Laços escrita por CowardMontblanc


Capítulo 2
Incerteza


Notas iniciais do capítulo

Aqui estamos nós com o segundo (e último, já que é uma twoshot) capítulo dessa pequena fic~ :33 Desta vez temos o ponto de vista do Reiner, como prometido. Escrever com ele foi muito interessante, e eu acho que o resultado saiu bem legal! :3 Acho que não preciso repetir, mas irei avisar novamente que isso aqui tem spoilers do mangá, ok? uwu Fora isso, só desejo uma boa leitura, e nos vemos lá embaixo! C:



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Incerteza

Reiner sabia que era um guerreiro. Seus pais sempre o disseram isso, seus colegas da vila, Berthold especialmente. Ele não apenas era um guerreiro, ele precisava ser um. Sempre, mesmo quando estava triste e queria chorar ou quando estava com medo. O loiro não podia ser fraco, não podia ter medo de nada e nem ficar se lamentando por seus erros. Isso Berthold já fazia por ele.

Não que ele achasse o moreno fraco. Na verdade, admirava como ele conseguia ser tão sincero consigo mesmo e com os outros. Quando ele queria chorar, ele deixava as lágrimas caírem, quando achava que algo não era uma boa ideia, dizia logo. Na verdade, Berthold era em parte uma espécie de voz da razão para o garoto desde a infância. Sua sensibilidade era visível e o fazia notar coisas que até mesmo Reiner não prestava atenção, como caminhos que podiam ser perigosos para os meninos atravessarem, se algum animal estava nervoso demais perto deles e deveria ser deixado quieto, ou então qual árvore estava dando frutos que eles poderiam comer.

O que Reiner mais gostava em Berthold, no entanto, era como ele não o pressionava constantemente e o deixava ser humano. O moreno nunca o repreendeu por nada, e quando percebia que ele estava triste, cansado ou com raiva, sempre tinha paciência, perguntava o que aconteceu, se oferecia como ombro amigo para que pudesse ouvir suas dúvidas, suas inseguranças, alguém que ele poderia abraçar e chorar e no lugar de receber um sermão por isso ganhava carinhos nas costas e nos cabelos. Além disso, nesses momentos, Berthold falava com ele, calmo e atencioso, e sempre o apoiava e dava os melhores conselhos.

"Você não é fraco por chorar, errar ou sentir medo, Reiner. Um guerreiro também é humano, e humanos são assim. Você tem o direito de se sentir mal, de não fazer tudo certo na primeira vez, de achar que não deve fazer algo porque não quer fazer mal a você ou a quem gosta. Na verdade, eu acho que você é forte justamente por tudo isso. Você é um guerreiro de verdade, Reiner. E eu tenho certeza de que você nunca vai decepcionar ninguém." O moreno disse isso uma vez, e aquelas palavras o tocaram profundamente. Com certeza ele estava certo - ele dificilmente errava, era um menino muito esperto -, e aquilo era exatamente o que Reiner precisava ouvir e ter em mente.

Quando começaram a treinar suas habilidades, Reiner se lembrava de sempre ficar admirado em como Berthold acabava ficando tão alto. Ele se lembrava da primeira vez em que o moreno deixou que ele subisse em sua mão para que pudesse ficar de pé no seu ombro. A vista era simplesmente incrível. Naquela altura, parecia que dava para ver o mundo inteiro. As montanhas, florestas, campos, rios, lagos... Tudo tão extenso, e ele e Berthold teriam que atravessar todos aqueles locais um dia, quando chegasse a hora certa.

Nenhum dos dois sabia exatamente porque deviam andar o mundo sozinhos mesmo sendo tão jovens para derrubar muralhas que estavam tão distantes de onde moravam. Eles tinham comida, água, abrigo e paz onde moravam, então não viam nenhuma razão para deixar tudo para trás. Para que abandonar suas casas, suas famílias, os campos e animais da região que eles já estavam tão familiarizados e conheciam tão bem? Os adultos diziam que era necessário, e que apenas eles podiam fazer isso. Porque eles eram jovens, cheios de energia e vontade, e acima de tudo, eram guerreiros.

E guerreiros algumas vezes precisam fazer coisas mesmo quando não entendem o motivo.

Por isso eles foram embora, mas apenas com a intenção de fazer o que precisavam fazer e então voltar. Não demorou muito para que ficassem logo com saudades de casa, das suas camas cheias de lençóis macios, das refeições gostosas que seus pais preparavam, de como podiam brincar e serem crianças sem preocupações. Sozinhos, eles precisavam conseguir comida, água, locais seguros para dormir, e principalmente seguir em frente com a missão. Desistir e voltar para casa não era uma opção. Nunca foi. Aquilo estava claro desde o início.

Quando finalmente derrubaram a Muralha Maria, Reiner achava que o resto seria mais fácil. No entanto, estava enganado. Após adentrar a Muralha Rose com os refugiados, ele viu o que tinha feito junto com Berthold. Eles eram tão jovens, mas tinham matado mais do que uma pessoa normal mataria em toda uma vida. Não apenas isso, mas eles destruíram as vidas dos que escaparam, e instauraram todo um clima de medo e terror num local que antes estava pacífico.

Reiner não achava aquilo certo. Se acontecesse algo assim em sua terra, ele sabia que não iria gostar. Então por que precisava acabar com a paz de um povo que não estava atrapalhando as vidas alheias? Ele tentou perguntar a Berthold e Annie, mas nem mesmo os outros dois sabiam a resposta daquela pergunta tão simples e ao mesmo tempo tão complicada.

Viver com os refugiados era um inferno ainda maior do que viajar. Não havia comida, não havia espaço, não havia higiene. Reiner sentia o seu estômago roncar constantemente, exigindo alimento, e não ter nada para engolir fazia sua barriga doer. Ele escutava todos os dias o choro de adultos e crianças, via o desespero em seus rostos. Sentia o mau cheiro que impregnava o ambiente cheio de pessoas que muitas vezes ficavam dias sem poder ao menos tomar um banho ou trocar de roupa, ficando assim doentes, fedidas e sujas. Pelo menos fora das Muralhas Reiner podia procurar por comida sempre que sentisse fome, podia se limpar em qualquer rio ou lago que encontrava e, principalmente, não precisava escutar o tempo inteiro murmúrios, soluços e lamentos por causa de uma ocorrência injusta e cruel - que, por sinal, fora em parte culpa sua.

Os pesadelos o assombravam praticamente todas as noites. Nem mesmo dormindo ele tinha o direito de ter um pouco de paz. Ninguém brigava com ele por chorar ou fazer barulho, porém, pois sabia que não era o único a fazer isso. Seu inconsciente fazia questão de mostrar o sofrimento alheio, as vidas que ele arruinou ao quebrar tudo, destruir tudo que tocava, como ele era capaz de ser um verdadeiro monstro. Aquilo só não acontecia nas noites em que Berthold decidia abraçá-lo. Na primeira vez, ele estranhou, mas o moreno apenas o mandou fazer silêncio e ficou ali, fazendo carinho em seus cabelos loiros, brincando de entrelaçar os dedos nas mechas curtas.

"Eu sei que você não dorme bem, Reiner. Mas eu estou aqui com você. E eu prometo que vou ficar sempre do seu lado." Ele sussurrou, deixando implícito tudo o que gostaria de dizer de verdade e não podia por causa das pessoas por perto. Então, beijou-lhe a testa, num gesto que selava toda a sua lealdade. Reiner não conseguiu falar mais nada depois disso, e apenas afundou a cabeça no peito do moreno e ficou assim até adormecer.

Naquela noite ele dormiu sem medos e preocupações.

Para passar o tempo e também para se redimir um pouco, o loiro ajudava durante o dia. Via muito do estrago que tinha feito, mas em compensação era ótimo ver a satisfação e gratidão nos rostos das pessoas que ele ajudava mesmo em gestos mínimos como oferecer um pedaço de pão. Annie aparentava ser indiferente a isso, e Berthold a princípio não parecia muito confortável com a ideia, mas logo o deixou fazer o que quisesse porque daquele modo Reiner conseguia algumas vezes pequenas regalias, como trocas de roupa extras ou um pouco mais de comida, provavelmente em agradecimento por sua ajuda e pena por sua pouca idade.

Reiner não se lembrava exatamente quando começou a sonhar com o soldado, mas ele era incrível. Tão alto, forte, ágil e belo no uniforme, voando com seu equipamento com leveza e graciosidade, letal em seus golpes nas nucas dos inimigos. Eram sonhos incríveis, fantásticos, e ele sempre acordava animado e louco de vontade para narrá-los para os amigos, com todos os detalhes possíveis.

Berthold costumava sorrir com suas histórias, mas ele sentia que havia algo nelas que o deixava um tanto desconfortável por algum motivo que, nesses momentos, ele não sabia. No entanto, Reiner nunca deixava de contar nada, e a cada vez que sonhava com o soldado, com mais vontade ele ficava de se tornar um também.

Entrar para o treinamento militar foi uma alegria. Vestir o uniforme era um honra, aprender a comandar os cavalos e a usar seu equipamento era extremamente divertido e até os treinamentos mais pesados e que exigiam mais do seu físico não o desanimavam. Além disso, era bem melhor conviver com os cadetes do que com os refugiados.

Reiner fez amizades naqueles três anos. Eren, o garoto mais determinado que ele já conhecera em toda a sua vida, Mikasa, perfeita em tudo que fazia, Armin, tão inteligente e doce, Jean, que tinha o pavio curto mas no fundo um bom coração, Sasha, a garota que amava comida e era divertida e com uma excelente intuição, Ymir, a moça de sardas sempre sarcástica, Connie, que sempre tinha um comentário ou piada a fazer para alegrar todos os momentos, Marco, o garoto que conquistava a confiança de todos com suas sardas e seu sorriso.

Mas uma pessoa em especial cativou o coração do loiro mais do que todos eles.

Christa era a garota mais linda que ele já vira em toda a sua vida. Seus cabelos eram compridos, sempre bem cuidados e amarrados, loiros como o sol, os olhos de um azul tão claro que faziam o soldado querer mergulhar neles, e ela era tão pequenina, com uma aparência tão delicada, que se Reiner nunca a tivesse visto treinando, jamais diria que ela parecia pertencer aquele lugar, e sim numa casa de bonecas.

Ele a queria para si. Queria ser o homem que a amaria, queria ser seu soldado protetor, seu cavaleiro honrado, seu príncipe encantado, seu rei perfeito e soberano. Desejava conhecer o sabor de seus lábios rosados, fazer carinho naquele cabelo que cheirava bem, caminhar com ela segurando sua mão tão pequenina, carregá-la em seu colo para a cama quando ela tivesse sono e ficar ali a observando dormir para garantir que ela não teria pesadelos.

Reiner a amaria como ela deveria ser amada. Cheia de mimos, beijos e carinhos, sem nunca faltar um elogio, um sorriso. A cada vez que ela precisasse de ajuda, ele estaria lá. Se ela quisesse chorar, ele a deixaria fazer isso em seu peito e depois a faria se animar e sentir-se melhor. Se ficasse doente, cuidaria dela e não sairia um segundo do seu lado.

Ele queria se casar com a garota e passar o resto de sua vida ao lado dela. Envelhecer com ela, ter filhos com ela, viver cada dia com sua doce companhia. Aquele era seu desejo.

Berthold dizia que ela era interessada em Ymir, mas aquilo não era possível. Sim, ele concordava que as duas moças eram próximas, mas com certeza devia ser apenas uma amizade, exatamente como a dele e do moreno! Ele devia estar com ciúmes, mas podia muito bem procurar uma garota para ele. Não era como se o amigo fosse uma pessoa ruim - na verdade, se não fosse pela timidez, ele com certeza poderia conseguir alguém.

Algumas vezes, porém, o guerreiro ainda assumia o comando naquele ambiente em que o soldado se fortalecia, e ele entendia toda a preocupação nos olhos verdes de Berthold. Uma vez, até acordara de noite e o encontrara chorando por sua causa. Com cuidado para não fazer barulho, Reiner foi até sua cama, e deitou-se ao seu lado, abraçando-o do mesmo modo que o moreno fizera com ele anos atrás.

"Bert, está tudo bem. Eu estou aqui com você. E eu nunca vou te abandonar." Ele murmurou, acariciando os cabelos negros do garoto, e deu-lhe um beijo na testa para provar que quem estava ali era o guerreiro. Aquele Reiner estava sendo sincero e leal ao que dizia, e daria a sua vida pelo melhor amigo. Ele se lembrava do que precisavam fazer, do desejo que tinham de voltar para casa, de todas as dificuldades que passaram.

Berthold nada disse, e ficou apenas ali aproveitando o abraço do guerreiro até adormecer. Quando Reiner percebeu que o jovem não estava mais acordado, ele o deixou ali, e voltou para seu lugar para evitar suspeitas e comentários maliciosos dos colegas no dia seguinte, por mais que quisesse dormir do lado do outro do mesmo modo que faziam quando eram crianças.

O loiro sonhou com sua casa nessa noite. Sonhou com as brincadeiras que ele e o moreno faziam, com o rio que costumavam tomar banho, com a comida que seus pais preparavam para ele, com os filhotes de animais que ele gostava de pegar e fazer carinho, com os canários que gostavam de se alojar em seus cabelos loiros como se fossem fazer ninho em sua cabeça. Ele daria tudo para ter momentos como esses de novo. Até sua própria vida.

No final, eles conseguiram se graduar nas posições desejadas. Eles poderiam prosseguir com seus planos, poderiam fazer tudo dar certo, e então voltariam para casa vitoriosos e seriam recebidos por todos, que estariam cheios de orgulho deles.

Para isso, o guerreiro precisava escolher entrar na Polícia Militar. No entanto, o soldado se decidiu pelas Tropas de Exploração.

A partir daí, tudo passou tão rápido e foi tão confuso. Reiner passou perto da morte muitas vezes, cometera diversos deslizes, oscilara demais entre o soldado e o guerreiro, tanto que ficava até mesmo irritado com tudo aquilo.

Quando se deu conta, estava na floresta com Eren, Ymir e Berthold, sendo que este último não parava de encará-lo. Era um olhar que parecia penetrar no fundo de seus olhos, quase intimidador mas ao mesmo tempo um tanto terno, preocupado. Ficaram assim por segundos, num silêncio que nenhum deles se atrevia a cortar, se olhando mutualmente.

Berthold estava buscando alguma coisa dentro dele com aqueles olhos verdes que se misturavam com as árvores da floresta. Alguma coisa extremamente importante, mas que a cada segundo que se passava, parecia deixar o moreno frustrado, como se não fosse capaz de encontrar.

E para ser sincero, nem mesmo Reiner sabia o que devia ser.


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Notas finais do capítulo

Eu realmente não sei direito o que dizer aqui SOAHSAHSAHSAHSA Hmn, bem, essa fanfic surgiu depois de eu fuçar as fics desse fandom e perceber que não existem muitas centradas nos Titan Shifters. E como eu amo o Berthold e o Reiner, decidi que queria escrever algo com eles dois, porque acho linda a relação deles e adoro toda essa dualidade do Reiner soldado e Reiner guerreiro. É TÃO LEGAL ESCREVER COM ISSO, HNNNNNG *Soltando corações* AMO CONFLITOS PSICOLÓGICOS E DE PERSONALIDADE, É UMA DELÍCIA *O* Espero que essa fic sirva pra inspirar mais o fandom a trabalhar com esse tema, porque é muito, muito legal, e cheio de possibilidades. E também espero que tenha gostado da fic! :3



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