- Recomeçando escrita por HungerGames


Capítulo 59
Capítulo 59




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Katniss está praticamente enroscada em mim, sua perna entre as minhas, o braço sobre minha barriga, a cabeça sobre meu peito, seu cabelo espalhado sobre o rosto dela, eu passo minha mão pelo seu cabelo e inspiro seu perfume, meus dedos correm pelas suas costas nua e ela se mexe mas não acorda, eu sorrio por que nunca me canso de tê-la nos meus braços e nunca irei cansar, estava distraído olhando pra ela quando o som distante me despertou, eu paro e levanto a cabeça esperando o barulho de novo, então ouço o telefone tocar mais uma vez, eu estranho e olho pro relógio que marca 3:15 da manha, mais um toque e um pressentimento ruim começa a surgir, quem ligaria essa hora pra cá? Eu tento afastar Katniss com o máximo de cuidado que consigo, afasto sua perna, em seguida retiro seu braço colocando-o na cama e depois escorrego sua cabeça para o travesseiro, puxo o lençol e a cubro, então pego minha calça da beirada da cama e a visto, saio do quarto apressado mas fecho a porta lentamente, mais um toque, desço as escadas correndo, entro no escritório com mais um toque.
– Alô? - eu atendo torcendo pra que seja engano, ou algum tipo de brincadeira, mas a voz do outro lado é séria e bem medida e conforme informa o motivo da ligação tão tarde eu me pego novamente desejando que tivesse sido uma brincadeira, eu me jogo sentado na cadeira com o telefone ainda no ouvido, apoio meu cotovelo na mesa e afundo meu rosto na minha mão, fecho os olhos e tento acordar, mas não é um sonho, a voz me desperta novamente, eu tomo uma respiração profunda - Sim, nós vamos! Chegamos o mais rápido possível! Obrigado por avisar - eu agradeço e desligo, volto a me afundar na cadeira e jogo a cabeça pra trás, encaro o teto por alguns segundos e depois fecho os olhos me preparando pro que vai vim.
– Peeta? - a voz me desperta, eu respiro fundo e levanto meu rosto pra ver Katniss entrando pelo escritório, ela me olha preocupada enquanto enrola o cabelo em um coque desajeitado, ela esta com o roupão bem amarrado ao corpo, seus olhos mostram que ela ainda está sonolenta, ela se aproxima me olhando - O que você ta fazendo aqui? - ela pergunta parando ao meu lado, ela passa os dedos pelo meu cabelo, eu giro a cadeira pra ficar de frente pra ela, e olho mas ainda não sei como dizer, ela percebe minha apreensão e seu olhar se intensifica ainda mais preocupada - O que foi? - ela se inclina passando a mão pelo meu rosto, eu passo meu braço pela sua cintura, encosto meu rosto na sua barriga e a aperto em mim, mesmo sem saber o que é, ela também me aperta nela, tentando me tranquilizar ou me confortar, quando na verdade é ela quem irá precisar de conforto, mas eu permito receber por alguns segundos, só preciso de alguns segundos dela e então estarei pronto pra quando ela precisar de mim - Agora me fala, o que aconteceu? Foi um pesadelo? Os flashes? - ela pergunta e eu me afasto dela, ficando em pé, eu nego e ela continua com o olhar interrogativo, eu passo meus dedos pelo cabelo dela.
– O telefone tocou e eu vim atender - eu falo e ela só parece mais confusa - Era do Hospital - eu falo aos poucos e ela continua sem entender - Do Distrito Quatro - eu completo e ela parece se despertar.
– Minha mãe - ela fala e eu dou um leve aceno de cabeça confirmando. - Como ela tá? - ela pergunta nervosa, eu olho no fundo dos olhos dela, queria não ter que falar, queria não ter que dar essa notícia a ela mas só resta a mim, mas antes que eu fale percebo pelo olhar dela que ela já entendeu.
– Eu sinto muito - eu falo apenas pra confirmar, ela não diz nada apenas me abraça forte e apertado, eu a abraço de volta, deixo que ela tire de mim qualquer conforto e força que ela precise, deixo que ela encontre em mim tudo que ela precisa pra passar por isso, leva alguns segundos apenas assim e então os soluços dela invadem o escritório, seu corpo estremece a cada som, as lagrimas são liberadas rápido e molham meu ombro mas eu não me importo apenas a abraço mais forte, ela chora e eu deixo que chore por mais que esse seja o pior som pra mim, sei que ela precisa disso, precisa sentir, liberar, e esse é um choro carregado de tristeza, lembranças, dor, é o mesmo choro reservado a Prim, ao pai e agora a mãe, eu sei o quanto dói e sei que nada que eu fale vai fazer parar, eu a sento na cadeira quando seu corpo começa a fraquejar, ela esconde o rosto entre as mãos e tenta se controlar mas seus ombros ainda se balançam, eu me ajoelho as seus pés e fico ali com as mãos sobre sua perna tentando mostrar conforto, vários minutos se passam quando ela consegue se acalmar.
– Eu não tenho mais ninguém Peeta! Só restava ela - ela fala em meio a alguns soluços ainda, eu nego, passando a mão pelo rosto dela enxugando suas lágrimas.
– Não, você ainda tem a mim! Tem o Pyter, a Pérola! Eu sei que é diferente, mas você ainda tem a nós! - eu falo e agora seu olhar muda e se foca mais em mim, ela parece presa a alguma lembrança e antes que ela diga eu sei o que ela está pensando - E eu tenho vocês! Dói, mas nós temos um ao outro lembra? - eu falo e as lagrimas voltam a descer, ela se inclina e passa os dedos pelo meu rosto, então me abraça de novo, eu sei que esse abraço não é só por essa notícia, é por que ela está se lembrando que agora somos iguais, também não tenho nenhuma família alem deles, ela segura meu rosto entre suas mãos e me olha nos olhos, as lagrimas agora correm em silêncio, eu as enxugo com meus dedos.
– Precisam de você lá pra todos os procedimentos - eu falo por que precisamos agir, ela concorda e me solta ficando mais ereta na cadeira, ela enxuga as lagrimas com a manga do roupão e respira fundo - Se sairmos logo conseguimos chegar pela manhã - eu falo e ela concorda. - Pyter e Perola - ela lembra ficando preocupada.
– Eu sei! Nós vamos falar com eles - eu falo e ela me olha com medo - Eles vão ficar bem - eu garanto pra mim mesmo e aperto sua mão, ela aperta mais forte e concorda.
– Como foi? - ela pergunta me olhando nos olhos.
– Ela teria um turno no Hospital de madrugada! Mas não apareceu, como ela nunca faltou, eles estranharam, ligaram e nada, então mandaram alguém até lá! Ela estava na cama... Foi dormindo! - eu falo esperando que isso sirva de alivio pra ela, mesmo que a morte seja ruim, ela não sofreu e isso é algo bom. Embora sua mãe não precisasse mais trabalhar pela idade, ela se recusava a ficar em casa e pegava plantões, pela experiência dela ninguém nunca reclamou, ela treinava os jovens médicos e ficava por perto se precisassem. Ela enxuga ainda mais o rosto, se levanta e coloca sua máscara de forte, eu a conheço por que já vi muitas vezes, por muitos anos, é agora que ela se fecha e tenta se manter inabalável por mais que por dentro ela esteja despedaçada.
– Eu tenho que pegar algumas roupas e os documentos! Temos que ver que horas é o próximo trem e se tem vaga - ela fala com a voz se mantendo distante, já querendo sair do escritório, eu a faço parar.
– Katss... Eu tô com você certo? - eu pergunto e ela confirma mas não olha nos meus olhos, eu seguro seu queixo e a forço a me olhar, quando seus olhos encontram o meu grande parte daquela distancia que ela queria manter se quebra, seu olhar é perdido e me aperta o coração, mas ao mesmo tempo eu prefiro assim - Você não tem que fingir pra mim! Sou eu, Peeta! Seu marido, seu amigo e eu tô aqui, não finge comigo! Eu sei o quanto isso dói e eu sei o quanto você ta perdida mas conta comigo! Eu quero que você confie em mim pra isso - eu falo e os olhos dela se enchem de lagrima de novo, ela confirma varias vezes com a cabeça e quando eu a abraço ela solta um som que parecia sufocado na sua garganta, é uma mistura de dor e alívio, eu passo a mão nas suas costas, no seu cabelo e espero ela se acalmar de novo, então eu seguro seu rosto e olho nos seus olhos - Você não tá sozinha - eu garanto firme e beijo sua testa por alguns segundos demorados, a abraço de novo e dessa vez quando a libero mesmo com a dor ainda visível ela parece realmente mais aliviada.
– Nós temos que falar com eles - ela fala e eu concordo.
– Mas antes eu vou falar com Haymitch, você separa algumas roupas pra gente e depois nós acordamos eles - eu falo e ela concorda tomando uma respiração forte, eu beijo seus lábios e então a libero, nós saímos do escritório e enquanto ela sobe as escadas eu saio de casa, a noite está fresca e o vento balança as arvores próximas, a chave extra fica embaixo de um vaso mas a porta não estava trancada, eu entro e as luzes estão todas acesas, mas isso é normal já que ele não dorme no escuro, eu vou até o quarto e seu ronco é tão alto como sempre, me aproximo da cama sabendo que vou enfrentar um grande desafio mas não tenho alternativa.
– HAYMITCH - eu o sacudo e chamo alto por que não se pode ter educação para acordá-lo, o ronco para apenas por um segundo e então volta - HAYMITCH - eu o balanço mais forte, tirando o lençol dele e puxando seu travesseiro, ele resmunga, xingando e me empurrando.
– Mais que inferno - ele pragueja abrindo os olhos, a luz acesa o faz tapar os olhos - Qual...qual seu problema? - ele pergunta tentando se despertar, ele puxa o relógio e o olha - São 3 da manhã - ele fala irritado e joga o relógio em mim me xingando, eu desvio e antes que ele continue eu dou a notícia.
– A Sra Everdeen morreu! - eu falo e isso o faz parar os xingamentos - Encontraram ela a algumas horas. Ela esta morta - eu repito e ele para, os braços caem ao lado do corpo e ele parece realmente acordado agora.
– Que horas nós saímos? - ele pergunta me olhando com o peso da notícia.
– Só o tempo de acordamos eles e trocar de roupa - eu falo e ele concorda já se levantando, ele vai ate o canto do quarto e puxa a mesma mala de mão que levou.
– Eu encontro vocês em dez minutos - ele fala e eu saio do quarto satisfeito por não ter que gastar muito tempo pedindo nada, ele sabe o quanto vai ser difícil pra eles e eu tenho que admitir que a presença dele ira conforta-los. Eu volto pra casa e quando entro no quarto Katniss já esta vestida com a mochila pronta.
– Só falta a deles - ela fala me olhando nervosa, eu pego uma camisa e a visto então estendo a mão pra ela, de mãos dadas vamos pro quarto da Pérola, eu abro a porta e a cena faz meu coração se apertar, em outros dias eu simplesmente ficaria aqui sorrindo e observando, mas infelizmente hoje eu não posso. Eles dois estão dormindo no colchão que Pyter arrastou pra cá, ele esta todo aberto, com um braço e uma perna pra fora do espaço, Pérola esta com a cabeça no travesseiro dele, segurando o seu bichinho de pelucia por cima da barriga de Pyter enquanto dorme tranquilamente, eu olho pra Katniss e uma lagrima escorre do rosto dela mas não temos alternativa, ela se ajoelha e balança a perna de Pyter, eu também me abaixo e balanço Pérola devagar, ela é a primeira a acordar, ela me olha confusa, depois olha ao redor.
– Que foi? - ela pergunta ainda sonolenta fechando os olhos novamente quando Katniss consegue acordar Pyter que se remexe na cama reclamando.
– Você precisa acordar Pyter - Katniss fala e sua voz embarga, isso não passa despercebido a Pérola.
– Você ta chorando? - ela pergunta abrindo os olhos de verdade agora e olhando pra Katniss, Pyter para de reclamar e mesmo deitado nos olha, Katniss me lança um olhar e eu sei que ela não tem condições de falar.
– Aconteceu uma coisa... E não dá pra esperar - eu falo e Pyter se senta rápido já acordado, ele e Pérola se olham e eu vejo quando ela aperta a mão na dele, então eles me olham ansiosos - Ligaram do Hospital no Distrito Quatro - eu espero eles absorverem essa parte e como não ha outro jeito de falar eu completo - A avó de vocês...- eu começo e Pérola leva a mão a boca já sabendo - Eu sinto muito! - eu falo e Pyter parece confuso - Ela se foi! - eu explico e ele olha pra Katniss que confirma com um balançar de cabeça, Pérola se joga em mim e me abraça tão apertado que eu preciso apoiar a mão no chão pra manter o equilíbrio, ela chora e eu tento acalmá-la, leva alguns minutos até que o choro dela diminua ao passo que Pyter continua em choque, ele não diz nada, não chora, apenas abraçou Katniss e se mantém ao lado dela - Nós temos que ir pra lá - eu falo e Pérola concorda.
– A gente vai perder aula de novo? - Pyter pergunta e Pérola se vira pra ele horrorizada mas antes que ela falar eu seguro seu braço e nego, ela se cala mas o olha com reprovação.
– Eu resolvo com a escola! Nós realmente temos que ir - eu falo e ele se levanta concordando.
– Vou pegar a mochila - ele fala e sai do quarto rápido, Katniss me olha e vai atrás dele, Pérola volta a chorar me abraçando, eu digo a ela que tudo vai ficar bem e que esteja onde estiver ela não ia gostar de vê-la mal, eu a ajudo a encher a mochila de novo, saio do quarto e ela vai se trocar, pego as minhas coisas e da Katniss e desço, Haymitch chega com uma mala e pela primeira vez não tem suas piadas.
– E eles? - ele pergunta preocupado.
– Já estão se arrumando! Perola não para de chorar e Pyter tá com a Katniss - eu falo e ele parece avaliar a situação.
– Vô! - o chamado desesperado faz ele se virar rápido e pronto pra receber Pérola, ela se joga nos braços dele e o abraça forte, ele faz o mesmo, beijando a cabeça dela várias vezes e prometendo que tudo ficará bem, então Katniss e Pyter também descem, Pyter traz a mochila dele mas continua forte ao lado de Katniss que também parece melhor agora.
– Vamos? - eu pergunto e então saímos de casa, chegamos a Estação e esperamos por vinte minutos o trem, entramos e dessa vez esta bem mais vazio mesmo assim ficamos todos em uma cabine, Haymitch e Pérola ficam pelo sofá, ele abraçando ela e lhe fazendo carinho enquanto ela apenas chora baixinho, Katniss esta verificando se esta com todos os documentos e remexendo em papeis na busca de algo pra fazer e Pyter aproveita que ninguém está de olho e sai lentamente do quarto, e realmente eles não notam, mas eu me levanto e vou atrás dele.
– Onde você vai? - Katniss pergunta quando passo por ela.
– Já volto - eu aviso sem explicar e saio, vejo Pyter alcançando o ultimo vagão e é pra lá que eu sigo, a porta se abre com a minha presença e ele nem se dá o trabalho de olhar pra trás, ele se senta no sofá de frente pra parede de vidro e encara a noite, eu me sento ao lado dele e apenas fico ali esperando ele tomar a frente, ele coloca as pernas dobradas em cima do sofá, abraça elas, apoia o queixo nos joelhos e não desvia o olhar da noite que estamos deixando pra trás.
– Eu devia ter sido mais legal com ela - ele confessa depois de vários minutos em silencio - Todas as vezes que ela foi lá em casa e eu não conseguia ser legal! Eu devia ter sido - ele se culpa e isso me rasga por dentro, eu passo minha mão pelo cabelo dele e o puxo pra mim, ele se deixa levar e eu encosto ele no meu peito.
– A vida é feita de escolhas! Quando você escolhe algo você perde alguma coisa! Quando sua avó decidiu viver longe ela fez a escolha dela! Uma escolha que não tem nada a ver com vocês, mas que a fez abrir mão de outras coisas... Não estar sempre presente foi uma consequência e ninguém, ninguém - eu repito apertando meu braço nele - Pode te culpar por não aceitar isso com um sorriso no rosto! É difícil agir normalmente com alguém que você não vê sempre, eu sei disso e isso não é culpa sua - eu falo querendo confortar ele.
– Mas a Pérola conseguia - ele fala ainda culpado.
– Todos somos diferentes. Cada um é cada um. Mas isso não significa que não era complicado pra ela também - eu falo e ele fica em silencio, eu o afasto do meu peito e o faço olhar pra mim - Escuta... Sua avó te amava, eu tenho certeza disso e esteja onde estiver ainda te ama! Mas ela errou, não é por que ela se foi agora que todos vamos tampar os olhos e fingir que ela era perfeita por que ela não era. Do mesmo jeito que eu não sou, nem sua mãe, nem ninguém! Você agiu como deveria agir naquele momento, respeitando o que você sentia... Não tenta se culpar por isso por que é errado. Você foi verdadeiro ninguém pode ser culpado por isso - eu falo segurando o rosto dele entre minhas mãos, ele concorda.
– Eu tava começando a gostar mesmo dela - ele confessa com a voz triste - Esses dias foi muito legal! Eu sinto muito só ver agora.
– Você viu! É isso que importa - eu falo forçando um sorriso.
– E então ela morreu - ele fala e me olha com dor, então encosta a cabeça no meu peito, eu o aperto em mim sem saber mais o que dizer.
– Ela te amava e eu tenho certeza que ela estava muito feliz com esse final de semana – eu falo e ele concorda ainda abraçado a mim.
– Eu sinto muito – ele fala com a voz abafada.
– Eu sei! Eu também – eu falo e deixo que ele apenas fique ali quieto no meu colo, por que mesmo com o tamanho dele, sua postura e as vezes essa pose de adulto que ele faz, esse ainda é aquele mesmo garotinho que corria pra mim quando Katniss brigava com ele e se agarrava nas minhas pernas, só queria que dessa vez o motivo fosse esse também.
– A mamãe chorou – ele comenta sem se separar de mim, posso entender esse comentário, Katniss sempre se mantem forte, ela tem seus momentos mais frágeis, mas então ela se tranca no quarto, se afasta, nos evita mas chorar, não quando tem alguém por perto, principalmente eles.
– Ela vai ficar bem – eu garanto e ele concorda.
– Eu não quero que vocês morram nunca – ele fala e se levanta do meu peito – Nunca! Promete? – ele pede olhando nos meus olhos e como eu gostaria de poder garantir isso, como eu gostaria de nunca fazer eles sentirem isso, mas não posso, por que a verdade é que ninguém pode controlar algo assim, eu passo meus dedos rosto dele e lhe forço um sorriso triste.
– Eu prometo que eu sempre vou estar do seu lado, independente de onde – eu falo e ele nega.
– Não! Vocês não podem morrer! NUNCA – ele repete começando a ficar nervoso.
– Ei, calma! Eu estou aqui não estou? – eu pergunto segurando seu rosto e uma lagrima escorre dos olhos dele – E é aqui que eu vou ficar agora ok? – eu falo passando meu dedo e enxugando a lagrima – Bem aqui – eu repito e o puxo pra perto de mim de novo, dessa vez ele me aperta mais forte e passa os braços me segurando nele como se eu pudesse simplesmente sumir de repente, esse é o tipo de sentimento que eu sempre quis evitar neles, a dor, o medo, eu daria tudo pra que eles não passassem por isso, no entanto, essa é a vida e tudo que eu posso fazer agora é passar por isso junto deles.
Nós passamos a viajem inteira ali naquele sofá, com ele encostado em mim, não falamos muito mas ele já parecia bem melhor quando anunciaram nossa chegada, Pérola desceu agarrada a Katniss que também parece mais forte, Pérola está com os olhos avermelhados mas parou de chorar, Haymitch está sempre por perto e sem nenhuma de suas piadas, apenas sendo um bom avô, nós fomos direto pra casa da mãe dela, e entrar lá de novo é estranho, Katniss sente assim que nos aproximamos da porta e encontramos algumas pessoas ali, ela solta um som meio abafado e respira fundo, Pérola volta a chorar agora agarrada ao avô e Pyter fica ao meu lado.
– Sra. Everdeen – o homem cumprimenta Katniss e isso me dá uma sensação estranha, é como eu chamava sua mãe.
– Katniss, por favor – ela pede provavelmente sentindo o mesmo que eu, ela da um passo e aperta a mão do homem, enquanto seus olhos correm para dentro da casa, ela balança a cabeça discretamente e volta a olhar para o homem que agora me oferece a mão.
– Sr. Mellark – eu aperto sua mão com um aceno de cabeça, ele também cumprimenta Haymitch que pela primeira vez não tem uma piada na hora de uma apresentação – Eu sou Henrik Villar, diretor do Hospital, eu sinto muito pela sua perda, sua mãe era uma ótima mulher, todos sentiremos muito a falta dela – ele fala com um tom de voz medido mas sincero, Katniss agradece – Bom, nós precisamos que a senhora assine alguns papéis... coisas formais – ele fala e ela confirma – Mas antes acredito que queira ver sua mãe... – ele fala e dá um passo para o lado indicando que ela entre na casa onde o corpo da mãe dela já está sendo velado, um arrepio corre meu corpo e sinto quando ela segura forte minha mão.
– Eu não posso entrar lá Peeta – ela fala baixo mas desesperada, ela me olha como se eu pudesse salvá-la disso e isso é o que eu mais queria fazer.
– Calma! Respira... – eu falo e ela continua apavorada, o homem se afasta nos dando privacidade, Haymitch está a alguns passos atrás de nós com as crianças agarradas a ele – Eu to aqui! Eu vou com você – eu falo e aperto minha mão na dela, mesmo parecendo com medo, ela concorda eu beijo sua testa e lhe olha com toda segurança que posso oferecer – Esperem aqui – eu falo me virando pra trás e Haymitch concorda, Pérola voltou a chorar e Pyter apenas encara a praia, eu dou o primeiro passo com Katniss segurando forte minha mão e a sala onde a cerca de um dia nós estávamos rindo e batendo fotos, agora está com um caixão no meio, eu preciso disfarçar a sensação horrível que aparece e consolar Katniss, nós nos aproximamos e quando paramos em frente ao caixão ela solta um gemido de dor, ela exita mas seus dedos tocam o cabelo da mãe que está perfeitamente penteado ao redor do rosto, sua aparência pela primeira vez é anos é de alivio, ela não tem aquela dor, sofrimento, cansaço, é como se ela realmente estivesse em paz.
– Ela parece melhor agora – Katniss sussurra o que eu mesmo estava pensando, por pior que seja, essa é a verdade, ela parece tão serena e tranquila quanto esteve durante todos esses anos, eu passo meu braço pela cintura de Katniss e me mantenho ali com ela.
– Com licença – uma mulher se aproxima enxugando as lagrimas com um lenço – Sou Maria Palini... – ela fala e se aproxima de Katniss – Eu sinto muito, sua mãe era uma boa pessoa, nós éramos colegas no Hospital e ela sempre me falava de você – ela fala com um sorriso triste e enxuga outra lagrima – Meus sentimentos – ela fala e abraça Katniss, eu a solto e me afasto alguns passos, o que faz Katniss me olhar assustada, por isso eu avanço um passo de novo, a mulher a solta e ela procura pela minha mão, a mulher se afasta.
– Não sai de perto de mim – ela fala no meu ouvido e pelo som da sua voz é um pedido quase desesperado, poucas pessoas estão aqui, mas todas vem falar conosco, e nos oferece seus sentimentos, agradecemos e nos mantemos juntos.
– Sra.... Katniss – o homem se conserta e se aproxima – Sinto muito interromper mas preciso que assine os papéis... – ele fala e Katniss concorda, ele está com uma pasta preta – Me acompanhe – ele fala indo até a mesa da cozinha e quando eu libero minha mão dela, seu olhar se volta pra mim rápido sem se importar com o homem.
– Eu tenho que ver eles! Eles ainda estão lá fora – eu falo e ela olha na direção da porta como se tivesse se esquecido, ela olha para o homem e parece hesitar – Resolva isso, quanto antes melhor, eu vou ver eles – eu falo e ela não parece convencida, mas concorda, eu beijo seus lábios rapidamente e me afasto, saio da casa e não os encontro na varanda, mas basta um olhar a alguns metros e vejo eles três na beirada da água, eles largaram as bolsas no canto junto com os sapatos, a manhã está apenas começando e o dia está parcialmente nublado, mas a beleza do lugar ainda merecer ser observada, eu caminho pela areia na direção deles, Pérola está sentada na areia encostada no Haymitch que passou o braço pelo ombro dela e Pyter está parado em pé com os pés remexendo na areia e na água, eu passo minha mão pelos cabelos de Pérola e ela levanta o rosto rapidamente e me dá um sorriso triste e cansado.
– Oi – eu falo me abaixando perto dela.
– Oi – ela fala se soltando do avô e encostando a cabeça no meu ombro – Cadê a mamãe? – ela pergunta olhando pra trás.
– Teve que resolver algumas coisas – eu falo dando de ombros e beijo seus cabelos.
– Como que ela tá? – ela pergunta preocupada. - Vai ficar bem – eu garanto e Pyter se aproxima.
– Eu posso ir lá dentro? – ele pergunta indicando a casa.
– Tem certeza? – eu pergunto por que não posso proibir mas também não está no meu tópico de coisas que quero que ele faça, ele confirma.
– Ok! – eu concordo já me levantando.
– Eu não quero ir – Pérola fala se encolhendo e apertando os braços em volta das pernas.
– Tudo bem. Não tem problemas! Você fica – eu falo passando a mão pelo cabelo dela e beijando sua testa.
– Mas... – ela parece confusa.
– Voce não tem que ir se não quiser, nós entendemos – eu falo e ela concorda.
– Eu não vou – ela fala decidida.
– Certo! Eu já volto – eu falo e nem preciso pedir por que Haymitch já está a abraçando de novo, eu começo a andar com Pyter do meu lado – Você também não – eu falo pra ele.
– Mas eu quero – ele fala firme e quando o olho vejo a mesma força de Katniss, ele quer ver por que ele precisa ver, ele precisa enxergar pra conseguir passar, eu concordo e seguro sua mão quando alcançamos a varanda, ele respira fundo e eu o olho esperando ele mudar de ideia mas ele apenas entra na casa me puxando com ele, seu corpo fica tenso quando vê o caixão e para antes de estarmos próximos demais, eu o olho e ele está com o olhar fixo nele.
– A mesa com o bolo tava bem ali – ele fala se lembrando da festa que eles preparam pra ele, as palavras se misturam na minha cabeça e eu não sei o que dizer.
– Pyter? – a voz que nos chama a atenção, vindo da cozinha vem a mesma garota que o reconheceu na praça, a mais velha, loira, ela caminha até nós e abraça Pyter – Sinto muito – ela fala enquanto o abraça, ele parece meio sem jeito mas seus braços também se fecham em volta dela – Ela era legal, se bem que eu não conhecia ela direito – ela fala depois de soltar o abraço.
– Nem eu – ele fala com um leve tom de tristeza.
– Minha vó também morreu ano passado – ela fala tentando amenizar – Por isso eu odeio velórios – ela fala fazendo uma careta – Mas eu sabia que você ia tá aqui, e eu sei o quanto era ruim não ter ninguém por perto... – ela fala dando de ombros – Minha vó morava no 2 então eu tava meio perdida igual você – ela explica e pela primeira vez eu to começando a gostar dessa garota, pelo menos Pyter não parece mais tão tenso.
– Clara, espero que não esteja incomodando – o homem fala se aproximando, Katniss ao lado dele – Essa é minha filha, Clara Villar – fala o homem que se apresentou como diretor do Hospital e estava com Katniss assinando os papéis, então eu percebo a semelhança neles.
– A gente se conheceu na praia – ela fala pro pai que sorri concordando – Você quer dar uma volta? – ela pergunta a Pyter mas ele nega e se aproxima de Katniss.
– Eu vou ficar aqui, valeu – ele fala já passando o braço pela cintura da Katniss. - Você pode ir se quiser – ela fala liberando ele, mas ele nega.
– Tudo bem! Eu vou fica lá fora – ela fala se despedindo e saindo, o pai também se afasta.
– Eu não acho bom você aqui dentro – Katniss fala pra ele, passando a mão pelo seu rosto.
– Eu quero ficar com você – ele fala e ela dá um sorriso triste e beija a testa dele.
– Eu preciso de ar – ela fala e nós saímos da casa, ela para na varanda olhando a praia e abraçada nele, os dois parecem confortar um ao outro do jeito deles, sem palavras, sem lagrimas, sem frases de ‘’tudo ficará bem’’, apenas os dois abraçados olhando pro mar, não há nada que eu tenha a fazer, emtão apenas me afasto e deixo eles dois juntos. Quando o diretor do Hospital volta com mais dois homens, eu assumo as coisas e deixo Katniss distante dessa parte, eles são do cemitério e nós apenas conversamos e acertamos as coisas finais, eu pago o que precisa, eles explicam todo o procedimento e o enterro fica marcado para o fim da tarde, então enquanto isso as coisas apenas são levadas, algumas pessoas que moram por perto veem prestam sua solidariedade, seus sentimentos, Filipi também aparece e nos cumprimenta, na hora do almoço ele insiste que devemos ir almoçar com eles, e mesmo que eu não esteja com fome e nem Katniss, aceitamos por que as crianças precisam se alimentar e nós também, a pequena Annie consegue o que nós não conseguimos que foi arrancar sorrisos e risadas da Pérola e eu agradeço por isso, por um momento ela se esqueceu do resto e se juntou a brincadeira com a menina e isso nos aliviou um pouco da tensão, mas ela se lembrou de ter que avisar Hazel por que ela tinha ficado muito preocupada com o ‘’sumiço’’ dela no fim de semana, Vitória disse que ela poderia usar o telefone e ela correu pra ligar, alguns minutos depois ela apareceu com um olhar apreensivo, ela me olhou nervosa como se tivesse feito algo errado, mas foi pra Katniss o recado.
– O Gale quer falar com você – ela falou e Katniss pareceu surpresa mas logo foi até o telefone, Pérola se aproximou me olhando com cautela.
– A Hazel falou pra ele – ela explicou me olhando nervosa, eu forcei um sorriso.
– Tudo bem! Ele também conhecia sua vó, certo? – eu falo o mais tranquilo que consigo, embora não esteja dando saltos de alegria sei que ele é um amigo da família e não posso impedir que ele faça a parte dele, alguns minutos depois Katniss volta enxugando uma lágrima perdida, ela se senta ao meu lado mas não diz nada e eu também não pergunto. Filipi distraiu Pyter perguntando sobre os treinos e dando dicas, eles pareciam bem mais relaxados quando saímos de lá, mas infelizmente durou pouco por que a realidade nos atingiu quando nos aproximamos da casa de novo e continuou até a hora em que o carro apareceu para levar o caixão pro cemitério, nós seguimos em um outro carro e em poucos minutos chegamos ao local, cerca de quinze pessoas também compareceram, estar num lugar assim traz uma energia ruim, pesada que por mais que tente ser eliminada paira sobre todos, Pérola permaneceu firme na decisão de não se aproximar do caixão e ninguém a tentou fazer mudar de ideia, pelo contrario Katniss parecia satisfeita com a decisão dela, já Pyter não se desgrudou de Katniss nem por um segundo, por isso ela não se aproximou muito, na verdade acho que ela também se sentiu aliviada por isso, ver pessoas morta não está na lista de favoritos de ninguém, quando o caixão foi fechado, Katniss estremeceu ao meu lado e eu apertei minha mão em seu ombro e no momento que o caixão foi abaixado no tumulo a lagrima escorreu pelo rosto dela, Pyter a abraçou mais apertado e ela fez o mesmo com ele, do outro lado Pérola chorava agarrada ao Haymitch, eu acaricei seus cabelos e ela o soltou e me apertou forte, mas o padre que estava presente perguntou se Katniss queria dizer algo, ela me olhou assustada e todos os olhares se viraram pra ela, então eu tive que devolver Pérola pro Haymitch e assumi o lugar me oferecendo pra dizer algo, a verdade é que eu não sabia muito o que falar, acredito que as pessoas ali talvez a conhecessem mais do que eu, mas como membro da família, era o esperado, então eu apenas disse alguma palavras rápidas, as pessoas pareceram aprovar e então o padre fez uma oração e flores foram jogadas no tumulo e em seguida, terra. As pessoas se aproximaram de novo e se despediam, abraços, apertos de mão, sorrisos tristes, lagrimas escorrendo, olhares de compaixão, tudo se repetiu até o ultimo, o diretor do Hospital, junto com a esposa e a filha nos acompanhou até o carro.
– Vocês já tem onde ficar? – ele perguntou quando alcançamos o carro.
– Nós não vamos ficar – Katniss respondeu rápido e me olhou em confirmação.
– Nós vamos pra estação agora – eu confirmo, por que o que todos queremos agora é voltar pra casa, ficar aqui não adiantaria em nada.
– Entendo, se tiver algo que eu possa fazer – ele oferece e nós agradecemos mas só precisamos estar em casa, nos despedimos e entramos no carro, em poucos minutos chegamos a Estação, já estava começando a anoitecer quando entramos no trem, nós fomos pra cabine e com dois banheiros a disposição nós nos dividimos, deixando as crianças primeiro.
– Obrigada – Katniss falou quando se sentou ao lado do Haymitch, eu já estava esperando que ele soltasse alguma gracinha e usasse sua ironia pra tentar melhorar as coisas, mas invés disso ele simplesmente ofereceu um sorriso triste e a puxou pra um abraço, ela não hesitou, não tentou resistir, apenas se deixou ser consolada, ele a abraçou como um pai faria, ele beijou o alto da cabeça dela e a deixou ali abraçada nele, não poderia jamais imaginar uma cena dessa mas aconteceu, Haymitch nem parecia o mesmo velho irritado que vive ameçando-a e provocando, não tinha ironia, maldade, irritação, só carinho e quando ele me olhou eu entendi o por que, quando nossos olhares se encontram pela primeira vez eu senti a mesma ligação que Katniss sempre teve com ele, por que era como se eu pudesse ler o pensamento dele, aquele abraço não era apenas de consolo pra ela, era pra ele também, por que um dia será ele, um dia quem estará dentro daquele caixão é ele, eu sei que é isso que ele tá pensando por que ele confirma quando me dá um sorriso triste e um aceno de cabeça.
– Vocês vão ficar bem – ele fala e Katniss concorda coma cabeça mas não era pra ela que ele falava, seus olhos não desviaram do meu, e ele sabia que eu tinha entendido, eu não concordo, não digo nada, por que perder ele é completamente impensável agora, eu desvio o olhar dele e quebro esse clima, não quero pensar nisso agora, nós ainda estamos aqui e é nisso que temos de nos concentrar, a morte sempre traz esse clima pesado e só precisamos sair disso e voltar pra nossa rotina. Quando eles saem do banheiro deixo que Katniss vá, Haymicth também entra no outro e eu fico com ele, coloco-os na cama de casal e os cubro como quando eles eram pequenos, então Pyter dá um pulo da cama e vai até mochila dele, Pérola e eu ficamos esperando por ele que volta com um sorriso.
– Já ia esquecendo! Eu trouxe pra você – ele fala e mostra o Billy que é o bichinho de pelúcia da Pérola e ela ri e o pega, o som da risada deles traz de volta a aquela sensação de vida.
– Alguém pode me explicar como Billy ficou preto? – eu pergunto e Pyter ri e Pérola faz uma careta pra ele.
– Pergunta pro Pyter – ela fala com a voz mais parecida com a sua voz normal, sem aquela tristeza, ele faz uma cara confusa e ela esfrega Billy no rosto dele que faz cócegas na barriga dela – Não, não! Manda ele parar pai – ela pede mas está rindo e se debatendo na cama, pela primeira vez hoje eu sorrio de verdade, eles riem enquanto ela tenta se desviar, e conforme o trem vai avançando parece que nossas vidas que começam a entrar nos trilhos novamente.
Chegar em casa foi ainda melhor dessa vez, era mais cedo que na ultima vez porem parecíamos imensamente mais cansados, Pyter e Pérola foram para o quarto e nós também, o cansaço do dia estava tão forte que mal demoramos pra pegar no sono, no dia seguinte quando acordei eles já estavam de pé se arrumando, eles pareciam ansiosos pra voltar pra escola e eu posso entender isso, a rotina nos conforta, quando eles saem pra escola, eu sigo pra padaria e Katniss vai pra floresta.

Aos poucos a normalidade nos atinge, sou obrigado a aturar Benny e Rory me enchendo a cabeça por que eu finalmente liberei o namoro de Pérola e Ian, Marie se diverte quando eu os expulso de perto de mim e Philip mesmo que tente parecer reprovar ri de cada piada.
– E a Keyse como tá Benny? - eu pergunto sempre que ele começa a suas piadas e isso o faz voltar ao trabalho - Você vai pagar a lingua e eu vou me lembrar das piadas ok? - eu falo quando ele volta pro balcão.
– Vamos trabalhar vamos! Muita brincadeira não dá certo - ele fala incomodado e me ignorando e é só repetir isso toda vez que ele recomeça e temos um acordo. O namoro de Ian e Pérola se espalhou pela escola, Pyter disse que não se falam em outra coisa por lá, que eles são uma especie de casal modelo, não tem niguém que não saiba deles, mas ele me garante que eles não ficam grudados pela escola, mesmo assim isso não me impediu de chamar Ian pra uma conversa rápida.
– Eu fiquei sabendo que a escola inteira só fala de vocês dois - eu falo pra ele enquanto ele me ajuda a carregar algumas sacas de farinha pra dentro da padaria, ele sorri e confirma.
– Bom, você tem filhos famosos - ele fala sorrindo.
– Espero que seja só por isso - eu falo e olho sério.
– E por que mais seria? - ele pergunta sem se abalar com meu olhar.
– Olha só, eu espero que vocês não estejam grudados o tempo todo - eu falo abrindo o jogo e ele ri.
– Quem dera, mas ela mal deixa eu pegar na mão dela com medo de advertencia - ele fala com um sorriso divertido.
– Quem dera? - eu pergunto e ele sorri mais ainda - Se contente em segurar a mão apenas - eu falo e ele ri - Acho que tô sendo muito legal com você - eu falo e ele tenta se manter sério.
– Não senhor! Tá bom assim - ele fala e por mais que eu queira me irritar com ele a verdade é que ele não é do tipo que se consegue ficar muito tempo bravo.
– Pai!! - Pérola entra pela cozinha vindo até a mim, ela está com um vestido florido um pouco acima do joelho, o cabelo preso em um rabo de cavelo bem feito, que deixam seu rosto ainda mais destacado, os olhos cinzentos parecem brilhar e seria completamente impossivel deixar de dizer o quanto ela está linda - Eu não acredito que você colocou ele pra trabalhar - ela fala depois de beijar minha bochecha e fazer uma careta - A gente vai sair e agora ele vai sujo de farinha - ela reclama cruzando os braços e me encarando.
– Um pouco de trabalho duro não faz mal - eu falo e ela tenta parecer brava.
– Tudo bem! Ele nao ia aguentar carregar tudo mesmo - ele fala implicando comigo.
– Ah, com certeza eu tô pegando leve com você - eu falo e uso o pano que estava sobre a mesa pra acertar ele - Quer saber... pega o avental que o segundo turno é seu - eu ameaço.
– AH nem vem pai! - Pérola reclama rapido - Anda Ian, vem logo - ela fala o puxa pelo braço, ele ri limpando as mãos no pano que joguei nele.
– Volta as 3 - eu aviso e ela me olha reprovando.
– Pai, são 2 já - ela fala com uma mão na cintura.
– Já? - eu pergunto e olho no relogio - Então é as 2:30 - eu falo e ela reclama.
– Paaai! A mamãe disse as 4 - ela fala me olhando com a mão ainda na cintura.
– 4? Nada disso! Que sorveteria que vocês vão? É aqui no Distrito mesmo? - eu pergunto e ela ri, mas se afasta.
– As 4 - ela avisa ja se afastando.
– 3 - eu grito seguindo eles pra fora da cozinha, ela para e se vira pra me olhar com as sobrancelhas levantadas igual a Katniss.
– Ok, as 4, mas nem um minuto a mais - eu aviso apontando pra eles dois, ela sorri e vem até a mim e beija minha bochecha, então volta pro Ian e encaixa o braço no dele, ele levanta o compartimento do balcão e deixa ela passar, depois passa o braço pela cintura dela e a guia na direção da porta - Mãos no meio das costas - eu aviso a ele que mesmo sem se virar pra mim, levanta as maos pro alto como se provasse inocencia, eles riem e saem pela porta.
– Você sabe que aquela mão vai descer né - Benny fala rindo do canto do balcão.
– Quem fecha o caixa e o livro hoje é você - eu aviso pra ele por que ele odeia ter que fazer isso, sempre fica comigo ou com o Philip - E aliás ouvi o Ryan falar que a Keyse tava... como mesmo ele disse... ah a maior gata! - eu falo e isso o faz parar de rir.
– Pelo menos ela não namora - ele fala já se irritando.
– AINDA não - eu deixo claro e volto pra cozinha deixando ele resmungando algo, mas eu volto sorrindo.
São essas coisas que nos mostram que mesmo com perdas nossas vidas continuam e isso só se confirma ainda mais quando duas semanas depois chegamos a Feira de Ciencias na escola deles e tudo está de pernas pro ar, não precisamos nem de muito esforço, quando Katniss me olha sorrindo, já temos a resposta.
– Pyter – nós falamos e mesmo sabendo que ele estaria encrencado, nós dois sorrimos.


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