soltando a faca na pia.
– Desculpa! - eu falo levantando as mãos - Achei que você tivesse me ouvido - eu falo já que ela sempre me escuta quando me aproximo, ela passa a mão pelo rosto se acalmando.
– Eu só... Tava distraída - ela fala e se vira de frente pra mim.
– Aconteceu alguma coisa? - eu pergunto preocupado, mas ela logo nega, coloca uma mão no meu ombro e a outra na minha cintura.
–Eu só... Só me distrai - ela reforça mesmo que não pareça convencida, mas antes que eu pudesse perguntar de novo ela me beija, um beijo calmo e lento mas que pareceu acalma-la.
– Já que você chegou... - ela fala e me entrega a faca que estava na pia - Eu preciso de um banho, passei o dia na rua - ela fala me dando um sorriso desses que ela só usa quando quer alguma coisa, eu sorrio, lhe dou mais um beijo rápido e concordo, por que hoje foi um dos dias da distribuição e ela parece mesmo cansada.
– Eu cuido do restante - eu falo e ela sorri satisfeita, me beija rapidamente e sai da cozinha apressada, eu a olho saindo, sorrio mas meu sorriso se fecha quando eu lembro da conversa que ainda iremos ter, por isso eu volto logo pra terminar o jantar, como ela já havia feito a maior parte eu não demoro muito e antes que ela desça eu termino, Haymitch entra na cozinha quando eu estava tampando a última panela.
– O que eles tem? Estão com cara de culpados - ele fala se aproximando de mim e destampando a panela.
– Eles ainda não te contaram? - eu pergunto estranhando, já que geralmente eles contam tudo pro avô, mas quando ele sorri orgulhoso, eu sei que já contaram.
– Só achei que você não soubesse ainda - ele fala satisfeito e jogo um pedaço de batata na boca, eu forço uma risada.
– Sim. Eu já sei - eu falo e ele me encara esperando que eu diga algo - Mas a decisão não é só minha! Eles não são só os ‘’meus’’ filhos - eu acrescento e ele concorda pensativo.
– É claro que não - ele fala e então se afasta saindo da cozinha, ele mal sai do espaço e Katniss aparece.
– Ta pronto? - ela pergunta entrando na cozinha e se aproximando de mim.
– Só falta arrumar a mesa - eu falo já pegando os pratos, nós arrumamos a mesa e chamamos eles que logo aparecem, nós nos servimos e jantamos juntos.
– Ok, quem vai me falar? - Katniss pergunta quando termina de comer.
– Falar o que? - eu pergunto mesmo que também tenha percebido o silencio nada comum durante o jantar, ela me encara esperando a resposta.
– Por que vocês não vão escovar os dentes e se arrumar pra dormir? - eu pergunto e eles concordam sem discutir, dão os beijos de boa noite e sobem.
– Eu também já vou indo - Haymitch fala e se levanta ja saindo da cozinha, eu junto os pratos e levo pra pia.
– O que ta acontecendo? - ela pergunta me parando no caminho de volta pra mesa, eu paro enquanto tento achar a melhor maneira de contar – Vocês estão me escondendo alguma coisa – ela constata me encarando - Peeta! - ela me apressa e cruza os braços, o que me mostra que eu não tenho muito tempo, então decido contar logo, faço um resumo sobre a historia do concurso e digo que Pérola venceu.
– Oh meu Deus. Isso é incrível! Unanime - ela fala impressionada - Ela tem seu talento - ela acrescenta sorrindo orgulhosa.
– Eu não sou um estilista - eu falo implicando com ela, que sorri e me da um beijo rápido.
– Mas ela desenha e você também. Então... - ela fala e da de ombros, mas eu ainda me incomodo com a segunda parte e ela percebe.
– E por que vocês não me contaram logo? - ela estranha e coloca as mãos no meu ombro me olhando com atenção.
– Por que tem mais uma coisa - eu falo receoso e ela espera que eu conte - Pra que ela realmente seja considerada a vencedora, tem que ir na premiação! Então ela ganha - eu falo e ela parece confusa.
– Tudo bem! Quando é? - ela pergunta parecendo ate animada.
– Semana que vem - eu falo e ela concorda ainda sorrindo.
– Ótimo e precisa de alguma roupa especial pra isso?
– Eu não sei! Mas o problema não é esse... A premiação é... na Capital - eu falo diretamente e ela para assustada, seu olhar parece incrédulo.
– O quê? - ela pergunta parecendo ter ouvido uma sentença de morte.
– A premiação é semana que vem na Capital - eu falo e ela recua um passo.
– Isso é algum tipo de brincadeira? - ela pergunta me encarando e eu nego - Ela não vai pra lá! NÓS não vamos pra lá! Isso não deveria nem estar em discussão - ela fala começando a ficar nervosa.
– Mas eu não estou discutindo, só estou conversando... – eu falo tentando manter o clima mais leve.
– Não Peeta! Não, nem mesmo em uma conversa! - ela me interrompe e afasta minha mão quando ameaço encostar nela - Meus filhos não vão pra aquele lugar - ela repete tentando manter a calma.
– Mas e o que ela quer? - eu falo tentando argumentar.
– O que ela quer? Peeta, por favor, ela não sabe o que quer! Ela é uma criança! Não sabe de absolutamente nada - ela fala mais alto.
– Isso não é verdade! Você mesma me disse isso quando eu quis proibir o namoro dela! - eu argumento e ela solta uma risada nervosa.
– Aah eu não acredito que você quer comparar algo assim! - ela fala passando as mãos pelo cabelo - Um namoro Peeta! Isso não tem nada a ver com a exposição que eles irão ter por lá - ela fala apontando na direção da porta - Você parou pra pensar nisso! No inferno que vai ser assim que eles descobrirem que nós estamos lá, que ELES estão lá? - ela pergunta ainda mais nervosa - Eles não vão pra lá - ela conclui me olhando fixamente.
– Eu sei que não vai ser fácil, mas nós não podemos manter eles trancados aqui pra sempre - eu falo e ela nega.
– Mas eu também não preciso jogar eles lá - ela retruca sem parecer pensar em outra decisão.
– Katniss, me escuta... Eu também não queria isso! Pensar neles naquele lugar é difícil pra mim também, mas Pérola ganhou! É um direito dela, ela fez por merecer! Nós não podemos simplesmente privar ela disso - eu falo e ela apenas balança a cabeça varias vezes seguidas - Ela mesmo já disse, é isso que ela quer! Desenhar. E essa é uma oportunidade única na vida dela! - eu falo e me aproximo dela - Ela conseguiu isso por mérito próprio, não usou nosso nome, não precisou de nosso apoio! Ela simplesmente mereceu ganhar! - eu completo e espero ela dizer algo, os segundos passam e então ela finalmente me olha, seu olhar se fixa ao meu, completamente decidido.
– Não! - ela fala e me da as costas saindo da cozinha, eu solto o ar e então vou atrás dela.
– Katss... - eu a chamo e a seguro pelo braço.
– Eu disse não Peeta! Não! Você não pode decidir isso sozinho, são meus filhos também, e a minha resposta é não! Não me interessa o que você pode me falar, nada vai mudar, eu disse NÃO e essa é minha resposta - ela garante nervosa e assustada, por mais que eu também concorde com ela me sinto dividido, por que um lado meu quer oferecer tudo pra eles, quer que Pérola vá e tenha o melhor, o que ela merece, mas ao mesmo tempo gostaria de mantê-los o mais longe possível da Capital, e é essa indecisão que me rouba as palavras e sem ter argumento eu simplesmente solto seu braço e a deixo subir as escadas de novo, eu fico parado olhando ela sumir dentro do nosso quarto e acabo sentado no degrau da escada, aperto as mãos na cabeça e tento me encontrar entre essa bagunça de pensamentos. Não consigo simplesmente concordar em levar eles lá sem sentir todos os meus pesadelos prestes a se tornar realidade, o país mudou, as coisas mudaram, eu sei, eu vejo tudo isso durante esses anos, mas são meus filhos, é meu dever afastar eles de qualquer coisa que possa ameaçar eles, e Katniss está certa quando diz que eles estarão totalmente expostos lá, Pérola pode estar inscrita como uma "anonima" mas no momento em que ela pisar na Capital não haverá uma única câmera que não se voltará pra ela, alem da vencedora de um dos maiores concursos de moda, ela será a filha dos "amantes desafortunados", ninguém vai querer perder isso, já posso imaginar as centenas de câmeras tentando conseguir um único movimento dela, e apenas isso me angustia, Katniss esta certa. Não posso simplesmente jogá-la no meio disso, nem mesmo Pyter, eles terão que entender. Muitos minutos depois e com a decisão tomada eu me levanto e subo as escadas pro quarto deles, eles ainda estão cumprindo o castigo de dividirem o quarto por isso vou direto para o quarto da Pérola, Bato uma vez e abro a porta, Pyter esta na cama enquanto Pérola tentar empurrar ele.
– Ah ótimo! Pai manda ele sair - ela fala assim que me vê, eu sorrio e me aproximo da cama.
– Eu preciso falar com você - eu falo e ela se atenta e para de empurrar ele, ela se apóia nos joelhos e me olha curiosa, Pyter também me olha curioso - Eu falei com a sua mãe - eu falo e ela se atenta ainda mais - Eu sinto muito! Nós não vamos - eu falo diretamente e posso ver a decepção nos olhos dela.
– Por que? - é Pyter quem pergunta, ele se sentou na cama e me olha parecendo mais decepcionado que Pérola.
– Por que a resposta final é não! Eu conversei com a sua mãe e nós concordamos que lá não é lugar pra vocês - eu falo e ele revira os olhos empurrando o lençol das pernas dele.
– Grande novidade... Vocês nunca acham nenhum lugar bom pra gente! Só aqui... - ele fala e abre os braços - O bom e velho Distrito Doze onde a coisa mais animada que acontece é a nevasca no inverno - ele fala com ironia.
– Pyter - Pérola o repreende mas ele não escuta.
– Não Pérola, é com eles que você tem que reclamar não comigo! A gente nunca pode fazer nada! - ele reclama jogando as pernas pra fora da cama.
– Isso não é verdade e garanto que a diretora da escola concordaria comigo - eu falo e ele se levanta num impulso rápido.
– E fora a escola? O que mais tem aqui? - ele pergunta me encarando - Nada! Fala sério pai, a gente demorou anos pra ir ver o mar e foi incrível, você mesmo disse, foi um dos melhores dias da minha vida! E durou anos pra que vocês levassem a gente até lá... Quantos anos a gente tem que esperar pra conhecer outras coisas? - ele pergunta parecendo realmente chateado.
– Você fala como se fosse muito velho pra esperar mais algum tempo - eu falo brincando com ele, tentando manter o clima mais calmo.
– Eu não! Mas você sim! A mamãe e o vovô também! - ele fala e mesmo sem explicação, sei onde ele quer chegar.
– Pyter chega! Tá tudo bem, terão outras oportunidades - Pérola fala quando percebe o que ele ia dizer.
– Não, Pérola! Não tá tudo bem! Eu quero ir... Eu quero muito ir, eu quero ver outros lugares, quero conhecer mais pessoas, eu quero ver o mundo fora da cerca do Distrito Doze... eu quero viver! - ele fala mais alto e Pérola se cala, assim como eu - E eu quero fazer isso com vocês - ele completa e me olha quase como um pedido - Eu quero muito mesmo pai - ele acrescenta e novamente eu poderia aceitar isso agora, fazer qualquer coisa que eles quisessem por mais difícil que seja pra mim, desde que os sonhos e vontades deles estejam feitas, mas não é tão simples.
– Você não tem noção do que é aquele lugar - eu falo como um pensamento alto - Eles não se importam com nada, com ninguém...
– Isso foi a 30 anos pai - dessa vez é Perola quem me interrompe, eu paro de falar e a olho.
– Não - eu falo e Pyter resmunga - Eu disse não! Vocês podem gostar ou não, aí é com vocês... - eu falo mais firme, eles parecem surpresos mas não dizem uma única palavra, eu me levanto e vou pra porta - Boa noite - eu falo antes de fechar a porta, eu paro no corredor e passo as mãos pelo cabelo me recuperando, depois vou pro meu quarto e me jogo sentado na cama, Katniss esta no banheiro e eu apenas encaro o guarda roupa a frente, ouço a porta do banheiro abrir e a vejo saindo ainda com o roupão e cabelo enrolado em um coque desajeitado, ela me olha por alguns segundos e percebe meu humor.
– Você foi falar com eles? - ela pergunta se aproximando e se sentando ao meu lado, eu confirmo com a cabeça - Eles não ficaram felizes né? - ela fala e eu a olho com um sorriso meio cansado.
– Ficaram totalmente o contrario de felizes - eu falo e ela me olha pensativa - Será que a gente ta fazendo o certo? - eu pergunto e ela solta o ar cansada, e apoia a cabeça no meu ombro.
– Eu não quero eles naquele lugar! - ela fala baixo e assustada.
– Se passaram 30 anos! Talvez não seja tão ruim - eu falo e ela levanta o rosto e me olha.
– Foi lá que eu quase te perdi, foi lá que eu perdi a Prim! Existe algum jeito daquele lugar não ser ruim? - ela pergunta já com lagrimas nos olhos, eu nego e a puxo para os meu braços, beijo o alto da sua cabeça demoradamente e a aconchego em mim.
– Eu amo vocês - eu falo baixo enquanto a mantenho encostada em mim, ela permanece assim alguns segundos e então se solta de mim.
– Você deveria tomar um banho - ela sugere e eu concordo, me levanto e vou pro banheiro.
A água que cai na minha cabeça não ameniza em nada a dúvida que ainda me queima por dentro, não sei o que fazer, por mais que eu queira me convencer de que essa é a decisão certa, o olhar decepcionado deles e o meu desejo de entregar tudo a eles me faz duvidar, e eu acabo saindo do banho com os mesmos pensamentos de antes, eu visto uma calça de moletom e enxugo meu cabelo, fecho as cortinas, apago a luz e vou pra cama onde Katniss já esta deitada, assim que eu me acomodo no meu travesseiro ela se vira e vem ate a mim, o braço passando pela minha barriga e a cabeça se encaixando sobre meu peito, sua perna se encaixa entre as minhas e sua respiração acompanha a minha, meus dedos acariciam suas costas enquanto seu corpo relaxa sobre o meu e é apenas essa a sensação que consegue afastar por alguns minutos meus pensamentos, eu me concentro apenas nela ali, junto de mim e no quanto eu tenho sorte de tê-la, de ter a nossa vida e nada no mundo me faria mais completo do que isso, do que ter eles, então eu volto a minha indecisão, eles são tudo de melhor que eu tenho e meu maior desejo é dar a eles tudo que eu puder, ver eles felizes e realizados é a meta da minha vida, e isso não combina em absolutamente nada com o olhar que eles estavam quando eu sai daquele quarto, por mais que eu repita que é pro bem deles, ainda não consigo me convencer disso e é essa dúvida que me mantém acordado, eu vejo o ponteiro andar e as horas passando e ainda assim não consigo dormir, mas permaneço deitado por que Katniss esta deitada quase sobre mim.
– Você devia dormir sabia - ela fala e me desperta dos meus pensamentos - Ou pelo menos parar de mexer a perna - ela acrescenta e levanta o rosto pra me olhar.
– Desculpa! Tô sem sono - eu falo e ela me olha alguns segundos, então se arrasta na cama ficando ao meu lado, apoiada nos travesseiros, ela não diz nada apenas permanece me olhando esperando que eu fale.
– Você não viu eles... O olhar deles! - eu falo revelando o que esta me tirando o sono - Eles realmente querem isso! Pérola estava animada e Pyter ainda mais do que ela, quando eu disse que não iríamos foi como um puxão de tapete - eu continuo e ela permanece sem dizer nada, eu me viro mais pra ela e seguro sua mão - Eu sei que você ta pensando no melhor pra eles e eu também, mas Katss, também temos que levar em conta o que eles querem, o que pretendem fazer da vida deles, e essa premiação é o que Pérola quer pro futuro dela, ela estava orgulhosa dela mesma, de ter conseguido algo assim e é realmente fantástico, ela ainda é tão nova e já conseguiu algo assim por mérito próprio e ela mereceu isso! Eu só acho que nós não podemos simplesmente privar ela disso! - eu concluo e espero ela dizer algo.
– Eu só quero proteger eles - ela fala e eu concordo.
– E eu também! Tudo que eu mais quero na minha vida é protegê-los, mas o tempo passa Katss, eles vão continuar crescendo, a vida vai continuar avançando e nem sempre nós estaremos do lado deles, eles terão as próprias lutas, e como eles irão lutar se nós os escondemos da vida? Eles são quem são, são nossos filhos, é ilusão pensar que estaremos protegendo eles, escondendo eles de todos, por que a verdade é que nem conseguimos fazer isso, todos sabem quem eles são! Na verdade acho que pode ser exatamente o contrário... - eu falo e ela me olha confusa - É como quando eles pediam pra ver o mar, nós adiamos por anos e quando fizemos eles nunca estiveram tão feliz! Nós achamos que estávamos protegendo eles deixando eles aqui, evitando exposição e no entanto, eu nunca tinha visto eles tão animados! - eu falo me lembrando ainda do sorriso deles quando viram o mar pela primeira vez.
– Nós não estamos falando do Distrito Quatro! Lá é a Capital - ela fala receosa.
– E nós estaremos com eles! Nada de ruim pode ou vai acontecer! Eu nunca permitiria - eu afirmo e ela ainda parece indecisa - É claro que a exposição lá será maior, mas não será nada que eles não possam aguentar, principalmente Pyter - eu falo com um sorriso fraco, já que provavelmente ele iria amar a atenção.
– Eu... Eu não sei! - ela gagueja parecendo enfrentar o mesmo dilema que eu.
– Só pensa nisso, por favor... pode ser? - eu peço e ela concorda, eu forço um outro sorriso e beijo sua mão e depois deus lábios - Hora de dormir - eu falo e a puxo para os meus braços, ela não tenta resistir e logo se acomoda em mim, eu ainda fico acordado por muito tempo e então de alguma maneira pego no sono, quando abro os olhos a cama está vazia, eu me remexo e vejo Katniss saindo do banheiro, mas ela para encostada na porta, apoia a cabeça pra trás e fecha os olhos parecendo tomar o ar.
– Katss... - eu chamo por ela enquanto me sento na cama preocupado, assim que ouve minha voz ela endireita sua postura - O que houve? - eu pergunto já de pé indo até ela.
– Nada! Eu só... só tô com uma dor de cabeça chata - ela fala passando a mão pela testa, eu coloco minha mão sobre a dela e a olho com atenção.
– Só isso mesmo? Tem certeza? - eu pergunto e ela confirma – Você tá gelada – eu falo preocupado e ela se esquiva de mim.
– Acho que eu não dormi direito - ela fala e isso é verdade, algumas vezes ela se mexeu e parecia meio agitada demais, e eu entendo perfeitamente o motivo.
– Eu vou pegar um remédio - eu falo já me afastando.
– Não precisa! Daqui a pouco passa! E você sabe que eu odeio tomar essas coisas - ela fala e eu sorrio.
– Só que essas coisas tiram ‘’essas’’ dores - eu falo colocando o dedo encostado na testa dela e faço uma careta, ela revira os olhos e afasta minha mão.
– Eu vou sobreviver - ela fala e me da um beijo rápido, eu levanto as mãos em rendição - Eu preciso ir no mercado! E tô sem dinheiro - ela avisa e eu concordo já pegando minha carteira, tiro as notas de dentro e entrego a ela, que faz uma careta - Eu não estava planejando comprar o mercado inteiro - ela fala me devolvendo metade do dinheiro, eu nego e fecho ainda mais a mão dela no dinheiro.
– Nunca se sabe, vai que ele está num preço bom! - eu falo implicando com ela, que revira os olhos mas aceita o dinheiro, eu sorrio satisfeito e a beijo, quando ela ia se afastar, eu a seguro pela cintura e aumento o beijo que logo é correspondido, até que a porta de abre sem anúncio e nos faz parar o beijo, Pyter para na porta nos olhando.
– Eu achei que tinha ensinado sobre bater na porta - eu falo e ele permanece sério.
– Bom dia, só vim avisar que a gente já ta saindo - ele fala mas de forma quase fria, Katniss estranha e se aproxima dele.
– Você e Pérola já brigaram? - ela pergunta e ele nega já se afastando.
– E eu tenho treino depois da aula - ele avisa já indo para as escadas e Perola sai do quarto e segue pra escada também.
– Bom dia! - ela fala nos olhando rapidamente - Tchau! - ela fala já descendo as escadas e então sem acrescentar nem mais uma palavra nem um sorriso, eles saem de casa, Katniss se vira pra mim parecendo realmente não entender.
– Eu disse que eles querem ir! Só estão mostrando o quanto não estão satisfeitos - eu falo e ela parece surpresa - É direito deles não estarem felizes - eu falo e ela parece pensativa, então ela volta pra dentro do quarto passando por mim e indo direto pro banheiro, eu também volto pro quarto e enquanto ela está no banheiro eu arrumo a cama, quando ela sai eu me viro pra ela que parece pensativa demais – Pensa sobre isso, eu realmente acho que nós podemos fazer isso sem colocar eles em risco – eu falo e ela apenas me olha com atenção.
– Eu já tenho que ir – ela fala e se aproxima de mim me dando um beijo rápido.
– Eu te amo – eu falo assim que nossos lábios se separam, os dedos dela passam pelo contorno do meu rosto e ela me dá outro beijo e se afasta saindo do quarto, eu pego minha calça e entro no banheiro, tomo um banho rápido, me arrumo e saio pra padaria, todos já estão trabalhando e eu também tenho minhas ocupações que mal me deixam ver as horas passando até que nosso estoque da manhã acaba e nós paramos para o almoço, estava voltando pra dentro da padaria pela porta dos fundos quando vi Katniss parada na cozinha.
– Eu já tava indo pra casa – eu falo e me aproximo mantendo minhas mãos afastadas pois estão sujas de farinha, ainda assim isso não impede de eu beijá-la.
– A gente tem que conversar – ela fala quando nossas bocas se separam.
– Claro – eu concordo já sabendo o assunto.
– Patrão chega aqui rapidinho – Benny pede colocando a cabeça dentro da cozinha.
– Te espero no escritório – ela fala e eu concordo, vou até o Benny e ele me mostra o livro de encomendas onde teve uma pequena confusão com as datas e nomes, mas consigo organizar rapidamente, então o dispenso para o almoço, ele fecha a porta quando sai e ficamos apenas Katniss e eu na padaria, eu vou pro escritório e ela está em pé em frente a janela com os pensamentos perdidos, eu entro devagar mas ela vira o rosto pra mim, eu fecho a porta e paro com as mãos no bolso olhando pra ela.
– Talvez você tenha razão – ela fala e se vira pra mim cruzando os braços, eu espero que ela continue – Nem sempre nós estaremos aqui – ela fala parecendo preocupada – Eles tem que aprender a lidar com essas situações e trancados dentro de casa ou aqui no Distrito eles nunca conseguirão aprender – ela fala e eu concordo mas me mantenho sem dizer nada, então alguns segundos de silencio se estendem – Nós podemos ir, mas eu quero passar cada segundo do lado deles, e eu tenho uma serie de regras e ordens que eu não abro mão – ela fala e mesmo sem parecer feliz com a decisão, eu sorrio e me aproximo dela, passo meus braços em volta da sua cintura e antes que ela começasse todas exigências eu a beijo e ela não tenta me impedir.
– Vai dar tudo certo – eu garanto com o rosto ainda próximo ao dela.
– Claro que vai, é por isso que nós teremos uma reunião de família hoje a noite – ela fala parecendo uma forte negociadora, eu concordo e a beijo mais uma vez, nós saímos da padaria e vamos para casa, no caminho ela me explica que Pérola ligou pedindo pra ir para Hazel e ela deixou e Pyter está no treino então eles só irão chegar em casa no final da tarde, por isso temos tempo de sobra, segundo ela, pra conversarmos antes deles chegarem e quando ela disse conversar na verdade quis dizer que eu deveria me sentar e ouvi-lá por quase uma hora inteira antes mesmo de dizer alguma palavra e eu nem ao menos tentei, apenas fiquei ali sentado com ela anotando desesperadamente tudo que ela julgava necessário, ou seja, tudo. Não sei desde quando ela estava pensando no assunto mas ao que parece ela pensou em tudo, desde nossa ida até o momento que colocamos os pés em casa de novo, ela falou sem dar nenhuma pausa, sempre pensando em como evitar que eles se exponham ou que algo dê errado, e onde ficariam e como deveriam agir caso fossem parados por alguém, sua voz não tinha nem sombra da animação de Pérola e nem um pingo de alegria mas lá estava ela completamente concentrada na sua missão que era manter eles o mais seguro possível e eu realmente concordei com o que ela falava , e talvez por perceber que já tinha falado tudo ou por achar que eu devesse ter alguma participação, ela me deixou falar, eu contei a ela que eles queriam levar os amigos, ela pareceu meio incerta mas depois de pensar, achou que isso fosse algo positivo por que talvez eles ficassem entretidos entre eles e não prestassem atenção em outras coisas, resolvido esses pontos, passamos para os quartos que obviamente deviam ser próximos ao nosso, decidimos que ficaríamos no antigo centro de treinamento, por que será mais fácil de conseguir um andar inteiro, pra isso teremos que contar com Haymitch já que pra mantermos a exigência numero um da Katniss ninguém deveria saber que estávamos indo pra lá, nem que estaríamos por lá, até o momento inevitável quando Pérola tivesse que aparecer. Eu não voltei pra padaria e nós passamos o resto da tarde revendo cada detalhe pra que possamos passar tudo pra eles sem nenhuma complicação, Katniss ainda não estava animada com a decisão e honestamente acho que nunca ficará, mas a decisão já estava tomada. Pyter chega primeiro em casa e depois de murmurar um ‘’Oi’’ ele sobe correndo e bate a porta do quarto, nós esperamos até Pérola chegar pra chamarmos eles pra conversar, eles descem sem nem nos olhar direito, Pyter para na minha frente e apenas espere que eu diga.
– Nós vamos – eu falo e ele parece não acreditar mas o sorriso cresce rapidamente, ele olha pra Pérola que ainda esta entendendo a situação.
– É sério? Nós vamos mesmo? – ela pergunta me olhando confusa.
– Mas nós temos uma longa lista de regras antes, qualquer cara feia ou reclamação, nós paramos e o assunto está encerrado – eu aviso e ela sorri animada e praticamente se joga nos meus braços agradecendo.
– Obrigada. Obrigada. Isso é demais – ela fala depois de me soltar e abraçar Katniss que força um sorriso, Pyter também se anima, então nós nos sentamos pra começar a conversa e assim como tinhamos pedido Haymitch aparece pra participar, a conversa é longa e cheia de perguntas como: ‘’Mas por que?’’ ‘’A gente tem mesmo que fazer isso?’’ mas logo eles se desculpavam e continuávamos todas as instruções, algumas horas depois e com todas as duvidas respondidas, nós estávamos indo pra cama, com eles praticamente saltando de alegria e ansiedade, Pérola já estava preocupada em que vestido usaria e avisou ao Pyter que ela escolheria a roupa dele e as nossas também para o dia da Premiação, mas se Pérola e Pyter eram o retrato da animação e entusiasmo, Katniss era exatamente o oposto, o sorriso forçado nem ao menos conseguia disfarçar toda a nuvem que estava encobrindo seus pensamentos e mesmo que eu não a conhecesse tão bem teria percebido, assim que eles subiram animados com os planos em formação ela fechou os olhos e inspirou lenta e profundamente, eu me aproximo dela e deixo meus dedos escorregarem pela lateral do seu rosto e se prenderem a uma mecha de seu cabelo, seus olhos permaneceram fechados por mais alguns segundos e quando se abriram apenas carregavam a mesma angústia de antes.
– Você quer que eu te prepare um banho? - eu pergunto tentando de alguma forma ser útil, ela concorda com a cabeça e fecha os olhos mais uma vez.
– Eu só tenho que ver uns papeis que eu deixei no escritório - ela fala passando a mão pelo cabelo, mas alguma coisa em seu jeito me alerta, fora toda a angustia da viagem ela parece estar com alguma outra preocupação.
– Katss... Tem alguma coisa acontecendo? - eu pergunto enquanto seguro sua mão.
– Claro que tem! Na próxima semana nós estaremos indo pro ultimo lugar que eu gostaria de ir. E com nossos filhos - ela fala com todo desprezo que ela tem - Precisa de mais alguma coisa? - ela pergunta me encarando, eu nego.
– Eu vou preparar seu banho - eu falo sem querer iniciar uma discussão, sei o quanto ela esta insatisfeita com isso e tentar convencê-la que tudo esta bem só irá irritá-la ainda mais, depois de tantos anos juntos você começa a entender o outro, e eu sei que nesses casos não tem nada que eu possa falar, ela se entende melhor sozinha, por isso quando ela se afasta e segue o corredor eu a deixo ir e subo as escadas para o nosso quarto, entro no banheiro, coloco a banheira pra encher e paro na frente do espelho, se eu achava que apenas Katniss estava com a aparência angustiada descubro que eu mesmo estou assim, meu rosto parece tão apreensivo quanto me sinto por dentro, tão ansioso quanto poderia estar numa situação dessa, por que por mais que eu mesmo tenha conversado com Katniss e tentado tranquiliza-la, ainda tem uma parte minha que concorda quando ela diz que eles nunca deviam colocar os pés naquele lugar e eu queria poder não permitir isso, mas nem sempre esconder e afastar eles do mundo é a solução pra tudo, eu realmente acredito em tudo que eu disse a Katniss, nós nem sempre estaremos aqui e não podemos manter eles longe de tudo, eles precisam conhecer o mundo e com o que podem lidar e agora é um desses momentos. Eu tiro a camisa e a jogo no cesto que fica no banheiro, me livro da minha calça e da cueca e entro no box, a agua morna é bem vinda e pelo menos por alguns minutos consegue relaxar meus músculos e me deixar um pouco menos tenso, eu deixo minha cabeça debaixo da agua e apenas fico ali, como se isso fosse afastar meus pensamentos, o que eu acabo percebendo ser uma ilusão, esse não é um dos assuntos que eu posso simplesmente fechar os olhos e esquecer. Quando fecho o chuveiro percebo que a banheira também já esta cheia, eu a fecho, jogo o liquido e sais, e enrolo a toalha na cintura, saio do banheiro e encontro Katniss entrando no quarto.
– Eu já ia te chamar! O banho ta pronto - eu falo e assim que as palavras saem da minha boca percebo que tem algo errado, ela solta um som que parecia estrangulado em sua garganta, uma mistura de dor e desespero e antes que eu pudesse perguntar qualquer coisa ela corre o pequeno espaço que nos separa e se joga em mim, seus bracos passam em volta do meu pescoço e ela se aperta em mim, mesmo sem entender eu a abraço apertado também, o som do seu choro aumenta assim como seu abraço em mim - Katss.. Calma. Você precisa se acalmar - eu falo tentando tranquiliza-la, ela passa os braços pela minha cintura e afunda o rosto no meu peito, as lagrimas escorrem pela minha pele e eu espero que ela se acalme, eu a abraço, aconhegando-a e a embalando em mim, quando suas lagrimas param e ela afrouxa um pouco os braços, eu passos meus dedos pelo seu cabelo, ela levanta o rosto pra mim.
– Me diz que nós estamos fazendo o certo Peeta! Me diz que não é loucura deixar eles irem pra lá! Me diz que tudo vai ficar bem - ela pede quase com desespero, eu seguro seu rosto entre minhas mãos e a olho diretamente nos olhos.
– Não é loucura! Nós estamos fazendo o certo, o melhor pra eles e eu te garanto, eu te juro por tudo que eu mais amo que eu nunca deixaria nada acontecer com eles, nem com você, nunca! - eu falo lentamente deixando ela acompanhar cada palavra.
– E com você Peeta? Nada pode acontecer com você também - ela fala com o mesmo desespero.
– E não vai acontecer - eu garanto e lhe forço um sorriso, passos meu dedo pelo contorno do seu rosto e beijo sua testa - A única coisa que vai acontecer é que eu vou morrer de orgulho vendo Pérola recebendo o premio - eu falo tentando parecer otimista, mas isso não ajuda, ela não sorri e nem ao menos parece menos tensa - Meu amor, vai dar tudo cerro! Acredita em mim! Nós ficaremos bem - eu falo mais convincente.
– Nada pode acontecer Peeta! Nem com eles. Nem com você... Ainda mais agora... Eu... Eu não sei o que eu faria se...
– Ei. Nada vai acontecer! Vai ficar tudo bem - eu a interrompo e lhe asseguro mais uma vez, ela coloca as maos por cima da minha e me olha parecendo decidir alguma coisa importante.
– Tudo bem... - ela fala mesmo parecendo querer dizer algo mais, mas eu não pergunto de novo, apenas a puxo para os meus braços novamente.
– A água vai esfriar! - eu falo e ela concorda e me solta, ela passa as mãos pelo cabelo e pelo rosto, ela caminha ate o banheiro mas para na porta e se vira pra mim.
– Você não vem? - ela pergunta me olhando.
– Eu já tomei banho - eu falo e abro um pouco os braços já que ainda estou com a toalha.
– Você só vai ficar mais limpo do que já está - ela fala dando de ombros, e sem precisar forçar dessa vez eu sorrio e concordo, eu entro no banheiro me livro da toalha e entro na banheira, encostado na borda, enquanto a observo, ela tira a camisa e a joga pelo chão, sua calça fica no mesmo lugar, assim como a calcinha e o sutiã, eu sorrio olhando a bagunça que o banheiro fica com apenas alguns segundos, ela não parece se importar e entra na banheira, ela se encaixa entre mim e apóia a cabeça pra trás no meu ombro, ela fecha os olhos e parece relaxar um pouco, minhas mãos vão para os seus ombros e quando eu começo a massagem ela abre os olhos e um pequeno sorriso de satisfação aparece, mas logo some de novo.
– O que você quis dizer com "ainda mais agora"? - eu pergunto relembrando as palavras dela, ela abre os olhos e me olha confusa - Lá no quarto, você disse que tudo tem que dar certo, nada pode acontecer... "Ainda mais agora" - eu esclareço e ela parece se lembrar, mas dá de ombros.
– Vocês são tudo que eu tenho - ela fala e me olha nos olhos, eu concordo e beijo sua cabeça, ela volta a fechar os olhos e eu a massagem e nós apenas ficamos assim até que a água esfria e nossos dedos já estão enrugados, nós saímos da banheira, Katniss veste o roupão e eu me enxugo de forma rápida, prendendo a toalha na minha cintura, ela sai do banheiro primeiro e depois de juntar as roupas dela do chão e colocar nl cesto eu também saio, ela já está na cama mas ainda de roupão, eu vou ate uma gaveta e pego minha calca de moletom, a visto e depois de pendurar a toalha eu vou pra cama, assim que eu me acomodo ela se arrasta pra mim, sua perna e braço me prendendo nela como se isso fosse preciso, eu já estou preso a ela de uma forma completa, eu passo meu braço pela sua cintura enquanto acaricio seus cabelos, nós não falamos mais nada, por que nada mais ficou pra ser dito, esse é um daqueles momentos em que apenas nossas presença nos bastam, eu só preciso tê-la ali nos meus braços, sentir sua respiração, seu calor, só preciso saber que temos um ao outro e ela a mesma coisa, por isso mesmo no silencio nós encontramos todas as respostas que precisávamos.
A semana pareceu passar rápido demais, mal acordavamos e parecia que o dia já estava no fim, isso não era um problema pra Pérola muito menos para o Pyter que estavam mais ansiosos do que qualquer outra vez, nós tivemos que ir pessoalmente falar com Gale e Liesel e pedir a autorização pra Hazel, mesmo sem parecer empolgado Gale concordou e não estranhou quando pedimos que não comentassem com ninguém, os pais de Ryan exitaram um pouco, temendo que o filho simplesmente fizesse alguma besteira e nos colocasse em situação delicada, mas bastou eu lembrar de quem era Pyter e eles logo pareceram mais tranquilo, afinal se nós conseguimos lidar com Pyter, Ryan seria fácil, falar com Delly e Philip foi bem mais fácil, eles também deram suas palavras de que ninguém saberia de nada, mas sem duvida nenhuma o mais difícil foi convencer Benny, nem mesmo as táticas de distração do Pyter deram certo, ele simplesmente não aceitava o fato da filha viajar sem ele por perto e se não fosse por Grace essa seria uma batalha perdida, ela convenceu ele de que eles teriam uma espécie de segunda lua de mel, com um final de semana pra eles, depois disso ele ja não achou um absurdo, afinal teriam adultos por perto, depois das autorizações Katniss fez questão de reunir as crianças que ja não são tão crianças assim e repassar todos os cuidados, o que devia ou não ser falado, nada de comentários sobre a viajem, nem sobre Pérola ser a vencedora, tudo seria feito no mais completo sigilo e foi assim ate o dia da viagem. Eu acordei cedo mas nao o suficiente por que Katniss ja nao estava na cama, eu me sento e ja estava me levantando da cama quando um som estranho veio do banheiro, eu me apressei mas a porta estava trancada.
– Katniss? - eu chamo por ela enquanto forço a porta, ouço a descarga mas ela nao me responde - Katniss? - eu chamo de novo balançando mais a porta.
– Já .. Já vou - sua voz soou diferente, fraca, eu forcei a porta de novo e dessa vez ela abriu - Bom dia - ela fala com ironia e sai do banheiro passando por mim.
– O que aconteceu? - eu pergunto me virando pra olhar pra ela, mas ela continua de costas pra mim enquanto começa a arrumar a cama.
– Aconteceu o que? - ela pergunta dando de ombros.
– No banheiro, o que aconteceu lá? - eu refaço a pergunta e dessa vez ela se vira pra mim, fazendo uma cara surpresa.
– Desde quando eu tenho que contar o que faço ou não no banheiro? - ela pergunta me olhando sem estar disposta a falar.
– Eu ouviu um barulho! Parecia que você estava passando mal - eu falo e ela revira os olhos e volta ao que estava fazendo.
– Melhor acordar logo eles! - ela fala e eu ainda a observo preocupado, ela para o que está fazendo e se aproxima de mim - Não. Eu não estava passando mal! Satisfeito? Agora sera que você pode sair e acordar eles! É hoje - ela fala e sua voz parece nervosa quando ela lembra que dia é, eu concordo e antes de ir entro no banheiro.
– Tem certeza que pegou tudo? - Katniss me pergunta pela terceira vez enquanto eu pegava a mala de mão e descia as escadas.
– Sim Katniss. Eu tenho certeza - eu falo exageradamente e ela me segue descendo e trazendo mais uma mochila.
– Cadê eles? Ja deviam estar aqui!
– Calma mãe. Ainda tá cedo. Ian disse que ja tava vindo - Perola fala terminando de fechar a própria mala, e a dela não era uma simples mala de mão, era uma mala de verdade, grande e pesada alem da mochila.
– Eu ainda não entendo por que você tem que levar tudo isso - Katniss reclama olhando com reprovação pra mala rosa - E isso chama muito atenção - ela conclui insatisfeita, antes que ela retrucasse a porta se abre e Haymicth entra trazendo a mala velha de sempre.
– É aqui a casa da vencedora mais linda? - ele pergunta indo na direção da Pérola que sorri orgulhosa e o abraça.
– Você não quer anunciar num mega fone? - Katniss fala com ironia.
– Ei docinho, relaxa - ele fala rindo.
– Se alguem me mandar relaxar mais uma vez ninguém sai dessa casa - ela avisa irritada, todos levantamos as maos pra mostrar que perdemos, mas isso não a faz sorrir pelo contrario ela solta um suspiro cansado. Ian é o primeiro a chegar, mas sem muita demora Keyse e Hazel também chegam, por último Ryan aparece e logo ja estamos verificando se tudo esta certo, quando Katniss se sente satisfeita nós vamos para a Estação, Gale que trouxe Hazel leva Hazel, Keyse, Ian e Ryan, no carro dele e nós vamos no nosso, chegamos com dez minutos de antecedência e foi o tempo ideal para entrarmos no trem e conseguirmos nos instalar sem problemas, tivemos que dividir eles, meninos em uma cabine, meninas na outra, eu fiquei com eles, já que no acordo da Katniss implica não nos separarmos deles, Haymitch é claro exigiu uma cabine apenas pra ele, os garotos mal se aguentavam parados.
– Quanto tempo pra gente chegar? - Ryan pergunta enquanto se joga na cama.
– Doze horas, um pouco a mais ou um pouco a menos - eu falo e eles parecem impressionados.
– Será que a gente pode dar uma volta pelo trem? - Pyter pede também jogado em outra cama.
– Depois do lanche! - eu falo e ele comemora jogando os braços pra cima.
– Os lanches daqui são os melhores - ele fala para Ryan e Ian.
– Vamos! As garotas também devem estar com fome - eu falo e eles se apressam em sair da cabine, nós vamos para a do lado e eu Bato na porta, Katniss abre rapidamente.
– Eu ia dar um lanche pra eles! Vocês não querem dividir com a gente? - eu pergunto e ela olha pra dentro do quarto e depois abre mais a porta nos deixando entrar, as garotas estão sentadas em uma cama só conversando animadamente e param assim que nos vêem, Pyter é o primeiro a se aproximar delas mexendo no cabelo da Keyse, ela tenta parecer irritada mas quando ele se joga do lado dela, um sorriso aparece, Ian também se aproxima de Perola e cochicha algo que a faz rir.
– Você não ia pedir o lanche? - Katniss fala me chamando a atenção, eu me desperto e pego o telefone da cabine e faço o pedido, enquanto aguardamos Katniss se senta ao meu lado no sofá, suas pernas dobradas pra cima e a cabeça encostada no meu ombro.
– Eles estão bem animados - eu falo enquanto eles estão rindo exageradamente e falando um mais alto que o outro.
– Eu acho que nós seremos expulsos do trem - ela fala com um sorriso escondido, eu sorrio e beijo sua cabeça ela vira o rosto pra mim e apenas me olha, sem dizer nada ela me beija e eu correspondo ao beijo, ate que as batidas na porta nos despertam, eu me levanto e corro ate lá, abro a porta e dois rapazes estão a postos com dois carrinhos, eu abro mais a porta e eles entram, assim que vê os carrinhos Pyter pula da cama e vem ate nós, ele destampa uma das bandejas que esta repleta de panquecas.
– Eu amo panquecas - ele fala exagerado, Ryan corre ate ele e Keyse também nao demora a se juntar a eles que ja estão pegando os pratos pra se servirem.
– Um pouco de educação seria muito bom - Katniss fala mas eles mal a escutam.
– Obrigado - eu agradeço aos dois rapazes que saem rindo dos três que já estão se servindo, Hazel também se junta a eles pegando uma porção da salada de frutas, Pyter destampa todas as bandejas e enche o prato cada vez mais.
– A comida não vai sair correndo sabia - Keyse implica com Pyter que faz uma careta e pega um biscoito do prato dela - Eeeei - ela reclama e lhe dá um empurrão, mas ele apenas ri e vai pra uma das camas segurando seu prato - Essa cama é minha! Pode caindo fora! - ela avisa a ele que a ignora e ao invés de reclamar ela se junta a ele, logo depois Ryan e então quando olho pra outra cama lá esta Perola e Ian sentados no que eu considero perto demais.
– E vocês? Não estão com fome? - eu pergunto me aproximando deles, Pérola ri mas concorda se levantando e oferece a mão pra ele que rapidamente entrelaça os dedos ao dela.
– Não faz essa cara - Katniss me alerta quando para ao meu lado.
– Eu não fiz nada - eu falo dando de ombros, ela me encara sem acreditar, antes que ela fale mais alguma coisa eu a beijo rapidamente.
– Você também tem que comer - eu falo e ela concorda e nós vamos nos servir, ela enche um pote com salada de frutas e se joga de novo no sofá, eu pego um dos sanduíches e sento ao lado dela, mas na primeira colher que ela prova seus olhos se arregalam e ela se alerta, praticamente joga o pote em cima de mim e corre pro banheiro, eles estão tão entretidos que nem percebem, mas eu corro atrás dela, entro no banheiro e ela esta ajoelhada na frente do vaso terminando de colocar pra fora o pouco que comeu.
– Meu Deus Katniss! O que houve? - eu me assusto mas logo estou segurando os cabelos dela e me abaixo ao seu lado, ela parece tomar fôlego e então abaixa a tampa e aperta a descarga, ela fecha os olhos e parece se recuperar - Eu vou chamar um médico! Uma enfermeira, sei la... O que você ta sentindo? - eu pergunto enquanto passo minha mao pela testa dela onde as gotas de suor se acumulam.
– Não...não precisa - ela fala passando a mao pelo rosto e pelo cabelo, ela respira fundo e se apóia no vaso pra ficar em pé, eu me adianto e a ajudo - Eu tô bem - ela fala se forcando a parecer convincente.
– Não, você não esta bem! Eu to vendo - eu falo enquanto ela lava o rosto - O que você tá sentindo? - eu insisto logo atrás dela.
– Nada Peeta! É serio. Eu tô bem... Foi essa salada de fruta idiota! Tem kiwi naquele troço - ela fala fazendo uma cara de nojo quando fala, eu ainda a olho desconfiado - Você sabe. Eu odeio kiwi - ela fala como se eu nao soubesse disso.
– Odeia! Mas eu nunca vi você passar mal assim por causa dele - eu falo olhando pra ela sem estar convencido.
– Por que eu nunca nem chego a comer, eu me distrai e não vi, quando eu senti o gosto meu estomago rejeitou , sei la, foi besteira. Eu to bem - ela fala e puxa a toalha enxugando o rosto.
– Eu ficaria melhor se você fosse atendida - eu falo insistindo.
– Eu ficaria melhor se nós estivéssemos em casa - ela fala diretamente e me joga a toalha antes de sair irritada do banheiro, eu penduro a toalha e vou atrás dela.
– Katss... - eu a chamo calmamente pra que ela pelo menos me deixe falar, mas sem sucesso.
– Ta na hora do remédio do Haymitch! Fica com eles que eu vou lá - ela avisa sem me dar chance pra discordar e então sai da cabine, eles continuam animados sem nem perceber nada. Keyse e Pyter estão em uma "briga" por causa do ultimo bolinho, ela tenta fazer ele abaixar o braço mas mesmo sem parecer fazer muito esforço ele consegue manter o bolinho longe dela, Ryan está rindo e bate fotos deles até Hazel se jogar no meio fazendo altas poses e logo todos eles estão fazendo caras e bocas na frente da câmera, eu sorrio e deixo eles na animação deles e vou pra janela, o trem ainda é tão rápido quanto antes e eu sempre gosto da sensação de ver todas as coisas passando na sua frente, as paisagens mudando, os lugares ficando pra trás, mesmo que o destino final seja a Capital ainda gosto da sensação, mas enquanto fico ali olhando pela janela novamente a sensação de que Katniss está mentindo me atinge, não entendo por que ela possa estar fazendo isso e o que ela estaria me escondendo, é claro que a viagem esta mexendo com ela, eu sei disso, não sou nenhum imbecil, também esta mexendo comigo mas nós devemos estar juntos e ela obviamente esta tentando se isolar, por isso eu decido que assim que ela voltar nós iremos colocar uma ponto final nisso. Quando o trem passa por por uma passagem que é a de um campo completamente verde e muito bem aparado, crianças e adultos no meio daquela imagem, eles praticamente saltam das camas e se penduram da janela, me enchendo de perguntas e com uma serie de observações a parte, eles, todos eles e não apenas Perola e Pyter parecem querer absorver cada segundo desses momentos, por isso mesmo antes de Katniss voltar eu tenho uma ideia.
– Eu quero mostrar uma coisa pra vocês - eu anuncio e eles me olham ansiosos - Mas, nada de falar alto pelos corredores - eu aviso e eles prometem se comportar, eu sorrio e abro a porta da cabine pra eles passarem, Pyter e Ryan saem primeiro, Keyse em seguida reclamando que as meninas deviam sair na frente, o que gera a primeira discussão deles - O que eu disse sobre não falar alto - eu relembro e ela me dá um de seus olhares de desculpa e um sorriso que me faz sorrir de volta, Hazel sai depois de Perola e Ian é o ultimo, eles param no corredor me esperando, eu só preciso de um segundo pra me localizar e indico que eles sigam em frente, eles vão animados mas controlando as vozes, Pyter puxa o grupo e quando alcanca o final a porta se abre sozinha e ele se vira pra trás rindo, ele entra e logo os outros o seguem, as conversas e risadas são substituídas por coros de "Uau", rapidamente eles vão para as paredes de vidro e seus dedos tocam a parede com sorrisos impressionados, o campo que antes era visto por uma janela comum, agora a pode ser visto de forma completa conforme passamos por ele parece ainda maior, mais verde e mais impressionante.
– Isso é muito maneiro - Ian fala quando me aproximo e paro ao lado dele - E eu achava a Campina impressionante - ele confessa e eu sorrio.
– Por que você nunca viu o mar - Pyter fala com aquele mesmo sorriso do dia em que estivemos lá.
– Ninguém falou de mar! Sera que você pode parar de se gabar - Keyse fala implicando com ele.
– Você deveria ser mais simpática com a pessoa que esta bancando sua viagem - ele revida sorrindo vitorioso.
– Ate onde eu sei é seu pai que tá pagando e eu sou legal com ele! - ela fala e me olha pra confirmar - Não sou? - ela pergunta sorrindo daquele jeito inocente.
– Vocês sempre brigam assim ou é a emoção da viagem? - eu pergunto implicando com eles.
– Brigando? Esse é o melhor deles! Acredite em mim... Isso não é nada - Ryan fala fingindo sussurrar.
– Cala a boca - Pyter e Keyse falam juntos.
– Pelo menos eles concordam em alguma coisa - Ian fala rindo e os outros riem.
– Daqui a pouco vão completar as frases um do outro - Ryan aproveita e também implica com eles e acaba recebendo um empurrão de Keyse.
– Achei que tínhamos discutido o tópico de agressões físicas - ele fala me olhando como pedido de ajuda.
– Nós discutimos - eu falo e aponto pra Keyse em reprovação, ela dá de ombros mas não se desculpa e logo eles estão conversando juntos de novo e enquanto eu estava com a atenção neles Iam deve ter se aproveitado e passou para o outro lado do vagão, com Pérola, um braço pela cintura dela enquanto ele cochichava algo em seu ouvido, ela riu e então sem parecer se importar com o fato que eu, o pai dela, estava bem ali, ele a beijou, em defesa dele poderia dizer que não foi um super beijo nem nada, mas como pai não me agradou do mesmo jeito, já estava me virando e indo até eles quando Hazel segurou meu braço.
– Eu nem agradeci - ela fala com uma sorriso simpático - Muito legal essa coisa da viagem! - ela completa parecendo meio sem jeito - Valeu mesmo - ela fala sorrindo mais ainda.
– Não tem que agradecer! Tenho certeza que Pérola não estaria animada se você não estivesse aqui, na verdade se não fosse você ela nem teria o por que da viagem - eu falo e ela sorri orgulhosa.
– Pérola é minha melhor amiga! E ela arrasa nos desenhos! Era o mínimo que eu podia fazer - ela fala dando de ombros mas com aquele ar vitorioso, na verdade ela lembra muito a mãe.
– Você também é uma boa amiga! Tenho certeza que Perola pensa o mesmo - eu falo e ela parece satisfeita ao ouvir isso - Não é qualquer uma que distrai o pai enquanto ela tem os minutos de folga com o namorado - eu falo e ela tenta parecer confusa, eu acabo rindo - Tudo bem, acho que é pra isso que servem os amigos né - eu falo e dou uma piscada pra ela que ri dando de ombros.
– Eles formam um casal lindo! - ela fala sorrindo enquanto olha pra eles - Ele gosta muito dela, muito mesmo! Eu não falaria bem dele se achasse que não servia pra ela - ela fala e me olha, eu sorrio aprovando.
– Eu esperava que não - eu falo concordando e depois de mais uma olhada neles, que continuam um pouco mais afastados de nós, eu resolvo dar mais alguns minutos a eles - E você? Sera que eu posso saber por que você ainda não tem... Hum... Alguem especial? - eu arrisco e ela faz uma careta.
– Por que ela ainda não esta preparada pra me assumir - Ryan fala e se aproxima passando o braço pelo pescoço dele e fazendo um biquinho, ela coloca a mão afastando ele.
– E nunca vou estar - ela fala se esquivando mas esta rindo.
– Nunca diga nunca - ele completa arriscando mais um bico, ela faz cara de nojo e se esquiva indo pro lado do Pyter.
– Controla seu amigo por favor - ela pede se escondendo atrás dele que ri enquanto tenta convencer ela de beijar logo ele.
– Você não deveria ter uma conversa com o pai dela antes - eu falo e ele para a ultima tentativa.
– Pensando bem... Eu sempre prefiro manter uma boa e velha amizade - ele fala fingindo desinteresse, eles riem, Perola e Ian se juntam novamente a eles.
– Eu procurei vocês pelo trem inteiro - a voz assustada soou mais alto que todas as vozes deles juntas, eles pararam de falar e se viraram pra ver Katniss parada na porta com uma cara nada boa - Por que você saiu do quarto com eles? - ela pergunta sem se importar com eles e num tom de voz alto demais.
– Por que eu não sabia que estávamos presos - eu falo brincando tentando manter o clima menos pesado.
– Isso não tem graça! Eu deixei vocês na cabine era pra vocês estarem lá - ela fala apontando o dedo pra mim.
– Nós já voltamos! - eu aviso a eles e me aproximo da porta que ainda se mantem aberta, eu a olho esperando que ela me acompanhe e ela logo passa parando no corredor, assim que a porta fecha de novo ela se vira pra mim.
– Eu achei que tinha deixado Claro que não queria eles se expondo por aí - ela fala apontando o dedo pra mim.
– Se expondo? Katniss, nós estamos no fim do corredor - eu falo mostrando o caminho.
– Não era pra você ter tirado eles de lá - ela avisa ainda irritada.
– Olha, eu sei que essa viagem ta mexendo com as nossas cabeças! Toda essa pressão, eu entendo. Mas nós ja havíamos concordado que ambos nos importamos, então, se eu fiz isso é por que eu sabia que não teria complicação! - eu falo e isso parece fazer ela pensar - Katniss eles são adolescentes, amigos, na primeira viagem deles juntos, você realmente não espera que eles fiquem trancados num quarto por doze horas, espera? - eu pergunto e ela parece repensar o assunto.
– Eu só me assustei quando não encontrei vocês lá - ela fala mais calma.
– Eu devia ter deixado um recado ou passado na cabine do Haymitch - eu falo me desculpando, ela balança a cabeca algumas vezes provavelmente tentando se acalmar.
– Tudo bem - ela fala passando a mão pelos cabelos - Eu exagerei - ela assume, eu me aproximo dela e passo meus dedos pelo seu cabelo, beijo sua testa e deixo nossos rostos proximos demais.
– Agora quando que você vai me falar o que você esta me escondendo? - eu pergunto e ela parece surpresa.
– Escondendo? - ela repete confusa.
– Você ta diferente e não me diz que é pela viagem por que eu sei que não é só isso! Eu te conheço - eu aviso e ela força um sorriso, coloca as mãos de cada lado do meu rosto e junta os labios no meu, em um beijo rápido.
– Ô pai, olha isso - Pyter aparece no corredor animado e praticamente nos arrasta pra dentro do vagão, dessa vez eles estão impressionados com o terreno cheio de árvores carregadas de frutas, eles perguntam e comentam e nós passamos um bom tempo admirando o caminho, ate a hora do almoço. Nós voltamos pra cabine e pedimos o almoço, Katniss foi chamar por Haymitch mas ele disse que preferia comer sozinho do que com um bando de adolescentes irritantes e eu sei que isso é realmente típico dele, por isso não estranho, quando o almoço chega todos ja estão com fome de novo e logo se espalham pelas camas, sofá e poltronas com seus pratos, sempre rindo de alguma coisa e com algum assunto novo, eu e Katniss nos sentamos no sofá e embora ela sempre tenha um apetite bom, dessa vez ela realmente parece com fome.
– Eu não tomei café da manhã - ela fala quando volta com a terceira porção do creme de abóbora.
– Eu não disse nada - eu falo levantando as mãos e ela nem se preocupa em discutir comigo e volta a comer, enquanto eles já partem pra sobremesa.
– EU AMO pudim - Pyter fala revirando os olhos e comendo um pedaço.
– É a melhor sobremesa do mundo - Hazel acrescenta também saboreando.
– Não! Esse é o melhor por que o da minha mãe é horrível - Keyse fala e todos riem, então no meio dessa distração Katniss se levanta rápido demais e eu me alerto.
– Já volto - ela fala apressada e sai da cabine, eu me levanto mas é tarde demais, eu fico parado na porta enquanto ela entra na cabine do Haymitch, eu a espero na porta, alguns minutos depois ela volta.
– Tinha esquecido de avisar ele sobre o segundo remédio! Tem que tomar antes do almoço - ela fala com a mão na testa parecendo cansada.
– Ele tomou? - eu pergunto e ela confirma com um sorriso aliviado.
– Ele não é tão inútil quanto aparenta - ela fala dando de ombros.
– Era só isso? - eu pergunto e ela confirma sem nem precisar pensar muito, eu avalio alguns segundos, mas me convenço, me aproximo dela e passo meus braços pela sua cintura.
– Eu fiquei sabendo que agora eles tem um vagão de jogos, pensei em levar eles lá! - eu sugiro e ela parece avaliar a proposta.
– Tudo bem! Vamos - ela concorda, eu sorrio e a beijo.
Quando nós voltamos e avisamos da sala de jogos eles logo se animam, alias esse é o espirito deles o tempo todo, nós seguimos para o vagão e logo eles se sentem em casa, eu e Katniss ficamos apenas por perto sentados em um dos sofás observando eles, ela deita a cabeça no meu ombro e quando percebo ela acaba pegando no sono, eu deixo que ela descanse e mesmo com a bagunça deles ela só acorda quando eu a chamo por que ja estamos quase no fim da tarde, nós voltamos e dessa vez nos separamos por que Katniss avisa que eles só irão lanchar se tiverem de banho tomado, o que acaba demorando tempo demais até que todos estejam prontos, nós nos juntamos de novo e mesmo que eu tenha sugerido jantar ao invés de lanchar eles discordam por que preferem se encher de açúcar e sanduíches, não posso culpá-los por isso, enquanto eles aproveitam eu os deixo com Katniss e dessa vez sou eu quem vou dar o remédio do Haymitch, bato a porta mas não sou atendido, mas quando tento abrir a porta esta aberta, porem o quarto vazio, verifico o banheiro e ja estava saindo da cabine quando ele entra.
– Onde você tava? - eu pergunto assim que ele entra, recebo um olhar de reprovação, ele anda ate a poltrona e se joga nela.
– Sabe, já faz uma bom tempo que eu respondo por mim mesmo - ele fala com ironia enquanto pega o controle e liga a TV.
– Seu remédio - eu desisto de discutir com ele e ofereço os dois comprimidos e o copo de agua, ele pega sem reclamar - Seu mau humor é por que sou eu e não a Katniss? - eu arrisco tentando parecer desinteressado, ele me olha curioso - Eu posso falar pra ela passar aqui mais tarde... - eu falo com ironia, ele ri.
– Pergunta logo o que você quer e nós dois estamos livres desse teatro - ele fala fazendo sinal com a mão pra que eu siga em frente.
– Ela ta me escondendo alguma coisa! - eu afirmo e ele faz uma cara de interessado - O que é? - eu pergunto e ele sorri.
– Não sou eu o marido dela - ele fala dando de ombros.
– Exatamente por isso! Se tem alguma coisa e ela ainda não me contou, a única pessoa que pode saber é você - eu falo encarando ele.
– Claro, por que nós sempre conversamos e nos abrimos um com outro - ele ironiza.
– Não! Por que por mais que vocês briguem são os únicos que se entendem tão bem - eu acrescento e ele não nega mas me ignora olhando pra TV.
– Eu não sei de nada - ele fala sem olhar nos meus olhos.
– Eu não acredito em você - eu falo o forcando a me olhar.
– Já não é um problema meu - ele conclui e se levanta da poltrona e vai pro banheiro - Quando sair bate a porta - ele avisa antes de fechar a porta do banheiro, eu penso em esperar ele sair e insistir mas eu sei que seria inútil, até por que não acho que ele sairia de lá enquanto eu estiver aqui, por isso volto pra junto deles. Nós ficamos juntos ate a noite cair e mesmo que eles ainda estivessem empolgados e falantes Katniss nos mandou de volta pra nossa cabine e eu não tentei fazê-la mudar de ideia, por que ela realmente parecia cansada, na verdade desde que ela tirou aquele sono a tarde ela parece ainda sonolenta, já estávamos saindo quando olhei melhor pra ela, seus olhos pareciam nervosos e eu sei por que, pelo mesmo motivo que eu também gostaria de continuar aqui, por que é horrível dormir sem ela ao meu lado.
– Dorme bem - eu falo com nossos lábios próximos demais, ela solta um riso desacreditado - É só hoje! - eu falo e a beijo mais uma vez - Eu...te...amo - eu falo com nossos lábios ainda juntos e isso a faz sorrir, saio de lá ainda querendo muito não sair.
Eles demoram muito pra pegar no sono mas quando dormem parecem que realmente apagaram, tanto que nem ao menos escutam o anuncio de que estamos chegando e eu tenho que acordá-los, logo eles estão de pé, com suas mochilas, nós vamos para a cabine ao lado e as garotas também já estão acordadas.
– Pyter – Katniss o chama e lhe entrega um boné, ele pega sem entender e ela estende um óculos escuro – Coloca – ela avisa e ele me olha.
– Isso é sério? Tá de noite – ele fala desacreditado.
– Nós conversamos sobre isso – ela fala já indo na direção da Pérola, ela lhe entrega um óculos também.
– Fala sério, se ninguém nem sabe que a gente tava vindo pra que isso? – Pyter questiona olhando com reprovação pro boné e o óculos, Katniss se vira pronta pra uma discussão mas eu me adianto e o arrasto para o canto.
– Vocês queriam vim, nós viemos, então colabora! Nós já tinhamos conversado sobre isso, não me faça me arrepender – eu aviso e ele concorda já colocando o boné.
Haymitch nos espera no corredor e depois de endireitar o boné no Pyter e remexer no cabelo da Pérola, Katniss parece satisfeita, o trem para e nós descemos, consigo dois carros e nos dividimos até o Hotel, e como Haymitch já tinha feito as reservas nós nos apresentamos a recepção, mas claro que ele não usou nossos nomes, por isso a surpresa da mulher assim que nos reconheceu, mas isso não implicou nas reservas e logo estávamos subindo para a cobertura, eles riam animados com o elevador e quando paramos no andar Ryan perguntou se depois nós podíamos ir de novo, eu prometi que sim, mas quando entramos no nosso andar, ele parece ter esquecido e todos estavam impressionados com o tamanho.
– Só essa sala é maior que lá em casa – Ryan falou enquanto corria para o outro lado do cômodo.
– Isso tudo aqui é só pra gente? – Keyse também parecia impressionada, a verdade é que mesmo que realmente era impressionante pra eles, mesmo eu que já deveria estar acostumado aos luxos da Capital me surpreendo com o tamanho da TV na sala ou com enorme lustre cheios de pedras luminosas ou o gigante tapete que está por toda sala.
– É como andar num urso – Pyter fala descalço passando os pés no pelo macio.
– Você já andou sobre um urso? – Ian perguntou com ironia e Pyter deu de ombros.
– Eu tenho uma boa imaginação – ele fala agora deitado e passando a mão nos pêlos.
– Alguém quer conhecer os quartos? – eu pergunto e eles logo se levantam – Garotos comigo – eu falo e eles me seguem, eu entro no corredor dos quartos e escolho o ultimo do corredor, abro a porta e espero eles entrarem, lá dentro tem duas camas, eles me olham esperando algo mais, eu solto uma risada e entro no quarto, vou até uma das camas e puxo outra debaixo, eles riem também – Já está tarde, então melhor dormirem – eu aviso mesmo sabendo que eles não irão dormir agora, então me lembro de um detalhe – Esperem – eu falo e saio do quarto encontro Katniss no primeiro quarto do corredor, as garotas estão arrastando as malas pra lá, eu as ajudo e depois volto pra sala, abro minha mala e remexo procurando o que eu quero.
– Perdeu alguma coisa? – Katniss pergunta se aproximando.
– Não, só estou... achei – eu falo e levanto um sino, balançando ele no ar, ela me olha confusa.
– Pra que você trouxe isso? – ela pergunta sem entender.
– Prevenção – eu falo pegando também um pedaço de corda e volto pro corredor, ela me segue e eu volto pro quarto deles que estão rindo de alguma coisa, eu balanço o sino e isso me faz ganhar atenção, Katniss também está logo atrás de mim me observando – Sabem o que é isso? – eu pergunto e eles se olham confusos.
– Um sino? – Ryan fala meio indeciso, não pelo objeto mas pela pergunta.
– E alguém sabe o que ele faz? – eu pergunto mesmo que eles saibam exatamente o que é um sino.
– Faz barulho?! – Ian fala dando de ombros.
– Muito bom! Fico feliz que principalmente você saiba disso – eu falo e isso parece deixar ele mais confuso.
– Não vai me dizer que você vai acordar a gente pela madrugada com esse treco – Pyter fala já reprovando, eu solto um riso.
– Não, não! Isso não é pra acordar vocês, é pra me fazer dormir melhor – eu falo e até Katniss me olha confusa, eu seguro a porta entreaberta, passo a corda pela maçaneta do lado de fora e a amarro no sino, eles continuam me olhando, eu abro e fecho a porta e o barulho do sino ainda persiste alguns segundos, Katniss ri e eu sei que ela entendeu, eles ainda parecem confusos – Se vocês tentarem sair desse quarto de madrugada.... – eu falo e balanço o sino, só então eles parecem entender.
– Ah fala sério – Pyter é o único a reclamar – Então a gente tá preso? – ele pergunta se levantando da cama.
– Presos não, alias vocês estarão dormindo mesmo. Não é? – eu pergunto olhando pro Ian.
– Com certeza! Como uma pedra – ele garante e mesmo exagerado eu concordo.
– E se alguém quiser ir no banheiro? – Pyter pergunta, eu sorrio e ando até a porta dentro do quarto e abro.
– É pra isso que existe isso ... – eu falo e aponto pra dentro do banheiro, ele revira os olhos.
– Se eu tiver sede? – ele questiona dando de ombros.
– Eu deixo uma garrafa aqui – eu falo e ele continua reprovando.
– Posso saber por que você quer tanto sair do quarto? – Katniss que pergunta e ele dá de ombros.
– Bom, era só isso, como eu disse já esta tarde – eu falo e vou pra porta, Katniss sai antes de mim, já ia fechar a porta quando paro de novo – E caso ‘’alguém’’ – eu falo e aponto pro Pyter – Consiga a brilhante ideia de conseguir tirar o sino, o nosso quarto é esse do lado, e meu sono leve, então... eu pensaria bem antes – eu aviso e vejo ele revirando os olhos e se jogando na cama, então fecho a porta.
– Não acredito que você fez isso – Katniss fala mas está com um meio sorriso, eu dou de ombros e a beijo também com um meio sorriso, depois que ela verifica se as garotas estão se saindo bem, nós vamos para o nosso quarto, a cama de casal consegue ser ainda maior que a nossa, o quarto também é muito grande, com uma mesa ao canto, poltrona, televisão e o banheiro com uma enorme banheira.
– Eu preciso de um banho – ela fala já tirando a camisa e jogando pelo chão, eu nem tento reclamar, apenas volto a abrir a mala e pegar uma roupa limpa, tanto pra ela quanto pra mim. Quando entro no banheiro ela já está no chuveiro e depois de desviar de suas roupas no chão eu me junto a ela, sem reclamações, ela apenas continua com a cabeça debaixo da água, olhos fechados e os pensamentos distantes, eu coloco um pouco do sabonete nas mãos e passo por seus ombros, só então ela abre os olhos e afasta a cabeça da água.
– Eu te amo! Eu te amo muito, muito mesmo – eu falo com os olhos fixos ao dela – E é por que eu te amo tanto que eu vou te perguntar mais uma vez... – eu falo e ela apenas me olha de volta – O que está acontecendo? – eu pergunto pausadamente, minhas mãos descem do seu ombro, para os seus braços e depois suas mãos, eu as seguro entre as minhas e permaneço olhando em seus olhos – Por favor, confia em mim – eu peço e ela inspira profundamente, fecha os olhos alguns segundos e quando os abre me olha profundamente.
– Eu não queria estar aqui. Eu não quero estar aqui! Eu odeio esse lugar, odeio todas as lembranças daqui, odeio qualquer coisa que esse lugar ainda tenha, eu só quero voltar pra nossa casa, continuar a nossa vida, do jeito que tem que ser, com eles o mais longe possível do nosso passado. E eu sei, eu sei tudo que você vai dizer, que devemos deixar eles viverem, não podemos escondê-los, eu sei, sei de tudo isso! Mas isso não muda em nada o que eu sinto, e acredita em mim, eu to tentando...tô tentando mesmo, mas... Peeta, as coisas já estão complicadas o suficiente, eu... eu só...não sei se consigo lidar com tudo isso... em um dia tudo estava bem e então de repente, as coisas saem do rumo, não era assim que eu imaginava...nada disso – não sei o que eu esperava mas vê-la sincera e vulnerável me pegou de surpresa, sua voz aos poucos começa a ganhar aquele desespero, o mesmo que eu posso ver em seus olhos e dessa vez ela não tenta esconder, apenas está ali, mais forte do que ela e eu gostaria que tivesse alguma coisa que eu pudesse fazer pra tirar isso dela, eu passo meus braços pelo seu corpo e a abraço em mim, a agua do chuveiro ainda caindo sobre nós mas ela não me afasta e nem ao menos tenta resistir, ela apenas me aperta nela também – Eu queria ser forte, eu queria ser essa pessoa que você vê... mas...mas eu não sou Peeta... eu ... eu sinto muito, eu fiz tudo errado – ela parece ainda mais nervosa, embora não esteja chorando isso não diminui o desespero em suas palavras – Não era pra isso ter acontecido... eu...isso tá errado Peeta, tá errado – ela fala se desgrudando um pouco de mim mas ainda perto demais.
– Nós estaremos de volta no domingo, então tudo volta ao normal – eu falo tentando parecer otimista, ela nega e solta uma risada nervosa.
– Normal? Nunca mais nada vai ser normal Peeta, não dá...não dá – ela fala passando as mãos pelo cabelo molhado.
– Claro que dá Katss – eu garanto e ela nega – Amanhã é a premiação, domingo nós acertamos tudo e voltamos pro Distrito Doze, pra nossa casa, eu, você, as crianças e aquele velho mal humorado, e então, tudo volta ao normal – eu falo e ela solta outra risada irônica.
– Você não entende... – ela fala me olhando como se eu fosse incapaz de entender o que ela diz.
– Então me explica... eu to aqui Katniss, é só você falar... Por que nada vai voltar ao normal? – eu pergunto olhando diretamente nos olhos dela.
– Por que não dá – ela fala começando a se irritar, então quando eu ia falar de novo, ela simplesmente se vira apoiada na parede e então vomita, a coisa toda acontece rápido demais, em um momento ela está gritando comigo e no seguinte está curvada vomitando, eu apoio seu corpo ao meu e afasto seus cabelos, a água do chuveiro leva embora a sujeira no chão.
– Você tá bem? – eu pergunto enquanto ela enche a mão de água e lava o rosto, ela apenas tenta me afastar, mas em vão, eu me mantenho do lado dela – O que você tá sentindo? – eu pergunto e ela tenta me afastar de novo, me dando um leve empurro, já que ela parece fraca – O..que..você..ta..sentindo? – eu pergunto segurando-a ainda mais em mim.
– Será que eu posso sair... – ela fala se forçando a ficar ereta e me encarando, eu continuo a frente dela – Eu to com frio, me deixa sair – ela fala séria e firme, eu saio da frente mas seguro seu braço pra garantir que ela não caia, ela puxa o roupão e o veste, enrolando o cabelo em um coque desajeitado, então com um puxão do braço, ela se solta e sai do banheiro, eu pego a toalha e a enrolo na minha cintura e também saio.
– Eu vou chamar um médico – eu falo quando passo pelo quarto indo pra porta.
– E você vai de toalha? – ela pergunta com ironia.
– Pra buscar ajuda pra você? Eu iria até sem – eu falo com a mão na maçaneta da porta e isso a faz rir.
– Mantenha a toalha... e a porta fechada também – ela fala tentando suprimir o sorriso.
– Sem chance – eu falo e então abro a porta.
– Se você sair, eu tranco a porta e ninguém mais entra – ela ameaça e isso me faz parar mas me mantenho no mesmo lugar.
– Então eu terei que derrubar – eu falo dando de ombros.
– Eu não preciso de ajuda – ela fala com firmeza.
– Não me pareceu isso enquanto você estava vomitando e mal se aguentava em pé – eu falo e ela revira os olhos.
– Eu estou estressada ok, droga Peeta, olha onde nós estamos... Me desculpa se eu não sou forte o suficiente pra estar aqui com um sorriso no rosto dando saltos de alegria – ela fala com ironia e defensiva, eu fecho a porta e me aproximo da cama onde ela está.
– E eu nem esperava isso de você – eu falo e ela suaviza um pouco o olhar – Eu sei que não tá sendo nada fácil, por que pra mim também não está, mas se você começar a me ignorar ou me esconder coisas, isso pode ficar mais difícil, nós estamos aqui juntos, lembra? – eu falo parando na frente dela.
– Juntos – ela repete concordando comigo – Juntos – ela repete mais uma vez e me estica a mão, eu a seguro e me abaixo, me ajoelhando a frente dela, minhas mãos sobre suas pernas e nossas mãos entrelaçadas, eu beijo sua mão e com a outra ela passa os dedos pelo meu cabelo – Desculpa, eu... eu exagerei... acho que não estou no meu melhor momento – ela fala me olhando com sinceridade, eu forço um sorriso e passo meus dedos pelo seu rosto, sua mão encontra meus dedos e ela fecha a mão em volta da minha – Eu to estressada e cansada, extremamente cansada – ela acrescenta fechando os olhos alguns segundos – Mas eu vou ficar bem se você ficar aqui comigo – ela garante abrindo os olhos.
– Eu estou aqui – eu concordo e me levanto – Você só precisa descansar um pouco – eu falo e ela concorda, eu volto ao banheiro, pego outra toalha e a trago comigo, como os cabelos dela ainda estavam molhados, eu os enxugo, depois mesmo com o roupão ela se deita e me faz me deitar com ela, ela deita a cabeça sobre meu peito e em poucos minutos ela realmente dorme, eu espero até ter certeza, e então saio da cama e vou pro banheiro terminar meu banho, quando volto ela ainda está dormindo, eu me deito junto dela de novo e em algum momento, no meio de vários pensamentos, eu acabo dormindo. Quando acordo a cama está vazia, olho pelo quarto e no banheiro e não a encontro, então coloco uma roupa, e saio do quarto, as vozes me guiam até a sala de refeições, a mesa está cheia, e os pratos deles também.
– Eu não queria te acordar – Katniss fala quando eu paro ao lado dela, eu a beijo rapidamente puxo uma cadeira.
– Bom dia – eu falo e recebo um coro de bom dia mas que logo é trocado por risadas e conversas, Haymtich também está na mesa e só sorri quando Pérola ou Pyter falam com ele, apenas de olhar sei que está em seu eterno mau humor matinal, ele ficou em outro andar, mas depois de anos fazendo as refeições com a gente, isso se tornou um habito. O café da manhã foi no mínimo eufórico e animado, eles só saíram da mesa quando já tinham comido de tudo, no mínimo umas duas vezes, e ainda assim por que Katniss ficou com medo deles passarem mal, com excessão de Pérola e Hazel que não tem tanto apetite quanto os outros, poderia ser por elas serem meninas, mas ao que parece Keyse quebra essa regra e tem o apetite tão grande quanto os garotos, mas isso não quer dizer que eles não tenham educação ou que saiam pegando a comida desesperadamente, não, de maneira nenhuma, todos eles, sem nenhuma excessão, sabem exatamente como se comportar, só tem um apetite grande.
Depois do café, Katniss repassa como será a noite. A televisão, radio e qualquer outro meio de comunicação só fala nisso, a noite de hoje, felizmente eles ainda não sabem quem é a tal vencedora e especulações surgem de todos os lados, o que só faz aumentar a curiosidade, os preparativos pra festa já está sendo feito, o palco está montado, a decoração está em andamento e tudo que se pode ouvir é sobre isso, se Katniss estava nervosa ontem, hoje ela mal consegue se controlar, quase teve um ataque quando Pérola e Hazel se aproximaram da janela e a cada som diferente ela se alertava, ela repetia a cada momento repetindo o que eles deveriam ou não fazer e isso já estava enlouquecendo a todos.
– Ok docinho, nós já entendemos... não falem com ninguém, não sorriem pra ninguém, na aceitem nada de ninguém, se possivel não respirem pra não perceberem vocês – Haymitch fala com ironia mas já irritado com ela.
– Olha aqui seu...
– Pérola, já sabe o que vai vestir? – eu pergunto mais alto e interrompendo ela, recebo um olhar de fúria mas Pérola se adianta em responder e então o que era pra ser uma briga de verdade começa a se tornar uma ‘’discussão’’ sobre a roupa de hoje a noite, o que pra mim é um pouco melhor. O resto do dia se passou com Katniss ainda irritada, nervosa e completamente tensa e nada do que eu falasse ou fizesse iria melhor a situação, a não ser que minha decisão fosse ir embora, o que obviamente não estava mais em discussão, as cinco horas em ponto Pérola já estava nervosa enquanto tentava convencer Pyter e Ryan a usar os ternos, com um pouco de drama e algumas lagrimas derramadas Pyter aceitou e Ryan claro, também aceitou, o evento começa as oito mas as garotas já estavam trancadas no quarto se arrumando, as vozes e risadas podiam ser ouvidas da sala, Katniss continuava inquieta, roendo as unhas e remexendo em uns papéis que ela já deveria saber letra por letra do que estava escrito, o papel era o cronograma da noite.
– Nós saímos as onze desse coquetel – ela avisa me apontando o papel, o coquetel era após a premiação e começaria as dez e meia, achei melhor não contrariar.
– Perfeito – eu falo e ela abaixa o papel e me olha irritada.
– Peeta eu to falando serio aqui, não vem com seus joguinhos – ela avisa e eu realmente sou pego de surpresa.
– O que eu fiz? Eu disse que tudo bem. – eu falo sem entender, ela solta o ar irritada, joga o papel em cima de mim e se levanta – Katss – eu chamo também me levantando, ela se vira pronta pra brigar comigo.
– Mãe... – Pérola chama do corredor e isso a distrai, Pérola está de roupão mas os cabelos já estão penteados, em largos cachos loiros que descem pelos seus ombros, duas tranças finas de cada lado presas por pequenos pontos brilhantes, seus olhos cinzas parecem ainda mais destacados e sua bochecha está levemente rosada.
– Você tá linda – eu falo e ela sorri.
– Eu ainda nem to pronta pai – ela fala mas sorri agradecida.
– Mas tá linda – eu confirmo e ela ri.
– Agora é sua vez mãe – ela fala e Katniss parece surpresa e me olha esperando que eu a tire dessa.
– Não, eu... eu to bem assim – ela fala e Pérola nega.
– Claro que não, anda, vem – ela fala e se aproxima pegando a mão dela – Só falta você – ela fala já arrastando ela pro quarto, ela me lança um olhar de socorro e eu sorrio quando ela entra no quarto, solto o ar cansado e me deixo cair no sofá, já estava começando a relaxar quando Ian sai do quarto apressado.
– Desculpa, não queria assustar – ele fala quando eu levanto a cabeça rápido demais.
– Tudo bem... o que foi? – eu pergunto já que ele parecia ansioso.
– Tem como o senhor pedir pro Pyter e o Ryan devolver minhas calças? – ele fala e eu o olho confuso – Eu entrei pra tomar banho e deixei minha roupa em cima da cama, quando sai de lá, a calça tinha sumido – ele fala ‘’sumido’’ com ironia, eu solto uma risada.
– Ok, vamos resgatar suas calças – eu falo e ele não parece achar tanta graça, nós voltamos no quarto e lá está em cima da cama a calça dele.
– Muito engraçado – eu falo sério mesmo que esteja achando graça de verdade – Por que vocês também não vão se arrumar? – eu pergunto e eles continuam com caras de inocentes, eu saio do quarto e entro no meu, me jogo na cama querendo relaxar só alguns minutos e finalmente consigo, depois começo a me arrumar também, quando já estou pronto me olho no espelho novamente, cabelos penteados pra trás, uma blusa azul escura sem botões e um terno cinza bem alinhados por cima, calças da mesma cor do terno e os sapatos preto, como Pérola tinha escolhido, eu tomo uma respiração profunda e saio do quarto, os garotos já estão pela sala discutindo alguma coisa sobre um jogo, eu me junto a eles mas quase não sou percebido, já eram um pouco mais de sete horas quando as garotas todas juntas saíram do quarto, até o assunto dos jogos ficou pra trás, Ian foi o mais rápido e logo estava indo até Pérola, ela sorriu daquele jeito que fazia seus olhos brilharem quando ele estendeu uma flor rosa que eu ainda não tinha percebido que ele segurava, ele falou algo que não deu pra ouvir, ela sorriu e sem se importar o beijou.
– Tudo bem! Acho que todos já entenderam – eu falo e eles riem, ele se afasta um pouco dela e ela coloca as mãos na cintura.
– E então? – ela pergunta me olhando – Pareço a vencedora do maior concurso de moda? – ela pergunta e eu sorrio ainda mais quando me aproximo dela.
– Parece a vencedora mais linda e encantadora de qualquer concurso já existente no mundo – eu falo e ela sorri mesmo que revire os olhos negando, mas é verdade, ela está incrível, o vestido é de um rosa muito suave com traços que pareciam ter sido feito a mão, ele vai até seu joelho e seria impossível ser mais linda, pensei isso até olhar pro lado e ver Katniss, ela está com um vestido azul escuro num corte bem feito, ele se encaixa perfeitamente no corpo dele, justo mas lhe dando um ar mais sério, ela está com um colar fino dourado, os cabelos preso em um coque mas alguns fios se soltando propositalmente, a maquiagem é leve e apenas destaca seus olhos, eu me afasto de Pérola e vou até ela, meus dedos tocam seu queixo e eu lhe dou um beijo rápido e suave – Você está linda – eu falo olhando nos olhos dela, ela respira fundo e tenta parecer confiante.
– Vamos acabar logo com isso – ela fala mas parece um pouco mais segura e decidida que antes, ela encaixa a mão na minha colocando os dedos entre os meus, então ela olha para eles – OK, eu quero todos juntos – ela avisa e eles concordam, Haymitch aparece avisando que os carros já estão nos esperando, eu olho novamente pra Katniss e ela me força um sorriso.
– Juntos? – pergunto e ela confirma com a voz firme.
– Juntos! – eu a beijo novamente e então saímos pra enfrentar essa noite o mais rápido possível.