Adorável Estranha escrita por Jacqueline Sampaio


Capítulo 5
Ciúmes? Ódio? O que será?


Notas iniciais do capítulo

Música: Incubus – I miss you



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/47256/chapter/5

Eu estava alheio a tudo enquanto arrumava-me para meu trabalho. É como se tudo o que havia ocorrido com Yuuki fosse obra de minha mente. O que foi exatamente aquilo noite passada? Um encontro? Eu nem queria pensar nessa possibilidade, foi imprudente de minha parte ir até o lugar onde Yuuki indicou. Se algum conhecido ligado à escola tivesse nos visto eu teria sérios problemas. Ainda sim não deixei de achar agradável sua companhia e fascinante a nossa programação. Peguei-me sorrindo enquanto ligava o carro e seguia para a escola.

 

...

 

-Bom dia. –Entrei na sala cumprimentando logo aos alunos e ao olhar para a carteira dela, ela não estava lá.

 

“DROGA!” - Praguejei enquanto continuava a minha aula incrivelmente mal humorado, o que me surpreendeu. Por que ficar tão chateado só por que a garota resolveu cabular aula? Talvez por que ela fosse à única que fazia isso me desrespeitando. Não, não era por isso.

 

...

 

Eu havia dado todas as minhas aulas do dia, estava exausto. Enquanto bebericava café na sala dos professores, estava fazendo o planejamento de minhas aulas. Verdade seja dita eu não estava tendo muito sucesso nisso, minha mente vagueava entre a noite anterior com Yuuki e o fato de que faltou hoje. Minha vista passeou pela sala de professores, era pequena, paredes brancas, mobília simples da cor azul marinho, um vaso de flores de plástico em cima da mesa que os professores usavam para reunião que quase nunca acontecia. A porta estava um pouco aberta e então eu a vi. Ela estava lá fora conversando com alguém, um homem. Provavelmente outro professor. Levantei-me da cadeira, arrumei minhas coisas em minha pasta caramelo e sai da sala. Eu não ousei fita-la, queria apenas confirmar se era ela que conversava tão empolgadamente com o professor. Era ela. Usei a desculpa de beber a água do bebedouro a poucos metros da sala dos professore e de esguelha continuei a observá-los. O que poderiam estar conversando? Por que riam tanto? Nem sei por quanto tempo bebi água, mas posso afirmar que poderia passar dois dias sem beber e não sentir sede. Então Yuuki despediu-se do professor e saiu. O professor adentrou a sala dos professores, eu segui para lá.

 

-Ah! Boa tarde Kiryuu! –Só agora parecia reconhecê-lo. Ele também era professor das mesmas turmas que eu, professor de literatura.

 

-Boa tarde. –Eu segui para a poltrona onde estava.

 

-Acabou de dar suas aulas? –O homem perguntou enquanto ia para seu armário e pegava um punhado de papeis lá.

 

-Sim. E você? –Perguntei casualmente sabendo que sua última aula é com a turma de Yuuki.

 

-Também.

 

-Aquela aluna é da sua última turma, não é? –Tentei ser bem casual.

 

-Ah! É sim. Nem lembro direito o nome dela. Yu... Yu alguma coisa. É a única que dá atenção a minha aula. E ela é bem gostosinha! Queria que ela fosse como algumas alunas que tenho dispostas a tudo por uma boa nota, essa ai só se interessa por livros pelo que percebi. Ou talvez apenas finja. Eu aposto que se estivesse diante de um homem... –Eu nem esperei aquele porco terminar suas insinuações sujas. Levantei num átimo da poltrona onde estava e agarrei aquele ser imundo pela gola da camisa. Ele ficou atordoado. Tudo o que eu queria era quebrar a cara daquele idiota.

 

-HEI! ME SOLTA! –Ele disse debatendo-se. O soltei de imediato. Peguei minha pasta e disparei antes que eu cometesse uma loucura. A raiva pelas palavras do homem e a vontade de quebrá-lo me consumiam. Como ele ousou se referir assim a uma aluna. Pior, como ele ousou se referir assim a Yuuki? Ela não era como as alunas que aquele calhorda está acostumado a ter, ela era doce, um pouco estranha, mas gentil. Enquanto seguia para o carro eu a vi. Ela estava caminhando para o portão de saída da escola. Liguei o carro e segui rapidamente para lá sem ter certeza do que faria. Eu encostei o carro na calçada e abri o vidro da janela. Yuuki olhou quando ouviu o barulho e sorriu, mas minha expressão não era agradável.

 

-Quer uma carona? –Perguntei frio. Ela sorriu e entrou em meu carro. Liguei o aquecedor e segui para a avenida. –Onde mora?

 

-Moro na Rua Hitomi, número 126. –Ele olhava para a paisagem da janela, um sorriso nos lábios. Como alguém pode sorrir tanto? Eu queria dizer algo, o que fosse, mas travei. Ela tinha esse poder sobre mim, o poder de me deixar vulnerável e eu não gostava disso.

 

-Por que não assistiu minha aula? –Disparei sem sequer olhar para ela.

 

-Demorei a me arrumar. A propósito obrigada por me deixar dormir em sua casa. Perdão pelo inconveniente. Você até cedeu sua cama para mim.

 

-Não precisa agradecer. O que mais eu poderia fazer? Você praticamente desmaiou em meu carro e eu não sabia onde ficava sua casa.

 

-Eu tenho o sono muito pesado. Bom da próxima vez você saberá onde moro.

 

“Próxima vez?” - Eu pensei. Então ela planejava novamente me convidar para algo?

 

-Não haverá próxima vez. –Eu disse curto e grosso. –Sou seu professor. Teremos muitos problemas se descobrirem que saímos juntos.

 

-Mas não fizemos nada. –Ela balbuciou.

 

-Não espere que os outros acreditem. É antiético. Não sairemos novamente. Espero que não repita seu ato com outro professor, ele poderia se aproveitar de você, entende o que digo? –Lembrei-me das palavras do professor que quase soquei e do que ele teria feito na situação que passei com Yuuki. Certamente o miserável teria se aproveitado. Eu experimentei olhar para Yuuki e vi uma expressão que me deixou confuso. Ela tinha um olhar triste.

 

-Não gostou do que fizemos ontem? –Ela perguntou voltando seu olhar para a janela do carro de tal forma que não pudesse ver seu rosto. Eu havia gostado do que fizemos, mas eu não poderia admitir.

 

-Não. –Falei com seriedade.

 

-Então me desculpe por te-lo aborrecido e obrigado o senhor a fazer aquilo. Pensei que iria gostar.

 

-Não gosto de ter intimidade com alunos, é isso que fez com que eu não gostasse do “encontro”. Mas não foi de todo ruim o lugar e o que fizemos. De qualquer forma, eu gostando ou não, isso não se repetirá. Peço para que aja não só comigo, mas com todos os demais professores, com distancia. –Adentrei a Rua de Yuuki e, durante o tempo em que procurava o número de sua casa, não nos falamos. Era estranho vê-la tão fechada, logo ela que sempre foi tão falante, pelo menos comigo. Não demorou a eu encontrar a casa. Ela era simples, mas muito bem cuidada. Tinha um pequeno muro que a contornava e um jardim ao lado da casa muito bem cuidado. As paredes da mesma eram brancas com telhado vermelho vivo. Yuuki saiu rapidamente do carro, certamente nem me olharia depois de tratá-la com tanta indiferença. Ela sempre me surpreendia. Ela virou-se sorrindo e disse:

                  

-Até amanhã professor. Obrigada pelos conselhos. Eu irei seguir a risca.

 

-Assim espero. –Então eu saí, segui para minha casa. Estranho dizer que durante toda a nossa conversa, enquanto eu dizia a garota para ficar longe de mim, eu me senti um lixo por isso.  


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!