Under the Water escrita por Beatriz de Moraes Soares


Capítulo 3
Capítulo 2


Notas iniciais do capítulo

Até o próximo (e último) capítulo ;)



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Estou dentro da cúpula de vidro enquanto a contagem está sendo feita, a cada segundo que passa fico observando a arena em minha volta, as cúpulas dos vinte e quatro tributos estão distribuídas dentro de um grande e aparentemente profundo lago, no centro do lago está a Cornucópia e em volta do lago há uma floresta e eu não consigo ver onde ela termina de tão gigantesca que é. Enquanto cada segundo se passa as lembranças da despedida que tive com meu pai invadem minha mente e eu me pergunto se ainda poderei vê-lo de novo.

O som do canhão soa e deixo minhas reflexões para mais tarde, olho em volta e assim como eu, nenhum tributo sabe o que fazer, teríamos que nada para chegar tanto a floreste, quanto a cornucópia.

Subitamente os irmãos do 4 saem de suas cúpulas e começam a nadar pelo imenso lago, enquanto o resto dos tributos ainda permanece em sua cúpula. Morgan nada para a Cornucópia, enquanto o irmão vai para a floresta se afastando de todos os tributos. O primeiro a jogar na água é Oslov e em seguido vários tributos fazem o mesmo indo para a Cornucópia. Há apenas três pessoas que não desceram da cúpula; eu, Callum e a garotinha do Distrito 8.

Decido que é a minha vez de descer, a água está fria e então me joga de uma vez e é quando me corpo fica totalmente embaixo da água, começo a entrar em pânico, empurrando a água e procurando desesperadamente por ar. No poucos segundos que minha cabeça consegue ficar sobre a água eu vislumbro uma imagem que parece não ser real, era o garoto do Distrito 4, irmão de Morgan. Ele está fazendo um movimento com os irmãos estranho, depois de um tempo percebo que é parecido quando as crianças jogam os cachorros na água e para não se afogarem começavam a fazer esse movimento.

Fico submersa de novo e quando volto o garoto já não está mais lá.

Será que ele estava me dando uma dica? Não tenho muito penso para pensar e decido logo fazê-lo e para ter progresso, pois consigo respirar e parece que estou finalmente nadando. Agora eu tinha mais uma incógnita, em qual direção eu iria, é quando miro com os olhos um acervo de facas inacreditável na Cornucópia e fico tentada em pegar, mas quando vejo o banho de sangue que se forma lá, com tributos sendo trucidados por Morgan, a garota do Distrito 2 sendo morta por seu companheiro de distrito e o casal do Distrito 1 dilacerando a garotinha do Distrito 8, eu simplesmente nado desesperadamente para o lado oposto.

Quando chego à margem avisto uma garota pequena de pele cor oliva correndo para dentro da floresta, vejo que ela está com uma mochila laranja nas costas e saio correndo atrás dela.

Sabe Deus o que pode haver naquela mochila, algo talvez que possa me salvar!

Quando a alcanço, puxo seus cabelos e a jogo no chão violentamente, ela se vira ficando em posição fetal protegendo a mochila abaixo de seu corpo, a giro e finalmente consigo ver seu rosto, seus olhos desesperados, era a garota do Distrito 11, não consigo lembrar seu nome, mas me lembro que era bem irônico, por fim puxo a mochila com força e me afasto da garota, é quando ouço um “crack” vindo da direção em que caminho, de longe posso avistar o casal do Distrito 1. Antes que eles me vejam me escondo entre as árvores e olho para trás vendo a alguns metros garota do Distrito 11 ainda deitada no chão, chorando igual a um bebê, nesse momento ela me fez lembrar Callum.

Ah droga, pobre Callum! Como ele estaria se virando nesse momento?

Nesse momento em minha cabeça vem a imagem do casal do Distrito 1 matando aquela garotinha do Distrito 8 na Cornucópia, aquela imagem me faz subir um arrepio na espinha e então com cautela vou até a garota e me ajoelho ao seu lado, deixando a mochila de lado, ela me olha e fica surpresa e inquieta, ela tenta fugir, mas pego sua cabeça e lentamente a coloco em meu colo, acariciando seu cabelo, eu nunca fiz isso e não sabia muito bem como era.

Ela começar a soluçar e fazer bastante barulho tento acalmá-la e digo:

– Xi, fique calma. Vai dar tudo certo! – ela parece estar mais calma, olho para trás e vejo que Lynn e Slave estão próximo o bastante para nos ver, tento ser rápida e é quando giro a cabeça da garota com rapidez, quebrando seu pescoço lembro de seu nome: Jinx*

O canhão soa e finalmente o casal do 1 me vê, pego a mochila e saio correndo pela floresta, deixando o corpo da garotinha de lado. Olho para trás e vejo que só o garoto está atrás de mim, mais atrás vejo que Lynn está recuperando seu fôlego, Slave parece possuir uma espécie de arco e flecha nas mãos, vejo que ele parece parar, ele ajusta seu arco e mira em mim, tento correr mais ainda, mas parece que não é o suficiente. De repente sua flecha está vinda, desvio meu corpo e ela é cravada no tronco de uma árvore mais a frente, tomo um pouco de fôlego pois meus pulmões precisam de um pouco de ar e minhas pernas doem, olho para Slave que está bem mais atrás de mim, graças a sua idiotice de querer atirar uma flecha em mim, ganhei um pouco de tempo, corro até a arvore e pego a flecha e saio correndo novamente.

Depois de vários minutos correndo floresta adentro, sinto dor em cada parte de meu corpo de vejo que era de parar. Perdi Slave de vista há muito tempo, mas eu quanto mais longe dele, melhor. Minha boca estava seca e eu estava morrendo de fome, caminho até um troco caído no meio da floresta e sento nele, minhas pernas parecem agradecer. Tiro a mochila de minhas costas e finalmente a abro, dentro dela encontro uma garrafa térmica com água pela metade, cinco tiras de carne seca, uma caixinha fosforo, um saco de dormir, alguns sacos plásticos – não consigo imaginar para que – e o principal: duas facas.

Eu mal posso acreditar, era pura sorte! Claro, que isso custou à vida da pobre Jinx, mas ela seria morta de qualquer forma, mas pelas mãos de Lynn e Slave seria bem pior. Pego a garrafa de água e bebo praticamente tudo, anoto mentalmente que tenho que achar rápido uma fonte de água, uma vez meu pai me disse que o mais importante pra se sobreviver nos jogos, era achar uma fonte d’água, por que ali, ela era minha única amiga. Como metade de uma tira de carne seca, por que ainda estou me sentindo forte o bastante para suportar algumas horas sem comer e encaixo minhas duas facas em meu traje, uma de cada lado. Depois de descansar, começo minha caminhada a procura de água. Mas, não tenho sucesso. Acho que minha única alternativa é voltar ao lago, mas quando estou voltando, noto uma vegetação bem úmida no meio do caminho e ando em direção a ela, acho pequenas poças d’água e depois caminhar um longo tempo acho um pequeno rio, bem pequeno mesmo envolto de pequenos e grandes arbustos, tomo o resto da água da minha garrafa e encho com a água do rio.

Procuro alguns gravetos secos e faço uma pequena fogueira, após uns segundos apago o fogo deixando apenas brasa para que minha água possa ser fervida e sem criar nenhuma fumaça para chamar a atenção de nenhum outro tributo. Enquanto deixo minha água ferver, caminho em volta do pequeno rio e visualizo a uns cem metros um coelho. Dou um paço a frente com cautela e respiro lentamente fechando os olhos. Pego minha faca na mão direita e a sinto, quando em uma fração de segundos eu a atiro e abro os olhos vejo que o acertei, assim como meu pai me ensinou.

Sou capaz de dar vários pulinhos de alegria, pois o jantar e o café da manhã estavam garantidos, mas não o faço, pois talvez haja algum tributo próximo e eu não quero chamar atenção alguma. Depois de pegar o corpo do coelho, o limpo com minha faca tirando as tripas e tudo mais, pego alguns galhos e espeto na carne do coelho, tiro a garrafa térmica e coloco o coelho na brasa.

Olho para o céu e vejo que o sol já está se pondo, preciso urgente de um lugar para dormir, olho ao redor e não há nenhum lugar que eu possa colocar meu saco de dormir, há não ser... Há vários arbustos, uns pequenos e outros bem grandes. Vou até um que está bem próximo de outro, tiro o saco de dormir da mochila e faço um teste me posicionando entre os arbustos e dou graças por ser pequena, pois, por exemplo, alguém como Morgan jamais caberia em um espaço tão pequeno como esse.

Depois do teste, coloco minhas coisas entre os arbustos e vou até o coelho na brasa e vejo que ele está no ponto ótimo. Apago as brasas e a camuflo com as folhas de uma árvore, enquanto como, tomo grandes goles d’água, pois, tenho que me hidratar bastante. Já é noite, guardo resto do coelho dentro do saco plástico – finalmente descobri para que ele serve – e depois vou até o arbusto e me coloco dentro do saco de dormir.

O hino da Capital soa e no céu sem estrelas são mostradas as baixas do primeiro dia: A garota do 2, o casal do 5, o garoto do 7, a garota do 8 e por fim a garotinha do 11, que eu matei. A culpa me consome, mas depois me vem o alivio, Callum ainda estava vivo. Assim como o casal Distrito 1, Oslov e a assustadora Morgan. Fecho meus olhos cansados e tento dormir.

Crack!

Abro meus olhos assustada e exploro com os mesmo o lugar escuro, noto uma sombra passar a alguns metros de mim, tento fechar e ignorar, mas é impossível, pois temo que a sombra possa me oferecer algum perigo, é quando vejo que é Callum, o pobre e inocente Callum. Olho pro céu, ainda está escuro, não deve ter passado muitas horas desde que adormeci. Ele parece estar querendo fazer uma fogueira, ou algo parecido, mas está tão nervoso que suas mãos parecem não conseguir segurar nem um galho. Enquanto observo Callum vou pegando lentamente no sono…

Pouco tempo depois acordo com gritos, abro os olhos e vejo a cena mais horrorosa de toda minha vida, Morgan com seu martelo acabando com a vida de Callum. Cada martelada, um grito, até que por fim o canhão soa e fico feliz que agonia do meu companheiro de distrito tenha acabo. Salto do meu arbusto, pronta para arremessar em Morgan e acabar com aquela vadia assassina. Miro em direção a ela, ela ainda parece comemorar o sucesso da morte de Callum, é a melhor chance que eu tenho, mas eu antes que eu possa atirar nela, alguém segura minha mão. Eu não sei quem é, uso um dos golpes de autodefesa que meu pai me ensinou e jogo a pessoa ao chão e aponto automaticamente minha faca para ele:

– Não faça isso! - sussurra o irmão de Morgan.

– Por que não? - digo.

Ele parecia não querer me matar, matá-lo seria tão fácil, mas será que eu conseguiria fazer isso? Abaixo minha faca pronta para deixá-lo partir quando ele olha para o lado e me dá um puxão para perto de si. Maldito! Está querendo dar uma de esperto? Tateio irritada atrás de minha faca que com o puxão caiu, mas ele seus braços me seguram com tanta força que não consigo me soltar, como ele poderia ser tão forte assim e eu não ter percebido isso? Quero gritar, mas antes que eu o faça ele tampa minha boca e aponta para Morgan que está passando praticamente ao nosso lado, ela só não nos vê, pelo arbusto que nos encobre. Assim que ela se afasta ele solta seus braços e eu o empurro com força:

– Você é louco? – sussurro indignada.

– Eu nos salvei - ele dá de ombros - você me deve sua vida.

– Eu estava muito bem – serro os dentes.

– Sim, estava mesmo e ia acabar com um martelo na cabeça - responde com ironia.

– Eu ia matá-la se você não bancasse o irmãozinho preocupado.

– Você não ia matá-la - ele observa - apenas enfurecê-la para que aí ela te matasse.

Não respondo, observo minha faca no chão e corro para pegá-la, eu sou rápida e ele não tem tempo de fazer nenhum tipo de movimento:

– Mas, eu posso te matar! – aponto a faca para ele, ele levanta as mãos em sinal de rendição – Aqui e agora!

– Vá em frente! – diz – no futuro eu serei necessário.

– O que quer dizer?

– Eu te observo há muito tempo, garota do 12 e eu sei que você é forte, mas sua força não te serve de nada sem um cérebro – ele diz apontando para a própria cabeça.

– Você quer uma aliança?

Ele assente:

– Até que a maioria dos tributos estejam mortos.

Não parecia uma má idéia. Uma aliança, nos jogos que assisti, os Carreiristas sempre se ajuntavam com outros Carreiristas, era uma aliança forte, eles matavam todos os tributos e no final matavam um ao outro até que um restasse:

– Certo – concordo abaixando minha faca – até a maioria dos tributos estejam mortos – confirmo.

Ele concorda sorrindo, noto o quão perfeito e branco são seus dentes, como era possível?

– Seu nome é Patsy não é? – ele pergunta casualmente e depois se apresenta – eu sou Cass, Cass Sea.

– Belo nome – dou de ombros e então vou até meu arbusto atrás de minhas coisas.

Enquanto andamos percebo como todo aquele ar de coitadinho de Cass era mentira, pura fachada. Sem falar que ele era um tagarela, nunca vi uma pessoa que falasse tanto. Estamos caminhando pela floresta e de repente Cass pergunta já começando a rir:

– Serio que você estava dormindo em arbusto?

– Qual o problema com isso? – digo irritada.

– Se alguém te encontrasse...

– E você tem uma idéia melhor “sabichão”?

Ele olha para cima:

– Árvores – ele sorri – quanto mais alto, melhor.

Olho para Cass um tanto irritada por sua petulância, observando-o ali pela primeira vez com mais atenção consigo ver como são azuis seus olhos, um azul vivo:

– Que foi? - pergunta enquanto o encaro.

– Seus olhos – ele ainda parece confuso quando completo – são lindos.

Ele sorri parecendo envergonhado.

– Os seus também.

Eu esto prestes a sorri em agradecimento quando o tributo masculino do distrito 3 surge pronto para atacar Cass por trás, em um movimento rápido empurro Cass paro o lado e saco minha faca atirando no garoto. Acerto exatamente na testa dele, morte instantânea. O canhão soa. Vou ajudar Cass que com o empurrão caiu ao chão:

– Valeu, Pat – ele sussurra e estremeço quando ele me chama assim, só meu pai me chama assim, ou melhor me chamava.

Esses flertes nos distraíram, foi perigoso e não estou aqui para perder.

– Se machucou? – pergunto secamente – precisamos continuar andando.

Saio andando sem ao menos esperá-lo:

– Por que está brava?

Não respondo, não quero ter que enfiar a faca na cabeça dele para calá-lo, porque sua voz já está me irritando seriamente, enquanto caminhamos minha barriga ronca, não tomei café, divido o resto do coelho com Cass, noto que ele não tem nada em mãos, nem mesmo uma arma, me pergunto como ele conseguiu sobreviver até agora.


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Notas finais do capítulo

*Jinx = azarado/mau agouro em inglês



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