Closed your Eyes escrita por Noona


Capítulo 8
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Vou dedicar esse capítulo à leitora Dudaa, que me enviou uma mensagem privada muito carinhosa.



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A semana transcorreu de forma lenta e torturante. Logo se transformou em duas. Duas longas e infelizes semanas. Desde aquele terrível dia, Eun Jae não havia mais aparecido na escola, e embora mais ninguém ali parecesse ter notado sua falta, Ma-Ru havia se flagrado procurando por ela em cada corredor, torcendo para encontrá-la em algum dos lugares onde ela costumava a ficar.

A ausência dela havia provocado nele uma enorme sensação de vazio, dor essa que fazia com que contasse os minutos, na tentativa de que as horas passassem mais depressa e ela retornasse. Ainda que fosse um tanto quanto arriscado, a ansiedade o havia levado a montar guarda na frente da sala onde ela estudava e nas proximidades da casa onde ela vivia, na tentativa de vê-la nem que fosse de longe.

Em vão.

Nenhum de seus colegas de classe sabia dela, e não havia um movimento sequer na hanok onde sabia que Eun Jae morava, como se estivesse completamente vazia. A saudade em seu peito era dolorosa e, mesclada à preocupação que sentia por ela, não lhe dava sossego nem por um momento. Seus dias vazios eram preenchidos apenas pelas lembranças dos bons momentos passados com ela.

Sem dúvida, a hora do almoço era um dos piores momentos. A escola havia voltado a ser um lugar detestável. Mas, ainda assim, era o único lugar onde poderia encontrar Eun Jae novamente, mesmo que a espera angustiante lhe custasse sua paz de espírito. Sentado na costumeira mesa onde almoçava com Eun Jae, Ma-Ru mordiscava distraidamente um pedaço de chocolate, quando na verdade, daria qualquer coisa para comer o horrível kimchi que ela insistia que ele comesse na refeição.

Os outros alunos jamais se aproximavam de onde ele se sentava, e Ma-Ru era grato por aquilo. Não estava em seu melhor humor para aturar quem quer que fosse. Infelizmente, Min-Ki Sumbae parecia se excluir do restante dos alunos e parecia não ter entendido aquele fato.

Todos os dias, se separava de seu séquito de fãs e vinha até a mesa onde Ma-Ru estava, dando-lhe um cansaço ao falar sobre sua admirável vida de sub celebridade.
Ma-Ru se sentia patético ao se obrigar a aturar aquela presença indesejada. Mas no entanto, a falação enfadonha fazia com que seus pensamentos se tornassem um tanto menos depressivos.

Ya, Choi Ma-Ru! Preste atenção enquanto seu sumbae está falando! — Min-ki reclamou novamente, dizendo a frase mais constante de sua conversa.

Ye, ye. — Ma-Ru balançou a cabeça, fingindo estar prestando atenção.

— Achei que você fosse amigo de Eun-Sae, talvez estivesse preocupado com a ausência dela na escola. Enfim, posso voltar a falar da minha tarde no shopping, quando pediram meu autógrafo, e...

— O que foi que você disse? Eun Jae? — Ma-Ru bateu com as mãos na mesa do refeitório, inconsciente do barulho alto que chamou a atenção de todos, agora completamente interessado no que quer que Min-Ki fosse dizer.

— Eun-Jae, é mesmo. Tenho tantas fãs que acabo me equivocando quanto ao nome delas. Uma vez, o meu fã-clube...

Ma-Ru fez uma careta ao ver que o astro estava divagando novamente, devaneando sobre suas adoradas fãs – como uma pessoa daquelas podia ter algum fã, era um enorme mistério. Mas falar aquilo não faria o rapaz se sentir contente e lhe contar o que queria saber.

— Eun Jae. Você ia me dizer algo dela.

— Pobrezinha... Minha fã está fazendo exames. Como um bom sumbae, telefonei aos tios dela e me mostrei interessado em ajudar, caso houvesse algum problema. Você já sabe, uma celebridade precisa olhar para seus fãs e retribuir o carinho e...

— Sim, você já me disse isso antes. — Balançou a cabeça em um movimento afirmativo, dando ênfase ao que havia dito. — Eun Jae está fazendo exames? Por que? Ela está doente? Aconteceu alguma coisa com ela?

— Calma, calma. Não posso responder a tantas perguntas de uma só vez. Embora eu seja realmente muito talentoso, não tenho esse dom ainda.

— Mianhae, Sumbae. Mas...

Arraso, Arraso. Sei que está preocupado com a sua amiga, Ma-Ru.
Min-Ki lhe lançou um olhar que Ma-Ru não havia visto antes, algo que fez com que o ar tolo do astro desaparecesse por um breve momento, dando-lhe um aspecto de um verdadeiro sumbae.

— Falei com o tio de Eun Jae. Ela está numa clínica de olhos, fazendo exames detalhados e um tratamento pré-operatório. Está bastante cansada, e os exames não são nada bons. — Encolhendo os ombros, Min-Ki se calou por um momento e respirou profundamente, parecendo um tanto quanto desanimado. — Você devia tentar falar com seus tios. Mais do que nunca, aquela garota precisa do seu apoio.

Eun Jae se encolheu sobre sua cama, se sentindo profundamente infeliz. Não sabia como as coisas haviam se tornado tão complicadas para ela. Desde a viagem com Choi Ma-Ru, tudo havia se transformado em um enorme caos. Seu braço, arroxeado das agulhadas que havia levado em busca de suas veias durante a semana toda, pulsou dolorosamente.

Levando a mão até o local, tocou os dolorosos hematomas inchados onde a agulha havia perfurado sua pele, desejando que a dor parasse. Flexionando os dedos, Eun Jae deixou suas lembranças levarem-na novamente até a noite que havia passado na companhia de Ma-Ru. A sensação da pele dele sob seus dedos ainda estava viva em sua memória, fazendo com que a saudade que sentia dele se tornasse ainda mais intensa.

Até aquele momento, não sabia por que seus tios haviam agido daquela forma tão raivosa contra Ma-Ru, a ponto de praticamente obrigarem a equipe médica do hospital a operá-la meses antes da data marcada. Naquela noite, seus tios haviam gritado um com o outro por horas, acusando e culpando um ao outro pela amizade da sobrinha com um garoto como aquele e agradecendo aos céus pela denuncia feita pelo vizinho.

Do pouco que havia entendido da conversa, havia chego à conclusão de que um velho vizinho havia feito alguma denuncia contra Ma-Ru, embora ela não soubesse o que, no mundo, aquele ahjussi pudesse ter dito, a ponto de enlouquecer seus tios.

Quinze dias, dezessete horas, nove minutos e alguns segundos. Esse era o tempo exato em que se lembrava de estar com Ma-Ru pela última vez. A espera pela hora de se reencontrar com ele era dolorosamente longa e com o passar dos dias, Eun Jae havia se tornado verdadeiramente irreconhecível. Profundamente infeliz, havia parado até mesmo de se alimentar, não importava o quanto sua tia insistisse na vital importância daquilo.

Talvez um pouco tarde demais, seus tios houvessem percebido o mal que, inconscientemente, haviam causado em sua sobrinha. Tristes e cabisbaixos, naquela mesma tarde, haviam ouvido o disgnóstico pessimista do médico. Mesmo com aquelas duas semanas de árduo preparativo para a operação, havia uma enorme possibilidade de que ela enxergasse apenas algumas horas após o procedimento ser realizado.

Aquela noticia havia deixado a ambos simplesmente arrasados. Esperavam desejosamente pelo momento em que Eun Jae pudesse ter uma vida normal, como qualquer outro jovem, e, no entanto, aquilo estava longe de seu alcance. A sensação intoxicante de profunda culpa dominou a ambos, uma revolta triste e silenciosa contra aquela situação que os havia deixado de mãos atadas.

Embora nada tivesse sido dito diretamente a Eun Jae, a garota sabia do sentimento depressivo que rondava a mente de seus tios, o que acentuou ainda mais sua infelicidade. A hora das refeições, um dos únicos momentos em que se permitia ter a companhia dos tios, era permeada por um clima pesado. Mais uma vez, Eun Jae remexia nos alimentos distraidamente, sem sequer provar um deles, apenas ficando na mesa tempo o bastante para que seus tios não reclamassem sua ausência durante a refeição.

— Querida, por que você não toma um pouco de ar fresco no jardim? — A sugestão de sua tia fez com que Eun Jae erguesse a cabeça, intrigada com aquele comentário. Ela jamais havia sugerido algo como aquilo naquelas semanas que se seguiram, parecendo achar tal fato perigoso.

Ye, Imo. — Curvando-se em uma respeitosa saudação para a tia e o tio, Eun Jae se retirou da mesa onde fazia as refeições, rumando para a porta que levava até o jardim. Mesmo que não quisesse ficar no jardim, acabaria deixando sua família preocupada se continuasse a se isolar em seu quarto.

Embora fosse tarde da noite, o escuro não era um obstáculo para Eun Jae, já tão acostumada com a completa escuridão. Apanhando uma de suas bengalas dobráveis em um móvel perto da saída, a jovem enfim saiu para o jardim da Hanok. A brisa suave fez com que seus cabelos soltos balançassem ao sabor do vento, agitando-se junto do vestido simples que usava naquele momento.

Ainda que o ar noturno estivesse muito fresco e agradável, não conseguiu melhorar seu ânimo. Entre a alternativa de retornar ao sufocante quarto onde havia ficado confinada nas duas últimas semanas e o jardim, sua escolha fez com que Eun Jae se dirigisse a um pequeno recanto do jardim onde havia um local onde gostava de se sentar. A bengala, como sempre, deslizou pelo gramado macio, desviando-a de qualquer obstáculo e embora estivesse descalça, não se importou em colocar seus sapatos, preferindo a maciez da grama sob seus pés.

A brisa noturna soprou novamente, balançando as folhas em volta e trazendo até ela um cheiro diferente daqueles aos quais estava acostumada a sentir. Aspirando profundamente, pela primeira vez naquelas duas semanas, Eun Jae voltou a ser ela mesma.

Era aquele perfume distinto que Ma-Ru sempre usava. Devia ser algum devaneio, sua mente repetia como um refrão, mas aquele cheiro era real demais. Alerta, Eun Jae ergueu o rosto, como se tentasse descobrir onde ele estava.

— Eu estou aqui, Eun Jae. — A voz dele soou à sua direita, onde Eun Jae sabia que ficava a direção do muro. Aigoo! Ele teria pulado o muro?!

— Choi Ma-Ru! — Ainda que leves, seus passos leves podiam ser ouvidos com uma clareza espantosa por seus ouvidos, cuja audição havia sido aprimorada durante seus anos vivendo na escuridão.

Havia esperado muito por aquele momento, mas o que devia fazer? Seu coração disparou em seu peito quando ele parou tão próximo, o que a deixou sem ação por um momento. Crispando os dedos contra o cabo da bengala, fez a única coisa que imaginou naquele momento. Com um movimento rápido, acertou a canela do rapaz com força, golpeando-o com a bengala.

— Ya, Eun Jae! Ficou louca? — A dor transpareceu na voz dele, deixando Eun Jae infantilmente tranquila.

— E você, está em seus sentidos? Por que demorou tanto a vir me ver? — Eun Jae não pode deixar de reclamar, indignada.

— Não foi algo tão fácil assim... Seus tios sabem ser bastante firmes.

— Eles... — A indignação de momentos antes sumiu completamente, deixando apenas o ar entristecido que a havia cercado naquelas semanas, fazendo-a curvar os ombros. — Eu os deixei assim... É minha culpa.

Sem cerimônias, Ma-Ru se sentou no gramado e convidou Eun Jae a se juntar a ele.

— Aquele ahjussi é firme, mas ele gosta muito de você, Eun Jae. Sua tia também.

— E por minha culpa... A família está cada vez mais infeliz. — Sua voz falhou por um momento, seguido de um longo suspirar. — A cada novo diagnóstico negativo, as coisas foram mudando... E mudaram tanto, que eu não sei mais o que fazer. Tudo seria diferente se eu enxergasse.

Mianhe, Eun Jae... Eu também queria que você pudesse ver... — Havia um tom de dor em sua voz, algo que ela não poderia compreender, embora pudesse percebê-lo claramente.

— Eu me sinto triste por eles, que desejam tanto que eu volte a enxergar. Não por mim. — Eun Jae deu de ombros, parecendo confusa. — Eu me acostumei ao escuro, Ma-Ru. Não tenho mais medo.

— Você é sempre muito forte, Eun Jae.

— Em poucos dias deve acabar. Quando o procedimento cirúrgico for realizado, não haverá volta.

— Tudo vai dar certo, e a sua família estará bem. Precisamos comemorar então, Eun Jae!

— Que tal um legítimo festival? Com música e muita comida? — Eun Jae deu risada, sabia que ele não gostava muito dos pratos que compunham a culinária coreana.

— Não, dessa vez, vamos fazer do jeito americano.

— Jeito americano? Que nem nos filmes?

Ye, Eun Jae. Entre os meses de maio e meados de junho, é a época dos bailes de formatura do colegial. Nessas festas, as melhores coisas são a dança e as bebidas. Isso sim, é o que eu penso como comemoração.

— Mas... — Eun Jae deixou a frase se perder no ar. Sabia que o irmão dele havia morrido na noite de sua formatura. Se suas contas estivessem corretas, este ano, seria o ano da formatura do próprio Ma-Ru. Talvez não fosse algo a ser comemorado, em vista do que havia acontecido.

Aniyo, Eun Jae. É a melhor comemoração do mundo.

Seu tom de voz nada indicava, o que fez com que a garota deixasse de lado seus protestos. Calando-se, Eun Jae fez suspirou novamente. O silêncio profundo fez com que ouvisse claramente um ruido baixo, que lhe indicou que Choi Ma-Ru havia se levantado do gramado.

Sua intuição se mostrou correta quando sentiu a mão dele tocando a sua, puxando-a para que se erguesse também. Engolindo em seco, Eun Jae pareceu ter até mesmo se esquecido de como se respirava, seus sentidos todos concentrados na mão que segurava a sua. Sem parecer se dar conta do que ela estava sentindo naquele momento, continuou a falar.

— O momento do baile é o mais esperado por todos. Todos os casais vão para a pista e dançam a noite toda.

— Mas não há música agora...

Ma-Ru não respondeu com palavras, e no momento seguinte, Eun Jae sentiu a mão dele em seus cabelos, ajeitando um único fone em seu ouvido direito. Do pequeno aparelho, uma música suave podia ser ouvida com clareza. Pela posição do fio, pode adivinhar que o lado esquerdo estava conectado ao ouvido do Ma-Ru.

— E eu também não sei dançar...

A voz de Ma-Ru soou pelo jardim deserto parecendo a coisa mais linda que já tinha ouvido nos últimos dias. Acompanhado pelos acordes vindo do fone de ouvido, iniciou uma linda canção em um tom baixo, diretamente contra sua outra orelha, que estava livre do fone de ouvido.

Ele parecia se divertir em quebrar cada uma de suas negativas. Sua mão grande e firme colocou a mão pequenina de Eun Jae em seu ombro e com a outra, puxou-a para junto de si. Seus pés descalços foram parar sobre os dele, fazendo com que ficasse na ponta dos pés.

Com seus pés descalços sobre os dele, finalmente Eun Jae se rendeu e deixou que ele a conduzisse. Sozinhos naquele jardim e embalados pelo som melodioso da música, eram um só.

A sensação de liberdade que sentiu com aquela dança era incrível, não se lembrava de ter se sentido tão viva mesmo quando podia enxergar. Os primeiros passos foram hesitantes, mas com a confiança que sentiam um pelo outro, podiam facilmente voar.

A melodia doce foi se tornando mais íntima, mais suave.
Nos acordes finais, Choi Ma-Ru acomodou-a mansamente em seus braços, abraçando-a com carinho. De olhos bem fechados, Eun Jae apoiou a cabeça contra um de seus ombros fortes, aconchegando-se junto a ele.


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Notas finais do capítulo

Hanok - Tradicionais casas coreanas, características de Joseon.
Kimchi - Tradicional alimentos Coreanos, faz parte de todas as refeições. É um acompanhamento feito com vegetais fermentados em um molho bastante apimentado.
Ya - Ei!
Ye - Sim
Arraso - Entendi/informal
Ahjussi - Senhor
Imo - Tia
Mianhe - Desculpe/informal
Aniyo - Não



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