Lembranças escrita por Natalia Beckett


Capítulo 63
It's so hard to say goodbye


Notas iniciais do capítulo

Florzinhas e cravinhos.
Amores, eu não morri, mas minha inspiração após um longo tempo sem tempo para escrever desapareceu. Peço desculpas novamente pela demora, mas bloqueio criativo é um tormento. Credo cruz! Ai como eu estava com saudades de escrever! Saudades de vocês também. Porém...

...PESSOAL ATENÇÃO!


ADVERTÊNCIAS SOBRE O CAPÍTULO:
— Uma caixa de lenço talvez não seja o suficiente, peguem também uma toalha.
— Separem a água com açúcar, em alguns casos será como um kit de primeiros socorros.
— Guardem e tranquem objetos cortantes. Não quero sofrer ameaças.


Boa leitura. ;)



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POV Rick

– Como esta a Kate? - Mamãe pergunta enquanto estou parado de frente ao computador.
– Já liguei para ela, ela apenas responde que está tudo bem. Desde o funeral ela não conversa comigo direito mãe. Eu não sei o que eu faço. Não sei o que fazer para ajudar ela. - Inspiro o ar profundamente. Eu não me sentia bem há dias. Pelo o olhar da minha mãe a me encarar, finalmente ela percebeu que havia algo de errado.
– Kiddo, ela está confusa. É natural que ela esteja. A vida dela virou de cabeça pra baixo.
– Eu sei mãe, eu seu disso. Eu só... Eu só queria poder ajudar... Poder...
– Eu entendo Richard, mas querido, você não pode forçar ela a agir da maneira que ela agia antes. Ela sofreu um trauma e não é você que vai conseguir reerguer as coisas. Richard, ela precisa se levantar por conta própria. Vocês não são mais crianças.
– Eu sei que não somos mais crianças mãe. Também sei que ela precisa se reerguer por ela própria, mas ela não precisava me pôr em escanteio. Ela não precisava me colocar pra fora da vida dela. Porque é assim que eu me sinto mãe. Sinto-me um figurante. Por diversas vezes ela tem ignorado minhas ligações. Só me retorna quando quer. Eu não posso ficar com ela assim. Não desse jeito.
– Querido...
– Também não posso terminar com ela mãe. Não quero deixar a Kate sozinha.
– Ela vai decidir isso antes que você possa pensar em algo, Richard. Katherine sempre foi uma moça decidida e quase introspectiva. Eu só espero que você não se enfie em um poço sem fundo se a decisão dela decepcionar você. - Ela acariciou meu cabelo após se desapoiar da minha escrivaninha. - Mas sei que você vai ficar bem. Cedo ou tarde, vocês vão ficar bem. - Ela então saiu pela porta do quarto.

Fico pensando desde quando minha mãe percebe essas coisas? Ela vive entre ensaios e peças. Como ela percebeu meu estado?... Deixa-me ver nesse espelho... Porque eu devo estar realmente acabado. Algo bem notável, a ponto da minha mãe notar minha angústia... Deus! Como pôde permitir uma desgraça como essa? Logo com a mãe da Kate... Com a Kate, com a gente?!
Perguntas sem respostas não era o mais sensato pensamento nesse exato momento. Mas quem disse que existem momentos exatos para determinados pensamentos? Eu por várias vezes sentia falta do pai que nunca tive. Pra ser mais sincero, sentia falta do fruto da minha imaginação. Eu que tive um pai ausente, que não deveria fazer a mísera falta, sentia falta. Imagino a Kate que teve uma mãe maravilhosa, presente em todos os momentos essenciais na vida dela e do nada tem a mãe arrancada da sua vida da maneira mais estúpida. Realmente não é algo simples de se digerir.
Mas sabe... Eu só queria que ela contasse comigo. Queria que ela confiasse em mim. Pegasse na minha mão sempre que sentisse que estivesse à beira do abismo, por que... DEUS! Meu Deus, se não fosse possível segurar ela, eu juro que me jogaria nesse abismo também. Eu a amo tanto e me dói tanto a ver sucumbindo a algo muito maior do que ela seria capaz de enfrentar. Tenho medo de ela pirar, começar a ter atitudes que não condizem ao comportamento da Kate ou tentar destruir sua própria vida a partir de más escolhas. Isso me apavora. Ainda mais que ela não me escuta. Aliás, ela não escuta ninguém.
Queria ir agora a casa dela e a abraçar tão forte... Para nunca mais soltar. Quem sabe assim ela entenderia que eu posso ser muito mais forte do que parece se eu estiver ao lado dela, mas que sem ela, eu não sou nada? Tantas coisas que dissemos. As experiências que tivemos e todas as juras de amor. Nossas lembranças mais remotas... Talvez se eu tentar ligar mais uma vez para ela... Fazer ela me escutar nem que seja por alguns míseros minutos. Fugir com ela para os Hamptons, fazer ela se afastar desse turbilhão, protegê-la. Se ao menos ela atendesse minha liga...
Meu celular... Tá tocando... Deus, como ele foi parar embaixo de tanta coberta...
Achei!
Kate? Meu visor só pode está maluco. Ou então eu estou delirando...

– Kate?
– Rick… Será que a gente podia conversar?
– Ok… Ok… É... Quer vir aqui para casa? Ou prefere que eu vá até ai? – Sugeri desconfiado. A voz dela estava firme, mas ainda assim demonstrava insegurança.
– No parque... Lugar de sempre.
– Certo... Aconteceu alguma coisa Kate?
– Rick, só me encontra no parque ok? – Meu coração se contraiu. Isso não me trazia tranquilidade. – Em meia hora, pode ser?
– Meia hora. – Soei frio, mesmo sem querer.

~ END POV RICK ~

KATE

Amanhã eu volto pra Stanford. Tudo que tenho feito está meio que no automático. Encerraram o caso da mamãe como mais um caso sem culpado. Isso é tão inadmissível. Três meses já se passaram e papai tem passado boa parte da vida trancado no escritório. Vive e respira o trabalho como se fosse a única coisa que o mantém vivo. Sinto-me sozinha, mas não quanto ao carinho do Rick, é quanto ao fato da minha vida familiar. Devido a isso acho que realmente é melhor eu voltar à Stanford e tentar focar em algo para mim mesma. Eu tenho passado os últimos dias, preocupada com coisas de casa, as coisas que remexemos da mamãe, as roupas que doamos, como dar conta da casa e como me alimentar de uma forma mais decente do que meu pai tentava preparar nos finais de semana.
Minhas malas já estão prontas. Nada muito volumoso, apenas alguns itens complementares. Porém tem algo que não posso levar em nenhuma mala e também não posso deixar guardado por aqui em Nova York; Rick.
Faz uns 3 dias que ele deixou de insistir em me ligar. Eu não sei explicar o porquê, mas simplesmente tenho medo de enfrentar ele. Talvez seja medo de que ele me veja tão fraca, ou medo dele simplesmente desistir de ficar com uma menina tão cheia de problemas, mas talvez também seja o medo de fracassar, de ser julgada, de ser subjugada, de perder, de deixar simplesmente o momento passar, de pisar em falso ou prolongar demais. Eu não tenho como estar inteira nisso, não tenho como estar inteira nessa relação. Eu sei que Rick é compreensivo até demais, mas ele não merece essa Kate que me tornei e tenho me tornado. Ele não pode e nem deve se afundar nessa vida junto comigo. Eu não o quero no buraco no qual estou. O verdadeiro amor liberta, eu preciso deixar o Rick livre e é isso que eu vou fazer. Por mais que me doa, eu preciso libertar.
Marquei com o Rick no mesmo banco da praça de sempre. Ele não recusou o convite, mas também não demonstrou estar feliz com o mesmo.
Ao me aproximar do local ele já estava lá, sentado inquieto no banco. Pelas suas costas eu tentava estabelecer minha própria calma. O ar frio adentrando em meus pulmões me fazia tremer diante o momento mais difícil depois do assassinato. Eu sei o quanto é importante fazer o que eu acordei comigo mesma, mas por outro lado parece que estou tentando me matar. Aproximo-me devagar e ao ouvir meus passos ele gira em volta do próprio corpo e seu olhar se encontra ao meu. Um sorriso sincero e amedrontado me corteja e eu tento retornar com mesma intensidade, mas sinto-me falhar.

Jason Mraz - It's So Hard To Say Goodbye To Yesterday


– Oi Kate…
– Rick. – Engoli seco tentando me manter em controle.
– Não quer sentar? – Ele abria mais espaço no banco o qual estava sentado. Acho que nem notei que eu havia congelado por alguns instantes. Sentei ao seu lado, mas meu olhar não conseguia encarar o dele por muito tempo. – Você quer conversar, você me ligou e... – Ele inspirou profundamente e prendeu o ar por alguns segundos antes de soltar.
– Rick... – Respirei fundo e pus meus cabelos atrás da orelha. O encarei buscando força, não sabia como iniciar o nosso fim. Não sustentei em seu olhar por muito tempo, minhas mãos tremiam e eu voltei a encarar o chão. – Eu não consigo... Não posso... – Sussurrei para mim mesma, porém alguém mais pode ouvir.
– Não pode o quê? – A voz dele soava assustada. Aquilo estava me matando aos poucos. Eu não via nenhuma solução para tornar aquilo menos doloroso. Eu não consegui trancar quem eu menos queria que saísse: as lágrimas. Tímidas elas começaram a brotar. – Kate... – Ele pôs a mão em meu ombro, apertou levemente. – Vem aqui... – A mão dele forçou meu corpo em sua direção. Recusei o abraço como um desconhecido. O que eu estava fazendo?! Ao distanciar meu olhar marejado se encontrou aos do Rick que em poucos segundos interpretou a situação. Aos poucos senti suas mãos se afastarem de mim enquanto seu olhar me encarava atônito.
– Rick... – Minha voz soou embargada enquanto tentei inutilmente tocar sua mão que ele as pressas evitou. – Não posso... Eu... A gente, a gente precisa...
– EU QUERO QUE VOCÊ FALE! – Ele esbravejou e eu pude ver as lágrimas caírem de seus olhos. Eu estava assustada como uma criança tola. – Eu quero ouvir de você... De você... – Ele agora sussurrava. Seus olhos fixos nos meus.
– Desculpa. Rick me perdoa... Mas eu não posso mais. Eu preciso ficar sozinha... Não consigo pensar por nós dois. Eu não consigo pensar por mim mesma. Eu...
– Deixe-me pensar então... Por mim e por você. Kate... Não faz isso com a gente. Por favor... Eu estou aqui... Eu só quero te ajudar...
– Não...
– Eu posso estar aonde você precisar... Eu não vou, eu não quero te deixar nessa sozinha... Eu e você...
– Rick, não...
– Nós somos muito mais do que seu olhar pode enxergar agora. Eu sei que tudo está bem confuso agora Kate, mas vai melhorar... Eu sei que vai... Você vai ver...
– Rick! Não! Não!
– Porque não? – Ele agora não podia mais controlar as lágrimas. – Por quê? Eu estou aqui. Eu te amo, eu quero uma vida ao seu lado. Eu não vou deixar que nada de mal ocorra com você... Kate, eu quero você... – Ele segurou meu rosto com as duas mãos. Os soluços visíveis. Ele encostou sua testa na minha e sussurrou; – Eu preciso de você. – Selou sua promessa com um beijo puro, doce, banhado por gotas de lágrimas insistentes.
– Rick... – Falei me afastando. – Você precisa de mim tão quanto eu preciso de mim mesma. Nós dois precisamos daquela Kate descontraída, que não tem pesadelos à noite, que adora fugir com você para qualquer lugar e que chega a casa e a mãe dela fez a sobremesa preferida enquanto o seu pai assistia uma partida de baseball. A Kate que fazia você sorrir... – Disse acariciando seu rosto e os olhos dele fecharam por um instante. – É dessa Kate que você precisa Rick e essa não é quem eu sou agora. Eu tentei. Eu juro que eu tentei. – Minhas lágrimas não paravam de cair. – Mas eu não consigo ser quem eu deveria ser para que nós dois pudéssemos ser felizes agora, nesse momento.
– Kate...
– Rick, já se passaram quase 3 meses, eu não consigo me recuperar nem ao menos 20% do que eu costumava ser. É uma ferida incessante e não encontro nada que possa mudar esse fator. Eu vejo meu pai se comportando estranhamente e eu tenho que lidar com coisas que eu pensei que nunca fosse precisar. Rick... Eu não sei o que fazer da minha vida e eu não quero você preso nisso tudo comigo.
– Mas nós estávamos tentando e eu faria tudo...
– Eu sei que você faria tudo meu amor, eu sei disso. – Disse enquanto acariciava sua mão que repousava em seu colo. – Mas tudo não é o que vai me trazer de volta. Eu preciso sair dessa sozinha, preciso sair no meu tempo e eu não quero... Não quero que você se afogue nisso comigo apenas para me salvar, por me amar, por querer me ajudar. Isso não é justo Rick! Não é justo comigo, muito menos com você.
– Kate, não fala assim... Eu estou legal e eu faço qualquer coisa para te ajuda, apenas me deixa entrar, me deixa ficar... – O encarei em silêncio. Deus! Como me dói ver ele desse jeito. Mas me doeria muito mais ver ele se transformar no que sou por estar ao meu lado. Por afundar comigo. Ele sem mim vai sofrer, mas ele vai se reerguer. Eu sei disso! Eu tenho certeza disso. Por mais que doa é isso que eu preciso fazer nesse momento.
– Acabou Rick... – Disse em um sussurro seguido de um choro contido.
– Não Kate... – Eu pude o ver desmoronando.
– Acabou... E você vai seguir em frente.
– EU TE AMO!
– Rick... – Meu coração se quebrou em mil pedaços e num ato desesperado me levantei do banco buscando por ar.
– Eu te amo! Always! – Ele disse “Always”... Antes que meu raciocínio pudesse se completar, senti seu braço me puxar desesperadamente e em um movimento rápido meus lábios estavam colados ao dele. Por que ele fez isso? Eu ainda o amo, só não posso continuar... Céus! Beijo. O BEIJO. O último beijo. Saudoso, doce e sempre quente. Always. Always.
Separamo-nos e eu senti como uma espada a me lacerar enquanto meus passos se distanciavam da presença dele. Era um adeus. Lento e devastador. Eu fiz o que tinha que fazer e não o que eu desejava. Eu o desejo mais que minha própria vida, mas eu não sei quem eu sou agora. Eu preciso reaprender a respirar sozinha e ele precisa reaprender a encontrar a beleza da vida, quem ele é sem mim e meu turbilhão de problemas. Ele precisa ser livre. Eu preciso de liberdade para me concertar.


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Notas finais do capítulo

Estão todos e todas bem?
Porque eu juro que chorei enquanto escrevia. Minhas mãos tremiam gente.
Comentem como vcs se sentiram.
Se foram coração firme e forte, se choraram igual manteiga derretida ou igual a quem vos escreve. :,(
~snif~

Prometo que a parte da desgraça vai tirar umas férias ok?
COMENTEM! ;)



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