Acidente de Trânsito escrita por Blue Butterfly


Capítulo 5
Motivos


Notas iniciais do capítulo

Boa leitura ^^



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/468548/chapter/5

Lucas abriu a última janela que faltava e a claridade invadiu por completo a sala. Um pouco distante de onde ele estava, pode ver a macieira carregada e Rosalie deitada sob a sombra da árvore, uma maçã mordida na mão direita enquanto a mão esquerda repousava delicadamente atrás de sua cabeça.

Ele sorriu carinhosamente para a imagem da menina, a via como sua irmã mais nova, gostava dela e compreendia um dos motivos dela ser tão quieta e distante.

–Numa casa como essas acho incrível ela ser tão normal –ele disse.

O pai de Rosalie viajava muito, dificilmente permanecia um mês inteiro dentro de casa, ou viajava por um período menos que três meses. A mãe, Luana, era esplendorosa, todos a amavam, queriam sua atenção e faziam sua vontade. Sempre ela era o centro das atenções, mesmo quando a atenção deveria recair em outra pessoa.

Rosalie tivera uma infância e uma adolescência solitária, com o pai vigiando e a mãe retendo todos os olhares para si, sem ter nenhuma criança da mesma idade para brincar ou um bichinho de estimação. A única coisa que dispunha era um a imaginação enorme, a qual se agarrou com todas as forças para crescer.

Considerando sua história, Lucas compreendia seu comportamento, e a aceitava do jeito tão Rosalie de ser.

Mas não fora somente a família que fizera Rosalie ser o que era. Na realidade a menina ficara daquela forma depois de um “acidente” ocorrido no seu passado. E fora esse “acidente” que tornara diferente e a ligara aos outros, pois, de certo modo, todos do grupo queriam esquecer coisas do passado que transformaram suas vidas e acharam na velocidade e nas máquinas um meio de fugir da realidade.

Na primeira vez que Rosalie correu, junto com Emmet, Edward e Bella, ela exclamara:

–Isso não é real!

E de fato não parecia, tudo passava como um borrão na frente dela, a adrenalina crescia no seu peito, quase sufocante. Emmet, ao seu lado, urrou como um gigantesco urso, um urro de satisfação que eletrizou Rosalie, Edward e Bella.

Edward abriu um sorriso enorme, acelerando e passando pelos três. Rosalie olhou para a moto dourada, o desafio queimando em suas veias, sem mesmo pensar direito no que fazia, ela acelerou também, o ponteiro vibrando no velocímetro.

Ultrapassou Edward, ao redor nada mais era um borrão, tudo se misturava em cores que ela nunca conhecera. Quando parou a vários metros de distância deles, sentia algo inteiramente novo.

–Isso não é real – ela repetiu, quando os outros finalmente a alcançaram.

–Não é real? Pense desse modo Rosalie – orientou Edward – Isso aqui é real, o resto é loucura.

–Isso aqui é o certo, o bom, qualquer coisa fora disso é uma mentira – completou Bella cheia de convicção.

Rosalie olhara para Emmet, esperando que ele dissesse alguma coisa também, mas o rapaz apenas sorriu, antes de baixar a viseira do capacete e ligar a moto. Desde aquele dia Rosalie compreendeu o mundo deles, entrou nesse mundo e nunca mais saiu.

Enquanto Lucas vagava pela casa, seu celular tocou. Assim que viu o número no visor brilhante, suspirou em gratidão.

–Jasper! – ele exclamou ao atender – Que bom que me ligou, precisava mesmo falar com você!

–Grande Luc! - cumprimentou a voz do outro lado – Como vão as coisas velho?

–Bem, na verdade, tenho um favor pra te pedir.

–Pode mandar.

–Está livre hoje à noite? Preciso de um acompanhante para uma certa garota.

–Não estou entendendo - confessou Jasper.

–Lembra que trabalho como secretário para aquele empresário?

–Lembro.

–Então, ele tem uma filha, hoje à noite vai ter uma festa para recebe-lo e eu preciso de um acompanhante para a garota. Aceita?

–Não sei Luc, não parece muito certo.

Lucas suspirou, precisava da ajuda de Jasper, sabia que aquele era o rapaz certo para a ocasião.

–Por favor Jasper – ele voltou a pedir.

–Quem é a menina?

–Rosalie, Rosalie Hale.

Do outro lado da linha, Jasper derrubou o copo de agua da mão, estilhaçando e fazendo em cacos o vidro translúcido. Suas mãos tremeram enquanto ele apoiava-se na bancada, o chão parecendo pela primeira vez instável.

–Jasper? Você ainda está ai? – Lucas chamou.

–Es... Estou – Jasper ofegou – Eu aceito Lucas, vou ser o acompanhante da garota.

Eles marcaram horário para se encontrarem e Jasper ser, como Lucas falara, “preparado para conhecer Rosalie”. Assim que o telefone foi desligado, Jasper olhou para o copo estilhaçado, a luz da cozinha refletindo e formando pequenos arco-íris.

–Rosalie, então é hoje que eu vou conhecer sua família... – ele proferiu para si, pensativo – Conhecer quem são o homem e a mulher que te fizeram ser como você é, uma oportunidade imperdível.

Lembrou-se de Jane, ela era uma menina doce, inteligente, com um tipo de beleza que ele podia apreciar, aparentemente a garota certa, feita especialmente para ele, enquanto Rosalie era o contrário. Não havia doçura, inteligência ou uma beleza peculiar nela, não poderia negar que a garota era bonita, que tinha um certo charme, mas era a sua frieza, a sua impassibilidade, a sua não-sintonia com o mundo que o motivaram a escolhe-la.

Ele queria fazer o impossível!

Mas para fazer o impossível, primeiro ele teria que contornar dois grandes obstáculos: Edward e Emmet. Esses dois obstáculos estavam, naquela tarde, na oficina, Edward sentado sob uma grande placa quadrada feita de uma liga de aço e platina, olhando com curiosidade o trabalho que Emmet realizava, rabiscando numa placa fina estranhas imagens, antes de recortá-las com o auxílio de um aparelho laser.

–Qual é o projeto dela? - Edward perguntou, olhando confuso os desenhos que Emmet fazia impressos numa escala bem menor numa folha de papel.

–Não faço a mínima ideia – e ele riu, começando o último rabisco.

–Ela é um gênio! Nunca conheci alguém com a capacidade dela – se assombrou Edward.

–Sim, Rosalie é incrível.

Emmet pegou um pedaço de pizza e a devorou, comparando os rabiscos na placa com os do papel. Com concentração ele reviu cada traço, vez ou outra corrigindo e aperfeiçoando um traço.

–Perfeccionista – taxou Edward rindo.

–Eu não, ela sim. Cada peça que Rosalie desenha foi feita para se encaixar perfeitamente na outra, é como se ela primeiro desenhasse tudo junto, depois recortasse e mandasse as peças do seu quebra cabeça para que eu as juntasse. Se eu não for perfeccionista por ela, o quebra-cabeças não pode ser montado.

Edward ficou pensativo. Mais do que um bom líder, ele conhecia a vida e os traumas do passado que atormentavam a vida daquele grupo. Rosalie e Emmet eram muito parecidos, ambos tinham passado pelo mesmo tipo de monstruosidade que os transformara, e por isso, de algum modo, estavam ligados em dor em pensamento. Por esse motivo era Emmet, e apenas ele, que podia resolver os quebra-cabeças daquela menina.

–Acho que já está tudo certo. Me ajuda a recortar? – Brno pediu pegando o equipamento laser.

–Claro! – Edward exclamou saindo de seus devaneios.

Eles usaram duas luvas grossas na mão direita, a mão esquerda livre para segurar o equipamento e recortar os desenhos.

–Uma meia-lua, um sol, uma cruz de Ansata – foi nomeando Edward enquanto decifrava os desenhos – O que ela está criando? – ele perguntou extremamente confuso.

–Acho que a moto foi desenhada para aquele empresário egípcios supersticiosos. Ela tentou projetar a maioria dos ícones sagrados egípcios na moto. O sol, a cruz Ansata, símbolos de liderança, do poder eterno dos faraós – foi explicando Emmet enquanto recortavam um desenho especialmente difícil.

Edward riu, Rosalie era realmente um gênio. Eles recortaram cuidadosamente as peças, deixando os recortes prontos numa grande mesa de madeira.

–Quando começa a montagem? –Edward perguntou.

–Amanhã. Hoje Rosalie vai estar ocupada, o pai dela volta hoje. Vai à festa?

–Ela pediu para mim e Bella irmos. Chamou você?

–Sim, vai ser importante para ela estarmos lá.

Emmet pegou outra fatia molenga e fria de pizza, jogando a luva para o lado e sentando na placa onde Edward estivera no começo. Edward fez o mesmo, sem pegar o pedaço de pizza como o outro fizera.

–Estou preocupado Emmet.

–Com o quê?

–Sabe aquele garoto novo? Jasper? Ele está sufocando Rosalie. Gosta dela.

Emmet não respondeu com palavras, mas pela visão periférica Edward o viu enrijecer e segurar com força desnecessária o alimento. Estava furiosamente controlado, algo raro de se ver.

–Pedi para ele se afastar – continuou – Mas acho que ele não vai me ouvir. Está obstinado a conquista-la. Vamos precisar de um pouco mais de pressão com relação a ele.

–Fique tranquilo – acalmou Emmet, novamente sereno e impassível – Seremos mais persuasivos com ele na próxima vez. Ele vai deixa-la em paz, eu garanto.

Ficaram novamente em agradável silencio, Emmet vez ou outra saindo para apegar mais pizza enquanto o outro ficava pensativo.

–Pode ficar tranquilo Edward, vai dar tudo certo – garantiu o rapaz.

–Não é nisso que estou pensando, sei que posso contar com você para cuidar dela e dos outros. Mas tem algo que me intriga...

E como ele se calou sem explicar direito:

–O que te intriga?

–É uma curiosidade meio... mórbida. Não tenho nada a ver com isso, não quero chatear ninguém, só estou mesmo curioso. É sobre você e a Rosalie...

–O que tem nós dois? – novamente Emmet enrijeceu.

–Há alguma possibilidade de vocês dois, sei lá, ficarem juntos?

–Não – a voz lotada de convicção.

–Desculpe se estou te enchendo, mas gostaria de entender o porquê? Te irritaria me responder?

–Na verdade, não. Não me irrita. Mas não quero que o que seja dito aqui saia daqui. Pela Rosalie.

–Claro. Prometo que nem mesmo a Bella saberá o que foi dito aqui.

–Sabe o que aconteceu comigo e com Rosalie?

–Não sei os detalhes, mas sei o geral. Foi do mesmo modo para vocês dois, não é?

–Sim – e Emmet ficou sombrio – Um beco escuro e encardido, um monstro à solta. Foi do mesmo jeito para nós. Os dois sem proteção. Marcou a nossa vida, não foi apenas um acidente qualquer, foi uma violação do que nós éramos, algo que destruiu uma parte muito importante sobre o que somos e o que podemos nos tornar. Para mim, e com certeza para ela também, ter um relacionamento, ficar com alguém, namorar, é impossível. Não dá mais para fazer isso. Gosto de Rosalie, sinto que devo protege-la, mas jamais seria capaz de tocá-la, beijá-la... Não somos mais normais Edward, nunca estaremos prontos para assumir um relacionamento, porque toda vez que alguém nos tocar, aquelas lembranças voltarão para nos assombrar. Acredite, eu já tentei, mas simplesmente não dá.

–Mas e você e Rosalie? Vocês passaram pela mesma coisa, não daria certo se vocês tentassem?

–E infligir a mim e a ela a dor das recordações? Quero protegê-la Edward, ser o porto seguro quando a fúria das recordações vier. Cuidarei dela por toda a minha vida, assim como ela cuidará de mim, é o máximo que podemos fazer um pelo outro.

Emmet se calou, deixou o resto da pizza no lixo e voltou seu olhar para as peças, dando por encerrado aquele assunto.

–Obrigado por responder minha pergunta. Essa conversa morre aqui – prometeu Edward.

–Sim.

–E quanto ao Jasper, temos que dar um jeito nele o mais rápido possível.

–Porque a aproximação dele causaria dor a ela – Edward compreendeu.

–Exatamente.

Eles pegaram as chaves e saíram da oficina fechando portas e cerrando janelas. Do lado de fora um carro prateado e um a moto os esperava, a velocidade impressa em cada gota de tinta.

–Aposta uma corrida até a casa de Bella? –oferecer Edward.

–Claro.

Emmet pôs o capacete, o motor da moto o saudando com um zumbido baixo e agradável.

–Mais uma pergunta Emmet: Foi por isso que eu mandei o Bowen embora? Na época eu fiz o que você me pediu, mas sempre quis entender o motivo.

–Foi por isso Edward. Não queria que ela sofresse ainda mais.

A viseira foi abaixada, o motor acelerado e eles ganharam a estrada.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Comentem ^^