Are you Mine? escrita por scarecrow


Capítulo 2
Chap. 02. Longing for some Solitary Company.


Notas iniciais do capítulo

Eeeei! EHUH Sei que sumi, mil perdões por isso. Tive mil problemas com tempo de cursinho/faculdade me apertando, problemas pessoais, falta de criatividade e enfins. Mas ó, já voltei, e com um capítulo maior que o anterior para vocês! Prometo não demorar tanto daqui pra frente (até porque, estou um poço de inspiração ultimamente EHEUHE). Capítulo betado pela Momoi



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CAP02: Longing for some Solitary Company.

A noite apontou no céu tão quente quanto o raiar do dia. Já não havia mais sombras quando Kakashi saiu do hospital naquela sexta-feira, um pouco mais cansado do que planejava.

“Já vai para a casa, doutor Kakashi?” A enfermeira Yamanaka veio lhe perguntar assim que viu o grisalho caminhar pelos corredores do hospital sem o jaleco. Correu um pouco para acompanhar seus passos, para então ficarem lado a lado.

“Meu turno já acabou.” Ele justificou com a voz abafada. O Hatake, mesmo fora do horário de consulta, sempre andava com a máscara no rosto, até sair pelo grande portão no primeiro andar. Ainda assim, a garota que sempre andava do seu lado para cima e para baixo naquele grande prédio, nunca se incomodou com aquele pequeno empecilho. Nem mesmo a máscara deixava o médico menos charmoso.

“Quer fazer alguma coisa mais tarde?” Ela perguntou convidativa. Kakashi olhou bem para a garota do seu lado. Os cabelos extensos e extremamente claros estavam presos em um firme rabo de cavalo; os olhos azuis eram contornados por uma grossa camada de delineador, que destacavam suas segundas intenções.

“Agradeço pelo convite, porém já tenho algo marcado para hoje.” Respondeu forçando um sorriso que, felizmente, não poderia ser visto. O grisalho apertou o passo quando chegou ao último corredor e viu a porta de saída não muito longe. “Vamos deixar para outro dia, sim? Até terça.”

Não olhou para trás para descobrir se o sorriso pintado de rosa havia sumido. Trocou a maleta de mão e seguiu para o caminho contrário ao de sua casa – por mais que nunca fosse, em sã consciência, aceitar sair com a loira, Kakashi realmente tinha um compromisso essa sexta-feira.

O calor da noite estava incomodando-o. Puxou as mangas da blusa para cima, para aumentar a área de contato entre o corpo e o vento ralo. Avistou no fim da rua a última e maior casa do bairro: a residência dos Uchihas.

Algumas horas antes do seu expediente acabar, Kakashi ligara para Itachi, seu melhor amigo, avisando que havia terminado o livro e gostaria de devolver o mais rápido possível – e, quem sabe assim, pegar outro romance. O outro, assim que teve a oportunidade de falar, logo tratou de convidá-lo para um jantar naquela mesma noite. Dessa forma, ele poderia aproveitar para devolver o livro.

“Venha jantar, vai ser ótimo.” O amigo insistira mais uma vez antes de desligar o telefonema “Sasuke vai trazer um amigo.”

“Sasuke?” O médico perguntara curioso. O irmão mais novo de Itachi não era um grande conhecedor das relações interpessoais e raramente levava alguém para a casa, com o intuito de apresentar um novo amigo. Aliás, Kakashi só se lembrava de uma única vez em que aquilo aconteceu, e foi há uns bons anos atrás, quando o garoto ainda estava na quinta série do ensino fundamental. “Não posso deixar de ir, então.” Finalizou a conversa com uma risada nasal e desligou o celular.

Por isso, agora, Hatake Kakashi estava na frente do grande portão da casa dos Uchihas, esperando ser atendido.

A casa era demasiadamente gigante. Com seus quatro andares – sendo um deles subterrâneo – a construção era romântica, bem detalhada e, por isso, era fácil compará-la a qualquer lugar em que normalmente se passaria os mais estranhos filmes de terror. A residência era, anteriormente, do sabe-se-lá-qual antigo antepassado de Itachi. Diante disso, o herdeiro decidiu ficar com a casa exatamente do jeito que sempre fora. “Como uma boa lembrança”, ele disse em alguma conversa com o médico.

“Boa noite, senhor Hatake.” A governanta o cumprimentou assim que abriu a porta. “Entre, por favor. Os mestres estão na sala de jantar à sua espera.”

Sorriu gentil para a senhora que lhe recepcionou e só então se lembrou que ainda estava com a máscara do hospital. Deu ombros sem se incomodar de fato por ter andado com aquilo no rosto durante todo o caminho, tirando-a e jogando-a no lixo mais próximo que apareceu.

Andou em passos lentos até a sala de jantar, que ficava alguns cômodos depois da porta de entrada. O cômodo era largo e claro, e em seu centro, uma enorme longa mesa de madeira se impunha. As luminárias bem trabalhadas e o detalhe de cada quina na parede engrandeciam o poder do lugar, e faziam os Uchihas parecerem bem mais ricos do que são hoje.

Viu Itachi sentado elegantemente na última cadeira da esquerda, do lado da cabeceira que sempre ficara vazia. Bebia algum vinho tinto e lia algum livro bobo. Kakashi sorriu ao avistar o amigo tão sereno e calmo como sempre era.

“Senhor Uchiha, o senhor Hatake já chegou.” A governanta o apresentou gentilmente e deixou a sala com um sorriso no rosto.

Itachi direcionou sua atenção para o médico e marcou onde estava no livro, deixando-o de lado. Não sorriu como a maioria das pessoas faria – até porque, os Uchihas nunca eram a maioria das pessoas. Fez um gesto para que o grisalho sentasse a sua frente, e assim o fez.

“Fico contente por você ter vindo” O moreno disse com um tom sarcástico “Fiquei preocupado de atrapalhar suas grandes noitadas.”

“Oh, vá se foder, Itachi.” Kakashi respondeu fingindo estar emburrado. Sabia que o amigo estava importunando-o, como sempre. “Você sabe muito bem que nunca deixei de vir aqui para sair.”

Colocaram a conversa em dia. Apesar de sempre manterem contato durante a semana, sempre havia detalhes metódicos e engraçados que não se consegue contar por telefone. Kakashi foi servido do vinho que o moreno saboreava e, aos poucos, foi se relaxando da tensão do trabalho.

Quinze ou vinte minutos depois, Sasuke veio com seus passos leves para a sala de jantar, descendo as grandes escadas no fim do cômodo. Havia acabado de tomar banho, pois seus cabelos escuros estavam úmidos e bem penteados.

“Boa noite, Kakashi.” O cumprimentou assim que se aproximou da mesa, dando um breve sorriso significativo. Sentou-se do lado de Itachi um pouco envergonhado, sem saber ao certo o que falar. O Uchiha mais novo sempre agia daquela forma na primeira aproximação com o médico, e ele não poderia deixar de achar graça nisso.

“Olá, Sasuke” O grisalho retribuiu o cumprimento com um largo abrir de lábios, contente em ver como o mais novo estava ficando mais bonito a cada dia que passava. “Eu –“

O Hatake não teve oportunidade de terminar sua frase. Inesperadamente, uma voz estridente apareceu e se sobrepôs a sua, tirando sua atenção.

“Uou, aqui é enorme também, Sasuke! Que incrível! Minha casa inteira cabe nessa sala.” A voz disse, antes de uma risada breve. O grande problema daquilo tudo, para Kakashi, não era a voz ecoando pela grande sala de jantar, ter sido interrompido ou a infelicidade da frase que foi dita antes. O problema, é que ele conhecia aquela voz.

Tardou a olhar quem vinha. Não queria ter, de forma alguma, a bizarra confirmação de que o melhor amigo de Uchiha Sasuke era o paciente incomum que havia consultado consigo na terça passada. Ele veio, então, em direção a mesa, com a sua personalidade exalando alegrias e alegrias. Foi inevitável não olhá-lo – claro, até porque, Kakashi estava ali apenas para conhecê-lo – mas algo naquele estranho ser lhe chamava muita atenção.

Itachi soltou uma leve risada, como se toda a situação fosse divertida, apenas pelo fato de seu irmão mais novo ter arrumado um amigo tão peculiar. Mal sabia o moreno, que a reação estática do médico era por outro motivo.

“Kakashi, esse é o...” Sasuke começou a falar, porém, dessa vez, a voz que interrompeu a fala foi a do próprio Hatake.

“Eu o conheço.” Confessou dando ombros, aproveitando para beber um grande gole do vinho tinto. Ah, como queria ficar bêbado agora. Os dois Uchiha’s permaneceram calados e curiosos, esperando uma continuação do fato que fora explicitado na mesa. A explicação, entretanto, não veio do grisalho.

“Ah, é, verdade. Fui ao hospital terça-feira, lembra?” O amigo, que agora era conhecido por todos, pôs-se a falar. O falatório quase infinito sobre uma consulta de meia hora parecia ser um caso extremamente divertido, para que Naruto (em algum momento da conversa, Kakashi acabou por lembrar seu nome) contasse daquela forma. Ele gesticulava, sorria, ria, imitava e fazia caretas. “E ele me enganou, Sasuke! Mediu minha pressão e eu nem queria.”

“Veja pelo lado bom, você já deve estar bem melhor.” Kakashi argumentou, dando outro gole largo. Por que raios a janta estava demorando tanto a sair?

“Não exatamente.” O loiro voltou a falar, agora, finalmente sentando-se ao lado do médico. Kakashi, por sua vez, quase se engasgou com a fala impetuosa do outro. Como assim, não exatamente? Tossiu algumas vezes, voltando a razão, lembrando-se que os antibióticos demoram mesmo um pouco a estabilizar a melhora.

“Eu te dei um pirulito. Você não pode reclamar.” Argumentou novamente, dessa vez, com mais convicção.

Itachi, que até então se mantinha calado e disfarçava todas as suas reações simples, não pôde deixar de dar um sorriso discreto e sacana ao ouvir a frase inocente de seu amigo. O mais velho chegou a abrir a boca para falar algo, porém a janta havia aparecido, finalmente. O assunto cessara e o quase banquete foi servido.

Um tempo depois, no meio de tanta comilança, Kakashi voltou ao assunto que importava:

“Então, Sasuke, como foi que vocês se conheceram?”

Mesmo que tenha sido uma surpresa o tamanho da coincidência que toda aquela situação era, o tema principal da noite não poderia, de forma alguma, ficar em segundo lugar. Porque, céus, era o Uchiha Sasuke lhe apresentando um amigo! E, com toda elegância que ele tinha, o Uchiha mais novo limpou os lábios antes de contar o caso tão esperado.

“Eu encontrei com o Naruto na biblioteca da universidade.” Iniciou brevemente, como se deixasse o assunto preencher a mesa aos poucos. Muito diferente do que Kakashi havia pensado, o loiro estava quieto, apenas ouvindo o que seu novo amigo tinha a dizer. “E ele não parava de falar um minuto” Continuou a narração, segurando um riso “E eu fui lá mandá-lo calar a boca porque eu precisava estudar.”

Kakashi conseguia até imaginar a cena. O loiro falando alto com alguém dentro da grande biblioteca universitária, enquanto Sasuke tentava estudar. Era quase cômico desenhar a cena na sua cabeça, porque chegava a ser palpável de tão verossímil.

“E então, ele comentou sobre o livro que eu estava lendo.” Sasuke continuou a narrativa: “Desde aquele dia, nós começamos a nos encontrar e conversar um pouco na biblioteca.”

“Isso me lembra bons tempos, Kakashi.” O Uchiha mais velho se pronunciou, terminando seu jantar e fitando o amigo a sua frente. O médico não pode deixar de sorrir largamente, abrindo bem seus sentimentos perante a mesa. De fato, aquela história trazia boas lembranças.

O jantar terminou alguns instantes depois. Sem muita demora, a sobremesa foi servida e seus paladares gozaram de uma incrível torta de limão. Seja quem for a cozinheira chefe dos Uchihas, o Hatake precisava vir agradecê-la pessoalmente qualquer dia desses. A conversa boba e cotidiana continuou na mesa, e era notória a facilidade de Naruto em se sobressair. Quando as horas foram ficando lentas, Kakashi percebeu que já estava na hora de ir para sua casa descansar, porém ainda não tinha devolvido o livro que pegara emprestado.

“Pode ir lá em cima, deixe-o em cima da mesa de centro” Itachi se pronunciou, “Aproveite e escolha outro. Você iria fazer isso de qualquer jeito mesmo, não é?”

Ignorou a risada sarcástica e incômoda do amigo, e pegou o livro esquecido dentro de sua maleta, no chão, bem ao seu lado. Pediu licença da mesa e se levantou silenciosamente, andando pelo tão conhecido caminho até a biblioteca.

Cada detalhe da grande propriedade Uchiha era digno de uma descrição minuciosa. Entretanto, a biblioteca merecia uma atenção especial. Era um dos maiores cômodos da casa; possuía as paredes longas e largas, com estantes densas, lotadas de cores e páginas. Era para Kakashi, talvez, o lugar preferido dentre todos os lugares do mundo.

Colocou na pequena mesa de centro o livro que pegara emprestado, e colocou-se a olhar as estantes. Sempre demora muito tempo para escolher qual livro ler.

Ler, para Hatake Kakashi, era algo mágico demais para conseguir tomar qualquer decisão rápida. Sua paixão secreta pela literatura era algo que poucos sabiam sobre si, e entre elas, estava Itachi.

“Não sabe qual escolher?”

“Puta que pariu!“ O médico esbravejou, levando a mão ao peito. Olhou para quem havia chegado.

“Não fale palavrão, Kakashi, é feio.” Naruto, que havia aparecido subitamente na biblioteca o interrompeu, após o susto que sua fala inesperada causou. Riu da cara do grisalho por uns instantes. Era tão engraçada sua careta de indignação... “Eu fiz uma pergunta.”

“Eu ainda estou me recuperando do susto, se você puder me dar licença.” O grisalho respondeu irônico, exagerando nas reações apenas para ignorar uns instantes mais o jovem ao seu lado. Olhou de canto para o mais novo, percebendo sua ansiedade em falar. “Estou pensando ainda em qual livro devo levar.”

Silêncio.

Muito diferente do que o Hatake imaginou do que aconteceria, o loiro permaneceu em silêncio, olhando as estantes com cuidado. Já era a segunda vez naquela noite em que a falta de sílabas do Uzumaki lhe surpreendia. Foi por isso que o médico respeitou seu silêncio e permaneceu calado, observando os livros como se ainda os escolhesse.

Em algum instante, no qual não percebeu exatamente quando, o correr de seus olhos pelos títulos disponíveis ficou certo tempo analisando o tal Naruto. Não havia reparado no dia do consultório a imensidão de seus olhos azuis, que agora, pareciam absorver cada livro que havia ali. Existia algo de diferente naquele olhar. Algo de romântico, de idealizado...

“A morte de Ivan Ilitch, Tolstói.” Disse de súbito, assustando Kakashi novamente.

“Como?” Perguntou confuso, tentando compreender o que havia sido pronunciado.

“Já leu a morte de Ivan Ilitch? Do Liev Tolstói?” Naruto voltou a perguntar, dessa vez olhando diretamente para o grisalho. Kakashi fitou-o por segundos antes de responder:

“Não. É bom?”

“É um clássico do realismo.” Respondeu convicto, dando um largo sorriso. Aquele mesmo sorriso sincero que dera quando se cumprimentaram pela primeira vez. Kakashi ficou sem saber o que falar.

E então, Naruto saiu da grande biblioteca, sem dizer mais nada. Não pegou nenhum livro, não devolveu nada, não deslumbrou dos livros, não fez comentários importantes ou iniciou um assunto específico. Apenas entrou, perturbou sua quietude e foi embora.

Com um largo suspiro, o Hatake esticou o braço para pegar o pequeno livro que o outro havia indicado, logo acima de si. Olhou para o nome conhecido do autor e engoliu sua vergonha de nunca ter lido nada de Tolstói antes. Era só por isso, tentou se convencer, era apenas por nunca ter lido nenhum livro de Liev Tolstói que iria levar aquele para casa. Não tinha nada a ver com Naruto, de modo algum.

Ficou mais alguns minutos na biblioteca, antes de ir embora, esperando por uma companhia solitária, que nunca veio.


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Notas finais do capítulo

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