Sutil escrita por Jibrille_chan
- Eu sinceramente não gostaria de saber como raios você conhece essa gente e muito menos como você se meteu em rachas de rua, mas a minha curiosidade é maior.
Shiroyama voltou para a mesa que a tal Maiden havia reservado para nós, depois de cumprimentar o enésimo conhecido.
- Eu morei seis meses em Paris. E a Maiden é uma velha conhecida minha de outros tempo. Quando ela nem era a "Maiden".
- E você não vai... correr. Vai?
- Ah, não. Hoje é a fase parisiense. Só pra avisar, estamos numa competição internacional.
Meu queixo desceu uns bons centímetros. Fui poupado de qualquer palavra pela iminente chegada da criatura ruiva.
- Ah, Uru-chan... Você trabalha em eletrônicos?
- Como você sabe?
- Bem, é difícil algo que eu não saiba. Mas é que... a feira foi adiada, não foi?
- Foi.
Meu deus, essa mulher é o capeta.
- Agradeça a mim.
- A você? Como assim?
- Vê aquele cara ali, do lado do carro preto com detalhes em verde? Consegue reconhecê-lo?
Olhei para onde ela indicava. Eu não quis acreditar. Parado, do lado do tal carro, estava... o presidente da feira. Ah, que beleza. Então até o alto escalão de empresários estava envolvido com... aquilo. Era realmente reconfortante saber disso.
- Aoi... Você não vai correr?
Virei-me instantaneamente. Eu sinceramente não queria um intérprete com pescoço quebrado.
- Eu não sei... Na competição eu não posso mais entrar, já que está no meio...
- E um amistoso?
- Hmmm... Não me parece má idéia.
- É uma péssima idéia - intervim.
- Mei-chan, pode deixar que eu corro.
Olhei incrédulo para Shiroyama. Onde ele estava com a cabeça? E... Maiden me olhava com um olhar estranho. Muito estranho. Sabia que deveria ter ficado no hotel. Logo a criatura ruiva se afastou, subiu em cima do balcão, pegou um megafone que surgiu não sei da onde e começou a falar umas coisas em francês. Não faço a mínima idéia do que ela disse, só que seus ouvintes a apoiaram com fervor.
- Vem comigo.
Sem esperar que eu respondesse, Aoi me puxou para o que parecia ser a largada. Algo ali estava muito errado. Atrás de uma linha quadriculada estavam dois carros: um que eu não conhecia a marca, num tom de vermelho escuro, e o outro era uma ferrari preta conversível. Um rapaz saiu de dentro da ferrari e veio entregar as chaves para Shiroyama.
- Você... vai correr com uma ferrari?
- Vou. Ela não é minha, é da Maiden, mas eu a uso pra correr.
- Você usa uma ferrari pra correr???
- É.
Logo a criatura ruiva uniu-se à nós. Vinha com um sorriso satânico.
- Uru-chan, espere lá em cima. Sobe com os meus seguranças. Eu vou correr com Aoi. Aliás... só pra informar, o prêmio é você, Uru-chan.
Um minuto de silêncio para que eu absorvesse as informações.
- EU O QUÊ? COMO ASSIM, EU SOU O PRÊMIO? VOCÊ É LOUCA?
Ela simplesmente começou a rir.
- É só uma noite. E vai logo que eu quero ver se Aoi-kun aqui desaprendeu a dirigir...
Um dos armários que servia de segurança da Maiden me puxou, e logo estávamos no elevador. Ele me estendeu um micro-monitor, de onde se via a largada. Os carros saíram em disparada, derrapando na curva, mas sem encostar na parede. A cada curva eu me desesperava por ter me envolvido com aquilo.
Eu sempre fora uma pessoa comportada, desde criança, sem nunca desobedecer meus pais ou mesmo a lei. E agora... eu era prêmio de corrida de rua. Maldito Shiroyama. Se ele não batesse o carro, eu mesmo iria matá-lo.
Quando chegamos ao topo do estacionamento, faltavam poucas curvas para que os carros chegassem. Estavam páreo a páreo, disputando cada milímetro das curvas, até que na penúltima curva, a ferrari preta tomou dianteira, e acabou por chegar primeiro. Não sabia se ficava aliviado ou furioso.
X X X X X X X X X X
- Eu deveria ter pegado aquele carro e passado por cima de você, Shiroyama.
O canalha riu, o piercing cintilando sobre as luzes dos postes enquanto voltávamos para o hotel. Às quatro e meia da manhã.
- Foi divertido. Fazia tempo que a Mei-chan não corria comigo. Mas ela devia saber que eu iria ganhar.
- Prepotente...
- Realista. Já ganhei o campeonato.
Ergui as duas sobrancelhas, não pela informação em si, mas pelo tom de orgulho na voz dele.
- E isso lá é motivo de orgulho?
- Por que não? É algo que eu gosto. Se eu posso ser o melhor naquilo que eu gosto e me dá prazer... por que não se orgulhar disso?
Fiquei calado, sem saber o que responder. Eu não sabia o que era aquele sentimento de orgulho por algo que se gosta. O meu trabalho era apenas extensão do trabalho do meu pai. Não era algo para se orgulhar.
Muito menos para se gostar.
X X X X X X X X X X
- Como é que você consegue estar com uma cara normal tendo ido dormir tão tarde quanto eu e acordado às nove da manhã?
- É o costume, Takashima-san.
Dei de ombros, decidido a ignorar Aoi. Estávamos no hall do hotel, e eu via distraidamente o noticiário da manhã. Estava morrendo de dor de cabeça devido à falta de sono.
- Olha, estão falando de corridas de rua!
Arregalei os olhos para a TV. Eu não estava entendendo uma palavra. Mas via cenas de carros correndo de um lado para o outro. Foi então que a última voz que eu esperava ouvir àquela hora surgiu do nada.
- Eu acho que esses marginais deveriam ser presos e torturados, você não acha Yuu-kun?
- Com toda a certeza, Mei-chan.
Virei-me para trás, vendo a criatura ruiva sentada sorridente ao lado de Shiroyama. Mas ela... estava com roupas normais. Formais, até. Uma calça social, terno feminino e tudo. Os cabelos ruivos presos num coque bem comportado. Aquela era a mesma pessoa da noite anterior? A doida que me apostara numa corrida?
- Ah, eu não os apresentei. Takashima-san, essa é Kurotsuki Mei, minha prima.
- A senhorita tem alguma irmã gêmea?
Mei começou a rir, depois olhos pra mim e piscou.
- Você conheceu a verdadeira Mei. Essa é só fachada.
Quando é que eu iria voltar pra Tokyo mesmo?
Continua...
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