Adorável Estranha escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 6
Beijo


Notas iniciais do capítulo

Música: Go Go Dolls – Iris



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-Oi amor sou eu, Shizuka. Você provavelmente ainda não está em casa, não é? Bem eu só liguei para avisar que depois de amanhã estarei ai. Tenho uma novidade... EU FUI PROMOVIDA! Dá para acreditar? Sou editora-chefe da revista agora. Poderíamos comemorar em grande estilo minha promoção. Que tal uma viagem nesse fim de semana? Você escolhe o lugar. Beijos. Ligue-me quando ouvir essa mensagem na sua secretária eletrônica.

 

Eu não iria retornar a mensagem que Shizuka deixou. Não estava com cabeça para isso. Fui direto para o banheiro. Eu queria manter minha mente ocupada e assim não pensar no dia de hoje. Por alguns instantes consegui essa façanha, mas bastou me recolher para dormir e tudo o que não queria me lembrar veio à tona. Eu não me esquecia da expressão tristonha de Yuuki quando disse que era melhor mantermos distancia. Por que alguém ficaria triste por se distanciar de um professor? E por que eu sentia o mesmo?

 

-Deixe de pensar besteiras Zero Kiryuu. –E assim eu adormeci.

 

...

 

-Bom dia.

 

-Bom dia professor Kiryuu. –Os alunos responderam em coro. Lá estava Yuuki, ela nem ao menos me olhou. Não sorria. Aquilo foi como um soco em meu estômago.

Dei minha aula normalmente. Sai daquela sala e segui para a próxima sala onde iria lecionar. Tudo normal, tudo perfeitamente e dolorosamente normal. Eu me encontrei com Yuuki no corredor durante o intervalo, ela olhou para o chão ao me ver. Acho que eu não havia deixado claro como Yuuki deveria se portar. Nós não deveríamos nos encontrar fora da escola, mas não haveria problema em nos falarmos pelos corredores. Talvez eu devesse conversar novamente com ela. Sim, era isso o que iria fazer. Mas eu não a encontrei quando sai da escola.

 

“Melhor deixar assim.” - Tentei manter essa decisão em minha cabeça. Liguei para Shizuka fingindo estar animado com seu retorno, ficamos conversando durante meia hora enquanto ela contava as principais coisas que aconteceram em Tóquio. Tentei dormir cedo, mas isso não aconteceu. Eu já esperava que não fosse dormir. Então decidi por fim sair de casa e ir procurar a garota. Pediria desculpas por ter sido tão rude, eu mal acreditava que pensava nessa possibilidade. Primeiro eu a procurei em sua casa. Toquei insistentemente a campainha, mas ninguém atendeu. Lembrei-me que Yuuki havia dito anteontem, ela gostava de ir todas as noites para o parque de Tóquio ver as estrelas em cima da caixa de água.

 

...

 

Parte de mim debatia por que estava fazendo aquilo. Por que procurava a garota para tentar esclarecer o que havia dito a ela. Eu deveria simplesmente deixar as coisas como estavam e me sentir satisfeito com nosso afastamento, mas se fizesse isso só estaria mentindo para mim mesmo. Eu a havia magoado e a prova de que meu ato a machucou estava estampado em seu rosto esta manhã. Com essa imagem eu subi as escadas da caixa de água. Não me surpreendi ao vê-la lá com os olhos colados no visor do telescópio tentando enxergar algo na noite parcialmente nublada.

 

-Andar por ai é perigoso, sabia? –Yuuki virou-se abruptamente para me encarar, seus olhos estavam perplexos.

 

-Professor? O que faz aqui?

 

-Eu a procurei em sua casa por que queria ter uma conversa, mas não a encontrei lá. Lembrei-me que você havia dito que gostava desse lugar e vinha para cá todas as noites. –Ficamos calados por alguns instantes. Yuuki parecia absorver com dificuldade as coisas que havia dito. Logo mais se manifestou, a expressão facial especulativa.

 

-Eu posso saber qual era o assunto?

 

-Eu disse que era melhor mantermos distância, mas isso não significa que precisamos agir como dois estranhos. Podemos nos falar na escola, sobre assuntos relacionados à escola, é claro.

 

-Mas quando eu estou com o senhor eu não tenho vontade de falar sobre a escola. Eu quero falar sobre outras coisas.

 

-Que tipo de coisas? –Caminhei para mais perto dela.

 

-Quero saber coisas sobre você, entende? –Ela não me fitava.

 

-Não há nada de interessante sobre mim que vale a pena contar e... Esse não é o tipo de coisa que se divide com uma aluna, é intimo demais. –Yuuki olhou-me assustada, parece que eu só estava piorando as coisas entre nós. Afastou-se de seus telescópios e deitou-se no chão, os olhos fixos no céu escuro.

 

-Então por que veio aqui? Diga o que tem a dizer e vá embora. –Vê-la agir com rispidez me impressionou. Nunca havia visto ela agir assim. Eu segurei uma risada, ela era engraçada raivosa. Eu me aproximei lentamente, sentei ao seu lado e acabei por deitar no chão assim como ela havia feito. Eu queria muito dizer algo sabendo que poderia complicar minha situação se assim o fizesse. Por fim eu disse.

 

-Não deixe de sorrir pra mim. Seu sorriso tem sido uma grande motivação para entrar naquela escola e encarar um bando de adolescentes sem nada na cabeça que me ignoram e ignoram minha disciplina. –Eu não ousei olhá-la, mas sabia que Yuuki me olhava. Eu me virei e encarei seus olhos castanhos que estavam com uma perplexidade assustadora.

 

–Não interprete erroneamente o que eu disse. Eu só não quero que aja de forma ríspida comigo ou que você... –Por que ela fez isso? Por que ela sorriu, se inclinou e me beijou? Por que eu não consegui afastá-la? Um turbilhão de sensações me incapacitando de pensar com clareza. Meu mundo, minhas leis ruídos, simplesmente ruídos pelo toque daquela mulher. Eu não conseguia pensar no quanto àquilo era errado. Eu só pensava: como seus lábios são macios e adocicados, como me sinto bem enquanto ela me beija...

Subitamente eu correspondi ao beijo. Continuamos deitados, eu me virei de lado e, sem desgrudar meus lábios dos dela, firmei sua cabeça com minhas mãos criando uma armadilha para que Yuuki não se afastasse.

 

“EU TENHO QUE PARAR! ISSO NÃO É CERTO!” - Minha consciência gritava a plenos pulmões, mas eu não conseguia ouvi-la. Eu só conseguia escutar as batidas de meu coração que se aceleravam a cada instante, coisa que a muito tempo não acontecia. Explorei avidamente o interior da boca de Yuuki com minha língua. Eu aproveitei aquele momento até que os meus, e certamente os dela, pulmões reclamaram por ar. Quando nos afastamos eu me toquei do erro cometido. Yuuki afastou-se, os olhos fechados e um sorriso cravados nos lábios que a pouco provei. Ele ergueu sua mão tocando suavemente nos próprios lábios.

 

-Incrível... –Murmurou. Eu a olhei aturdido enquanto pensava no que iria fazer. Ela pegou minha mão e levou ao seu coração. –Sente como ele está batendo mais depressa? Isso não acontecia há muito tempo. –Sua declaração me desarmou. Eu nunca me senti tão confuso em toda a minha vida. Levantei-me num átimo. Sentei-me. Yuuki pareceu um pouco alarmada com meu súbito afastamento. Ela levantou-se e se sentou. Eu não ousava fita-la.

 

-Eu preciso ir. –Eu disse já me levantando. Quando estava de costas Yuuki se manifestou.

 

-Me desculpe. Não deveria ter feito isso.

 

-A culpa não é sua. –E eu saí do lugar. Não ousei olhar para ela. Tudo o que eu queria era me refugiar em casa como um patético pré-adolescente que acabara de ter sua desastrosa primeira vez com uma mulher. Ao chegar em casa em simplesmente desabei na cama esperando que o sono fizesse tudo desaparecer. Isso não aconteceu.


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