Tinha acabado de acordar à apenas alguns minutos, sentia a respiração de Damon no meu pescoço que denunciava que este ainda dormia profundamente. Tínhamos voltado de uma semana em Cabo, no México, que tinha sido perfeita mas como tudo na vida o que é bom acaba depressa e após um voo de quase doze horas ambos acabamos por adormecer por cima dos cobertores sem nem mesmo desfazer as malas ou sequer mudar de roupa. Lentamente tentei sair da cama sem acordar o meu marido, que resmungou algo que não percebi antes de abraçar a minha almofada. Sorri e caminhei até ao quarto de banho, onde tomei um duche e escovei os dentes, logo depois enrolei uma toalha no corpo e deixei o cabelo molhado solto.

– Hmm bom dia. – sussurrou Damon ainda com voz de sono enquanto mexia no cabelo.

– Hey babe. – sorri, caminhando até ele para lhe dar um beijinho de bom dia.

– Como estás?

– Óptima, o Noah hoje está mais calminho. – informei.

Na noite anterior o meu pequeno filhote andou a divertir-se pontapeando a minha barriga, parecia demasiado irrequieto para o que é costume.

– As festinhas do papá têm esse efeito, não é bebé? – disse para a barriga para depois depositar um leve beijo nela.

– Vou me vestir e tu vai tomar um banho, cheiras a avião. – brinquei saltando da cama até ao closet.

– Nada de roubar as minhas camisas, Mrs Hall. – avisou-me num tom brincalhão antes de entrar no quarto de banho.

Deixei cair a toalha e vesti a roupa interior apropriada para as mamãs, depois escolhi uns jeggings, uma t-shirt e para ficar mais quentinha, pois o Outono já ia a meio, vesti uma camisola de malha larga ficando assim mais confortável. Calcei uns botins rasos e sequei o cabelo deixando-o com as ondas naturais. Caminhei até à cozinha onde comecei a preparar o pequeno-almoço com alguma da comida que ainda tínhamos em casa, mais tarde iria até ao mercado fazer as compras do mês.

– Já tinha saudades do teu café da manhã. – disse Damon assim que bebeu um gole com conteúdo da sua caneca enquanto tentava apertar a gravata com a mão livre.

– Vais trabalhar hoje? – perguntei após ver que vestia uma roupa típica do trabalho.

– Vou, as minhas férias acabaram ontem e já me ligaram a dizer que tenho pacientes para hoje. Ficas bem, love?

– Claro, não te preocupes. Bom trabalho. – afirmei sorrindo.

– Até logo. – disse beijando-me os lábios para de seguida pegar nas chaves de casa e no sobretudo antes de sair de casa.

Ali fiquei eu sozinha, algo a que já não estava acostumada, peguei na torrada com geleia e continuei a comer acompanhando-a com um sumo de laranja. Após lavar a louça suja, decidi desfazer as malas e colocar grande parte da roupa para lavar, fiz a cama e estendi a roupa.

– Ora bem acho que está na hora de ir até ao mercado. – disse e vesti uma gabardine e sai de casa indo de carro até lá para fazer as compras.

*

Haviam passado três semanas desde que voltei da lua-de-mel, e já só faltavam dois meses para Noah nascer, encontrava-me no hospital num do meus pequenos turnos, visto que Dr. Edwards reduzira o meu horário para não me sobrecarregar e consequentemente stressar o bebé provocando um parto prematuro.

– Ainda por aqui Dr. Rachel?- questionou-me Donna após me encontrar no corredor de acesso às enfermarias.

– Não diga nada ao Dr. Edwards, mas precisava ver como estava um dos meus pacientes antes de me ir embora e só agora é que ele saiu da cirurgia. – expliquei.

– Não se preocupe, mas depois já sabe tem de ir para casa cuidar desse pequenote. – disse sorridente.

– Eu prometo. – disse. – Até amanhã Donna. – despedi-me e segui caminho até ao quarto de Mr. West, um paciente que sofrera um grande trauma após um acidente de carro.

– Então como correu? – perguntei a Zack que havia operado o meu paciente.

– Bem, ele está estável e conseguimos reparar os danos. – disse confiante.

– Que bom! – exclamei contente.

– Ele agora vai ficar de recobro e amanhã já deve receber visitas. – informou.

– Ok, então eu amanhã volto. Bye Zack. – despedi-me e caminhei até o meu gabinete onde arrumei tudo e despi a bata. Logo de seguida apaguei as luzes e fechei a porta, apanhando o elevador até ao parque de estacionamento.

Entrei no carro e pousei a carteira no banco dos passageiros, aproveitei e mandei um mensagem a Damon a dizer que já ia a caminho de casa, onde ele já se encontrava a fazer o jantar, este respondeu-me com um amo-te e pedindo para lhe levar alguns ingredientes para uma sobremesa. Sorri e voltei a pousar o telemóvel na carteira, colocando as chaves para ligar o carro. Dirigi até uma loja onde podia comprar algumas da guloseimas pedidas pelo meu marido, aproveitei e comprei um Kit Kat, pelo qual sentia um enorme desejo naquele momento.

– Boa noite. – cumprimentei a empregada que também o fez e coloquei todos os artigos na passadeira.

– Desculpe perguntar, mas está de quanto tempo? – questionou-me com uma voz carinhosa.

– Não tem mal algum. E respondendo à sua pergunta, estou de sete meses. – informei.

– Daqui a nada já está com ele nos braços. – disse fazendo uma conversa de ocasião.

– É, mal possa esperar. – sorri afagando a barriga antes de pagar as compras.

– Boa sorte menina e muitas felicidades.

– Obrigada. – agradeci pegando nos sacos e dirigindo-me até à saída.

Entrei de novo no carro e pousei as compras junto da carteira e logo dei inicio à marcha do veículo, ficando parada num sinal vermelho. Reparei que a chuva começava a cair aumentando de intensidade, é Londres começava a mostrar o sinais de Inverno e daqui a nada os nevões iam começar. Assim que o sinal mudou para verde acelerei o carro, normalmente, mas o que não sabia é que do meu lado direito vinha um outro carro bem acima do limite e a passar com o sinal vermelho. Apenas tive tempo de ver os faróis brancos que me encandearam e sentir uma força brutal embater no meu carro que se moveu alguns metros, até cair inconsciente com o sabor de sangue na boca.