Passamos as mesmas horas na biblioteca. Precisávamos focar. Eram os últimos dias antes das provas. Mas algo me encucava com Rick. Ele estava com um caderninho, encapado em couro preto. Daria qualquer coisa pra saber o que tinha no seu conteúdo. Decidi pegar como quem não quer nada, como quem fosse procurar mais um poema literário. Mas Rick me interrompeu.

–Ei! Isso não é um livro.

–Oh, desculpa. Pensei que fosse. – Recuei sem graça.

–Tudo bem.

–Mas se não é um livro, o que é? – Indaguei incisiva.

–Algo pessoal.

–Pessoal? Ah, qual é? Somos amigos não é mesmo Rick?

–Sim, somos. Mas isso realmente é pessoal.

–Por acaso são aquelas histórias de suspense que você costumava escrever?

–Mais ou menos.

–Mais pra mais ou mais pra menos? – Sugeri sorrindo.

–Quem sabe? Algum dia irei te considerar digna de ler.

–Digna? Sério isso?

–Ué! Porque brincaria com meus manuscritos? É sério. É preciso ter uma mente aberta e perspicaz para compreender todo o suspense das minhas histórias.

–Rick, não seja idiota. Qual o problema em entender um suspense escrito por um garoto de 17 anos?

–Então é assim que você pensa? Ok! Vamos fazer uma aposta.

–Que aposta?

–Se você se sair bem, muito bem, na prova de literatura, eu te deixo ler. Mas, se você for mal, nunca irá saber o conteúdo desse caderninho.

–Ah Rick, essa vai ser moleza.

–Ok, eu só quero ver. –Ele falou me desafiando.

–Mas eu também quero sugerir uma aposta. – Sorri de forma maliciosa.

–E qual seria? – Ele me devolveu o sorriso.

–Se você for não for bem às provas de economia, terá que me fazer um favor. – Eu já tenho bem em mente o favor que ele faria.

–Favor? Que favor?

–Ainda é segredo. Mas se você for bem, eu te mostro uma habilidade minha que você desconhece.

–Bom se for a habilidade de beber água tão rápido isso não faz mais sentido por que...

–Não mesmo Rick! O que eu faço você nem imagina. – O encarei de forma sensual.

–Uau! Mais um segredo? Porque segredo? Que espécie de favor seria esse?

–Se é segredo, não tenho que te contar. E eu tenho quase certeza que você irá fazer esse favor sem problemas.

–Kate, Kate! Olha lá o que você vai aprontar comigo hein?! Dependendo do que for o retorno pode ser cruel.

–Você não está ameaçando está?

–Entenda como preferir.

Ficamos nos entreolhando como se nos desafiássemos a fundo. Ele mais uma vez insistiu para me levar em casa, aceitei rapidamente. Paramos no mesmo trailer de breakfast e pedimos cupcakes. Sentamo-nos num banco e ríamos de como os cachorros a passear pareciam com seus donos. Amanhã seria o dia da prova de literatura I e economia I. Rick sugeriu que amanhã não pegássemos tão pesado nos estudos e que tirássemos o dia para relaxar depois da prova. Eu não concordei. Mas ele acabou me convencendo.

Logo que cheguei em casa tomei um banho para relaxar, coloquei meus fones e adormeci. Estava chegando o inverno, e a noite eu senti mamãe me cobrir como um anjo. Cobrir-me como quando criança. Acordei disposta e decidida a fazer uma boa prova.

No corredor da escola Lanie e Espo me imploravam por alguma dica sobre o assunto. Forneci o material que podia. Eles estavam desesperados. Rick caminhou até a minha direção. Estendeu a mão e num cumprimento me desejou boa sorte. O sinal tocou e meu coração disparou. Aconchegamo-nos nas carteiras e a senhora Thompson distribuiu as provas. Pouco a pouco resolvi as questões. Em uma hora eu estava entregando a prova. Espo já havia saído assim como Rick. Lanie ainda parecia preocupada com a segunda página quando sai da sala. No corredor Rick e Espo conversavam sobre as questões. Rick assim que me viu me encarou no fundo do olhar.

–E aí? Fácil não?

–Fácil? Para vocês foi fácil? – Espo parecia não crer.

–Posso dizer que sim. A quinta questão sobre poesia romancista foi exatamente o que vimos ontem. Coincidência não é mesmo? – Falei sorrindo satisfeita.

–Digamos que tenha sido mais que coincidência. O seu fator de sorte foi poder contar com um professor tão completo e perspicaz como eu.

–Vocês dois estavam estudando juntos? – Espo perguntou assustado.

–Sim! – Respondemos juntos. Rick e eu.

–E vocês treinaram responder juntos durante as aulas? – Espo arqueava a sobrancelha.

–Não! – Respondemos juntos de novo e Espo fez cara de desconfiado.

–Coincidência Espo. Apenas isso cara. – Rick respondeu a Espo enquanto dava pequenas tapas no ombro dele.

–Kate, podemos ir até o meu armário enquanto o sinal não toca? Fiz umas anotações de economia I, queria que você desse uma olhada. Conferir se tá certo. Você só vai fazer da economia II e III, eu sei, mas se pudesse me ajudar...

–Claro. – Respondi o seguindo.

Espo ficou nos olhando com uma dúvida no olhar. Rick abriu o armário devagar. Tirou um caderno e abriu me indagando;

–O que acha?

Eu li rapidamente e apontei alguns itens que ele poderia acrescentar. Ele apenas me fitava. Era como se ele estivesse encantado. Nessa situação me constrangi. Tenho certeza que estava vermelha.

–Está tudo bem? – Perguntei sem graça.

–Tudo... Sabe esses pontos a acrescentar... Será que você tinha como ir à minha casa sábado pra me ajudar com isso?

Eu travei.

–Sábado?

–Sim, sábado. Tem algum problema?

–De que horas?

–Não sei, pode ser à tarde. Umas 16 horas?

16 horas! Céus, tantas horas no dia ele escolhe 16 horas?! Eu marquei a sorveteria com o Josh. Como dizer isso pro Rick?

–Eu não posso Rick. Tenho outro compromisso. – Neguei com dó.

–Compromisso?!

–Sim.

–Oh! Ok então. A gente marca outro dia. Eu te ligo ok?

–Tudo bem.

–Bom, eu vou indo. Deve tá na hora da prova. Deseje-me boa sorte.

–Não precisa. Você estudou com a melhor professora que poderia ter. – Sorri piscando.

E ele saiu caminhando pelo corredor enquanto eu me castigava mentalmente por ter ligado pro Josh naquele dia do refeitório.