Lembranças escrita por Natalia Beckett


Capítulo 64
Highway to Hell


Notas iniciais do capítulo

Florzinhas e cravinhos.
Amorecos, mais um capítulo de Lembranças. Como disse no capítulo anterior, os dias de luto estão chegando ao fim. Indícios de uma nova Kate abre o caminho.
Amores, eu ainda não respondi aos lindos comentários anteriores. Tentarei responder o que puder ainda hoje, mas não garanto tudo. Dei prioridade a postar um novo capítulo para vcs. Mas não se preocupem que eu irei responder a todas. Todas as fiéis leitoras do meu coração. s2

Lindinhas, aproveitem o capítulo. E se quiserem entrar no clima do momento, não deixem de escutar a música ao final do capítulo. ;)



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/481435/chapter/64

E lá estava eu entrando em Stanford novamente. Caminhando em passos lentos para o esquecido dormitório. Entrando no segundo ano de estudos após um turbilhão de coisas terem acontecido. Voei todo o caminho com lágrimas escorrendo. Lanie deixou-me no aeroporto, ela passou todo o momento tentando me convencer a ficar, a não ir embora e principalmente reverter o que eu fiz com o Rick. Ela não percebe que falar sobre isso não é algo que irá me fazer sentir melhor. Eu tomei uma decisão. Não posso voltar atrás, por mais que eu calasse a razão, não posso voltar. Isso é pro nosso bem, mesmo que isso me torture eu sei que foi o melhor. Além disso, isso vai passar. Vai passar... Vai passar não vai?

– Kate! – Uma voz alegre me chamava. Eu a reconhecia. – Kate! – Vick vinha correndo na minha direção e se lançou em um abraço camicase.

– Vick, calma! – Ela me soltou e começou a sorrir. Assim que percebeu a minha cara inchada o seu sorriso se desfez cuidadosamente.

– Eu sinto muito. Muito mesmo. – Ela disse um pouco tímida.

– Tá tudo bem... – Suspirei. Pensei rápido em mudar logo de assunto. Não quero ficar relembrando minha mãe porque isso vai me remeter ao meu pai e consequentemente ao Rick. – Então? Como estão as coisas por aqui?

– Tudo “quase” que o mesmo... Sua cama ainda está lá. – Ela riu ao final... Ela não passava credibilidade.

– Do mesmo jeito? – Perguntei desconfiada e arqueando a sobrancelha.

– Vamos lá... Não vai achar tão ruim...

Caminhamos até o dormitório. Ela me ajudando com a mala. Assim que a porta do quarto se abriu percebi minha cama realmente no mesmo lugar, porém eu acho que no mesmo lugar só a cama permaneceu. Todo o quarto havia ganhado um ar grunge, metal. Pôsteres do AC/DC, Alice in Chains e Deep Purple estavam cobrindo praticamente todas as paredes. Lençóis da cama da Vick totalmente revirados, com aspectos que há meses a cama não era feita. Garrafas de cervejas acumuladas à beira da cama. Minha cara de susto e nojo se formou inevitavelmente.

– K-Bex, não fica com essa cara. Você não me avisou que vinha com antecedência. Eu teria arrumado tudo se você tivesse me dito que chegaria hoje. Eu sei que você não curte essas coisas... Eu só...

Vick... Eu estou cansada. Falando sério, quero que apenas se livre dessas garrafas de cerveja vazias. – Caminhei até a minha cama e sentei-me sobre ela. Afastei com o pé uma bota preta, cano alto, jogada próxima ao meu criado-mudo. – Ah, por favor respeitemos as regras do espaço... Minha cama e seu arredor, minha parede e meu criado-mudo. – Falei apontando para cada item dela que ocupava o meu espaço.

– Foi mal Bex... Olha, eu sabia que você iria se chatear então para amenizar, eu tenho uma surpresa para você. – Ela abriu a minha gaveta e pegou uma chave.

– A chave do depósito onde está minha moto? Não me diga que... – Já imaginava más coisas ocorrendo.

– Calma! É surpresa. Mas não me faça essa cara. A moto tá intacta.

– Vick, agora não, eu estou cansada e...

– Amanhã é sábado Kate, vamos lá! Depois você dorme...

– Vick, eu não estou legal ok? Eu não estou afim. Não quero ir agora.

– Mas a surpresa não é a moto. Tem algo, além disso.

– Quer saber, por mim você pode fazer o mistério que quiser. Eu não vou a lugar nenhum hoje. – Dei de ombros. – E você poderia aproveitar esse ócio para limpar isso tudo aqui. – Falei fazendo círculos com o indicador para o ar. Vick ficou a me encarar em silêncio. Assim permaneceu até o momento que eu suspirei.

– Kate... Você não está legal mesmo né? – Ela sussurrava as palavras como se tivesse medo da reação que eu poderia ter após essa pergunta.

– Vick, eu só não quero falar sobre isso tá legal? Eu tenho que focar nos estudos, em mim, no meu futuro. Qualquer coisa que quiser falar sobre esses aspectos você pode, mas, por favor, não toque no assunto sobre o que aconteceu em Nova York.

– Se você prefere assim... Tranquilo... – Ela se afastou e foi em direção ao armário. – Eu vou dar uma saída. Descansa... Mais tarde Jenny ficou de vir aqui te ver, assim como o Henry. – Ela sorriu minimamente. É bom conhecer essa face oculta da Vick. Mas eu não queria interagir com nada agora. Ela não demorou muito e logo me vi sozinha no quarto. Tão rápido a Vick saiu, quão rápido minhas lágrimas alcançaram minhas bochechas. Tudo é um velho novo. Era um local conhecido, porém a vista era observada por outra Kate, completamente diferente da que estava por aqui meses atrás.

Assim que despertei já era o final do entardecer. Devo ter dormido por umas 3 horas seguidas. Do lado de fora do quarto pude ouvir vozes conversando em sussurros. Tentei identificar o assunto que era abordado com tanto cuidado. Em poucos segundos percebi que meu nome estava no meio deles. Uma voz masculina chamou minha atenção. Sem dúvidas era o Henry. Tentei fazer o menor ruído possível e me aproximei da porta. Logo também ouvi quem respondia as indagações do Henry, Jenny e Vick tentavam convencer Henry de entrar no quarto. Convencer por quê? Colei meu ouvido cuidadosamente na porta. A conversa não era a das melhores e a cada frase que eu escutava algo me corroía por dentro.

– Mas eu não sei... – Henry dizia. – Ela, pelo o que você falou, chegou com um ar depressivo. Eu não sei como agir nessa situação.

– Fala sério Henry! Eu já disse a ela que você vinha vê-la. Ela não está assim “depressiva”, ela só está na dela. – Vick respondia com ar de indignação.

– Vamos lá Henry, justamente por isso ela precisa da gente. Somos seus melhores amigos aqui na Califórnia. – Jenny implorava.

– Olha, eu nunca conheci ninguém nessa situação... Ser órfão... Sei lá! Eu nem sei o que dizer, como me comportar...

– Henry! Ela não está órfã! Ela ainda tem o pai. Não seja ridículo! – Vick reclamou e eu pude ouvir um urro abafado do Henry. Ela com certeza o beliscou. – Ela obviamente está triste e não espera que você diga nada. Com certeza ela só espera sua amizade.

– Nossa amizade. – Jenny pontuou. – Somos os únicos que podemos a fazer sorrir por aqui. O olhar de pena não vai fazer ela se sentir bem. Vamos ser fortes e dar a Kate o que ela precisa; nosso carinho e nossa atenção.

– Eu só sei falar de Nebula-9. Não tenho outro assunto! – Henry informou.

– Ela curte Nebula-9, portanto isso também é importante. – Jenny falou. – É sua forma de oferecer à ela a amizade. Já eu... Bem, eu ainda não tenho em mente o que devo fazer. Mas na hora eu acho que vou saber.

– Olhem aqui, querem saber, que se danem! Eu não sou nenhuma terapeuta pra ficar aqui convencendo vocês a fazer algo tão simples e normal. Henry foi muito legal andar transando com você, mas devido ao cérebro desmilinguido é melhor a gente parar por aqui. Já deixei de sobreaviso beleza? E você Jenny... Pelo amor de Deus, até que estava indo bem. Agora vem me dizer que também não sabe. Vocês é que me dão pena, não a Kate.

– Vick! – Ouvi o protesto de Jenny. Rapidamente corri para o banheiro. Não queria que eles soubessem que eu pude ouvir tudo. Principalmente após a Vick se estressar no final e dizer tudo em alto e bom som. – Não seja maldosa!

– Eu fui verdadeira, isso sim! – Vick protestou e do banheiro, com a porta encostada pude a ouvir manuseando a maçaneta.

– E Vick, quer saber. Transar com você foi realmente uma perda de tempo. – Henry respondeu malcriado.

– Ah, que vocês todos se explodam! Vão à merda! – Ela então entrou no quarto batendo a porta com violência. Nesse exato momento eu ativei a descarga, simulando inocência e desconhecimento sobre o que acabara de ocorrer. Mantive a porta do banheiro fechada. De frente para o espelho eu tentava acalmar minha respiração. Eu podia ouvir mesmo trancada no banheiro, os fones da Vick tocando ao máximo. O que foi tudo isso que acabou de acontecer? Eu não sabia como definir. Mas sabia como me sentir. Eu fiz meus amigos brigarem entre si. Como podem ter pena de mim se nem sequer me viram? Henry era mesmo um pobre nerd imaturo. Ouvir aquela discursão foi altamente surreal. Até a Jenny estava com dúvidas sobre nossa reaproximação. Isso não era normal! Ver a Vick me defendendo foi algo tão bizarro. Isso me fez pensar que talvez ela saiba de alguma forma, devido a seu passado meio obscuro, como posso estar me sentindo. As coisas não podiam ser mais pessimistas, atrasada nos estudos, sem os meus amigos, sem mãe para me orientar, sem o Rick para me dar forças, sem nada! O pior era ver que as coisas só tinha a tendência a piorar devido a áurea de pena que circundava sobre mim. Isso tinha que acabar, eu precisava fazer alguma coisa. Mudar a visão dos outros sobre mim. Eu tinha que fazer alguma coisa para as pessoas parassem de sentir pena de mim. Pena é o pior dos sentimentos. Eu me sentia ridícula com essa visão sobre mim. Nunca fui de dar pena em ninguém. Pelo contrário! Quer saber? Vou sair desse banheiro e começar a mudança nesse exato momento. Não vou mais derramar uma lágrima pelo que os outros pensam de mim.

Abri a porta do banheiro e vi Vick deitada na cama com olhos fechados e tocando guitarra imaginária. Sentei ao seu lado e roubei um lado do fone a fazendo despertar e observar minha atitude.

– O quê? Vai curtir rock agora é? – Vick perguntou com um ar de deboche divertido.

– Estou analisando... Deixa-me ouvir mais um pouco... – Fiz cara de analista. – É... Esse som até que é legal... Quanto mais você tem? – Vick me olhou incrédula.

– Quanto você quiser garota. Posso colocar no som logo de uma vez. Nada de fones de ouvido. Vamos colocar esse dormitório para sacudir os esqueletos. Tá afim? – Respirei fundo, eu não tinha certeza de nada, só tinha a certeza de que eu precisava reagir. Precisava de alguma forma anestesiar, não me fazer sentir. A hora era agora.

– Só se for agora! – Vick colocou o som. Em um dos volumes mais altos a música “Back in Black” do AC/DC tocava. Entre saltos da cama para o chão e garrafas de cervejas bebericadas eu e Vick dançávamos e riamos. Era como se nada pudesse nos atingir. Logo em seguida outra faixa das melhores de AC/DC começava a tocar. Realmente o som era incrível. Não sei se era o efeito da cerveja ou o cansaço da dança que faziam minhas veias saltarem, que me faziam achar a música perfeita. Eram naqueles míseros minutos que toda a minha cabeça deixava de circundar os recentes acontecimentos. Eu estava anestesiada. “Highway to Hell”… Juntas nós gritávamos a todo vapor.

– “I’m on the highway to hell... Don’t stop me! Highway to hell...”

AC/DC - Highway to Hell


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Quem será essa nova Kate que ela está disposta a se tornar?
Como ela realmente quer que os outros a vejam?

Florzinhas, comentem suas previsões.
Espero vcs nos comentários.
Beijão!

COMENTEM!



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Lembranças" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.