Sutil escrita por Jibrille_chan


Capítulo 6
Capítulo 6




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- Qual é, Uru-chan? Eu nem sequer bati num poste.


- Claro que não, você passou rápido demais por eles.


Mei começou a rir. Estávamos sentados em outro café, após uma viagem que eu tinha certeza que levaria o dobro do tempo, se dirigisse na velocidade permitida pela lei. Haviam dois pedaços de bolo pela metade, e eu discutia sobre a irresponsabilidade daquela mulher no volante.


- Você é certinho demais, Uru-chan. Aposto como nunca passou do limite de velocidade.


- Claro que não. Não sou um marginal fora da lei.


- Obrigada pela parte que me toca. Mas não foi por isso que eu te arrastei até aqui. E nem pelo intuito de te poupar do tédio que é organizar uma festa daquelas.


Pisquei duas vezes.


- Você está encarregada de organizar o leilão?


Alguém não estava em seu juízo perfeito quando deram esse cargo à Mei.


- Na verdade, eu estou responsável pela decoração, buffet, essas coisas chatas... o leilão será durante um baile. Tudo uma grande farsa.


- Farsa?


- É. O dono do diamante mais caro desse leilão já armou um esquema com meu pai. O brilhante, na verdade, já foi vendido.


- Como assim, já foi vendido?


- Eles combinaram que o dono só aceitará o lance do meu pai. E de mais ninguém. Detesto gente hipócrita, e meu pai está no topo da lista.


Ela colocou uma grafada do bolo na boca, e depois de engoli-lo, continuou.


- Mas, como eu ia dizendo, não foi por isso que eu te trouxe aqui.


- Foi por que então?


- Foi porque... Uru, você está interessado no Aoi, não está?


Engasguei com o meu pedaço de bolo. Essa mulher estava louca. Só podia ser.


- Da onde você tirou essa idéia?! Eu jamais me interessaria por uma criatura arrogante, atentada e além de tudo um marginal como o seu primo!


Ela começou a rir, e eu corei de raiva. A idéia era simplesmente absurda. Depois de um tempo, ela apoiou os dois cotovelos na mesa, apoiando o rosto nas mãos.


- Você sabia, Uru-chan... Que amor e ódio andam lado a lado?


- Mas eu não odeio Aoi.


- Oh.


- E também não amo.


- Hm.


- Eu não sinto nada por ele. Talvez raiva. E eu estou devendo um favor a ele. Mas é só. Termina por aí.


Ela sorriu, mas não era seu habitual sorriso sacana, era um sorriso mais melancólico. E isso me assustou. Poderia esperar qualquer coisa da criatura sentada à minha frente, menos algo com conotação negativa.


- Eu tinha esperanças... mas vejo que me enganei.


Franzi o cenho, a curiosidade me cutucando. Ela percebeu o meu olhar, e sorriu, um pouco mais melancólica do que antes. Eu já estava ficando com medo. Teria Shiroyama alguma doença fatal? Isso explicaria sua falta de responsabilidade.


- Sabe... Yuu nunca teve muitos amigos. Não amigos de verdade. - ela emendou, quando eu fiz menção de interrompê-la. - Nem as namoradas e namorados que ele arrumou... tudo sempre, de certa forma, superficial. Eu não sei o que Yuu está buscando, se é que ele está buscando algo. Mas eu esperava que você... Não, Uru, eu não esperava que você se jogasse nos braços dele apaixonadamente como num filme romântico, pelo amor de deus. O romântico da história é Yuu, não eu. Sei lá. Esperava que ele tivesse encontrado algo para se apegar no Japão. Algo além de corridas de rua.


Ela suspirou.


- Acho que ando meio sentimental.


- Sentimental?


- É. Daqui a algumas semanas... Eu vou me casar.


Meu queixo não caiu alguns centímetros. Caiu metros. Kurotsuki Mei, a Maiden, casada? Ah, isso sim era algo impossível. Algo até apocalíptico. Após alguns segundos de abobalhamento, reparei em sua expressão nada satisfeita.


- Mas você não deveria... estar feliz?


- Feliz? Como? Com um casamento arranjado, com um noivo que eu nem quero? Não, muito obrigada. Eu definitivamente dispenso.


- E o que vai fazer?


- Bem, como toda pessoa sensata que teve o casamento decidido pelos pais... Eu vou fugir no dia do casamento.


- O QUÊ?


Fiquei a encarando, sem saber o que dizer, e ela começou a rir.


- Eu sou boa em fugas, Uru. Não me subestime.


X X X X X X X X X X

Eu não entendia porque raios começar uma conferência às vésperas de um leilão de jóias. Mas o presidente havia reservado um andar inteiro apenas para a conferência, então eu não podia fazer muita coisa. Decidindo que deveria fumar um pouco, fui saindo discretamente, comunicando minha decisão à Aoi, que assentiu e ficou ali, dizendo que ficaria para não notarem a minha ausência.


Apertei o botão do elevador. Nada. Esperei, impaciente. Nada. Como eu detesto esperar. Desistindo do elevador, resolvi ir pelas escadas mesmo. Estava quase chegando no primeiro andar, quando ouvi uma movimentação estranha no andar. Abri a porta que dava acesso ao primeiro andar, e me assustei.


As luzes estavam apagadas. Por estarmos quase no começo do inverno, por mais que fossem sete e meia da noite, já estava razoavelmente escuro. Pisquei, tentando me acostumar com a escuridão. Mais à frente havia uma porta entreaberta, e me assustei ao perceber que a massa escura ao seu lado era um segurança desacordado.


Mais uma movimentação dentro do quarto. Eu disse que a curiosidade era um mal perigoso. E lá estava eu, me encaminhando a passos lentos em direção à sala. Antes que eu sequer desse mais que dois passos para dentro da sala, um metal frio tocou meu abdômen, e alguém, trajado em preto, surgiu na minha frente. Não via nenhuma parte de seu corpo por causa da roupa preta, e os olhos estavam ocultos pos um óculos que eu poderia supor que eram de visão noturna.


Ergui meus braços, congelando ao perceber que o metal frio que estava encostado no meu abdômen era uma arma. A pessoa se aproximou, indo em direção ao meu ouvido, sussurrando tão baixo que mal consegui ouvir.


- Eu disse que era boa em fugas. Quer pagar pra ver?


Meus olhos se arregalaram em reconhecimento. Mas antes que eu sequer pudesse dizer ou fazer algo, senti uma pontada de dor no meu abdômen. A figura se afastou, e eu olhei para baixo, esperando ver sangue. Mas tudo o que eu vi foi... algo parecido com um dardo. Ora. Então eu não ia morrer? No instante seguinte, tudo começou a escurecer e eu ouvia ao fundo o som do alarme do hotel.


X X X X X X X X X X

Abri os olhos lentamente. A primeira visão que tive foi de um teto branco. Franzi o cenho, sentindo minha cabeça latejar. Ótimo. Olhei à minha volta, me deparando com um par de olhos castanhos muito vívidos, que me encaravam com um brilho de preocupação.


- A má notícia é que o diamante mais caro do leilão foi roubado e a polícia quer seu depoimento, já que, pelo visto, você foi o único a ver o ladrão. A boa notícia é que, por conta disso, a conferência foi cancelada, e poderemos voltar mais cedo.


Pisquei, absorvendo os fatos. Depois, as lembranças do que havia acontecido me voltaram com tudo, e eu só conseguia pensar numa coisa.


- Mei.


- É, eu sei. Uru, me escuta... Aquele diamante que foi roubado, ele ia ser leiloado para pai da Mei. O meu querido tio ia oferecer parte dele como dote do casamento. Não sei se sabe, mas a Mei está sendo forçada a casar.


- Ela me falou.


- Falou? Bem, enfim... Não pode culpá-la. Ela só pegou o que já era dela, de qualquer forma. A diferença é que agora o dinheiro da venda do diamante terá outro destino.


- O campeonato de corridas de rua.


- Exatamente.


- Aoi... o que você espera exatamente que eu faça?


Ele me encarou, depois soltou um longo suspiro cansado.


- Faça o que você achar melhor. Só estou lhe esclarecendo os fatos.


- Hm.


X X X X X X X X X X

- Eu ainda não acredito que você fez isso.


Estávamos no táxi, de volta ao Japão. Como eu ainda estava um pouco sonolento por causa do sedativo, Aoi fizera questão de me acompanhar até meu apartamento. E agora que eu já estava um pouco mais disposto, comentava a Aoi sobre o meu depoimento à polícia inglesa, do qual eu não quis que ele participasse, usando um intérprete da própria polícia.


- Pois é. Bem, eu estava te devendo um favor, não é? Acho que agora foi pago.


Ele sorriu, malicioso.


- Olha, eu e Mei podemos ser primos e nos tratarmos como irmãos, mas não confunda as coisas. O fato de você não ter denunciado a Mei não quer dizer que você quitou qualquer dívida comigo.


Eu apenas o olhei, cansado demais para dizer qualquer coisa.


- Quando eu estiver em condições, brigo com você.


Quando chegamos ao prédio em que eu morava, fiquei sinceramente surpreso. Me esperando, com a preocupação estampada no rosto, estavam Ruki, Reita, Kai e Nao, cada um parecendo mais preocupado que o outro. Desci do táxi, indo ao encontro deles.


- Comitê de boas vindas?


Ruki se adiantou, parecendo muito aflito.


- Uruha, você está bem? Não se machucou de verdade, machucou? Aoi disse algo sobre hospital...


Olhei para cada um deles, e não pude evitar de sorrir. É como eu havia pensado. Não importava se eu fosse rude, grosso ou qualquer outro adjetivo nesse sentido. Eles estariam sempre ali, me ajudando.


- Sabe como é, Ru-chan... Vaso ruim não quebra.


A voz zombeteira de Aoi me tirou dos meus devaneios, fazendo com que eu lhe lançasse um olhar nada amigável.


- Obrigado pela sua delicadeza, Shiroyama. E pode deixar que eu levo as malas lá pra cima...


- Nada disso. Você ainda está inválido.


- Eu não estou inválido, Aoi. Só tomei um tiro...


- Um tiro?! - perguntou Ruki, em visível desespero. Eu lhe sorri o mais sinceramente que pude.


- De dardo tranqüilizante. Nem machucou muito, só me deu um sono desgraçado.


Enquanto Aoi se despedia de todos, dizendo que ia aproveitar o táxi, eu vi um sorriso satisfeito em sés lábios. Despediu-se de mim bagunçando meus cabelos, dando recomendações de cuidado.


- Se bem que... Agora você está em boas mãos, ne Kou-chan? - se afastou, antes que eu dissesse alguma coisa. - Até segunda, pessoal!


E sem dizer mais nada, entrou no táxi, indo embora. Convidei os rapazes gentilmente para subirem até meu apartamento, e lá fomos nós cinco, eu e Reita tentando acalmar Ruki. "Kou-chan". Fazia muito, mas muito tempo desde que alguém havia me chamado por aquele apelido. Mas... quem?



Continua...

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