O dia tinha chegado ao fim. E na sexta à noite eu e mamãe vimos filmes até tarde. Só eu e ela, porque papai simplesmente, como sempre, apaga na primeira hora do DVD. Sábado de manhã mamãe me acordou me chamando para um café da manhã num lugar diferente. E lá fomos nós para o EAT Café. Era um lugar tão aconchegante. O cheiro dos croissants, cafés e chocolates quentes daquele lugar me transmitia tanta sensibilidade em meio a todo caos da Madison Avenue. Ainda caminhamos entre conversas e vitrines até voltar para casa. Passamos antes no mercado. Mamãe tirou o sábado de folga e decidiu cozinhar um almoço divino. Sem dúvida esse seria um sábado de “gordices”.

Antes das marcadas 16 horas eu estava pronta. Recebi o sms de Josh e desci para o salão do prédio a seu encontro.

–Oi! –Ele sorria animadamente.

–Oi Josh. E aí? Vamos?

–Vamos. – Ele me estendeu o braço com um gesto nobre. Até que foi fofo.

Caminhamos a pé até a nova sorveteria. Nossa! Estava cheia. E alguns rostos familiares me faziam perceber que aquele seria o novo point.

–Ei, pegue essa mesa para nós. – Ele apontou.

–Tudo bem.

–Fora o de coco, qual sabor você deseja? – Ele falou sorrindo. Eu tive que rir da situação também.

–Pode ser o de cereja ok?

–Ok, cerejas!

Ele voltou e se sentou a mesa. Ficamos conversando conversas estúpidas como falar sobre o tempo e sobre o gelado do sorvete. Algumas coisas que ele me dizia me faziam rir. Mas aquele sabor de cerejas na minha boca me faziam lembrar apenas de Rick e a experiência com o cupcake. Distrai-me por um momento pequeno vendo Josh derrubar sorvete em sua roupa. Quando ouvi alguém me chamar.

–Kate?

–Rick?!

–Se divertindo? – Era como se ele me cobrasse explicações.

–Apenas tomando sorvete com o...

–Olá, prazer Rick. Sou Josh. – Josh estendia a mão.

–Oi Josh. Meu nome é Richard e não Rick! – Ele sugeriu mal-humorado. – Rick é apenas para meus amigos íntimos.

–Desculpa. Prazer Richard. – Josh respondeu tentando evitar conflitos.

Antes que eu pudesse criar qualquer tipo de desculpa ou entender aquela situação meu raciocínio foi interrompido.

–Ei Richard! Conseguiu uma mesa gatinho? – Uma voz manhosa e oferecida o chamava.

–Ainda não Sherry. Pegou os sorvetes?

–Sim. Quem são esses? Eu acho que já te vi na escola. – Ela apontava para mim.

–Tenho certeza que não. – Respondi com cara de pouco amiga.

–Ah, não tem nada. Eu me apresento e nos conhecemos agora. – Ela estendeu a mão desocupada após entregar um dos sorvetes a Rick. – Sou Sherry. Você é a...?

–Katherine. E esse é meu amigo Josh. – Josh também a cumprimentou.

–Prazer! Que legal encontrar conhecidos aqui. Vocês estão em alguma espécie de encontro? – Rick não deixou que nós a respondesse. Puxou-a pelo braço, sussurrou algo e ela fez que sim com a cabeça.

–Desculpa, estamos com pressa. Depois a gente se fala. – Ele deu as costas sem ao menos se despedir.

Engoli tudo aquilo como se fosse possível disfarçar meu choque. Josh tentou me animar. Era visível o esforço dele. Sentia-me mal por não poder dar a ele o que realmente ele merecia. Mas Rick mais uma vez partia meu coração. Eu no momento não sabia discernir quem havia errado na história. Mas me recusava a pensar que fosse eu. Rick saiu da sorveteria com a tal Sherry. Ele a envolvia pela cintura. Era como realmente eles fossem há muito tempo íntimos. Pergunto-me há quanto tempo ele estava com ela. A semana quase toda passando à tarde comigo. De onde surgiu essa tal Sherry? Veio-me a mente que tudo de repente não passou de uma mentira. Rick na verdade era quem eu tinha medo que fosse. Quando foi que eu achei que eu e ele poderíamos ser mais que amigos? Eu sou mesmo uma tola. Ainda estou fazendo o pobre do Josh de tolo também. Eu preciso de um tempo de tudo isso.

Pedi pra Josh me levar até em casa. Ele até que era compreensível. Não reclamou ou invadiu meu espaço durante o caminho. Nem tentou de alguma forma apressar as coisas. Subi no elevador contando os minutos para me perder em meu quarto. Josh e Lanie eram amigos de classe. Talvez ele não fosse tão idiota quanto eu pensava. Eu ainda teria que dar relatório para ela. Resolvi ligar.

–Alô?

–Lanie?

–Hey girl! E ai, me conta tudo. Como foi a sorveteria com Josh?

–Horrível.

–Horrível? Quê?!

–Não digo que foi ele Lanie. Digo o que aconteceu. Rick encontrou comigo e Josh na sorveteria.

–Jura? E ai?

–Na sexta ele me perguntou se poderia ajudar ele em economia, na casa dele, no sábado à tarde. Mesma hora da sorveteria. Tive que negar.

–Ah não Kate! Garota, que bobeira. Ele ficou decepcionado não?

–Ele estava com outra menina Lanie. Foi extremamente constrangedor.

–Puxa vida Kate. Que chato.

–Ele no primeiro momento parecia chocado. Mas depois... Aquela garota com ele. Tão vazia sabe? Tão superficial. – Minha voz embargava.

–Girl, somos amigas há tanto tempo. Acho que tenho o dever de te perguntar... Você o ama não ama?

Silenciei por alguns segundos. Uma lágrima caiu.

–Kate? Tá aí?

–Estou.

–Você o ama girl. Não é preciso respostas... Kate eu posso ir até sua casa se quiser. Posso dormir por ai. Pode ser?

–Ai Lanie, por favor.

Logo ela estava na minha porta. Nunca antes havia estado tão frágil na frente dela. Ela trouxe chocolates. Ficamos conversando e eu desabafei o quanto eu pude.

–Nós parecíamos estar a caminho de algo tão bom Lanie. Eu não posso acreditar que ele estava com aquela garota.

–Eu sei girl, mas entenda. Rick é homem. Ele é um dos caras mais bonitos da escola. Isso cedo ou tarde iria acontecer. Poderia ser você. Mas foi essa menina.

–Você quer dizer que ela foi mais esperta?

–Não! Quero dizer que ele foi burro pra cair na rede de qualquer uma podendo cair na sua.

Os risos começaram a diluir minhas lágrimas e logo Lanie me convenceu a ir em frente. A seguir minha vida como antes. Pela manhã Lanie se despediu. Hoje ela iria encontrar com Espo.

Segunda era minha última prova de literatura. Lembrei-me durante todo domingo as coisas que Rick dizia durante nossos estudos. Sustentei-me em focar no sucesso de minhas notas. Peguei o último livro e o folheei. Em algum trecho vi o nome “aposta”. A aposta?! Acho definitivamente que ela vai por água baixo. Mas depois disso, o que teria para meu interesse naquele caderno? Nada.