Passaram-se três semanas desde que Jamie havia sido internado, neste momento ele encontrava-se muito melhor e pronto para ir para casa, Danielle tornara-se uma companhia mais frequente e comecei a criar uma amizade com ela, pode até parecer precoce mas existem certas pessoas que entram na nossa vida e é como se já fizessem parte dela desde sempre, a minha relação com Damon estava sólida e o sentimento cada vez maior. Posso assim dizer que nada mudou para pior de facto até melhorou.

– Ei Rachel, vens almoçar à cantina hoje? – perguntou-me Danielle após nos cruzarmos no corredor do piso 2.

– Sim, guardas-me um lugar? – pedi.

– Claro! – exclamou caminhando na direcção oposta à minha.

Continuei o meu percurso até ao quarto do Jamie onde lhe iria dar alta, quando entrei ele encontrava-se deitado com o seu pai ao lado que lhe contava uma história de crianças, sorri com a imagem lembrava-me do meu pai fazer o mesmo.

– Hello Jamie e Mr. Scott. – cumprimentei.

– Doutora Rachel! – exclamou o pequeno.

– Então pronto para ir para casa? – perguntei.

– Ele já pode? – questionou-me Mr. Scott que logo se levantou da cama.

– Sim, houve uma melhoria significativa e este rapagão já pode voltar para casa. Só o aconselho a ter precaução com as correntes de ar e os dias mais frios. De resto ele pode fazer tudo. – sorri.

– Papá já posso jogar basket? – perguntou com um brilho no olhar.

– Sim ele pode. – afirmei quando o seu pai me questionou com o olhar apenas. – Aqui tens um doce porque te portaste muito bem. – entregando-lhe um chupa-chupa.

– Obrigado! – exclamou sorrindo de seguida.

Acabei de me despedir deles que já faziam parte da minha rotina, conhecera um pouco mais de Mr. Scott que se chamava Michael e era viúvo à pouco mais de três anos, basicamente criou sozinho o filho e receava ter uma relação com alguém devido à hipótese dessa pessoa não aceitar o Jamie, acabando por ficar viver apenas para o seu pequeno e para o seu trabalho como jornalista de desporto.

– Dr. Rachel. – pude ouvir aquela voz chamar-me. – Será que podia vir aqui dar-me a sua opinião.

– Claro. – afirmei entrando no gabinete de Damon, que fechou a porta mal entrei beijando-me logo de seguida. – Vamos ser apanhados. – disse entre beijos.

– Não estou a fazer nada de mal. – disse encolhendo os ombros. – Apenas beijei a minha namorada, a qual não via à dois dias seguidos.

– Eu sei, mas ninguém sabe da nossa relação ainda e não gostava que descobrissem assim. – admiti. - Já agora como correu o teu fim-de-semana?

– Sinceramente preferia ter ficado a trabalhar aqui do que ir para um congresso onde não se faz nada de jeito.

– Acredito, bem eu agora tenho de ir a Danielle está à minha espera para almoçar.

– Já vais, mais cinco minutos... – disse não me deixando nem responder antes de me “atacar” com beijos.

– Damon.. – tentei repreender.

– Hmm está bem vai lá. – disse dando um último beijo. – Mas hoje à noite não te safas.

– Até logo. – disse sorrindo enquanto fechava a porta.

Apressei o passo para não perder o elevador que estava prestes a fechar as portas, assim que entrei carreguei no botão do piso 0 onde iria até à cantina.

– Desculpa o atraso, fui despedir-me do Jamie. – justifiquei a Danielle que se encontrava numa mesa já com o seu almoço.

– Não tem problema. Pedi uma sande de delicias para ti espero que gostes. – disse entregando-me.

– Adoro, obrigada. – sorri.

– Então o Michael, quer dizer o Mr. Scott já cá não vai estar. – disse tentando corrigir o deslize.

– Sim, porquê? Parece-me que alguém está interessado num certo homem que por acaso é extremamente bonito e super fofo com o filho. – provoquei.

– Oh não é nada disso... bem talvez um pouco. Apenas me apeguei ao Jamie, aquele rapazinho é mesmo adorável. – confessou.

– É verdade, também sinto o mesmo. – disse nostalgicamente.

– Mas por falar em “paixões”. – iniciou fazendo aspas com os seus dedos. – Tu e o Damon estão juntos?

– Como sabes? – perguntei.

– Ora eu reparei numa foto vossa na tua sala, quando fui te buscar para irmos à discoteca no sábado. – afirmou.

– Bem, sim estamos mas ainda não assumimos por completo aqui no hospital. – admiti.

– Não deviam esconder, vocês ficam óptimos juntos e além disso não há nenhuma política que impeça isso no hospital.

– Sim, isso também é verdade. – disse sorrindo.

*

Tinha acabado de chegar a casa e resolvi ligar a Elena para contar as novidades sobre Jamie, visto que a pusera a par da situação quando pedi ajuda ao meu melhor amigo Ryan para conseguir curar Jamie que piorara na semana seguinte ao seu internamento.

– Hey El.

– Rach que saudades! Estava a ver que te tinhas esquecido de mim! – exclamou do outro lado.

– Desculpa, andei ocupada na semana passada e depois estive de ressaca grande parte do fim-de-semana. – desculpei-me.

– Até que enfim foste sair e descontrair um pouco, tenho que agradecer a essa Danielle, pelo menos utiliza os mesmos métodos que eu contigo. – brincou.

– É, diverti-me um bom bocado como nos velhos tempos. Só gostava que estivesses aqui, assim iamos as três. - afirmei.

– Por falar nisso, guarda um lugar para mim nesse teu apartamentozinho daqui a duas semanas estou aí!

– Finalmente decides visitar-me! Podes estar descansada que já guardei o teu lugar. – disse sorrindo enquanto me descalçava e sentava no sofá.

– Como está aquele paciente? Resultou o que o Ryan te disse?

– Sim, ele teve alta hoje. Felizmente melhorou e muito.

– Que bom. Logo à noite aviso o Ryan.

Conversamos por mais uma longa hora e logo após desligar o telemóvel, tomei um duche rápido e quando voltei para o meu quarto liguei a pequena tv que lá tinha, estava a dar um programa sobre os solteirões mais cobiçados de Londres, deixei ficar no canal e comecei a vestir a lingerie um bocado mais sexy para o meu encontro mais tarde com Damon ainda que fosse apenas um jantar em minha casa.

– Damon Hall, filho do maior empresário de Londres é o nosso número dois nesta lista. Já vão longe os anos de farra deste solteirão, tirou o curso de Medicina o qual exerce no Hospital de Londres. Com apenas 27 anos é detentor de um grande fortuna, nos últimos anos apenas é visto em cerimónias da empresa do seu pai e nas galas de doação do seu Hospital.No sábado, segundos fontes seguras, foi visto no aeroporto de Heathrow com o seu pai John Hall onde partiram no seu jacto privado com destino à sua casa de campo para mais uma “reunião” familiar....

Assim que ouvi o seu nome parei de tentar vestir as skinny jeans e sentei-me na cama para ouvir o resto da história do meu namorado que me era inteiramente desconhecida até agora, o pior de tudo era pensar que ele estivera num congresso durante os dois dias anteriores e agora ver que afinal se encontrava com a família, porque é que ele mentiu?

Várias perguntas assolaram a minha mente e para todas tentava arranjar uma resposta ainda que descabida, pelos vistos a perfeição de Damon não era imaculada, pelos vistos ele era como todos os homens tinha segredos e mentia. Desliguei a tv e acabei de me vestir sem a alegria que dantes emanava de mim e do meu sorriso, simplesmente o brilho que tinha nos olhos agora devia-se apenas às lágrimas contidas e não à enorme felicidade que minutos antes tinha.

Ouvi a campainha tocar e apressei-me a ir abrir a porta a um Damon que tentou beijar-me como de costume, mas ao contrário das outras vezes afastei-o com a mão.

– Que se passa, love? – perguntou observando-me com aqueles olhos azuis.

– Como pudeste mentir-me Damon? – questionei sem nem mesmo o deixar entrar.

– Mentir-te? De que estás a falar?

– Porque não me disseste que ias ter com a tua família? Que por sinal é uma das mais importantes de Londres?!

– Quem te disse isso?

– Damon pensei realmente que confiavas em mim, foi preciso saber pela televisão que além de rico és o solteiro mais cobiçado em Londres.

– Ei, eu confio em ti love. – afirmou.

– Sério, não é o que parece quando me mentes e escondes pormenores da tua vida... – disse deixando escapar uma pequena lágrima de nervosismo.

– Eu sei que parece isso, mas eu apenas te queria proteger. A minha família não é dos melhores modelos a seguir, porque é que achas que não levo uma vida de luxos? Eu só quero levar uma vida simples e calma sem ter ninguém a escavar ao pormenor cada segundo do meu dia. Peço desculpa, devia ter-te dito realmente mas nunca veio esse assunto ao de cima.

– Sabes que mais acho que hoje já não vai dar para jantar contigo...

– Rachel... – tentou falar.

– Não, preciso de espaço e não desculpo assim tão facilmente. Agora deixa-me sozinha por favor... – pedi agarrando a porta pronta a ser fechada.

– Tudo bem, eu entendo... Até amanhã... – disse beijando-me na testa levemente antes de virar costas e descer as escadas não indo para sua casa, como eu esperava. Fechei a porta e encostei-me a ela enquanto respirava fundo, todas as justificações que ele me dera eram possíveis e provavelmente verdadeiras, mas ao mesmo tempo não podia desculpar. Damon sabia perfeitamente o porquê da minha anterior relação ter acabado e a mentira foi uma das principais razões, pensei realmente que ele era diferente de Sam.

Voltei para o meu quarto onde fiquei horas a observar a chuva que mais uma vez caia durante a noite de Londres até que acabei por adormecer, tentando perceber o porquê de tal omissão.