O relógio marcava 10:20 da manhã, meus pais estavam me ajudando a descarregar as últimas caixas de mudança para o meu dormitório. Finalmente eu estava aqui em Stanford, minha faculdade dos sonhos desde pequena.

– Querida – meu pai me chamou -, já vamos indo. Ficará bem sozinha?

– Com toda certeza, pai. Não se preocupe! – tranquilizei-o.

– Minha filha, estamos tão orgulhosos de você! – minha mãe me abraçou com os olhos marejados – Aproveite ao máximo essa experiência de faculdade, são os melhores anos!

– Obrigada mãe, eu vou aproveitar sim. – respondi saindo de seus braços – Hoje a noite tem o tour pelas irmandades, mal posso esperar. – admiti.

– Você ainda duvida que vai entrar na ZBZ? Você é um legado, querida.

– Miranda, tenho certeza que Elena já tem todas essas informações. Você repetiu uma por uma o verão todo, desde que ela soube que viria para cá. – papai disse em tom de brincadeira.

– Gray - chamou pelo apelido -, duvido que você aja diferente quando for a vez do Jeremy.

Meus pais se conheceram aqui nessa faculdade. Minha mãe foi escolhida para fazer parte da Zeta Beta Zeta, uma irmandade do campus, e logo nas primeiras festas conheceu meu pai, que era da fraternidade amiga Delta Gamma. Eles se tornaram apenas bons amigos, foi somente no último ano de meu pai que ele percebeu amar minha mãe.

Os sonhos dos meus pais sempre foram que eu e Jeremy, meu irmãozinho menor, passássemos em Stanford para seguirmos seus passos como legados, filhos de irmãs e irmãos já formados. Para alegria de minha mãe o dia finalmente estava aqui.

– Miranda, vamos embora. A Lena tem muito a fazer, mesmo sendo escolhida ela só se muda no fim do semestre. – lembrou – Bem vinda ao seu dormitório, querida. Tomara que sua colega seja legal, afinal vocês serão obrigadas a conviver por seis meses. – sorriu paternal.

Meus pais se despediram e resolvi dar uma volta pelo campus, arrumaria minhas coisas após o almoço.

No dia de chegada é comum ter diversas barracas anunciando fraternidades, irmandades, grupos de estudo e atividades extracurriculares. Andei entre as barracas e peguei alguns folhetos de coisas interessantes para me juntar depois, por enquanto meu único objetivo era entrar na ZBZ.

Na sessão onde ficavam as casas do sistema grego tinham somente seis barracas então não foi difícil encontrar a da minha preferencia: toda rosa pink, com meninas muito bonitas, se destacava entre as demais.

– Ei, querida. Tudo bom? Tour hoje as 20h, não esqueça de passar na ZBZ, a casa mais quente do campus! – uma menina bonita com sotaque inglês forte me entregou um panfleto enquanto tagarelava um texto previamente ensaiado.

– Eu vou sim, pode deixar! – sorri.

*

Estava voltando ao meu dormitório após ter almoçado no restaurante japonês do campus, admito que é um pouco deprimente comer sozinha, mas enquanto não fizer amizade será dessa maneira.

Já na frente do meu quarto percebi a porta destrancada.

– Oi! – cumprimentei.

Uma morena de olhos azuis, que arrumava sua cama, se virou para mim sorrindo.

– Olá! Você é minha companheira de quarto?

– Sim. – respondi – Elena Gilbert, prazer.

– Miley Stewart. – sorriu.

– Você é do Texas? – perguntei curiosa e Miley assentiu.

– Percebeu pelo sotaque?

– É.

Minha colega de quarto continuou arrumando suas coisas e então comecei as minhas. Não digo que seremos grandes amigas, mas o fato dela ser simpática e, aparentemente, legal já me dá um alivio absurdo.

*

Já passavam das cinco da tarde. Miley havia saído para conhecer o campus e eu ainda estava terminando de organizar minhas coisas. Tivemos sorte de pegarmos um quarto duplo, quartos triplos tem o mesmo tamanho do nosso, porém com uma moradora a mais, ou seja temos bastante espaço para nossas coisas.

Meu guarda roupa já estava cheio, minha cama já estava arrumada e eu já havia decorado o meu lado. Faltava apenas organizar meus livros de medicina na mesinha de estudos.

Miley era do interior, logo era grande fã de música country, seu lado do quarto estampava pôsteres de cantores antigos de country, e em sua prateleira haviam fotos dela montada em um cavalo branco. Eu admiro esse estilo de vida, porém não é pra mim.

Com minhas coisas organizadas, decidi começar a me arrumar, em poucas horas começaria o tour pelas irmandades. Tomei banho no banheiro comunitário, a pior coisa quando se mora em dormitórios, e voltei para o quarto me trocar. Pus um vestidinho justo branco e um salto alto coral, enrolei meus cabelos com babyliss e fiz uma maquiagem leve, porém marcada nos olhos. Estava adiantada, então abri meu computador para checar meus e-mails.

A porta se abriu e Miley entrou.

– Ah minha nossa Senhora! Você já está pronta? Estou muito atrasada! – reclamou.

– Também vai ao tour? – perguntei me divertindo enquanto a observava procurar algo atrapalhada.

– Minha mãe me mata caso eu não vá! Sou um legado da Tri Pi. – explicou.

– Isso é muito legal, sou um legado da Zeta Beta Zeta.

– Jura, Lena? Que pena, ficaremos em casas separadas. – lamentou. – Eu sinceramente não ligo muito pra isso, só estou indo por que não aguentaria quatro anos usando esse banheiro comunitário. Falando nisso, eu já volto. – saiu apressada carregando seu roupão.

Pouco tempo depois ela voltou, de banho tomado, e enquanto se arrumava ficou me contando como é sua vida na fazenda.

– Minha mãe é formada em veterinária aqui pela Stanford e meu pai cuida da nossa vinícola. Nossa fazenda é enorme, e eu adoro viver lá. Vim para fazer medicina veterinária, assim posso continuar a cuidar dos meus animais. – dizia com paixão. – E você? Medicina, não é?

– Sim. Meus pais se formaram aqui, então virou meio que obrigação para mim ser aprovada. – expliquei – Mas não pense que vim sem querer, meu sonho sempre foi Stanford, desde antes de saber que queria ser médica. Isso eu só decidi quando cheguei ao ensino médio, quando tive minhas primeiras aulas de corpo humano.

– Isso é muito legal mesmo. – disse com seu sotaque caipira. – Estou pronta, vamos?

Assenti e seguimos em direção a rua onde se encontravam as fraternidades. Lá haviam muitas meninas bonitas, mas posso garantir que eu e Miley estávamos nos destacando. Minha nova amiga estava com uma saia curta justa preta, uma blusa cropped também preta e um salto da mesma cor, estávamos atraindo todas as atenções dos meninos.

Em poucos minutos começou o tour, eram três irmandades ao total: Tri Pi, Zeta Beta Zeta e Gamma Psi Alpha. Entre as irmandades não havia rivalidade, porém a Gamma Psi Alpha não tinha boa fama, logo as que disputavam as melhores meninas eram a Tri Pi e a ZBZ.

A primeira casa a ser visitada foi a Tri Pi. Admito que gostei muito das irmãs e da mansão, porém não me chamou a atenção. Miley foi muito bem recebida, assim como todos os legados são, ainda mais por ser bonita. A recepção durou cerca de uma hora e então fomos para a casa seguinte, Zeta Beta Zeta.

– Ai meu Deus, estou com uma invejinha sua, Lena. – Miley sussurrou ao ver a enorme casa que era a ZBZ.

Na porta estavam todas as irmãs Zeta, que cantaram o hino Zeta para nos receber. Eram todas extremamente bonitas, provavelmente um pré-requisito, e cantavam maravilhosamente. Eu já conhecia a música, então cantarolei junto.

Ao fim da apresentação fomos convidadas a entrar. A sala de jantar e a sala principal estavam decoradas com muitas faixas de “bem-vindas” e balões rosa-perolados. Nem em meus sonhos imaginaria tão lindo o local.

Estava analisando tudo deslumbrada quando senti um toque em meu ombro.

– Elena Gilbert! – a menina que havia me entregue o panfleto mais cedo me chamou – Eu peço desculpas por não ter te reconhecido hoje de manhã. Recebemos as fichas apenas durante a tarde. Como vai nossa irmã Zeta Miranda? – perguntou sorridente.

– Muito bem, animada por eu estar aqui. – fui sincera.

– Imagino. Meu Deus, onde estão meus modos? Meu nome é Rebekah Mikaelson, sou a organizadora Zeta de eventos. – se apresentou – E você, querida? – se interessou por Miley.

– Sou Miley Stewart, a colega de quarto da Lena. – sorriu sempre simpática.

– Oh! – exclamou – Temos a honra de ter um legado Tri Pi em nossa casa. Será que conseguiremos te converter? – piscou – Fiquem a vontade, comam alguns cupcakes e bebam ponche. Ah, não se esqueçam da nossa festa ao fim do tour. Vai ser na casa Delta Gamma, do outro lado da rua.

Rebekah se afastou. Virei para Miley que estava abismada com a grandiosidade da festa.

– Acho que alguém tá querendo se converter... – brinquei.

– Nem brinca, Elena. Eu vou morrer caso isso aconteça.

– Engraçado como elas parecem conhecer todas as irmãs antigas. - comentei mudando de assunto.

– Estranhei isso também, mas vai saber. Essa gente é louca - rimos. Miley olhou o celular – Vamos lá, já está na hora de ir para a Gamma.

– Você quer ir mesmo? – fiz bico – Já temos nossas casas, pra que ir até lá?

– Conhecer o inimigo, matar tempo até a festa... Sei lá. – deu os ombros – tem coisa melhor pra fazer?

Me dei por vencida e então nos dirigimos até a casa ao lado.

*

Ainda faltava mais de quinze minutos pro fim do tour e eu já não aguentava mais. A Gamma Psi Alpha não tinha a classe das outras duas irmandades, ao invés de cupcakes e petit fours serviram pizza de calabresa e coca cola. Não que eu não goste, mas não se impressiona alguma menina assim.

Miley e eu decidimos sair antes do fim do tempo, já não aguentávamos mais. Nos dirigimos até a mansão Delta, onde meu pai havia sido morador, e entramos. No interior da casa se encontravam os Deltas, os Omegas, as Zetas e as Tris, todos devidamente uniformizados com suas insígnias. Faltavam apenas as Gammas e os Psis, que ainda recebiam visitantes. Alguns candidatos a irmãos e irmãs já ocupavam o lugar que logo foi enchendo.

Pouco depois das onze da noite a mansão e o jardim já estavam lotados. Diferente das demais festas que eram mais formais, essa tinha barris de cerveja, beer pong e pegação, uma típica festa de faculdade.

Estava tendo dificuldade em encher meu copo com cerveja quando o vi pela primeira vez.

– Acho que essa deve ser sua primeira festa. – sorriu – Se você inclinar completamente o esguicho, nada vai sair. – explicou enquanto repetia o que eu havia tentado antes – Mas se você levantar um pouquinho e apertar... – inclinou um pouco o esguicho da mangueira do barril fazendo a cerveja sair – Voilá. Um copo cheio para a novata mais bonita da festa.

– Ah... – senti minhas bochechas vermelhas – Você deve dizer isso para todas. – disfarcei.

– Isso você vai ter que descobrir. – respondeu galanteador – Damon Salvatore, presidente Delta. – se apresentou.

– Elena Gilbert, legado Zeta. – sorri.

– E filha de um irmão Delta! Quanta honra. – beijou as costas da minha mão direita.

– Sim, isso me faz o que? Duplamente legado? – brinquei.

– Tecnicamente sim. – respondeu sério – E te faz duplamente incrível.

– Damon... – corei novamente.

– Vem cá, quero te mostrar algo.

Recuei por um momento. Era minha primeira paquera da faculdade, eu realmente estava desconfiada de que ele apenas queria me levar para o seu quarto, mas por algum motivo confiei naquele garoto que havia acabado de conhecer e o segui.

Damon pegou em minha mão e me guiou até dentro de um cômodo que parecia um escritório. Após fechar a porta para diminuir o barulho da festa seguiu até uma prateleira retirando de lá um livro grosso. Espanou com as mãos um pouco do pó que estava acumulado na capa do livro e me mostrou.

– Presidente Gilbert, 1986 a 1990. – Damon recitou os escritos da capa.

– O que é isso?

– Isso, Elena, é toda a trajetória de seu pai como um presidente Delta. – apoiou o livro na mesa e abriu – Seu pai foi o único Delta até hoje que conseguiu sete mandatos seguidos, o número máximo de mandatos possíveis. – explicou.

– Uau, eu não sabia disso.

Na verdade eu me recordava de alguma história referente a isso, mas meu pai fazia mais questão de Jeremy saber sua trajetória como Delta do que eu.

– Pois é. Na verdade eu o tenho como inspiração, já estou em meu primeiro mandato, concorrendo ao segundo. Caso eu seja eleito e releito todos os semestres até o fim da faculdade eu serei o segundo presidente vitalício.

– Boa sorte então, imagino que caso isso aconteça meu pai irá te adorar. – fui sincera.

– Eu conto com isso. – sorriu – Quer dar uma folheada ou prefere voltar para festa?

– Eu...

– Na verdade – Damon me interrompeu -, imagino que será escolhida pelas Zetas, logo podemos ir aproveitar a festa, nos conhecer, e você terá outras inúmeras chances de vir aqui ler toda essas coisas antigas.

Não soube dizer se Damon estava me convidando para ir outras vezes a mansão Delta, mas eu espero que sim.

– Claro, não faltarão oportunidades.

– Então vem, Lena, vamos encher seu copo de novo.

Mal havia notado que meu copo já tinha esvaziado. Rapidamente Damon pegou minha mão novamente me guiando entre a multidão. Eu me sentia nas nuvens.