Sutil escrita por Jibrille_chan


Capítulo 4
Capítulo 4




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Eu não queria acreditar que aquela mulher, aquela pessoa em trajes formais e gestos elegantes era o mesmo demônio ruivo da noite anterior. Aquilo só podia ser fruto da minha falta de sono. Mas o sorriso cínico dos dois, dela e de Shiroyama, só confirmava meus piores temores de que era tudo real. O demônio ruivo virou-se para Shiroyama.


- Ne, Yuu-kun... Já desfrutou do seu prêmio?


Fiquei estático na cadeira. Na noite anterior, devido ao cansaço e à correria - sem ironias -, nem eu e aparentemente nem ele havíamos lembrado da tal aposta - mesmo porque eu não a julgava válida. No primeiro instante, Shiryama apenas arregalou os olhos, dando um tapa na própria testa.


- Nossa, me esqueci completamente! Ah, mas... Takashima-san aqui estava muito cansado. Não teria condições de fazer qualquer coisa mesmo...


Eu não gostei nada daquela ambigüidade desgraçada na frase dele. Muito menos daqueles sorrisos maliciosos dos dois à minha frente. E tinha muito, mas muito medo de descobrir o que Shiroyama pensava que iria fazer comigo - só pensava, pois não ia fazer absolutamente nada. O demônio ruivo respondeu.


- Continua esquecido como sempre, esse meu primo... Ah, deveriam ter aproveitado o dia de folga pra dormir. A conferência só começa amanhã mesmo...


Droga. Sabia que estava me esquecendo de algo. Eu poderia dormir até mais tarde. Que droga. Suspirei, cansado, me preparando para voltar ao meu quarto e compensar as horas de sono atrasadas.


- Aonde você vai?


Olhei para as pessoas à minha frente, que haviam me interrogado em uníssono.


- Dormir, oras. A senhorita Mei acaba de me recordar que eu não tenho absolutamente nada pra fazer hoje. Logo, o meu destino é a minha cama.


Os dois sorriram, sem dizer nada. Eu não sabia se agradecia aquele silêncio ou se me preocupava com ele.


X X X X X X X X X X


Do jeito que eu havia me jogado na cama, fiquei. Já estava em sono profundo quando senti algo roçar na minha orelha. Passei a mão, tentando identificar. Nada. Após alguns segundos, algo roçou novamente em minha orelha. Mas que inferno! Virei-me na direção da... coisa, entreabrindo os olhos. Que logo se arregalaram.


- Mas que merda é essa? Não bastasse eu ter ido dormir tarde por sua causa, agora você---


E um travesseiro voou na minha cara. Antes disso, eu tive a visão de um moreno desgraçado com uma pena em mãos e um sorriso maldoso nos lábios. Respirei fundo, me controlando para não cometer um homicídio. Tirei o travesseiro do meu rosto, olhando para Shiroyama com fúria estampada na cara.


- Como você é o meu prêmio, eu decidi que... Não vou deixar você dormir antes das dez horas da noite de hoje.


- O quê?!


- É isso aí. Então ou você levanta daí e vem andar comigo ou eu vou subir aí e te torturar até você ceder.


Ergui uma sobrancelha, cético. Não, ele não seria louco para tanto. Resolvi ignorá-lo e virei de bruços, voltando a fechar os olhos. Que rapidamente se arregalaram quando recebi um peso sobre as minhas costas.


- Shiroyama! Saia de cima de mim!


- Hmm... Não. Só se você concordar em sair comigo.


- Eu não tenho que concordar com merda nenhuma! Quer sair, vai! Você é um cidadão livre para ir e vir! E me deixe dormir, inferno!


- Mas claro que não! Acha mesmo que sair em Paris sem o seu mau humor pra me divertir é a mesma coisa... Uru-chan?


Aquilo estava me tirando do sério.


- Sai. De cima. De mim.


- Só se você sair comigo...


- Se eu disser que sim, você me deixa em paz pelo resto da semana?


- Prometo!


Bem, o que era um dia agüentando aquele demônio se fosse para ganhar uma semana de paz?


- Então sai de cima de mim. Eu vou me trocar e a gente sai.


- Esse é o espírito, Uru-chan!


- Dá pra para de me chamar de "Uru-chan"?


- Hmm... Então como eu deveria te chamar? Uru-pon? Uru-neko? Uru-porn?


Respirei fundo mais uma vez. Ele ainda estava sentado sobre as minhas costas.


- Melhor ficar no Uru-chan mesmo.


Ele desceu das minhas costas, um sorriso vitorioso na cara maldita. Como, eu me perguntava, como poderia existir uma criatura com tal capacidade de piorar o meu humor além do normal? Eu não havia jogado uma pedra na cruz. Eu havia feito streap-tise na Santa Ceia e chamado Jesus de "meu gostoso". Era a única explicação. Levantei-me, pronto para me trocar, quando notei que era observado.


- Ahn... Shiroyama, dá pra sair do meu quarto? Eu vou me trocar.


- Bem, não há nada aí que eu não conheça, mas tudo bem, donzela...


Fechou a porta do meu quarto em tempo de escapar do travesseiro que eu lhe atirei. Inferno.


X X X X X X X X X X

- Você é movido à pilha ou algo do gênero? Como consegue sair correndo desse jeito? Até onde eu saiba você dormiu o mesmo tanto que eu.


Shiroyama voltou até mim, já que eu havia cansado de correr atrás do moreno. Vinha trazendo um sorriso infantil nos lábios, e quem o olhasse não saberia dizer se tinha mais de cinco anos de idade. Parecia uma criança correndo pra lá e pra cá.


- Simples... Eu posso ser mais velho que você, mas eu não parei de viver. Não me entreguei à rotina e esperei os anos me corroerem.


Ergui o rosto, ainda tentando recuperar o fôlego, franzindo o cenho ante às suas palavras. Ele podia ser bem direto quando queria. E isso era irritante.


- Não me lembro de ter pedido consulta, Shiroyama...


- Aoi.


- Azul?


- Não, é pra me chamar de Aoi, Uruha. Olha, ali tem um café. Vamos lá, você precisa descansar... velho decrépito.


Ele se esquivou do meu tapa, me puxando pela mão e me levando até lá. Sentamos numa mesa do lado de fora, enquanto tomávamos nossos cafés e eu apreciava a ausência da voz do moreno.


- Por que você disse aquilo?


Aoi franziu o cenho.


- Eu falo muitas coisas, Uruha. Seja mais específico, por favor.


- Aquele blá-blá-blá de "não ter se entregado ao tempo" ou qualquer coisa do tipo.


A luz da compreensão pareceu se fazer em seu cérebro.


- Ah, tá. Nada de mais, você me perguntou e eu respondi. Olha pra você, Uru. Jogou toda a sua vida pela janela por uma coisa que nem é sua e que você nem se orgulha. Não me admira que tenha se tornado uma pessoa tão amarga e estressada.


Pisquei os olhos.


- Desde quando... você me conhece assim?


Ele sorriu, mas não era seu sorriso habitual, aquele sorriso sacana e zombeteiro. Era um sorriso amargo, quase forçado.


- Quem sabe um dia eu te conte, Uru. Quem sabe...


- O caralho! Vai me falar agora, ta entendendo?!


Os olhos dele se arregalaram.


- Uru... menos escândalo, por favor... E eu não vou te contar nem que você suba nessa mesa e comece a rebolar pra mim.


Suspirei, irritado. Havia algo de muito errado ali... As palavras que ele havia usado eram exatas demais para uma mera suposição à respeito da minha vida. E se eu descobrisse que ele andara investigando a minha vida ou algo do tipo... Aí sim, eu iria cometer um homicídio.


X X X X X X X X X X

Estava até feliz por estar no avião, indo de volta ao Japão. A conferência havia sido chata como sempre, exceto que dessa vez haviam bilhetes rabiscados pelo moreno comentando sobre algum aspecto engraçado aqueles empresários chatos e tediosos. Mesmo que o moreno em si me causasse raiva, tive que me conter em alguns momentos para simplesmente não gargalhar no meio da conferência.


Mas, até que tirando a parte em que eu fora aposta de corrida de rua, até que a viagem havia sido interessante. E eu continuava intrigado com as palavras de Aoi naquele café. De onde ele me conhecia tanto?



Continua...

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