Em Família escrita por Aline Herondale


Capítulo 34
Epílogo - Carta à Charlie


Notas iniciais do capítulo

Finalmente consegui finalizar a fic da forma que gostaria. Bem, na verdade eu nunca quis de fato finalizar a fic. Ler os comentários de vocês e as recomendações eram os pontos altos do meu dia. Mas foi bom enquanto durou.
Quero agradecer a TO DOS o que se deram o tempo de parar e ler essa minha história. E agradecer até mesmo aqueles que nunca se pronunciaram, só de terem lido-a já fico contente. Quando que finais foram fáceis? T.T
Obrigado de coração. Amo vocês♥



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Querido Charlie,

Estou escrevendo essa carta enquanto o noticiário das oito passa na televisão. Aproveitei essa oportunidade pois é a única em que consigo ficar sozinha e nem ser requisitadas pelos outros, por, pelo menos, cinquenta minutos. E eu espero conseguir escrever tudo que quero nesse tempo.

Sei como estará furioso comigo quando souber de tudo.

Quase consigo enxergar com exatidão a cor enegrecida que seus olhos vão assumir, tamanha a fúria. Mas também sei que, no fundo do seu inconsciente, você me perdoará e adorará a ideia de saber que escrevi algo como uma carta só para você. Travará uma verdadeira batalha interna.

Primeiro quero que saiba que me sinto ridícula fazendo isso. E que só faço porque é você e para você.

Eu o amei. Sim, claro que amei. Me apaixonei pelo homem que desde o princípio teve fé em mim mais do que eu mesma. Que me protegeu de tudo e todos, mesmo que ignorando a moral e ética para isso.Que me tirou daquela cidade infame e medíocre, me libertando da ditadura familiar e permitindo eu abrir minhas assas, além de me impulsionar à voar. Sempre serei mais do que grata pela oportunidade. Você me ajudou a crescer e me ensinou tudo o que sabia sobre a vida - à seu modo, claro. Eu não conseguiria ser metade da mulher em que me tornei, hoje, se não fosse por você, Charlie. Você.

Mas nossa estrada juntos chegou ao fim. Tinha que chegar.

E você também sabe disso, querendo ou não.

Me dei conta, quando percebi que você passou a me seguir nas minhas corridas matinais. Quando você, segundo você, "apenas quis assustar meu parceiro de dueto", trancando-o no próprio carro cheio de gás. Ou quando precisei encontrar um grupo de adolescentes da minha idade por conta de um trabalho da faculdade. Aliás, faculdade essa que só entrei pela sua incansável e incessante insistência para eu estudar e treinar dia e noite até o dia dos exames de admissão. Por mim, teria desistido e tentado apenas no ano seguinte. Mas você não. Como já disse, sempre tendo fé em mim mais do que eu mesma.

Obrigado.

Não foi fácil, sabe. Não foi mesmo, nem um pouco, me desfazer de você, não depois de tanto tempo. E a dificuldade não era em me tornar independente depois de meses tendo uma companhia como a sua, não. Eu sentiria, de fato e incontestavelmente, a sua falta. Nós nos conhecíamos demais. Você me conhecia bem demais. E aquilo me fascinava e assustava ao mesmo tempo.

Talvez eu nunca mais conheça ninguém que me descubra tanto como ou quanto você foi capaz, mas tudo bem, Charlie, porque eu já tinha tido o bastante. E provavelmente eu não quero mesmo saber que outro poderá ser tão bom ou intrigante como você foi. Acredito que essa sensação eu só posso sentir com você, e essa será a única lembrança sua que carregarei comigo.

Te matar também foi algo que não foi fácil. Repetindo algo já dito nos conhecíamos demais, mas sua mente era doentia demais para eu conseguir me comparar então precisei apelar para a simplicidade, sabendo que, só assim, você nunca desconfiaria. E foi o que aconteceu.

Nunca imaginaria que justo eu descobriria sua única vulnerabilidade: morangos. Um dos alimentos que mais adoro neste mundo. Levei um susto quando, em mais um dos restaurantes exóticos de Paris que desbravávamos você começou a tossir e a desmaiar. Era nossa terceira viajem como um casal e você havia escolhido o destino. Me lembro de todas elas com carinho: aos dezenove em Moscou, quando peguei o pior resfriado de toda minha vida, com vinte na Tailândia, quando tive uma das piores insolações. E aos vinte e um em Paris.

Que irônico matar seu companheiro na cidade dos amores, não? Bom, mas não foi fácil. Conseguir fazer com que você tomasse pequenas doses de um suco concentrado de morango, todos os dias junto com seu vinho, sem notar nada, foi quase que impossível. Dos nossos três anos juntos como um legítimo casal, você demorou seis meses para adoecer. Mas quando os efeitos colaterais mais brutos surgiram foi minha oportunidade de matá-lo de uma vez. Me lembro de asfixiá-lo quando você se quer conseguia levantar os braços para se defender, tamanha overdose de alergia à morangos havia atingido.

Não tínhamos parentes nem conhecidos. Viajávamos sozinhos, sem nunca fazer vínculos profundos com os outros turistas. E nem nossa vizinha, Nova York, sabia qualquer coisa sobre nós. Você também, meu querido Charlie, facilitou para mim. E por isso sou grata.

Às vezes penso que você, na verdade, apenas fingia não sentir o gosto do suco de morango. Que você também entendera que já havia chegado ao fim. Porque...não seria possível eu ter conseguido te passar a perna, com dizem. Justo eu, a menina-mulher aberração? Talvez dividimos mesmo o mesmo sangue assassino.

Por fim, passar tudo para o meu nome, sem levantar suspeitas, e me livrar do seu corpo não foram coisas difíceis. Você me ensinara tudo isso, se lembra? Assim também como seduzir as pessoas e manipulá-las (sem distinção de sexo) e eu aprendera tudo muito bem.

Bom, preciso ir, o noticiário acabou e vamos sair para a inauguração da nova galeria.

Me casei com um fissurado por pinturas, acredita? Ele se chama Christian, é loiro, tem belos olhos verdes e me ultrapassa na altura em muitos centímetros. Por isso tenho que usar sempre scarpins, coisa que sempre faço me lembrando de você. Até hoje tenho o primeiro que ganhei. Muito obrigado, meu amor. E não se preocupe, ele é maravilhoso para mim e para meus dois filhos gêmeos. Gêmeos! Acredito que nem você poderia ter previsto isso.

Pretendo engravidar novamente pois quero ter uma menina, e ter esse pensamento aos trinta e dois não é muito tarde certo?

(Estou rindo agora.)

Mas conseguir conciliar minha carreira de pianista, com os gêmeos e ainda dar atenção à Christian quando ele não está tratando dos negócios do museu de artes que temos não é algo simples mas...eu sei que consigo. Essa confiança adquiria com o passar dos anos com você ao meu lado lembrando-me disso.

Enfim, espero que saiba que Christian cuida e cuidará muito bem de mim até nossos últimos anos juntos - caso esteja se perguntando sobre a aprovação dele para mim. Eu nunca permitiria, nem me casaria com um homem que não me tratasse, pelo menos, de forma parecida com que você cuidou de mim. Aprendi isso com você, também: ser valorizada do modo correto.

Vou finalizar esta carta aqui pois meu marido me chama.

Adeus meu amor.




Com todo o meu amor,

Sra. Evie Danforth

P.s.: Esqueci de mencionar o nome dos meus dois bebês: Dinkan e Charlie Danforth.


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Notas finais do capítulo

Obs.: Carta queimada após escrita.



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