Em Família escrita por Aline Herondale


Capítulo 18
Jardim de Lírios


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente preciso agradecer por todos os comentários do capítulo anterior. Li cada um com muito carinho e os amei.
Sinceramente, muito obrigado♥
Espero que gostem desse também.



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Caminharam calados em meio à mata.

Evie não sabia para onde Charlie a levava mas aceitaria qualquer lugar que fosse.

Ao invés de olhar para onde pisava, para não tropeçar em nenhuma raiz suspensa ou cair em algum buraco, Evie mantinha os olhos no corpo enrolado no coberto xadrez que Charlie carregava sobre um ombro – guiando-a na frente. De vez em quando deixava seus olhos bicolores caírem para as costas trabalhadas do seu tio, que mesmo cobertos pelo seu suéter verde-água, era possível distinguir os músculos contraindo.

Não falaram nada durante todo o trajeto.

Charlie levou Evie até o acostamento da avenida e pediu que ela esperasse ali, deixando o corpo no chão, ao lado da menina. Charlie entrou no meio da mata e ela escutou o barulho de motor sendo ligado e no mesmo segundo o conversível do seu tio surgiu em meio ás sombras. Ele o havia deixado escondido.

Charlie estacionou no acostamento e desceu para abrir o porta malas e jogar o corpo lá dentro. Em momento algum Evie esboçou qualquer emoção se não indiferença, e mesmo com seus olhos estando distantes, Charlie não perguntou nada a respeito. Entraram no carro e a caminho de casa a menina foi, aos poucos, retomando a consciência para o presente. Ela levou seus olhos bicolores para o homem que dirigia ao seu lado e o viu manter-se sério, prestando atenção à estrada na sua frente. Nenhum sorriso de canto dessa vez.

O capô estava fechado.

Ao chegarem à mansão, Charlie estacionou e olhou para Evie. Ela manteve a cabeça baixa e escutou-o dizer: - Me acompanhe.

Ela o viu descer do carro e tirar o corpo do porta malas e andar para o meio do jardim. Charlie pegou uma pá, que estava encostada no tronco de alguma árvore e parou de repente. Deixou o corpo cair no chão e começou a cavar.

Evie só entendeu que ele havia feito uma vala quando empurrou com o pé o corpo de Whip, enrolado no cobertor xadrez, para dentro do buraco fundo, fazendo-o sumir nas sombras. A menina não conseguiu proferir nenhuma palavra e apertava os braços cruzados fortemente contra o peito. Charlie olhou para ela e lhe ofereceu a pá. Evie demorou um pouco e quando ele pensou em recolher a mão, sorriu de modo safado ao ver Evie cobrir o corpo com a terra retirada por ele. Terminado, Charlie andou até uma das pedras esféricas que tinha ali e começou a empurrá-la em direção ao buraco que Evie havia tapado.

Ela arregalou os olhos, compreendendo a forma como o tio agia. Matava as pessoas para depois enterrá-las no seu jardim, cobrindo a cena do crime com uma das pedras de decoração. Simples e perfeito.

Genial.

Correu os olhos pelo jardim e se perguntou quais pedras guardavam alguém e quais apenas estavam ali, enfeitando.

Num determinado momento em que Charlie se afastou para guardar a pá, Evie pegou o celular do bolso da sua saia e digitou o número decorado da sua tia Emma. Sentia que aquele era o momento adequado para contatá-la. Foi quando escutou um ruído baixo e não soube distinguir se estava realmente escutando algo ou era tudo fruto da sua imaginação. Tirou o telefone celular da orelha e prestou atenção para descobrir da onde o som vinha. Descobriu que ele vinha de baixo e encostou o rosto no chão de terra. Foi quando pode escutar perfeitamente o som característico de um toque de celular e sentiu um calafrio percorrer sua espinha. Levantou o rosto dali e apertou freneticamente o botão do celular que finalizava a ligação.

Reconhecendo os lírios que estavam em volta daquela pedra, ela entendeu que sua tia também ali, morta.

Charlie retornou e a chamou. Evie ficou de pé e deixou ser guiada até a porta de casa. Não se importou em ser tocada, nas costas, pela mão do seu tio. Entrou na mansão em dizer nada e seguiu direto para o próprio quarto.

Ela entrou no banheiro, desamarrou os sapatos, e roboticamente começou a tirar a roupa, deixando as peças caídas no chão. Saia, blusa, sutiã e calcinha. Entrou no banheiro e ligou o chuveiro.

Na soube quando começou mas de repente seus olhos marejavam e ela começou a chorar desesperadamente. Soluçava e gritava, sentindo uma necessidade em tudo aquilo. Talvez fosse por tudo ter acontecido de forma rápida demais, a morte do seu pai, o aparecimento do seu tio, um atentado de estupro, e a cada lágrima escorrida era um peso que saia dos seus ombros. Poderia até não ser só isso mas, pela primeira vez, Evie chorou pela dor da morte do seu pai, pela morte da sua babá, pelo abandono da mãe, pela solidão que sentia, pelo surgimento de um tio desconhecido e que estava tomando mais ainda sua mãe de sí, pela saudade do pai, por gostar do charme que Charlie direcionava à ela e por ter gostado do que fez e viu – o sangue de Whip e a forma como o cinto esticava na pele dele, enquanto ele morria. Chorou e chorou, até sentir que não precisava mais.

Sua mãe estava apagada no quarto do final do corredor e do seu banheiro ela não conseguiria escutar nada. Podia gritar o quanto achasse necessário.

Saiu enrolada na toalha e escolheu uma camisola de alças finas de seda. Secou preguiçosamente o cabelo com a toalha e procurou por pantufas que nunca havia usado mas sentiu que precisava delas naquele momento.

Evie até dormiu rápido, para quem havia acabado de descobrir segredos sombrios – talvez fosse o extremo cansaço – porém acordou antes do nascer do sol e após quase duas horas rolando na cama, Evie sentou-se e abraçou os joelhos desistindo de dormir. Imagens de tudo que havia acontecido recentemente decidiram ocupar sua mente e nada conseguia espantá-las. Seus olhos piscavam freneticamente mas bastava fechá-los para enxergar tudo acontecer como um filme, por detrás das suas pálpebras.

Irritada, ela levanta da cama decidida a ir até a cozinha comer alguma coisa.

Agora a fome havia aparecido para atormenta-lhe também.


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Notas finais do capítulo

Eai mereço alguma recomendação?
NÃO DEIXEM DE COMENTAR POR FAVOR!
XOXO



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