“O que você mais ama, é o que mais te causa dor”, fora o que Pandora (ou seria Jake?) dissera. E aquelas palavras, mais do que socos e chutes, foram capazes de machucar Dean.

Ele se sentia quase que apunhalado pelas costas.

Nas últimas semanas, desde que haviam enfrentado o exército de Pandora no Cassino dos pais de Drake, ele e Jake, que se conheciam há bastante tempo, tinham ganhado uma espécie nova visão da vida. E visto como ela era curta.

Desde então, tinham saído algumas vezes. Passavam longas horas conversando sobre o passado e o futuro. Falavam sobre o que achavam que estava acontecendo. Conheciam-se melhor. Apaixonavam-se.

E, há poucas horas, antes de adentrarem o campo de batalha, eles se beijaram.

– Promete que vai ficar tudo bem? – Jake perguntara, se aconchegando nos braços do outro garoto. Podia ser musculoso por forma, mas era tão frágil quanto Dean. Mesmo com a armadura, ele sentia o calor do corpo do menino.

– Olha... Jake... – o tom de Dean era mais suave do que nunca. Ele passava a mão pela bochecha do garoto – Eu não sei se vai ficar tudo bem. Mas eu vou ficar com você, não importa o que acontecer? Isso já não é o bastante?

Jake sorrira. Para Dean, era impossível haver sorriso mais encantador...

Pela primeira vez em muito tempo, ele se sentia bem.

Mas aquela sensação já não parecia possível.

Ele caminhava lentamente para trás, tropeçando em seus próprios pés, enquanto tentava se afastar do garoto de cabelos escuros. Mesmo vestindo platina, ele se sentia mais vulnerável do que nunca. Mesmo se abrisse os olhos, não seria capaz de enxergar nada. Acreditava que Luki estaria longe dele, como todas as pessoas sempre estiveram. Especialmente os garotos.

Eles não gostavam de pessoas como ele. Não gostavam dele por que ele gostava deles. Por que ele os amava.

Dean sempre se sentira atraído por garotos, mesmo quando seu pai tentava influenciá-lo a namorar garotas. Mas não culpava o seu pai. Dean acreditava que os burgueses, não só do seu planeta, mas de todos, não aceitavam as diferenças. Por isso executaram o seu pai; por ter tido um filho imperfeito.

Por isso executaram toda a sua família.

E por esse mesmo motivo, criaram um novo Dean. Um Dean que não aceitava o modo como as coisas eram. Um Dean que lutava contra aquilo que não acreditava. Um Dean que decidiria lutar contra a própria deusa.

– Eu... Não... Aguento... Mais... – Dean murmurava. Sentia as lágrimas escorrerem pelo seu rosto. Tudo ao seu redor era escuridão. Não podia ver nada nem ninguém. Estava sofrendo. E fora Jake que causara tudo aquilo. Jake, a pessoa que amava.

Ele se sentia sozinho. Ele estava sozinho. Ninguém poderia ajudá-lo. Estaria aprisionado na negritude de seus próprios pensamentos. Morreria sozinho, sendo lentamente devorado pelos monstros que por tanto tempo alimentara.

– Ora, ora, ora – era a voz de Jake. Ou de Pandora. Ou de Dean – Não é mais tão arrogante, não é, rapaz?

– Por que está fazendo isso? – a voz dele soava lenta. Tão lenta que chegaria a ficar incoerente para alguém que não fosse imortal, como Pandora.

– Não finja que você não sabe, Dean – a voz de Pandora/Jake disse. O garoto não podia vê-la – A humanidade é falha...

– Por que a deusa é falha! – Dean disse em um impulso.

– Oh, sim! – Pandora não se abalara pelas palavras. Nunca se abalara – A deusa foi falha ao ter criado a vida mortal. Ao ter acreditado que uma de suas mais gloriosas criações não estaria fadada ao fracasso.

– Nós somos gloriosos – a voz de Dean parecia não estar emocionada, mas o poder de Pandora fazia com que ele estremecesse de poucos em poucos segundos. Ele não sabia de onde tirava forças para falar, mas era como se Pandora quisesse que ele falasse – Somos gloriosos por que temos poder. Poder para fazermos o que quiser. Por que somos livres.

– Livres? – a risada da deusa fez com que tudo ao redor tremesse – Dean, você não é livre. Você não sabe o que é liberdade. Nunca soube.

Antes que ele respondesse algo, tudo ao seu redor se desfez em um redemoinho rodopiante. Inclusive ele.