Closed your Eyes escrita por Noona


Capítulo 7
Capítulo 6


Notas iniciais do capítulo

Primeiramente, peço desculpas a todos que acompanham essa fanfic. Estou demorando muito a postar um novo capítulo, essa semana foi bem corrida. Tive que fazer minha matrícula no meu curso, e o resultado foi esse, perdi a semana toda, soterrada em burocracia. xD

Agradeço de coração a todos que estão acompanhando, todos os comentários e o apoio que eu recebo de todos.



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O tempo pareceu parar naquele momento, como se o mundo por trás das paredes do playground não existisse mais. O vento soprando lá fora único ruido que chegou a seus ouvidos e junto do cheiro do perfume de Ma-Ru, já tão conhecido por seus sentidos, pareceu ficar mais intenso, dando-lhe a impressão de que ele estava ainda mais perto.

Embora não pudessem enxergar, os olhos de Eun Jae estavam bem abertos, quase arregalados num misto de surpresa e espanto.

Não esperava que Ma-Ru fosse mudar de ideia daquele jeito e atender a seu pedido. Sua respiração ficou suspensa quando sentiu as mãos dele em seus pulsos, não fazia ideia do que esperar quando ele se posicionou diante dela. A espera pelo propósito daquilo fez com que seu coração se agitasse em seu peito, batendo descompassado e acelerado.

Talvez ele sequer fizesse ideia do quão importante era para ela saber como ele era. Uma pessoa deficiente visual não podia enxergar com seus olhos, mas isso não queria dizer que não pudesse sentir. Uma vez que os cegos se orientavam juntando pequenos fragmentos do mundo, absorviam partes dele com os os outros sentidos restantes.

Tudo sumiu de sua mente no momento em que ele moveu suas mãos, conduzindo-as até seu próprio rosto. Diferente do que qualquer coisa que poderia pensar, a pele sob seus dedos era cálida. A face dele estava a poucos centímetros do seu, quente e levemente áspera. Seus dedos deslizaram lentamente, tocando-o e descobrindo pela primeira vez. Seu toque foi suave a princípio, quase tímido, mas logo se tornou firme e curioso.

Deslizando as mãos pelas bochechas de Ma-Ru, subiu os dedos com cuidado, tocando seus olhos bem fechados. As sobrancelhas dele pareciam naturalmente bem desenhadas, se alinhando harmoniosamente em seu rosto.

Com cuidado, traçou com a ponta dos dedos a linha rígida de seu maxilar e deslizou em seguida para o queixo forte, sentindo a pele um pouco áspera. Subindo um pouco o caminho de suas mãos, acidentalmente tocou seus lábios. Seu coração disparou em seu peito, batendo loucamente.

A boca dele chamou sua atenção, lábios firmes, mas que estranhamente não tinham as linhas características de quem estava acostumado a sorrir.

As palavras dos estudantes da escola voltaram à sua mente, reavivadas depois de tocá-lo. Por que alguém teria medo de alguém tão bonito? Com suas mãos, havia tocado cada pequena curva, cada pequeno pedaço de sua pele quente, sem sequer achar alguma cicatriz ou outra marca que justificasse aquilo. Qual seria o mistério daqueles rumores todos?

Ele tinha traços perfeitamente harmoniosos, marcantes e fortes. A imagem dele surgiu em sua mente com uma espantosa nitidez e logo fixou-se em suas memórias, arrepiando-a. Ele era simplesmente lindo. Não havia outra palavra que pudesse descrever exatamente o que suas mãos captavam do rosto dele. Seu coração agitado estava batendo com tanta intensidade, que Eun Jae se perguntou se ele também estaria ouvindo as batidas fortes em seu peito.

Mal sabia ela, que aqueles mesmos pensamentos também rondavam a mente dele. Ma-Ru sabia que era um erro, mas não resistiu a compartilhar com ela aquele raro momento. Desde o primeiro momento em que as mãos dela tocaram seu rosto, todo o ar pareceu ter sumido de seu peito, deixando-o um tanto ofegante. Tanto sua respiração agitada quanto o coração explodindo em seu peito fizeram com que ele não conseguisse dizer uma só palavra.

Ainda que sua vivesse muitos anos e sua amizade com Eun Jae tivesse terminado, jamais se esqueceria daquele momento. Seu peito contraiu-se em dor ao imaginar o que aconteceria quando ela voltasse a enxergar e não pudesse mais continuar sendo sua amiga. Não fazia muito tempo que a havia conhecido, e mesmo assim, havia se tornado fundamental em sua vida. Ma-Ru voltou para seus sentidos quando as mãos de Eun Jae moveram-se em direção a seus cabelos.

Não!

Em hipótese alguma poderia deixar que ela tocasse seu cabelo e percebesse o corte distinto que ele tinha. Recuando o corpo rigidamente, Ma-Ru ergueu-se diante dela e voltou para sua posição anterior, afastando-se. Eun Jae foi a primeira a quebrar o silêncio daquele momento.

— Gomawo, Choi Ma-Ru. Gomawo... — Sua voz saiu suave, levemente trêmula.

Eun Jae voltou a se encolher contra a parede, parecendo estar com muito frio sob o casaco grosso que havia emprestado para ela algum tempo atrás. Ma-Ru voltou a se mover pelo playground, dessa vez sentando-se ao lado de Eun Jae e cobrindo a ambos com seu casaco, compartilhando seu calor com ela.

Nagoya, como se também sentisse necessidade de se aquecer, moveu-se pelo escorregador até Ma-Ru, onde se acomodou colocando sua cabeça contra a coxa dele, quieto e bem comportado como sempre. O rapaz ainda hesitou em colocar sua mão contra o pelo macio do cão, mas recordou-se que ela havia tirado a guia do cão, dando seu trabalho por encerrado. No mesmo momento, Ma-Ru deslizou a mão pelo animal, que ganiu baixinho, parecendo muito satisfeito ao receber o carinho em suas orelhas.

Reconhecendo aquele ruído característico, Eun Jae sorriu parecendo achar graça, mas não disse nada negativo. Ao contrário, pareceu feliz que ele fizesse aquilo. Eram raros os momentos em que seu cão podia se comportar como um cão normal, tendo uma dona como ela.

— Não quer tentar dormir um pouco?

Eun Jae só fez que não com a cabeça, recusando aquela sugestão. Era simplesmente impossível conseguir dormir em um momento como aquele. Em vez disso, deitou a cabeça contra o ombro dele e se acomodou a seu lado. Por um breve momento, Ma-Ru se sentiu tenso e rígido, mas logo relaxou o corpo novamente.

— Nagoya é um grande preguiçoso. Ele adora esses carinhos, brincar e correr... Se você quiser, pode brincar sempre com ele, desde que não esteja usando a guia.

— Verdade? Wow, obrigado, Eun Jae! — Ma-Ru sorriu e agradeceu a ela. Verdadeiramente gostava de Nagoya, ele era um cão muito esperto. — Nunca tive um cachorro. Nagoya parece muito grande, mas não é aquilo que aparenta.

— Ele é só uma criança grande. — Eun Jae sorriu, achando graça naquele comentário. — Ele adora correr no parque e rolar na lama. É a brincadeira favorita dele. Também gosta muito de roer brinquedos.

— Talvez o tamanho dele que assuste as pessoas. — Deu de ombros, esquecido de que ela não poderia ver aquele gesto.

— Por que as pessoas se assustam com você, Ma-Ru?

A pergunta dela o surpreendeu, calando qualquer coisa que pudesse lhe servir como resposta. Como ela sabia daquilo? Alguém com certeza havia dito algo a ela! Sua primeira suspeita caiu naquele astro de quinta categoria, cujo nome sequer recordava. Tomando cuidado para seu movimento corporal não o entregasse, agiu como se não soubesse o que ela dizia.

— Eu ouvi rumores, duas garotas no refeitório da escola. Falavam de você e algo sobre sentirem medo de você.

— Garotas são bobas, tem medo de tudo. — Ma-Ru desconversou e conferiu o horário do relógio de pulso. — É hora de ir comprar as passagens de volta, você está pronta?

— Sim, eu estou. Espero que a minha tia acredite que eu passei a noite com amigas em alguma sauna. — Ela suspirou ruidosamente, um tanto quanto preocupada com o que lhes aconteceria com a volta para casa.

— Vamos. — Ma-Ru ajudou-a a se levantar e ajeitar seus pertences, bem como repor a guia do cão.

A volta ao terminal transcorreu em relativa tranquilidade, talvez por que não estivessem sendo perseguidos daquela vez, e passados alguns minutos, ambos estavam novamente acomodados nas mesmas cadeiras do terminal rodoviário, à espera do primeiro ônibus. Diferente de algumas horas antes, algumas pessoas esperavam naquela mesma sala, conversando umas com as outras enquanto tomavam alguma bebida quente para se aquecer. Um cheiro delicioso de chá verde com gengibre fez com que Eun Jae fechasse os olhos e aspirasse profundamente. Era uma garota acostumada a comer bastante, devia estar faminta.

— Eu vou comprar seu café da manhã, espere aqui.

Na loja de conveniências, pediu a atendente duas embalagens com comida e um chá para Eun Jae. Enquanto esperava o pedido ser embalado para viagem, passeou pela loja, olhando a esmo.

Um brinquedo de plástico chamou sua atenção, e ao segurá-lo, observou atentamente uma galinha-morta de plástico, algo bastante comum nos Estados Unidos. Aquele seria um ótimo presente para Nagoya, e ao passar pelo caixa, pagou pela comida e pelo brinquedo também.

Eun Jae conseguiu comer seu próprio café da manhã e metade da porção de Ma-Ru antes que o ônibus chegasse e pudessem embarcar, mas ele não reclamou de nada. A comida coreana realmente ainda não havia agradado seu paladar, tão acostumado aos alimentos americanos.

Embora a viagem durasse algumas horas, nenhum dos dois conseguiu dormir daquela vez. Perdidos em seus pensamentos, um silêncio amigável e muito bem vindo reinou entre ambos, deixando que colocassem suas mentes em ordem. Em menos de vinte e quatro horas, as coisas haviam mudado drasticamente.

A ameaça de perder a preciosa amizade que havia construído com Eun Jae havia enlouquecido Ma-Ru, fazendo que agisse daquele jeito impulsivo. Sim, só a loucura justificaria aquela ensandecida ideia de deixar que ela o tocasse. Ainda que estivesse arrependido de ter cedido a aquele impulso, ainda podia sentir a sensação suave do toque das mãos dela em seu rosto, algo que permaneceria em sua mente por muito, muito tempo.

Ao contrário do que ele mesmo imaginava, a volta transcorreu sem quaisquer contratempos, uma paz anormal que em vez de tranquilizar Ma-Ru, pareceu ser como a calmaria que havia no prenúncio de uma enorme tempestade. Não foi difícil de encontrar o tranquilo local onde a casa de Eun Jae ficava, uma área onde as Hanok, tradicionais casas coreanas, foram preservadas.

A casa onde Eun Jae vivia ficava no alto de uma colina bem cuidada e quase sem movimento, e certamente muito conhecida por ela. Ao sentir as mudanças no chão e se dar conta de que estava em um local conhecido, a garota fez questão de demonstrar que sabia onde estava indo e tomou a dianteira, guiando-o em seu caminho para casa.

Para Ma-Ru, ela parecia ainda mais bonita naquele momento. Era impossível tirar os olhos dela naquele momento, transparecendo uma confiança que ele não tinha visto antes, um profundo orgulho de si mesma ao demonstrar que podia se locomover sozinha. Ma-Ru sequer se deu conta da presença de um velho ahjussi que cuidava de seu próprio jardim. Nem mesmo quando o velho homem ergueu a cabeça quando Eun Jae e Nagoya passaram e seu olhar se fixou nele, horrorizado ao ver o garoto punk aparentemente seguindo-a, ou então sua pressa, quando ele desapareceu na casa anexa ao jardim que cuidava naquele momento.

Ao chegar no topo da colina, o queixo de Ma-Ru caiu ao ver a casa onde Eun Jae morava. Uma legítima Hanok estava bem diante de seus olhos, extremamente bem cuidada. Criado em meio aos americanos, jamais havia visto uma moradia tradicional coreana como aquela, era como viajar no tempo de volta à dinastia Joseon. Os muros de pedras que cercavam aquela morada eram baixos, deixavam à vista de quem passava a maravilhosa paisagem, o tradicional jardim e as demais dependências que cercavam a bela casa. Feita com pedras, era uma construção bastante sólida com cascalhosincrustadas na fachada, cujo padrão formava um intrincado desenho até bem perto do telhado curvado, uma das características mais marcantes das moradias daquele estilo.

Eun Jae parou perto do portão e remexeu em um dos bolsos do casaco vermelho, na certa a procura de sua chave. Era a sua deixa para ir embora, ela havia chego em segurança em casa. Ma-Ru virou-se para descer a colina, mas parou abruptamente, se recordando do presente que havia comprado para Nagoya.

— Ya, Eun Jae.

— O que? — Parando de mexer em seu próprio bolso, esperou que ele continuasse a falar.

— Comprei uma galinha-morta para o seu cão. Algo com que ele pode brincar quando não estiver em serviço.

— Uma galinha... Morta?! — Seu tom de voz havia saído um tanto quando esganiçado, como se ela não acreditasse no que ele dizia. — Aish! Meu cão não brinca com animais mortos!

Ma-Ru não conteve a risada divertida ante ao que ela lhe dizia. Ela parecia realmente acreditar que havia comprado um frango morto para Nagoya brincar. Antes que ela entendesse errado, caminhou de volta na direção do portão de madeira maciça e segurou um dos pulsos da garota, deixando o brinquedo em sua mão.

Embora seu rosto tivesse uma expressão de nojo, logo se tornou claro que era um brinquedo de borracha no formato de uma galinha. Um sorriso apareceu em seus lábios por um momento, mas logo ela tratou de ficar séria novamente, fingindo estar brava.

— Ya, Choi Ma-Ru! Você acha isso divertido?

— Na verdade... — Novamente riu, achando graça.

O portão de madeira abriu de repente, embora nenhum dos dois tivesse tocado nele. Uma ahjumma pequena vestida em um elegante hanbok de cores vibrantes escancarou o portão e arregalou os olhos, lançando a ele um olhar assustado.

Yeobo! — A mulher gritou alto, chamando pelo marido.

— O que foi, tia? Por que está gritando assim? — Franzindo as sobrancelhas, Eun Jae colocou uma das mãos no ouvido, assustada pelo grito de sua tia.

A tia não chegou a responder e um ahjussi vestido em um terno escuro apareceu logo atrás da ahjumma. Aquele homem lembrava em muito seu próprio pai, as rugas em seu rosto fazendo com que parecesse tão severo quanto ele, o mesmo modo de olhá-lo dos pés a cabeça, com o mesmo olhar reprovador.

De cabeça baixa, Ma-Ru ensaiou uma reverência respeitosa, mas não conseguiu dizer nada. Parecia que qualquer saudação respeitosa a uma pessoa mais velha havia sumido completamente de sua cabeça, deixando-a oca e sem reação. Sem poder fazer nada, viu quando a senhora arrastou a sobrinha para dentro sem levar em conta os protestos da garota, que se debatia tentando se soltar.

— Você... Seu punk! — Sua voz fria transparecia todo o desgosto, a raiva que fervia dentro dele naquele momento. Diferente da esposa, em seus olhos havia apenas uma enorme preocupação por Eun Jae. O homem respirou profundamente, como se procurasse conter sua enorme fúria.

— Está proibido de se aproximar da minha sobrinha! Se você se aproximar novamente, vou chamar a polícia!

O choque que havia paralisado seu corpo se dissipou com a pancada do pesado portão se fechando quando o homem voltou ao interior da propriedade, deixando Ma-Ru ainda de cabeça baixa, lutando contra a dor que se formou em seu peito, um bloco de gelo envolvendo seu coração.


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Notas finais do capítulo

Gomawo - Obrigado/Informal.
Hanok - Tradicionais casas coreanas, características de Joseon.
Hanbok - Vestimenta tradicional coreana.
Yeobo - Querido/Informal. Tratamento entre marido e mulher, ou pessoas que possuem um relacionamento afetivo.



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