Embaixo da Pele escrita por Ca_Dream


Capítulo 10
Alianças Inimigas


Notas iniciais do capítulo

Olá gente! Que bom que o Nyah voltou não é? Leiam e me digam o que estão achando.



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Elise acordou naquela manhã com o sol entrando pelas brechas da cortina. Ainda ficou alguns minutos na cama, sem abrir os olhos. Com preguiça de levantar. Finalmente tomou coragem para se mexer.

Abriu os olhos.

Observou o criado mudo ao lado de sua cama. Nele havia algo que não estava presente durante a noite anterior. Afastou os lençóis se aproximando do vaso de flores. Estava cheio de rosas brancas. Pegou uma das flores, absorvendo o perfume. Todas as rosas eram perfeitas. Nenhum espinho aparente e suas pétalas pareciam de seda ao toque.

Sabia muito bem de quem eram as flores. Erik. Quando ele as teria deixado ali? Será que fora durante a noite, ou de manhã antes que ela acordasse? Devolveu a flor que segurava ao vaso. Ficou admirando o buquê como se fosse a coisa mais linda que tinha visto na vida.

Estranhou a mudança de cores. Geralmente ele lhe enviava rosas vermelhas. Mas tinha que admitir, as rosas brancas eram bem mais bonitas.

Elise se arrumou apressada e logo depois foi à cozinha, tomar café com os outros residentes da ópera. Meg sentou-se ao seu lado, tagarelando sobre o acontecimento mais esperado para aquele final de semana. O casamento de Raoul e Christine.

Os dois tinham anunciado o matrimônio havia poucos dias. Se casariam no sábado e já era quinta-feira.

A notícia não surpreendeu muito. Fofocas sobre o casal já aconteciam há meses a fio. A única surpresa era que um rapaz rico e nobre escolhesse uma cantora de ópera como noiva. Uma atriz. Que escândalo!

Elise revirava os olhos para cada comentário exagerado que era feito sobre os dois. As pessoas deviam arrumar algo para fazer além de se intrometer na vida de um jovem casal.

Fofocas a parte. Passou o resto do dia trabalhando em figurinos. Coisa que já tinha virado rotina. Mal podia esperar para que a noite chegasse. E ela pudesse descer as catacumbas mais uma vez.

Os dois tinham que ser cuidadosos sobre seus encontros. Para Madame Giry não desconfiar. Ela era responsável por Elise. Deus sabe o que a senhora faria se descobrisse que eles se viam em segredo.

Depois do jantar, inventou alguma desculpa sobre estar cansada e precisar ir se deitar mais cedo. Voltou para seu quarto, trocando seu vestido para roupas de dormir.

Empurrou o espelho e adentrou a escuridão. A música a atingiu na metade do caminho. Era incrivelmente forte e sedutora. Cada nota parecia exalar o mais puro desejo. Nunca tinha visto Erik tocar aquela composição. Era completamente inebriante.

Chegou à sala onde ele estava, observando-o de longe. Ele parecia estar dentro de seu próprio mundo. Mas de repente, a canção cessou. Como se pudesse sentir sua presença, Erik virou-se para encará-la.

Elise caminhou até ele.

–Quando você compôs? – ele não a olhou nos olhos.

–Não é nada. – ela ergueu a sobrancelha com a cicatriz para ele. Foi até o órgão, pegando as partituras. Leu atentamente.

Don Juan Triunfante.

–Erik, a peça é linda. Talvez o público ache um pouco escandalosa. Mas mesmo assim. Por que você não a enviou aos diretores? – disse, sentando ao lado dele.

–Você mesma falou. O público acharia escandaloso.

–Eles só precisariam abrir um pouco mais a mente.

–Não está tão bom assim.

Elise não acreditou no que ouviu.

–Você tem que estar brincando. Deve ser humanamente impossível você compor algo ruim. – Elise deixou as partituras de lado e colocou a mão no queixo dele. Obrigando-o a olhar para ela. – Por que você não me conta o que o está incomodando? Foi isso que você compôs durante os meses que ficou sozinho? O papel de Aminta era para Christine.

Erik não disse nada. Consumindo-a com os olhos. Como ela podia entendê-lo tão bem? Como Elise conseguia saber tanto quando não era lhe dito nada?

Ele esperou que ela ficasse com raiva, que ela gritasse. Acusando-o de reviver os fantasmas do passado. Qualquer coisa. Mas o que ela fez a seguir o pegou de surpresa.

Elise sorriu de lado antes de puxar o rosto dele de encontro ao dela. Uniu seus lábios em um beijo doce e calmo. Não se importava. Christine era passado. Ela era o presente. Era tudo o que precisava saber.

Erik imaginou se algum dia seria capaz de interpretar o que se passava pela cabeça dela. Elise nunca reagia da maneira esperada.

Ela fez menção de se afastar, mas ele prendeu o braço em sua cintura, puxando-a para perto. Ele a queria. Precisava dela.

Quebraram o beijo, ofegantes.

Elise escondeu a cabeça no peito dele, em um abraço desajeitado. Erik acariciou o cabelo preto dela. Ele adorava como o cabelo dela começava liso da raiz e ia cacheando da metade até as pontas.

–Você já soube? Do casamento de Raoul e Christine.

–Sim. Ela vai mesmo se casar com ele, não é?

–O que você tem contra Raoul?

Ele apertou mais os braços ao redor dela.

–Não me entenda mal. Não me importo por Christine se casar. Mas de tantos homens no mundo, tinha que ser justamente com o Vicomte? – Elise riu baixinho da indignação dele.

–Raoul é um ótimo rapaz. – ela defendeu. – E eles se amam.

–Ele é uma grande almofadinha, isso sim.

–Você pode tentar ser menos implicante, por favor? Raoul e eu somos amigos desde sempre.

–Somos amigos desde sempre. – ele repetiu em um sussurro aborrecido.

–Não seja ciumento.

–Eu não estou com ciúmes.

Elise sorriu.

–É claro que não. E só para você saber. Raoul não é particularmente seu maior fã.

Ficaram em silêncio. Ela fechou os olhos. Estava ficando com sono.

–Eu posso dormir com você?

Erik engasgou.

Elise se afastou dos braços dele. Ficando vermelha imediatamente.

–Eu não quis dizer... Eu não iria... Quer dizer, eu iria, mas... Nós não somos casados. – ela enterrou o rosto entre as mãos.

Erik riu do nervosismo dela.

–Está tudo bem. – ele a assegurou. – Eu entendi precipitadamente. – ele segurou as mãos dela e Elise teve que encará-lo. – É claro que você pode ficar.

Estava sentada no meio da cama. Esperando que Erik trocasse de roupa em outro cômodo. Ele levantou a cortina, aparecendo em uma calça mais solta e uma blusa branca.

Sentou-se ao lado dela. Sem ter a menor ideia de como agir.

Elise percebeu o desconforto dele.

–Se você quiser eu posso voltar lá pra cima.

–Não. Eu disse que você podia ficar.

Os dois se deitaram, virados um para o outro. Ficaram se encarando.

–Por que você tem uma cama em forma de cisne? – ela perguntou curiosa. Aquela era de longe uma das camas mais esquisitas que já tinha visto.

Ele esboçou um sorriso, dando de ombros.

–Essa pergunta não tem resposta.

–Tire a máscara. Como você vai dormir de máscara?

Ele fez como ela pediu. Elise inclinou-se, depositando um beijo em cada bochecha dele. Depois se encolheu ao lado dele, descansando a cabeça em seu peito. Erik puxou o cobertor sobre os dois, envolvendo-a com um dos braços.

Antes que o sono pudesse chegar, dois pensamentos vieram lhe a mente. Elise devia ser louca, era a explicação mais lógica para ela se apaixonar por ele. E percebeu que estar ao lado dela, fazia dele uma pessoa melhor.

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Já era fim de tarde e o clima estava agradável. Não fazia muito calor e vento refrescava a todos. A igreja estava lotada. Não só pela família De Chagny, mas também por várias pessoas da ópera e amigos.

Elise atravessou a nave, indo em direção à parte mais interior da igreja.

Bateu na porta do cômodo antes de entrar.

–Christine?

A outra se observava na frente do espelho. Verificando se o vestido estava perfeito.

–Ah Elise, que bom que você está aqui.

Elise caminhou até ela, parando ao seu lado no espelho.

–Você está maravilhosa Christine. – a ex-bailarina agradeceu com um menear de cabeça.

–Como ele está? – sussurrou. Como se fosse um segredo. Elise entendeu.

–Ele está bem. – ajudou-a com o véu antes de continuar. – Erik e eu lhe desejamos toda a felicidade do mundo.

–Erik? – a outra perguntou confusa.

–É o nome dele. Você não sabia?

Christine balançou a cabeça negativamente.

–Para mim ele era um sonho. Um ser irreal. Nunca me dei ao trabalho de imaginar que ele teria um nome.

As duas caíram em um silêncio mórbido.

Não disseram mais nada, pois no segundo seguinte Meg entrou.

–Ah Christine, nem acredito que não vamos mais ficar juntas pela ópera. – a loira abraçou a amiga.

–Meg, não se preocupe, nós vamos continuar nos vendo. Já tive minha chance nos palcos. Meu lugar agora é outro.

–Vou deixar vocês sozinhas e ir falar com Raoul. – Elise disse. – Aposto que ele está se afogando em nervosismo.

Quando entrou na sala em que Raoul esperava, Elise viu que ele remexia insistentemente na gravata.

–Aqui, deixe-me ajudar. – falou ao amigo enquanto ajeitava a gravata para ele.

Ele puxou uma cadeira para se sentar e Elise fez o mesmo. Pela cara dele, Raoul estava se controlando ao máximo para não ficar andando pra lá e pra cá.

–Acalme-se homem. – ela diz em tom de brincadeira. – É apenas um casamento.

Ela segurou uma das mãos dele e ele relaxou.

–Estou feliz que você esteja aqui.

–Raoul, você não achou que eu perderia seu casamento, achou?

–Christine me disse que você e ele... Bem...

Elise revirou os olhos.

–Não vamos falar disso.

–Ele tem tratado você bem?

–É claro. Se não tratasse, eu não estaria lá. – Raoul sabia que ela estava tentando ser irônica. Tinha esquecido que Elise sabia ser muito teimosa.

–Eu não gosto dele.

–A recíproca é verdadeira. Ele também não gosta de você.

–Você merecia coisa melhor.

–Raoul! – ela realmente não queria ter essa conversa. – Vocês dois, não vão tomar jeito nunca. – ela se levantou para ir embora. – Vou indo agora. Você ainda tem que se casar. Vejo você na festa.

Deu um beijo na bochecha dele e voltou para sentar-se em meio aos convidados.

Logo Raoul chegou ao altar e Christine apareceu na porta da igreja.

Todos olhavam espantados. Como se esperassem que algo ruim fosse acontecer.

Os noivos uniram a mão direita e começaram seus votos.

–Eu Raoul, recebo-te por minha esposa, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.

–Eu Christine, recebo-te por meu esposo, e prometo ser-te fiel, amar-te e respeitar-te, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, todos os dias da nossa vida.

O padre finalmente declarou-os marido e mulher e o jovem casal beijou-se na frente de todos.

Mais tarde todos se reuniram na recepção proporcionada pela família De Chagny.

Elise estava conversando com os recém-casados quando Meg apareceu arrastando um jovem rapaz com ela.

–Elise, esse menino estava procurando por você. Ele foi entregar uma carta à mamãe. Parece que ele tem uma carta para você também.

–Mademoiselle Villaford? – o menino perguntou.

–Sim. – o menino remexeu em sua bolsa, entregando-lhe um bilhete.

Elise virou o papel nas mãos. Era uma carta de sua tia Isabelle.

Abriu e viu que havia apenas uma frase escrita.

Estou chegando em Paris.


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